domingo, 9 de março de 2008

ENSINA-ME A VIVER

“Que flor você gostaria de ser?.”


Quando “Ensina-me a Viver” estreou nos cinemas em 1971, essa incomum história de amor - entre um rapaz de vinte anos e uma octagenária - foi inicialmente um fracasso. Somente depois é que tornou-se sucesso. Fazendo-se um retrospecto, é um fato que não surpreende: uma comédia levemente anárquica, na qual as instituições como a polícia, o exército e a igreja são objeto de chacota e em que a riqueza material não aparece como um objetivo desejável – e sim como a causa de um vazio espiritual total -, não poderia alinhar-se com uma sociedade que acabara de eleger o conservador e republicano Nixon. Ao contrário, o filme agradou às pessoas – a juventude em primeiro lugar – que se sentiam presas às convenções tradicionais. A música de Cat Stevens, que se repete diversas vezes ao longo do filme, reforça o tema: “If you wanna be free, be free”

De fato, “Ensina-me a Viver” é muito mais que uma história de amor. Ofilme é também uma crítica social, de humor negro. O diretor, Hal Ashby, permeia habilidosamente entre o particular e o político, entre a comédia e o sentimento, entre o grotesco e a banalidade.

O filme começa de u m modo macabro. Harold Chansen (Bud Cort), jovem de família rica, põe um disco, acende velas, sobe em uma cadeira e enforca-se. Sua mãe (vivan Pickles), que chega em casa logo depois, não parece abalar-se; cancela o horário marcado na cabeleireira e sai de casa não antes de dizer a Harold que o jantar é às oito horas.

Os “suicídios” encenados por Harold (haverá outros ao longo do filme) são rituais e constituem uma série de diversas tentativas - surpreendentes sempre, mas frustradas – de comunicar-se com sua mãe. Todas as cenas entre Harold e a Sra. Chasen desenvolvem-se da mesma forma: ela não deixa de dizer bobagens e ele não fala absolutamente nada. E, quando finalmente Harold tem algo a dizer, ela não o escuta.

Os Chasen vivem em uma casa de campo impressionante – daquelas que o diretor mostra planos gerais externos para destacar mais sua proporção -; o interior, ao contrário, é escuro, opressivo e, segundo parece, sobrecarregam tanto Harold, como suas roupas. Conseqüentemente, Harold se movimenta com rigidez e torpeza e os traços de seu rosto dão a impressão de um morto-vivo.

Harold é a antítese de Maude (Ruth Gordon), a quem conhece praticando seu hobby comum: assistir ao enterro de gente desconhecida. Com cerca de oitenta anos, Maude vive cheia de energia e de dinamismo, sempre movimentando-se, ainda que usando os carros que rouba e com os quais dá voltas pelo bairro, de forma alucinante, mas cheia de “gás”.

Na realidade, Maude parece tão jovem – é ela que se atreve em casar com Harold na igreja – que o suposto matrimônio desequilibrado em nada resulta escandaloso; a vergonha fica com aqueles que se opunham à relação dos dois.

Harold começa a voltar a viver, já que Maude literalmente o transforma; anima-o a cantar e dançar, presenteia-lhe com um banjo e o incita a a dar piruetas sempre que tiver vontade. Para Maude, cada dia há que se inventar algo novo.

De acordo comoutro lema seu, nunca se deve a pegar-se a nada; tampouco ela se apegará à vida, pois vai dar fim a si mesma no dia de seu aniversário. Mas Harold está apegado. Na última cena, na qual se vê Harold correndo com seu Jaguar – convertido em carro fúnebre - a toda velocidade em direção a uma encosta onde joga o carro, Hal Ashby retoma o tema do suicídio. Entretanto, um movimento ascendente da câmera mostra Harold vivo, à beira do precipício, e tocando o banjo que ganhara de presente. Filme necessário, principalmente pela atuação da lendária Ruth Gordon, em momento de graça.




Ensina-me a Viver (Harold and Maude)
1971 – EUA - 91 min. – Colorido – Comédia
Direção: HAL ASHBY. Roteiro: COLIN HIGGINS, baseado em sua novella homônima. Fotografia: JOHN A. ALONZO. Montagem: WILLIAM A. SAWYER e EDWARD WARSCHILKA. Música: CAT STEVENS . Produção: CHARLES MULVEHILL, COLLIN HIGGINS e MILDRED LEWIS, para a PARAMOUNT PICTURES.

Elenco: BUD CORT (Harold Chasen) RUTH GORDON (Maude, VIVIAN PICKLES (Sra. Chasen), CYRIL CUSACK (Glaucus), CHARLES TYNER (Tio Victor), ELLEN GEER (Sunshine Doré), ERIC CHRISTMAS (Padre), G. WOOD (Psiquiatra), JUDY ENGLES (Candy Gulf) e SHARI SUMMERS (Edith Phern)

Trailer Original:



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