Desde que um acidente automobilístico desfigurou o rosto de sua filha, Christiane (Edith Scob), o doutor Génessier (Pierre Brasseur) faz todo o possível para restituir-lhe a beleza. Com a ajuda de sua colaboradora Louise (Alida Valli), Génessier atrai para sua casa diversas jovens. Ali as anestesia e as converte em cobaias de uma intervenção cirúrgica macabra. Na sala de operações, que fica oculta no sótão da mansão, retira a face das vitimas e as transplanta para sua filha. Essas experiências se repetem sem sucesso. E as tentativas mal sucedidas do pai tornam-se obsessivas. O filme tem um clima muito perturbador. A fotografia em preto e branco de Eugen Schüfftan revive o inquietante claro e escuro do expressionismo alemão. As nuances cromáticas são responsáveis por transformar a mansão em um labirinto, uma prisão quase impossível de escapar. As sombras das escadas parecem tentáculos possíveis de tornar qualquer um prisioneiro da loucura do médico. Sobretudo de sua filha, separada da vida, que vaga como um fantasma através da casa – parece uma Ofélia com o rosto desfigurado, oculto atrás de uma máscara de porcelana branca, cuja expressão de tristeza parece selar seu destino para sempre.
O diretor Franju cria de forma sutil uma atmosfera de pesadelo que sugere o terror a que estão associados os atos de Génessier. A cada resultado mal sucedido, mostrado através de uma sombria sucessão de primeiros planos – fotografias ou imagens congeladas -, mostra o rosto angelical de Christine que perde o viço dias depois, com manchas de necrose na pele transplantada.
A crueldade dessas seqüências mostra que Génessier é um médico perverso, pois além de provocar mortes, torna seu amor pela filha numa obsessão. As tentativas de dar à Christine um novo rosto – uma nova vida – significam ao mesmo tempo mudar sua identidade, recriá-la como mulher ideal, em um ato de criação, tal qual Frankenstein. Esse ato de arrogância que tem, entretanto, suas conseqüências.
O filme também pode ser visto como um alerta, uma crítica ácida à medicina experimental, de tentativa e erro, levada ao extremo. “Os Olhos Sem Rosto” reforça nossos mais profundos temores de infância. Quem de nós, quando criança, não achava que os médicos e enfermeiras eram agentes do mal? Se você planeja submeter-se a uma cirurgia plástica no futuro, evite assistir a este belo filme do terror francês. Sombrio e triste. Porém, brutalmente poético.
Os Olhos Sem Rosto (Les Yeux Sans Visage)
1960– FRANÇA /ITÁLIA - 88 min. – Preto e Branco – TERROR
Direção: GEORGES FRANJU. Roteiro: PIERRE BOILEAU, PIERRE GASCAR, THOMAS NARCEJAC E CLAUDE SAUTET, baseado na obra homônima de JEAN REDON Fotografia: EUGEN SCHÜFFTAN. Montagem: GILBERT NATOT. Música: MAURICE JARRE. Produção: JULES BORKON, para a CHAMPS ÉLYSÉES PRODUCTIONS E LUX FILM.
Elenco: PIERRE BRASSEUR (Dr. Génessier), ALIDA VALLI (Louise), JULIETTE MAYNIEL (Edna), EDITH SCOB (Christine), FRANÇOIS GUÉRIN (Jacques), ALEXANDRE RIGNAULT (Inspetor Parot), BÉATRICE ALTARIBA (Paulette), CHARLES BLAVETTE (Homem do Depósito), CLAUDE BRASSEUR (Inspetor) e MICHEL ETCHEVERRY (Médico Legista).
Cenas do filme:
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A Máscara de Satã
2 comentários:
História intererssante, mas deve ser dificil a beça de encontrar hein?
abraço!!!
É dificil mas vc encontra.É do estúdio Magnus Opus. Áudio original em Francês. Legenda em Português.
Abcs
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