terça-feira, 20 de maio de 2008

INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO

“Nada me abala. Eu sou um cientista.”


Quando você foi criança, ou ainda, convivia com crianças, entre 7 e 11 anos, deve se lembrar do tipo de jogo no qual cada uma delas se deparava comidas repulsivas, de virar o estômago - olhos de carneiro, suco de vermes, cérebro de morcegos com anchovas e molho de chocolate. As crianças sentem um terrível prazer toda vez que um novo prato é descrito, achando tudo uma diversão, embora os adultos da vizinhança devam passar mal. Esta ainda é a reação quando assistimos o exuberante (para alguns, sem gosto) entretenimento de Spielberg , “Indiana Jones e o Templo da Perdição”. O filme é uma pré-seqüência de “Os Caçadores da Arca Perdida”, já que explora um período anterior do arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford). O ano é 1935 e o lugar é um clube em Xangai. Logo vemos uma produção do tipo Busby-Berkeley apresentando uma animadora americana, Willie Scott (Kate Capshaw), acompanhada de por um coro em linha de asiáticas, que dançam e cantam – algumas vezes em chinês – “Anything Goes”, de Cole Porter.

Esta é a melhor seqüência do filme, mais engraçada e mais bem dirigida. Não somente apresenta Indiana Jones e Willie, que sentem repugnância mútua à primeira vista (para apaixonarem-se mais tarde), mas também termina com uma grande briga no bar, em que um diamante de valor incalculável se perde num monte de cubos de gelo. Após isso, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” não desce ladeira abaixo, exatamente; porém, segue de forma plana, num tal ritmo que não se tem tempo para questionar as coisas em detalhe.

Há uma vertiginosa perseguição nas ruas tumultuadas de Xangai, com a fuga de Indiana num carro dirigido por um garoto de 12 anos, Short Round (Ke Huy Quan); depois, temos um vôo em direção ao ocidente a bordo de um bom e antigo Ford tri motor, do qual Indiana, Willie e Short Round devem pular, sem a ajuda de um pára-quedas.

A maior parte do filme se passa numa remota província do Himalaia e envolve: (1) um vilarejo onde todas as crianças desapareceram misteriosamente, (2) uma rocha sagrada com poderes mágicos e (3) um culto dos trabalhadores de Kali, cuja prática inclui sacrifício humano.

O roteiro, escrito por Willard Huyck e Gloria Katz (''American Graffiti''), a partir de uma história de George Lucas, é adequada, mas não chega aos pés do engenhoso roteiro de “Caçadores da Arca Perdida”, de Lawrence Kasdan, fazendo com que “Indiana Jones e o Templo da Perdição” quase nunca transcenda o aspecto barato dos filmes B que inspiraram o filme anterior. Embora pareça ter custado uma fortuna, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” não vai a lugar algum, possivelmente porque seja formado por uma sucessão de clímaxes. Poderia terminar a qualquer altura, com quase nada de essencial ser perdido.

Assisti-lo é como passar o dia num parque de diversões, que é o que talvez Spielberg e seus produtores pretendessem. O filme caminha de forma cansativa de uma atração a outra, dando uma parada para um cachorro quente, e então seguindo para as próximas inesperadas atrações.

Nelas incluem-se o equivalente a uma volta numa montanha russa, um passeio através de uma cova cheia de escorpiões e baratas, assim como um banquete de marajá, onde o menu inclui todos os tipos de pratos (cobras-mirins vivas, cérebros de macacos cozidos) que as crianças acham ao mesmo tempo revoltante e engraçado, enquanto o resto das pessoas têm seus estômagos revirados.

Não há duvida sobre isso – o filme, apesar de ser meio nojento, é violento de alguma forma que pode assustar algumas crianças. As crianças indianas seqüestradas, quando finalmente encontradas, são vistas sendo açoitadas quando seguem como escravas para trabalharem nas minas do marajá, embora o acoitamento seja tão exagerado que pareça irreal.

Há uma seqüência viva na qual um homem, sendo oferecido a Kali, é vagarosamente jogado a uma fossa flamejante, não antes de o sacerdote ter removido seu coração com as mãos nuas. Isso, contudo, não é somente uma pegadinha ao fazer o filme, mas uma pegada dentro do filme, algo que crianças mais velhas podem entender mais prontamente do que seus pais. Contudo, é algo a fazer os pais pensarem.

Harrison Ford tornou-se muito bom neste tipo de caracterização para esse tipo de filme. Ele tem uma atuação excepcionalmente habilidosa e cômica, demonstrando o timing que lembra Michael Douglas em seu papel em “Tudo por uma Esmeralda”.

Kate Capshaw está muito atraente e surpreendentemente natural, mesmo embora na maioria das vezes não se espere muito dela - a não ser seus gritos. Em dado momento no filme, Indiana diz a Short Round: “ O maior problema dela é o barulho”, quando ele escolhe ignorar a píton que deslizava até ela. Ke Huy Quan, cujo filme foi o primeiro, é muito engraçado e, nas horas de tensão, muito comuns, parece um pouco com o pato Donald.

“Indiana Jones e o Templo da Perdição” é muito “quadrado” para ser tão engraçado como “Os Caçadores da Arca Perdida”, e vai além do ponto. Às vezes, exagera.




Indiana Jones e o Templo da Perdição" (Indiana Jones and the Temple of Doom)
1984 – EUA - 118 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: WILLARD HUYCK e GLORIA KATZ, baseado em argumento de GEORGE LUCAS. Fotografia: DOUGLAS SLOCOMBE. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILLIAMS. Produção: GEORGE LUCAS e ROBERT WATTS, para LUCASFILMS LTD.


Elenco: HARRISON FORD (Indiana Jones) KATE CAPSHAW (Wilhelmina 'Willie' Scott), KE HUY QUAN (Short Round), AMRISH PURI (Mola Ram), ROSHAN SETH (Chattar Lal), PHILIP STONE (Cap. Phillip Blumburtt), ROY CHIAO (Lao Che), DAVID YIP (Wu Han), RIC YOUNG (Kao Kan) e CHUA KAH JOO (Chen).

Prêmios:
Oscar de Melhores Efeitos Visuais (Dennis Muren, Michael J. McAlister, Lorne Peterson George Gibbs)/1985.

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Indiana Jones e a Última Cruzada

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