terça-feira, 11 de março de 2008

10.000 A.C.

“Somente o tempo pode nos ensinar o que é verdade e o que é lenda.”


Esse trecho de falsa sabedoria - que parece ter sido extraída de algum fascículo do almanaque Reader´s Digest – inicia a narração de “10.000 AC” e, quanto mais você pensa nisso, mais absurdo o filme parece. Caso você não pense em nada, o tempo ajuda a confundir tudo. Mas é melhor não pensar demais sobre essa incursão completamente tola na pré-história da civilização, dirigida por Roland Emmerich, a partir de um roteiro escrito por Harald Kloser, que também ajudou a compor a trilha sonora.

O diretor Emmerich fez algo– com o máximo de barulho e mínima coerência – que parece acenar para o fim dos tempos.No contexto de sua obra, “10.000 AC” pode ser considerado como uma espécie de produto preliminar, inacabado, uma tentativa de imaginar a civilização humana não à beira de ser dizimada, mas algo próximo ao seu início.

Mesmo no começo do filme, todos parecem estar num hospital definhando, quando os Yagahl - uma tribo de caçadores que usam dreadlocks nos cabelos e balbuciam contradições – preparam-se para sua última caçada. Em cumprimento à velha profecia, caçadores a cavalo (“demônio de quatro patas”) chegam para saquear o acampamento dos Yagahl e aprisionar parte da tribo como escravos. Entre eles está Evolet (Camilla Belle), cujo amado, D´Leh (Steven Strait) põe-se em marcha com seu mentor, Tic Tac (Cliff Curtis), para resgatá-la.

Ao longo do caminho, D´Leh e Tic Tic passam por várias aventuras, envolvendo seres humanos vestidos de forma bizarra e criaturas produzidas por computação gráfica - entre elas, medonhos avestruzes carnívoros, que mais parecem as galinhas enfurecidas que ameaçam alguns náufragos em “A Ilha Misteriosa” (1961), dirigido por Cy Endfield, baseado na obra de Júlio Verne. No seu melhor, que pode também ser seu pior, 10.000 AC tende a um antiquado – e também pré-histórico – estilo de fazer filme.

A interpretação crua dos atores, os péssimos diálogos e os efeitos especiais (desnessariamente extravagantes) são tão precários, a ponto de fazer com que o filme, senão beirar o ridículo, ao menos tenha momentos divertidos, para não dizer constrangedores – quando, por exemplo, o protagonista do filme cai em uma armadilha subterrânea e ao deparar-se com um tigre dente-de-sabre, liberta-o, com a promessa do mesmo não se esquecer dessa “dívida”.

Além disso, o filme possui uma infinita quantidade de exageradas confusões . Em sua jornada, D´Leh (pronuncia-se “delay”, embora na maior parte do filme ele esteja com pressa) reúne um exército multi- cultural de forma a enfrentar uma construção em forma de pirâmide, de um império escravocrata, que aprisionou tanto alguns grupos de caçadores e pacíficos agricultores.

Esse império, formado por decadentes sacerdotes, parece ser formado por um híbrido de egípcios e maias. Para chegar até eles, D´Leh viaja pelas terras, desde seu lar nas estepes siberianas, passando pelas selvas asiáticas até a África. Mas, na verdade, acho que tudo era Gondwana, uma vez que a jornada no filme parece mais simples. D´Leh, ao longo de sua jornada, vai encontrando pistas deixadas por sua amada, de forma inverosímil e tola, além de tornar-se uma espécie de Messias, à medida que vai angariando, inexplicavelmente, a simpatia dos povoados por onde passa, até chegar em seu destino.

É uma sorte que o tigre e outros animais que surgem no filme não falem. Seria melhor que os personagens humanos, especialmente o narrador – apesar de Omar Sharif - também fizesse o mesmo.

Ao final do filme, uma grande batalha, com direito a carnificina , completa o épico, trazendo fim o sofrimento do espectador. E, como lição de história, “10.000 AC” tem seu valor. Explica como viemos a nos tornar os tolerantes e pacíficos fazendeiros de hoje e porque as pirâmides nunca foram concluídas.



10.000 A.C. (10.000 B.C.)
2008 – EUA - 109 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: ROLAND EMMERICH. Roteiro: ROLAND EMMERICH e HARALD KLOSER. Fotografia: UELI STEIGER. Montagem: ALEXANDER BERNER. Música: HARALD KLOSER e THOMAS WANDER . Produção: MICHAEL WIMER, ROLAND EMMERICH e MARK GORDON, distribuído pela WARNER BROTHERS PICTURES.

Elenco: STEVEN STRAIT (D´Leh), CAMILLA BELLE (Evolet), CLIFF CURTIS (Tic Tic), JOEL VIRGEL (Nakudu), MO ZINAL (Ka´Ren) e NATHANAEL BARING (Baku).

Trailer Original:


Assista também:




O Patriota

4 comentários:

Anônimo disse...

Jacques, este seu blog é um ótimo passatempo.

Visitar este blog diariamente torna-se obrigatório, pois cria a expectativa de aguardar o próximo post, do tipo: Que filme será?

Este suspense é a essência para quem curte filmes

VALEU!!!!!

Cid

Anônimo disse...

10.000 A.C. é péssimo! Parece que juntaram um saquinho de profecias e foram tirando uma a uma e construindo o roteiro nessa ordem. Tirando os efeitos especiais (a corrida dos mamutes e os movimentos do tigre) bem realizados, embora desperdiçados numa bobeira sem tamanho, nada sobra! Enfim, perda de tempo e dinheiro. Nosso e da produção inteira.

Jacques disse...

Caro Cid,

Valeu pela força. Legal que tenha gostado. Apareça sempre!!

Jacques disse...

Pedro,

Você está certo...Emmerich vem errou na dose!