quarta-feira, 26 de março de 2008

CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO

“Os fracassados, os dementes, os malditos. Eles são as verdadeiras pessoas desse mundo.”


O melhor que pode ser dito de “Crônica de Um Amor Louco”, de Marco Ferreri é que de mistura confusa de pretensão e pornografia, há um filme sério sobre arte e abandono sexual. O pior, que pode ser dito com certo grau de segurança, é que o filme de Marco Ferreri é arrastado, extremamente solene e cheio de falhas. Baseado nos contos de Charles Bukowski, “Crônica de Um Amor Louco” traz Ben Gazzara como Charles Serking, um tipo de poeta beat, cujo processo de criação artística envolve bebedeira, prosmicuidade e a visão ocasional de gaivotas na praia. Porém, é a prosmicuidade que o mantém ocupado, como no dia em que ele espia uma “presa” nas areias de Venice, Califórnia, seguindo-a até sua casa. No ônibus, Vera (Susan Tyrrell) olha Charles tão lascivamente é uma surpresa o motorista não colidir com um poste. Mas quando Charles chega ao apartamento da moça –forçando a porta, e prendendo sua boca com as mãos – quase de forma a violentá-la – ela pergunta:” Eu o conheço?”.

Logo, Vera está desfilando em trajes negros sumários falando a Charles: “ Eu quero que você seja mau comigo – da próxima vez quero que use o seu cinto”. “Eu não uso cinto”, diz Charles, muito orgulhoso dó controle da situação. “Você ter que emprestar-me um”, completa ele. Aparentemente, Vera não fica satisfeita, porque pouco tempo depois, chama a polícia.

Noutro dia de festa na vida do mulherengo, ele perambula bar adentro e encontra uma prostituta chamada Cass, interpretada por Ornella Muti. “Você realmente acha que sou bonita?”, ela pergunta. Claro que Charles acha. Assim Cass retira um grampo de cerca de 15 cm e fura seu rosto, fazendo o atendente do bar queixar-se, “Cass, eu disse para você não fazer isso aqui – não fica bem”. Enquanto isso, Charles observa, admirado, chegando à conclusão que Cass é a mulher de seus sonhos - embora, cada vez que se encontrem, ela surge com uma nova marca corpo ou machucado.

Esta cena, retirada de um curto conto de Bukowski chamado “A Mulher Mais Bonita da Cidade”, tem uma importância que no filme não fica retratado, O filme, apoiando-se nessas cenas, tende a suprimir o sentido original, tornando-as muitas vezes ridículas. “Crônica de Um Amor Louco” concentra-se somente na parte sensacionalista de Bukowski, exagerando-a de tal forma que tudo o mais fica perdido. O diretor Ferreri desenvolve esse conto com tamanha envergadura – imprópria – que mesmo sua indecência fica sem vida.

Ben Gazzara vacila ao longo do filme com uma nítida, embora desorientada, crença no material, mesmo que a maioria dos intérpretes que contracenam com ele estejam irremediavelmente mal. Ornella Muti é a exceção. Tyrrel gasta energia numa aparição sem fôlego. Apesar de tudo, o filme virou um cult dos anos 80. POr conta disso, vale a pena ser visto.




Crônica de Um Amor Louco (Tales of Ordinary Madness)
1981 – ITÁLIA - 95 min. – Colorido – DRAMA
Direção: MARCO FERRERI. Roteiro: MARCO FERRERI, SERGIO AMIDEI E ANTHONY FOUTZ, baseado no livro ERECTIONS, EJACULATIONS, EXHIBITIONS AND GENERAL TALES OF ORDINARY MADNESS, de CHARLES BUKOWSKI. Fotografia: TONINO DELLI COLLI. Montagem: RUGGERO MASTROIANNI. Música: PHILIPPE SARDE . Produção: JACQUELINE FERRERI, distribuído por FRED BAKER FILMS.

Elenco: BEN GAZZARA (Charles Serking) ORNELLA MUTI (Cass), SUSAN TYRRELL (Vera), TANYA LOPERT (Vicky), ROY BROCKSMITH (Atendente do bar), KATIA BERGER (Garota na praia), HOPE CAMERON (Dona da casa de praia), JUDITH DRAKE (Mulher gorda), PATRICK HUGHES (Vagabundo), WENDY WELLES (Fugitivo) e JAY JULIEN (Editor).

Trailer Original:


Assista também:




A Comilança

Nenhum comentário: