quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

REDS

"Se tens a ilusão de discutir com um homem sobre a revolução antes de ir para a cama com ele, isso não é sexo, mas uma obra de caridade."

Louise Bryant (Diane Keaton) chega a Portland de 1915. Vai a festas sem o marido, trabalha como jornalista e, em uma exposição de fotos, aparece nua em uma obra. No jornalista John Reed (Warren Beatty), Louise encontra um espírito livre semelhante ao seu. John, que viajou pelo mundo, foi convidado a dar uma conferência em um clube liberal da cidade, sobre a guerra na Europa. Ao invés de esquentar a discussão, John joga um balde de água fria no fogo patriótico dos que estavam a favor da guerra – segundo ele, a guerra somente havia sido provocada por problemas econômicos.

Louise decide seguir John a Nova Iorque. Chegam a Greenwich Village, têm contato com um universo de artistas e boêmios da época, tal como o escritor Eugene O`Neill (Jack Nicholson). Tudo isso acaba resultando em uma convivência monótona com John e que Louise tem dificuldade de suportar. Mudam-se para a cidadela rural de Princetown. A partir de então, algumas vezes juntos e às vezes separados, chegam a Chicado, para finalmente seguirem rumo à Europa, cenário de batalha da Primeira Guerra Mundial, na qual os EUA acabavam de entrar.

Finalmente, em 1917, já casados, chegam à Rússia, onde testemunham a Revolução de Outubro. Impressionados pela insurreição proletária, retornam aos EUA para lutarem pelos direitos dos trabalhadores.

Louise pergunta a John se voltaria a Nova Iorque na qualidade de esposa ou amante. John responde “espere; afinal é quase dia Ação de Graças”. O ator, diretor e roteirista Warren Beatty fez do seu personagem John Reed um patifão sedutor, apaixonado defensor dos direitos dos oprimidos. Esse perfil descreve bem o John Reed real, a quem o escritor Upton Sinclair definiu uma vez como sendo um “playboy revolucionário”. O filme mostra de forma fiel a vida do casal de jornalistas John Reed (1887-1920) e Louise Bryant (1885-1936). Ambos estiveram na Rússia durante a Revolução Bolchevique – uma experiência que Reed narrou no livro “Os Dez Dias Que Abalaram o Mundo” (1919).

O filme é muito curioso: Porque Warren Beatty decidiu realizar um filme de três horas de duração sobre a vida de ativistas políticos comunistas em prol dos direitos sindicais, em plena Era Reagan? A crítica ácida supostamente contida nesse filme em meio ao clima político é somente mais uma de suas inúmeras virtudes.

A produção é extraordinária. “Reds” é uma estória épica e visceral sobre o amor em tempos de revolução, que faz lembrar “Doutor Zivago” (1965). No entanto, neste filme o romance é tratado de forma sarcástica ainda que a densidade política seja mostrada com uma sensibilidade e emoção que às vezes beira a pieguice. Porém, nunca é mostrada uma imagem idealizada dos bolcheviques. À medida que o filme vai chegando ao final pode-se observar com mais clareza o quanto era insignificante para eles as liberdades individuais.

Com esse filme, Warren Beatty pretendeu criar algo mais do que uma estória épica e introduziu, de vez em quando, testemunhos da época. Ainda que essas entrevistas não tenham sido reais, mas sim interpretadas por atores, elas contribuem para manter aberto e fluido o ritmo da narração. E, nessas ocasiões, inclusive, chega-se a questionar certos aspectos da estória, como por exemplo, quando Louise e Eugene O´Neill aparecem juntos na tela e um testemunho diz que não havia ficado claro se os dois tiveram um caso amoroso.

Os diferentes níveis da estória se completam maravilhosamente e resultam em um filme harmônico em que se fica nítida a paixão com que foi concebido e rodado. Os quatro anos que Warren Beatty dedicou ao projeto foram recompensados com doze indicações ao Oscar no ano de 1981, tendo sido agraciado com os prêmios de Melhor Direção, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante.



Reds (Reds)
1981 - EUA - 195 min. – Colorido - Drama
Direção: WARREN BEATTY. Roteiro: WARREN BEATTY e TREVOR GRIFFITHS. Fotografia: VITTORIO STORARO. Montagem: DEDE ALLEN e CRAIG MCKAY. Música: STEPHEN SONDHEIM e DAVE GRUSIN. Produção: WARREN BEATTY para a PARAMOUNT PICTURES.

Elenco: WARREN BEATTY (John Reed), DIANE KEATON (Louise Bryant), EDWARD HERRMANN (Max Eastman), JERZY KOSINSKI (Grigori Zinoviev), JACK NICHOLSON (Eugene O´Neill), PAUL SORVINO (Louis Fraina), MAUREEN STAPLETON (Emma Goldman), GENE HACKMAN (Pete van Wherry) e NICOLAS COSTER (Paul Trullinger).

Prêmios: Oscar de Melhor Diretor (Warren Beatty), Melhor Atriz Coadjuvante (Maureen Stapleton) e Melhor Fotografia (Vittorio Storaro)/1981.


Trailer Original:

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabens Jacques pela narrativa. Apesar de ter cruzado pelo filme Reds algumas vezes, so vim ter desejo de assistih-lo apos ler esta resenha... Alemao/SP

Miguel Andrade disse...

Concordo com o comentário acima do senhor Alemão... Também me apeteceu vê-lo.