segunda-feira, 17 de março de 2008

ANNA KARENINA

“Isso não pode continuar. Tenho marido e um filho. Isso tem que acabar.”

Neblina na tela. O trem de São Petersburgo acaba de chegar a Moscou. Quando o rosto de Greta Garbo surge daquela neblina, o oficial Vronsky (Fredric March) está perdido. Fica à mercê desta mulher. Igual ao espectador, que somente queria assitir a uma coisa – Greta Garbo – não importando se o filme era mudo ou falado (“Garbo fala!”), interpretando “Anna Karenina” ou “Rainha Cristina” (1933). Essa veneração exagerada trará conseqüências fatais para Ana Karenina. A relação extraconjugal com Vronsky lhe fará perder o marido e, muito pior, seu filho. Ao final de sua tragédia, atira-se ao mesmo trem que lhe arrebata o amante. Greta Garbo morre.

Anna Karenina é um dos filmes mais populares da atriz e é tida como a melhor adapração do clássico de Tolstoi para o cinema. Clarence Brown, que dirigiu Garbo em sete filmes, limita-se nesta história da Rússia czarista à trama em torno de Anna e Vronsky. Seu amor fracassa por resistência do marido, Karenin (Basil Rathbone), em dar-lhe o divórcio. O diplomata vive em total sintonia com os princípios da época: tem que salvaguardar a reputação, o bem-estar do filho tem prioridade sobre tudo o mais e o casamento é indissolúvel. Ao infringir esses princípios, Anna provoca sua própria ruína. Ela e Vronsky caem no falatório da sociedade aristocrática da época. Para ver seu filho, tem que entrar às escondidas em sua casa, cujas portas estão trancadas para ela. A mulher das primeiras cenas do filme, deslumbrante com sua beleza inconfundível, regressa como proscrita.

A magnífica direção de arte (a cena espetacular do baile, por exemplo) não serve, entretanto, para desviar o óbvio – o filme pertence a esta grande atriz. No fundo, Greta Garbo interpreta de forma totalmente inexpressiva, com as pálpebras caídas, como uma condenada à morte – tanto no primeiro encontro com Vronsky, como nos últimos momentos antes do suicídio. Anna sabe desde o começo, assim como os espectadores, seu trágico destino. O segredo da atriz consiste em expressar sem emoções uma paixão que o público entende intuitivamente.

Cabe colocar em dúvida se Fredric March no papel de Vronsky seja merecedor dessa paixão. O ator, pelo que dizem, não queria o papel – isso fica nítido durante o filme. Porisso, o amor de Anna pelo oficial parece menos crível que o ódio de seu marido. Basil Rathbone tira o máximo proveito de seu limitado papel, de alguém que já não é amado, mesmo que interprete Karenin como se fosse um inglês ao invés de russo – o jaleco parece mais adequado a filmes de Sherlock Holmes. Em um papel secundário, porém agradável e simpático, Maureen O´Sullivan (que na época já era a Jane de Tarzan) interpreta Kitty, a jovem sobrinha de Anna. Sua relação com Levin (Gyles Isham), o alter ego de Tolstoi – tão importante na obra – tem significância reduzida na transposição para a tela.

Mas isso não é nada, se comparado com o filme anterior a "Anna Karenina", protagonizado também por Greta Garbo. A versão original chamava-se "Love" (1927), por boas razões. O filme mudo havia sido filmado com dois finais diferentes e o público americano pode desfrutar da tragédia de Tolstoi com um final feliz. Greta Garbo que nunca havia se casado, não quis aceitar isso. Deveu-se a sua iniciativa o fato de David O.Selznick ter abandonado a aversão que tinha mostrado durante anos ao projeto. O produtor não queria desgastar sua estrela-mór em filmes de época. Mas, quem podia resistir a Greta Garbo por tanto tempo?



Anna Karenina (Anna Karenina)
1935 – EUA - 95 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: CLARENCE BROWN. Roteiro: CLEMENCE DANE, S.N. BEHRMAN e SALKA VIERTEL, baseado na obra homônima de LEÓN TOLSTOI. Fotografia: WILLIAM H. DANIELS. Montagem: ROBERT KERN. Música: HERBERT STOTHART . Produção: DAVID O. SELZNICK, para a MGM.

Elenco: GRETA GARBO (Anna Karenina) FREDRIC MARCH (Conde Alexei Vronsky), BASIL RATHBONE (Karenin), FREDDIE BARTHOLOMEW (Sergei), REGINALD OWEN (Stiva), MAUREEN O´SULLIVAN (Kitty), GYLES ISHAM (Levin), MAY ROBSON (Condessa Vronsky), PHOEBE FOSTER (Dolly) e JOAN MARSH (Lili).

Prêmios:
Associação dos Críticos de Nova Iorque (NYFCC) de Melhor Atriz (Greta Garbo)/1936.

Trailer Original:


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Rainha Christina

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