sábado, 19 de abril de 2008

SINFONIA EM PARIS

“Se você não pode pintar em Paris, case-se com a filha do chefe.”


O homem que dorme, acorda, entreabre a porta desde a cama e pega a bolsa que oferecem. Levanta a cama até o teto com um sistema de cordas, abre o armário, tira uma mesa e uma cadeira de dentro, procura uma xícara e uma faca em uma gaveta com a mão esquerda, um paletó no armário com a direita, fecha a gaveta com o joelho e volta à mesa. Voilà! O café da manhã está pronto. O pintor americano, Jerry Mulligan vive em Paris com certa dificuldade, e isso é o que mostra a magnífica cena inicial de “Sinfonia em Paris”. Mas o que se pretende transmitir, sobretudo, é o seguinte: com Mulligan, interpretado por Gene Kelly, o bailarino excepcional que também assina como responsável toda a coreografia do filme, todos os afazeres diários convertem-se em dança, em uma festa de movimento e domínio corporal.

O filme narra a história de Jerry, que permanece em Paris, depois da Segunda Grande Guerra Mundial. Jerry é pintor, que vai vivendo graças ao dinheiro emprestado por amigos, como o americano Adam Cook (Oscar Levant), um pianista que nunca atuou em público. Uma coisa fica clara: o dinheiro não desempenha nenhum papel importante no filme. “Sinfonia em Paris” é um conto que prescinde das obrigações da vida real. Este fato fica claro, também, quando na vida de Jerry entram duas mulheres – Milo Roberts (Nina Foch), que é rica, aprecia os quadros de Jerry e atua como uma espécie de mecenas de saias, protegendo o artista sem recursos; e Lisa Bouvier (Leslie Caron), que é ingenuamente bonita. E, naturalmente, Jerry interessa-se muito mais por Lisa do que por Milo. Entretanto, na vida de Lisa há outro homem.

Afirmar que a cena de abertura de “Sinfonia em Paris” é uma festa, seria apenas uma verdade e meia; o filme inteiro é – uma festa que celebra o genial bailarino Gene Kelly e a encantadora Leslie Caron (que Kelly havia descoberto dois anos em um ballet nos Champs Elysées); uma festa que celebra essa Paris irresistivelmente bela e pitoresca, o amor e, sobretudo, a música. Na trilha sonora, há canções memoráveis e imortais de George Gershwin (música) e Ira Gershwin (letra), tais como Our Love is Here to Stay, Embraceable You e S´Wonderful. Gene Kelly canta o clássico I Got Rhythm em um maravilhoso dueto com algumas crianças na rua, tema com o qual o americano ensina inglês aos pequenos franceses.

Além disso, o filme celebra também o prazer de contar histórias. O diretor Vincente Minelli e o roteirista Alan Jay Lerner ("My Fair Lady", de 1964) dominam a narrativa, embelezam e jogam de forma magistral com as convenções. O filme começa com ao menos três vozes que nos introduzem à história, através de comentários em off – além de Jerry e do pianista Adam, também a estrela da revista francesa Henri Baurel (Georges Guétary). Na história, são incluídas várias seqüências oníricas, dentre as quais uma em que Adam sonha com seu primeiro concerto, no qual ele não somente se senta ao piano de calda e comanda o show, mas também toca todos os instrumentos.

Ao final, o filme desprende-se definitivamente de toda a dramaturgia cinematográfica conhecida e conclui com uma cena de baile que dura cerca de dezoito minutos e cuja produção, dizem, custou cerca de quinhentos mil dólares de um total de produção superior a dois milhões e setecentos mil dólares. Somente com música, sem canções e diálogos, Kelly e Caron dançam, num misto de dança moderna e ballet clássico, uma história de amor entre eles e uma Paris extremamente estilizada, inspirada em obras de pintores franceses, como Renoir e Toulouse–Lautrec. Sublime!



Sinfonia em Paris (An American in Paris)
1951 – EUA - 114 min. – Colorido – MUSICAL
Direção: VINCENTE MINELLI. Roteiro: ALAN JAY LERNER. Fotografia: ALFRED GILKS e JOHN ALTON. Montagem: ADRIENNE FAZAN. Música: GEORGE GERSHWIN, SAUL CHAPLIN e JOHNNY GREEN. Produção: ARTHUR FREED, para a MGM.

Elenco: GENE KELLY (Jerry Mulligan) LESLIE CARON (Lisa Bouvier), OSCAR LEVANT (Adam Cook), GEORGES GUÉTARY (Henu Baurel), NINA FOCH (Milo Roberts), EUGENE BORDEN (George Matthieu), e MARTHA BAMATTRE (Mathilde Matthieu).

Prêmios:
Oscars de Melhor Filme (Arthur Freed), Melhor Roteiro (Alan Jay Lerner), Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons, E. Prestn Ames, Edwin B. Willis e F. Keogh Gleason), Melhor Fotografia (Alfred Gilks e John Alton); Melhor Figurino (Orry-Kelly, Walter Plunkett e Irene Sharaff) e Melhor Trilha Musical (John Green e Saul Chaplin) /1951.

Trailer Original:


Assista também:




Gigi

3 comentários:

Kamila disse...

Sou fã do Gene Kelly e acho esse "Sinfonia em Paris" simplesmente maravilhoso. Os números musicais são muito bem feitos e coreografados e o par que ele faz com Leslie Caron é ótimo. O longa mereceu o Oscar de Melhor Filme naquele ano.

Cecilia Barroso disse...

Simplesmente adoro Sinfonia em Paris! Além de um Gene Kelly inspiradíssimo, as músicas de Gershwin que gosto de ouvir até quando estou sem fazer nada, fazem do filme um daqueles programas deliciosos e imperdíveis.
Beijos

Jacques disse...

Kamila e Cecília, esse filme de fato se situa entre o que de melhor a Metro produziu. Legal que vcs curtam musicais. Estou revendo e preparando outros para sendo postados brevemente. Abcs