segunda-feira, 1 de junho de 2009

O REGRESSO PARA BOUNTIFUL

“Quando você vive mais que sua casa e família, acho que viveu demais.”


Trata-se de um filme de extrema sensibilidade, cujo fio condutor é odisséia da pacata Carrie Watts (Geraldine Page) que, no ocaso da vida, decidde retornar a Bountiful, sua cidade natal. “O Regresso para Bountiful” é talvez o mais peculiar road movie dos últimos tempos. Morando com o filho Ludie (John Heard) e anora Jessie Mae (Carlin Glynn, esposa de Masterson) em Houston, Carrie Watts vive invariavelmente angustiada. Sua relação com Jessie Mãe é péssima. Quando juntas, as duas brigam como se fossem crianças. Enquanto Jesse sonha com a ascenção social do marido na cidade grande, Carrie deseja apenas rever Bountiful – cidade onde foi criada e que hoje sequer consta do mapa – antes de morrer. Mais do que uma simples volta à terra natal, a viagem de Carrie a Bountiful significa o encontro doloroso com o tempo perdido. No papel principal, Geraldine Page aumenta a empatia do público com seu personagem ao dar-lhe contornos chaplinianos. Com absoluto controle, lidando com um personagem tão complexo e delicado, Geraldine mostra o porquê foi uma das mais refinadas atrizes do cinema, embora aqui às vezes super represente.

Geraldine Page, por sua atuação, a última de sua carreira, recebeu um justo prêmio da Academia de Hollywood. Lembro-me que, ao anunciá-la vencedora na cerimônia de 86, o ator F. Murray Abraham – o Salieri, de “Amadeus” (1984) - disse sobre a até então recordista de indicações (sem ter sido premiada): “ela é a maior atriz da língua inglesa...”. Talvez não fosse. Contudo, a sua Sra. Watts foi um papel maravilhoso e talvez o melhor da carreira que a atriz fez nas telas, incluindo sua inesquecível Alexandra Del Lago, em “O Doce Pássaro da Juventude” (1967). A direção de Peter Masterson surpreende ao não deixar o filme tornar-se por demais teatral.

O elenco inteiro está muito bem: John Heard, como Ludie; Carlin Glynn como Jessie Mae, cuja paciência parece sempre estar próxima ao fim, mas sempre se renova; Richard Bradford, como o xerife que se torna aliado de Carrie Watts durante seu "vôo", e Kevin Cooney, como funcionário da estação da rodoviária.

Um destaque particular fica por conta de Rebecca De Mornay – mais famosa como a prostituta de “Negócio Arriscado” (1983) – que interpreta a simpática e centrada noiva de um militar que fica amiga de Carrie durante a viagem. Com imenso bom humor, a atriz contribui para o equilíbrio do filme.

Seguindo a trilha dos hinos religiosos entoados por Carrie Watts (“Para casa, para casa, com ternura Jesus está chamando”), “O Regresso para Bountiful” é uma obra marcada pelo o que a religião tem de mais puro: a esperança de uma vida melhor, aqui ou caso exista, no além. Se certos filmes às vezes nos dão a sensação de uma paulada na cara, outros, entrando pelos olhos e ouvidos, chegam ao coração e passam a acompanhar-nos, durante muito tempo, na memória. Este filme é um deles. Bom para ver e rever.



Regresso Para Bountiful (The Trip to Bountiful)
1985 – EUA - 108 min. – Colorido – DRAMA

Direção: PETER MASTERSON. Roteiro: HORTON FOOTE, baseado na peça homônima de HORTON FOOTE. Fotografia: FRED MURPHY. Montagem: JAY FREUND. Música: J. A. C. REDFORD. Produção: STERLING VANWAGENEN E HORTON FOOTE, realizado pela ISLAND PICTURES.
Elenco: GERALDINE PAGE( Carrie Watts), JOHN HEARD (Ludie Watts), CARLIN GLYNN (Jessie Mae), RICHARD BRADFORD (Xerife) , REBECCA De MORNAY (Thelma) e KEVIN COONEY (Roy).

Prêmios:
Oscar de Melhor Atriz Principal (Geraldine Page)/1986.



Cenas do filme:


Assista também:



Doce Pássaro da Juventude

4 comentários:

Wally disse...

Tenho curiosidade em conferi-lo, mas é dificil de encontra-lo.

Ciao!

Paulo Alt disse...

adoro movie roads
ainda mais com a participação da Rebecca DeMornay. se encontrasse assistiria sim.

vlw pelo comentário ontem
minha internet caiu e eu morrendo de frio desliguei tudo e fui dormir
Wham no melhor e inigualável brega hieoahioeahioea, mas gosto

flw
abraço

Anônimo disse...

Assisti esse filme a uns 6 anos...
precisaria ver novamente, mas minha lembrança não é das melhores, fiquei com uma estranha sensação de que Geraldine estava um pouco chata no papel... super atuando mesmo. E outra coisa me chama a atenção, pretensão do Oscar, afinal "era sua ultima chance".

Para mim, sua melhor atuação é em "Interiores", ela está genial como uma decoradora incapaz de ver o mundo sem... interiores decorados, e por isso encobre tudo na pretensa "perfeição" da decoração, enquanto sua vida desmorona.
E aliás, é o melhor drama da fase Bergman de Woody Allen.

Jacques disse...

Wally, acho q vc o encontra em locadoras. Tive a sorte de comprá-lo nas Americanas, se não me engano. Mas já faz algum tempo...

Paulo, se vc curte road movies deve ter assitido a Sem Destino, THelma e Louise, A Morte Pede Carona e outros.. Valew

Mr. Nóbrega, concordo que super representa, mas está bem no papel. Ainda acho que o papel de Alexandrea em Soce Pássaro ainda é seu melhor papel. Quanto ao Oscar, as vezes acerta, e muitas vezes erra. Acho que neste caso foi justo. Valew