domingo, 11 de janeiro de 2009

O OUTRO LADO DA RUA

“Eu sei o que eu vi.”


Regina (Fernanda Montenegro) é uma ex-funcionária pública que, para preencher a monotonia de sua vida de aposentada, presta serviços de informação para a polícia, tendo como objetivo ajudá-la no combate a pequenos delitos. Sua vida se transforma quando numa noite, para aplacar a insonia, ela “inventa” de espiar, com a ajuda de um binóculo, os moradores de um prédio vizinho. Então, presencia o que parece ser um homem aplicando uma injeção letal na esposa. Avisando a polícia, sob o codinome de Branca de Neve, Regina descobre que o provável assassino é um ex-juiz, Camargo, interpretado por Raul Cortez. Desacreditada pelo delegado encarregado do caso, é orientada não somente a esquecer o ocorrido, mas também a abandonar os serviços que presta. Não concordando, inicia uma cruzada para investigar o acontecimento e provar que presenciou um crime.

Com ares hitchcockianos (sem pretensão alguma de copiar o mestre Alfred), o filme utiliza o fundo policial para tratar da solidão na terceira idade. Regina, através de seu trabalho, busca fugir do ostracismo a que foi destinada – seu dia-a-dia resume-se a assistir televisão bebendo uma cerveja, acompanhada pela cadela. Abandonada pelo marido (que mora com um filho e o neto), Regina tenta resgatar o vitalidade do passado. Essa relutância em aceitar o ocaso fica nitida quando observa indignada, durante suas andanças por Copacabana, outros idosos jogando conversa fora, cartas e dominós, passando o tempo despretensiosamente, sem nenhuma ocupação.

Mais do que preencher o seu tempo, Regina busca através de seu “trabalho”, contribuir para uma sociedade mais justa. Idealista, busca um mundo melhor (leia-se, no qual ao menos a milicia carioca funcione), com mais justiça e verdade. Numa das cenas em que vigia Camargo dentro de um banco, seu olhar crítico percebe uma tentativa de roubo. A mesma energia em alertar os policiais para inibir o assalto é proporcional à sua indignação ao constatar o descaso dos mesmos em prender os criminosos.

Regina segue, então, em sua obstinada busca da verdade, daquilo que ela diz: “Eu sei o que eu vi”. Ao dar inicio à investigação, acaba apaixonando-se por Camargo. Daí , inicia-se um confronto de valores morais e afetivos, com os quais ela tem que lidar.
Estreante na direção, Marcos Bernstein já havia sido o responsável pelo roteiro de Central do Brasil (88). Apesar de bem realizado, poderia ter explorado melhor o aspecto policial da história. O relacionamento com Camargo fortalece Regina; porém, enfraquece o filme – o desafio de Regina passa a ser a sua redescoberta como mulher e não mais o desvendamento do crime.

Fernanda Montenegro como Regina está muito bem e intensifica o personagem com todas as nuances e conflitos de uma mulher que reluta em aceitar sua condição de idosa. Raul Cortex, também não compromete, mas parece um pouco deslocado, principalmente quando o seu Camargo tenta seduzir Regina, para levá-la para cama. Parece que estamos diante de uma cena de mais uma novela global. Para completar, uma rápida aparição de Laura Cardoso, como Patolina, uma outra informante da polícia, que surge e desaparece de forma fugaz no filme. Resolvidos alguns problemas de ritmo e roteiro, seria uma boa supresa. Esperava mais.



"O Outro Lado da Rua" (idem)
2004– BRASIL - 97 min. – Colorido – DRAMA
Direção: MARCOS BERNSTEIN. Roteiro: MARCOS BERNSTEIN E MELANIE DIMANTAS. Fotografia: TOCA SEABRA. Montagem: MARCELO MORAES. Música: GUILHERME BERNSTEIN SEIXAS. Produção: MARCOS BERNSTEIN E KATIA MACHADO.

Elenco: FERNANDA MONTENEGRO (Regina) RAUL CORTEZ (Camargo), LAURA CARDOSO (Patolina), LUIS CARLOS PERSY (Alcides), MIGUEL LUNARDI (Filho de Regina), CAIO CÉSAR (Neto de Regina), ELIANA CÉSAR (Filha de Camargo), MILENE PIZARRO (Célia) e MÁRCIO VITO (Walmir).



Assista também:



Central do Brasil

4 comentários:

Sergio Deda disse...

Já me falaram muito bem deste filme, e obviamente recomendaram-me. Estou querendo muito assistir.

abraços!

Anônimo disse...

É um filme muito bom, eu lembro que gostei bastante na época, mas agora não lembro tantos detalhes... Mas se eu não me engano o objetivo do filme era muito mais os traços psicológicos da Regina do que a própria trama policial... Abraços...

Anônimo disse...

Eu queria poder lembrar mais desse filme. É bom, mas poderia ter marcado mais.

Ciao!

Jacques disse...

Sérgio, gostei do filme sim, mas como comentei acho que ficou um pouco a dever. Em alguns momentos ficou raso demais.

Cara, claro que sim. Porém, o diretor foi mais feliz qunado enveredou pela trama policial do que pela profundidade do personagem principal. Como muitos filmes nacionais.

Wallu, é bom, porém nada marcante.