terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

"PERDEDORES" DO OSCAR DE MELHOR FILME

Ao invés de comentar os acertos do Oscar, a gente deve também lembrar de alguns filmes que foram indicados na categoria de Melhor Filme, ao longo dos oitenta anos de existência do prêmio. São diversas películas que marcaram época e que tiveram algum significado importante no período em que estrearam. Alguns obtiveram reconhecimento - do público e/ou crítica - somente alguns anos depois do lançamento. Outros, foram reconhecidos de imediato como importantes: porém, por uma razão ou outra, acabaram saindo de "mãos abanando" no momento da premiação. Sem querer fazer uma seqüência exaustiva e definitiva - afinal cada seu próprio gosto -, segue alguns daqueles que permanecem sem dúvida nenhuma na memória de todos como filmes de grande quilate. Eis alguns dos eternos "perdedores", mas que sempre serão lembrados porque ganharam o reconhecimento daqueles que admiram o Cinema.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

NADA DE SURPRESAS NO OSCAR 2009

Nada de surpresas na 81ª. Cerimônia de entrega do Oscar. A única expectativa era de como seria o espetáculo. Em tempo de vacas magras, com o fantasma da recessão pairando sob o céu norte-americano, a festa não poderia ser tão majestosa – embora brega como sempre – como de costume. Tendo Hugh Jackman, o Wolverine, como apresentador, o galã mostrou ter timing para o seu novo papel, além de cantar e dançar. Os cenários estavam mais econômicos, os longos discursos deixaram de tomar conta de boa parte da festa e tudo transcorreu sem grandes inovações ou surpresas.

Na verdade houve uma inovação e uma surpresa. A inovação ficou por conta de que cada candidato a melhor ator e atriz - principal e coadjuvante - teve um padrinho ou madrinha (na verdade, vencedores do prêmio em anos anteriores). E a surpresa foi “Valsa com Bashir”, representante israelense, não ter ganhado o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. A Academia o havia colocado nesta categoria, para não sofrer a concorrência direta da barbada da noite, prêmio de Melhor Animação para Wall-E. Mas a estratégia não deu certo. Ganhou o filme japonês "Okuribito".

O melhor prêmio da noite ficou por conta de Penélope Cruz que foi a melhor do ano, realmente no woodyalleniano esnobado “Vicky Cristina Barcelona”. Como Melhor Ator Coadjuvante, Heath Ledger tornou-se o segundo detentor de prêmio póstumo da Academia. O outro foi dado a Peter Finch, na categoria principal, em “Rede de Intrigas” (1976). Discurso emocionado da família - pai, mãe e irmã.

Kate Winslett, finalmente, precisou de seis indicações para ser reconhecida pela Academia. Ela me fez lembrar de Geraldine Page - recordista de indicações sem premiação – que foi agraciada na oitava vez em que foi à cerimônia, por “Regresso para Bountiful” (1985).

Os votantes não quiseram ousar demais agraciando Mickey Rourke. Assim, o prêmio de Melhor Ator foi para Sean Penn, que outrora já havia sido um outsider (quem não se lembra quando espancou a Madonna?) e que agora se transformou em bom moço, caindo nas graças dos colegas de profissão.O ator aproveitou o momento até para elogiar Barack Obama.

“Quem Quer Ser um Milionário?” ganhou oito prêmios –das dez indicações – e foi o grande vencedor da noite. ”O Estranho Caso de Benjamin Button”, com doze indicações, ficou apenas com os prêmios técnicos- maquiagem, efeitos visuais e direção de arte.

Em tempo, a melhor cena da noite: enquanto Jennifer Aniston chamava os indicados, o cinegrafista cortou em close para Angelina Jolie, que ria das piadas da ex-rival. Maldade. Segue a lista dos vencedores:


Melhor Filme
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button)
• Frost/Nixon (Frost/Nixon)
• Milk - A Voz da Igualdade (Milk)
• O Leitor (The Reader)
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire)



Melhor Diretor
Danny Boyle - Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire)
• Stephen Daldry - O Leitor (The Reader)
• David Fincher - O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, EUA, 2008)
• Ron Howard - Frost/Nixon (Frost/Nixon)
• Gus Van Sant - Milk - A Voz da Igualdade (Milk)


Melhor Ator
• Richard Jenkins - O Visitante (The Visitor)
• Frank Langella - Frost/Nixon (Frost/Nixon)
Sean Penn - Milk - A Voz da Igualdade (Milk)
• Brad Pitt - O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button)
• Mickey Rourke - O Lutador (The Wrestler)


Melhor Atriz
• Anne Hathaway - O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married)
• Angelina Jolie - A Troca (Changeling)
• Melissa Leo - Rio Congelado (Frozen River)
• Meryl Streep - Dúvida (Doubt)
• Kate Winslet - O Leitor (The Reader)


Melhor Ator Coadjuvante
• Josh Brolin - Milk - A Voz da Igualdade (Milk)
• Robert Downey Jr. - Trovão Tropical (Tropic Thunder)
• Philip Seymour Hoffman - Dúvida (Doubt)
• Heath Ledger - Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight)
• Michael Shannon - Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road)


Melhor Atriz Coadjuvante
• Amy Adams - Dúvida (Doubt)
• Penélope Cruz - Vicky Cristina Barcelona (Vicky Cristina Barcelona)
• Viola Davis - Dúvida (Doubt)
• Taraji P. Henson - O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button)
• Marisa Tomei - O Lutador (The Wrestler)


Melhor Filme Estrangeiro
• Der Baader Meinhof Komplex - Alemanha
• Entre os Muros da Escola - França
• Revanche - Áustria
• Okuribito - Japão
• Valsa com Bashir - Israel


Melhor Canção
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): A.R. Rahman, Gulzar - "Jai Ho"
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): A.R. Rahman, Maya Arulpragasam - "O Saya"
• WALL•E (WALL-E): Peter Gabriel, Thomas Newman - "Down to Earth"


Melhor Trilha Sonora
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Alexandre Desplat
• Defiance (Defiance): James Newton Howard
• Milk - A Voz da Igualdade (Milk): Danny Elfman
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): A.R. Rahman
• WALL•E (WALL-E): Thomas Newman


Melhor Edição
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, EUA, 2008): Angus Wall, Kirk Baxter
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): Lee Smith
• Frost/Nixon (Frost/Nixon): Daniel P. Hanley, Mike Hill
• Milk - A Voz da Igualdade (Milk): Elliot Graham
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): Chris Dickens


Melhor Som
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce, Mark Weingarten
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): Ed Novick, Lora Hirschberg, Gary Rizzo
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): Ian Tapp, Richard Pryke, Resul Pookutty
• WALL•E (WALL-E): Tom Myers, Michael Semanick, Ben Burtt
• Procurado (Wanted): Chris Jenkins, Frank A. Montaño, Petr Forejt


Melhor Edição de Som
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): Richard King
• Homem de Ferro (Iron Man): Frank E. Eulner, Christopher Boyes
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): Tom Sayers
• WALL•E (WALL-E): Ben Burtt, Matthew Wood
• Procurado (Wanted): Wylie Stateman


Melhores Efeitos Visuais
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton, Craig Barron
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): Nick Davis, Chris Corbould, Timothy Webber, Paul J. Franklin
• Homem de Ferro (Iron Man): John Nelson, Ben Snow, Daniel Sudick, Shane Mahan


Melhor Curta-Metragem Documentário
• The Conscience of Nhem En (The Conscience of Nhem En)
• The Final Inch (The Final Inch)
• Smile Pinki (Smile Pinki)
• The Witness from the Balcony of Room 306 (The Witness from the Balcony of Room 306)


Melhor Documentário
• The Betrayal - Nerakhoon (The Betrayal - Nerakhoon)
• Encounters at the End of the World (Encounters at the End of the World)
• The Garden (The Garden)
• Man on Wire (Man on Wire)
• As Águas de Katrina (Trouble the Water)


Melhor Curta-Metragem
• Auf der Strecke (Auf der Strecke)
• Manon sur le bitume (Manon sur le bitume)
• New Boy (New Boy)
• Grisen (Grisen)
• Spielzeugland (Toyland)


Melhor Fotografia
• A Troca (Changeling): Tom Stern
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Claudio Miranda
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): Wally Pfister
• O Leitor (The Reader): Roger Deakins, Chris Menges
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): Anthony Dod Mantle


Melhor Maquiagem
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Greg Cannom
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): John Caglione Jr., Conor O'Sullivan
• Hellboy II - O Exército Dourado (Hellboy 2: The Golden Army): Mike Elizalde, Thomas Floutz


Melhor Figurino
• Austrália (Australia): Catherine Martin
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Jacqueline West
• A Duquesa (The Duchess): Michael O'Connor
• Milk - A Voz da Igualdade (Milk): Danny Glicker
• Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road): Albert Wolsky


Melhor Direção de Arte
• A Troca (Changeling): James J. Murakami, Gary Fettis
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Donald Graham Burt, Victor J. Zolfo
• Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight): Nathan Crowley, Peter Lando
• A Duquesa (The Duchess): Michael Carlin, Rebecca Alleway
• Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road): Kristi Zea, Debra Schutt


Melhor Curta-Metragem de Animação
• A Casa de Pequenos Cubos (La maison en petits cubes)
• Lavatory Lovestory (Ubornaya istoriya - lyubovnaya istoriya)
• Oktapodi (Oktapodi)
• Presto (Presto)
• This Way Up (This Way Up)


Melhor Animação
• Bolt Supercão (Bolt)
• Kung Fu Panda (Kung Fu Panda)
• WALL•E (WALL-E)


Melhor Roteiro Adaptado
• O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button): Eric Roth, Robin Swicord
• Dúvida (Doubt): John Patrick Shanley
• Frost/Nixon (Frost/Nixon): Peter Morgan
• O Leitor (The Reader): David Hare
• Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire): Simon Beaufoy


Melhor Roteiro Original
• Rio Congelado (Frozen River): Courtney Hunt
• Simplesmente Feliz (Happy-Go-Luck): Mike Leigh
• Na Mira do Chefe (In Bruges): Martin McDonagh
• Milk - A Voz da Igualdade (Milk): Dustin Lance Black
• WALL•E (WALL-E): Andrew Stanton, Pete Docter, Jim Reardon

sábado, 21 de fevereiro de 2009

AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD

“Odeio a injustiça, não os normandos!.”


Inicialmente, o papel estava sendo protagonizado por James Cagney (até então o maior astro da Warner na época), que se aborreceu e deixou o filme. Errol Flynn foi escalado então para o papel. O resultado foi que um ator em ascensão tornou-se um grande trunfo para este filme. Filmado em Technicolor, o visual é espetacular. Os diretores de fotografia Sol Polito e Tony Gáudio utilizaram-se de pesadas câmeras e muita iluminação extra, produzindo uma variedade tonal inigualável. Isso pode ser percebido em diversas cenas, inclusive nas tomadas da floresta de Sherwood (na verdade filmada na Califórnia). Além do apuro técnico, o elenco todo está perfeitamente adequado – além do próprio Flynn, Olívia de Havilland brilha. Também, Claude Rains como príncipe John; Basil Rathbone como Sir Guy de Gisbourne; Patrick Knowles, Eugene Palette e Alan Hale como Will Scarlett, frei Tuck e João Pequeno, respecitvamente, como os engraçados amigos de Robin.

É divertido ver Errol Flynn alegre e ágil, em início da carreira - características fundamentais para o herói. Ele adentra no salão de banquetes do Príncipe John e joga um cervo diante do nobre, sabendo que a punição para tal era a morte. Cercado em ambiente hostil, acusa o Príncipe de trair o irmão – Ricardo Coração de Leão – e luta para sair do castelo. Robin não fraqueza, é destemido e torna o perigo num espetáculo de aventura.

Olívia de Havilland sob os efeitos do Technicolor está maravilhosa. Prometida do Príncipe, quando avista Robin, já se percebe ali uma conexão mútua. As cenas do casal são simples. Não há a necessidade de torná-las realistas em excesso. Essa medida dá o tom certo de fábula que o filme necessita – o ideal medieval de que estão juntos não somente porque se admiram, mas porque têm o destino traçado.

Por outro lado, as cenas de ação são bem realistas e, comparativamente aos efeitos especiais de hoje, com uso de tecnologia digital, os heróis e o elenco do filme não desafiam as leis da gravidade. São pessoas de carne e osso, cujos esforços vemos e acompanhamos.

Há momentos divertidos como brincadeira de criança quando Robin e sés amigos imiscuem-se na competição de arqueiros do príncipe John. Fica engraçado imaginar que os homens mais procurados do reúno poderiam se disfarçar – sem ser percebidos – simplesmente baixando os capuzes sobre o rosto.

Por outro lado, há momentos em que a obviedade impera, como quando Robin leva Marian à floresta de Sherwood ocupada por alguns dos saxões que ele ajudara - um monte de gente cansada e esquiva, acotovelando-se pra lhe manifestar gratidão. Sabe-se que Robin Hood tirava dos ricos para dar aos pobres, mas não que ele administrava esse campo de refugiados.

Também há momentos de bravata, como quando a flecha disparada para matar um normando apaga uma vela. E quando a flecha de Robin racha a do concorrente no torneio de arco e flecha. E o grande duelo entre Robin e sir Guy, que utiliza cortes entre os atores e suas sombras. E o processo de Technicolor jamais foi tão surpreendente como nas grandes e esplendorosas cenas ao ar livre, como a da corte reunida para o torneio.

As cenas íntimas têm uma franqueza quase audaciosa. Quando Robin e Marian se olham e confessam seu amor, agem sem rodeios, sem poesia antiquada. O filme sabe quando ser simples - afinal, este é o vínculo entre Robin e Marian. O herói ideal deve fazer o bem, derrotar o mal, divertir-se e conquistar a mulher amada. As Aventuras de Robin Hood é como um livro didático que ensina a fazer isso corretamente. E, como tal, continua fazendo sucesso mais de setenta anos depois. Super!



"As Aventuras de Robin Hood" (The Adventures of Robin Hood)
1938 - EUA - 102 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: MICHAEL CURTIZ. Roteiro: NORMAN REILLY RAINE e SETON I. MILLER. Fotografia: TONY GAUDIO e SOL POLITO. Montagem: RALPH DAWSON. Música: ERICH WOLFGANG KORNGOLD. Produção: HAL B. WALLIS.


Elenco: ERROL FLYNN (Robin Hood) OLIVIA DE HAVILLAND(Marian), BASIL RATHBONE (Sir Guy de Gisbourne), MILO CLAUDE RAINS (Príncipe John), PATRICK KNOWLES (Will Scarlett), EUGENE PALLETTE (Frei Tuck), ALAN HALE (João Pequeno), MELVILLE COOPER (Xerife de Sherwood), IAN HUNTER (Rei Ricardo Coração de Leão), UMA O´CONNOR (Bess), HERBERT MUNDIN (Much), MONTAGU LOVE (Bispo) e LEONARD WILLEY (Sir Essex).

Prêmios:
Oscar de Melhor Direção de Arte (Carl Jules Weyl), Melhor Montagem (Ralph Dawson) e Melhor Trilha Sonora Original (Erich Wolfgang Korngold)/1939.



Cenas do Filme:


Assista também:



Almas em Suplício

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

FANATISMO MACABRO

“Stephen?...Stephen? Ela está nesta casa, querido....”


O filme retrata uma frustrada atriz, Sra. Trefoile (Tallulah Bankhead), mergulhada em forte fundamentalismo religioso, que recebe a visita da ex-namorada de seu filho já morto. Fanática, ela tenta resgatar um vínculo do relacionamento que existiu entre seu filho Stephen e Patricia, interpretada por Stefanie Powers. Não concordando com os hábitos de vestir e de comportar-se da ”nora”, Sra. Trefoile busca purificá-la para o filho. Seguem-se sermões e discussões bíblicas, até que Patricia, percebendo os exageros da "sogra", tenta fugir. É o que basta para que Sra. Trefoile a torne sua prisioneira, com a ajuda da empregada Anna (Yootha Joyce), do marido desta (Peter Vaughn) e de um débil mental, protagonizado por Donald Sutherland.

Seguindo o que foi comum nos anos 60, quando grandes estrelas de décadas anteriores (Bette Davis, Joan Crawford e outras) enveredaram por produções de baixo orçamento – na maioria filmes de terror ou suspense - esta foi a vez de um tour de force de Tallulah. Sua intensidade dramática – embora em alguns momentos ela super representa -, tom vocal e trejeitos têm uma extensão que vai desde uma educada e polida senhora até uma maluca descontrolada.

Stefanie Powers interpreta uma Patricia à vezes deslocada, mas que duela de forma honesta com a grande atriz. O elenco britânico de coadjuvantes funciona bem, com destaque para Donald Sutherland, bastante convincente no papel de Joseph. Mas o show é de Tallulah que, quase sem artificios (maquiagem, e algumas vezes despenteada) mostra – com maneirismos, é verdade - a grande atriz que foi. Embora datado como a maioria dos filmes da Hammer, o filme garante bons momentos de suspense. Para ver e ter na prateleira.



Fanatismo Macabro (Fanatic)
1965 – INGLATERRA - 97 min. – Colorido – TERROR
Direção: SILVIO NARIZZANO. Roteiro: RICHARD MATHESON, baseado na obra “Nightmare” de ANNE BLAISDELL. Fotografia: ARTHUR IBBETSON. Montagem: JOHN DUNSFORD. Música: WILFRED JOSEPHS. Produção: ANTHONY HINDS, para a HAMMER, distribuído pela COLUMBIA.

Elenco: TALLULAH BANKHEAD(Sra. Trefoile), STEFANIE POWERS ( Patricia Carroll), PETER VAUGHN (Harry), MAURICE KAUFMANN (Alan Glentower), YOOTHA JOYCE (Anna), DONALD SUTHERLAND (Joseph), GWENDOLYN WATTS (Gloria), ROBERT DORNING (Ormsby), PHILIP GILBERT (Oscar), WINIFRED DENNIS (Lojista) e DIANA KING (Vendedora)



Cenas do filme:



Assista também:




Um Barco e Nove Destinos

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

LAURA

“Pobre homem. Sinto por você.”


Revi “Laura”, de Otto Preminger, outro dia e sempre que o assisto lembro que havia esquecido do assassino. Três ou quatro outros personagens poderiam ter agido da mesma forma. O cinema noir e conhecido pelas tramas complicadas e pelas reviravoltas arbitrárias; porém, mesmo em um gênero que traz filmaços como “Relíquia Macabra” (1941), este filme merece atenção. Há um detetive que não freqüenta a delegacia; um suspeito que é convidado a acompanhar de perto o interrogatório de outros suspeitos; uma heroína que na maior parte do filme está morta; um homem que tem um ciúme doentio de uma mulher, embora em nenhum momento ele pareça de fato ter atração por ela; um protagonista romântico que é capial do interior norte-americano, transportado para a alta sociedade de Manhattan; e uma arma do crime que é devolvida a seu esconderijo pelo policial que irá buscá-la em outro momento. A única cena de nudismo envolve o sujeito ciumento e o guarda.“Laura” continua encantando. A trilha musical de David Raksin contribui: a música imprime um ar sombrio e nostálgico. O núcleo do filme é sustentado pelo desempenho de Clifton Webb como Waldo Lydecker e pelo de Vincent Price, no papel de Shelby Carpenter (o noivo de Laura), sempre mordiscando em volta como um cão faminto. Os dois atores, junto com Judith Anderson como Ann, a neurótica tia de Laura, criaram personagens desprovidos de realidade exceto suas próprias, o que é bom para os três.

Por outro lado, o herói e a heroína são irreais. Gene Tierney, a Laura, linda, é extremamente fotogênica, mas não parece envolvida emocionalmente com o papel. Dana Andrews, que interpreta o detetive McPherson, tem um desempenho correto, fuma um cigarro após o outro e tem um falar monótono. Como atores, Tierney e Andrews limitam-se basicamente a servir de testemunhas oculares das cenas roubadas por Webb e Price.

Foi o primeiro papel principal de Clifton Webb e seu primeiro desempenho no cinema desde 1930. Ele era um ator de teatro que se recusara a se submeter ao teste de tela exigido pelo estúdio; sua presença foi recomendada por Otto Preminger a Zanuck. Webb tinha 55 anos quando desempenhou o papel, e Tierney, 24. Semelhante diferença de idade não foi problema para Bogart e Bacall, mas entre Webb e Tierney, convenhamos, parece não haver a menor química. Ele interpreta um crítico e colunista e na primeira vez em que aparece é datilografando, mergulhado em uma banheira - isso depois de Laura ter sido morta a tiros, quando o detetive chega para interrogá-lo.

Em flashbacks, o espectador acompanha o progresso do relacionamento entre os dois. Ele a censura no salão de jantar do Algonquin e depois pede desculpas, torna-se seu amigo e passa a lhe comandar a vida; escolhe as roupas que ela deve usar, modifica-lhe o penteado, apresenta-a a pessoas influentes, promove-a em sua coluna. Os dois freqüentam as noitadas da cidade, menos terça e sextas-feiras, quando Waldo cozinha para ela em casa.

Então, outros homens entram em cena e tornam a sair, à medida que Waldo os ataca em sua coluna. O grandalhão e tolo Shelby apresenta-se como uma ameaça. Considerando o triangulo amoroso Waldo, Shelby e Laura, ocorre-me que o único meio de torná-lo psicologicamente válido seria transformar Laura em rapaz. O filme consiste basicamente de gente rica e bem-vestida, vivendo em apartamentos luxuosos, conversando com um policial.

A paixão é distribuída desigualmente. Shelby e Laura nunca parecem muito calorosos um com o outro. Waldo é possessivo em relação à Laura, mas nunca a toca. Ann Treadwell (Anderson), uma dama da sociedade, deseja Shelby, mas não lhe revela isso ou ele não percebe. E o detetive McPherson desenvolve uma atração pela falecida. Tudo com muito subtexto e cheio de comportamentos dúbios, que enseja várias interpretações.

Há uma cena em que ele entra no apartamento de Laura à noite, vasculha as cartas, toca nos vestidos, aspira os perfumes, serve-se de um drinque e senta-se sob o enorme retrato de Laura, colocado sobre a lareira. Parece um encontro com um fantasma. A investigação de McPherson e suas revelações finais são tratadas sem os cuidados usuais nos filmes de crimes da década de 1940. O detetive induz sempre as pessoas a crer que serão acusadas e depois recua. Lydecker pede para acompanhar o detetive enquanto este entrevista os suspeitos. Surpreendentemente, McPherson permite. Isto e útil do ponto de vista do enredo, pois de outro modo McPherson ficaria a maior parte do tempo sozinho.

De algum modo, o atrativo do filme não é diminuído por todos esses absurdos de improbabilidades. Talvez seja até aumentado. Sem querer, algumas falas se tomaram engraçadas. Inicialmente, Otto Preminger era somente produtor do filme. Zanuck contratou Rouben Mamoulian para a direção. Os primeiros dias de filmagem foram desastrosos e Preminger assumiu o controle - refilmou muitas cenas, trocou os cenários e lutou pelo enredo. Embora a história da arma em um antigo relógio seja um tanto forçada, o filme inteiro é consistente: planejado, artificial, maneiroso, e ainda assim consegue um equilíbrio elevado e, com certeza, o elenco tem sua parcela maior de importância. Ótimo.



Laura (Laura)
1944 – EUA - 88 min. – Preto e Branco – POLICIAL
Direção: OTTO PREMINGER. Roteiro: JAY DRATLER, SAMUEL HOFFENSTEIN E ELIZABETH REINHARDT, baseado em romance de VERA CASPARY. Fotografia: JOSEPH LASHELLE. Montagem: LOUIS R. LOEFFLER. Música: DAVID RAKSIN. Produção: OTTO PREMINGER, distribuído pela TWENTIETH CENTURY FOX.

Elenco: GENE TIERNEY( Laura Hunt), DANA ANDREWS (Detetive Mark McPherson), CLIFTON WEBB (Waldo Lydecker), VINCENT PRICE (Shelby Carpenter) e JUDITH ANDERSON (Sra. Ann Treadwell).

Prêmios:
Oscar de Melhor Fotografia em Preto e Branco (Joseph LaShelle)/1945.




Cenas do filme:


Assista também:




Carmen Jones