terça-feira, 4 de março de 2008

DUBLÊ DE CORPO

" Ação, Jake.”

O ator Jake Scully (Craig Wasson) é atingido por todos os lados. De repente, sofre uma crise de “medo da câmera”, que atribui a uma experiência claustrofóbica na infância. É demitido e, ao chegar em casa, encontra nada menos que sua noiva na cama com outro. Mas parece que sua sorte muda, quando conhece um colega de profissão, Sam (Gregg Henry), que lhe oferece a possibilidade de cuidar da casa de uns amigos que estão fora da cidade. O apartamento luxuoso, localizado numa montanha, não somente tem vista de toda Los Angeles, , assim como dispõe de uma luneta perfeitamente situada para observar o quarto de Glória Revelle (Deborah Shelton), uma morena explosiva que oferece todas as noites uma espécie de striptease em seu apartamento.

Jake fica fissurado pela misteriosa mulher e observá-la torna-se rapidamente em uma obsessão. Porém, numa noite descobre que ele não é o único que tem o hábito de voyeurismo. Um estranho e inquietante homem, de origem índio-americana, rastreia todos os seus movimentos. Jake pretende advertir Gloria, mas chega tarde demais e nada pode fazer, senão observar a janela com o homem cometendo um brutal assassinato. Agora somente restou-lhe ajudar a polícia a descobrir o assassino. Ao voltar ao apartamento, Jake se refugia no álcool e na pornografia – lhe parecem familiares os movimentos lascivos de uma estrela pornô ruiva (Melanie Griffith). Pouco a pouco se dá conta de que havia sido somente a peça de uma engrenagem de um crime planejado.

O toque hitchicockiano dos filmes de Brian De Palma começou a chamar atenção com “Sisters” (1973). Alguns críticos chegam a tê-lo como o legítimo herdeiro do diretor britânico – o que, apesar da qualidade técnica de Brian de Palma, a comparação chega a ser um exagero. Em “Obsessão” (1976), a versão de De Palma para “Vertigo” (1976), ao contrário de “Dublê de Corpo”, baseou-se numa leitura livre da obra de seu ídolo. Na realidade, Jake Scully é a reencarnação dos personagens interpretados por James Stewart em “A Janela Indiscreta” (1954) e “Vertigo” (1958).

Jake adota o maneirismo obsessivo de estar sendo perseguido, como no primeiro filme, e é vítima dos encantos sedutores da mulher que faz de isca, como acontece ao policial aposentado, no segundo filme. A veneração de De Palma pelas obras do Hitchcock vai além de meras semelhanças. De Palma reproduz cenas-chave os filmes do mestre, como a seqüência circular do beijo e o famoso efeito de vertigem que Hitchcock inventou em “Vertigo”. As versões destas cenas trazem certo exagero, o que permite aos fãs dos originais reconhecerem a homenagem.

A hipérbole de De Palma leva o filme para o terreno da farsa, mas também existe uma dimensão de auto análise, pois são empregadas técnicas que mostram o conhecimento da mudança de política em Hollywood. Submetido à censura, Hitchcock valia-se da sutileza e da ironia para expressar o voyeurismo, com grande perspicácia e características compensadoras. De Palma, ao contrário, decide tratar a questão de forma direta e o exagerado artificialismo do filme, bem como o seu radical simbolismo sexual, apresentam-se como fantasias masculinas agressivas e grotescas.

O público se depara com a imagem dos desejos (sem barreiras) de um protagonista impotente e frustrado. Ao contrário de James Stewart, aqui o herói é patético: protegido de uma realidade no seio materno, um solitário apartamento que parece um o.v.n.i., entrega-se aos sonhos úmidos mais mórbidos, de cima da “acrópole” do cinema californiano.

“Dublê de Corpo” é uma homenagem a um mestre e uma crítica irônica aos filmes de Hollywood dos anos oitenta, durante a Era Reagan. Em plena recuperação das fantasias viris, os filmes reproduziam heróis com excesso de músculos e dispostos a enfrentar o mundo. Até Jake entra em ação na cena final, ao interpretar um vampiro em um filme pornô light e derramar sangue falso nos seios nus de uma especialista. Ao seu modo, é um final feliz.



Dublê de Corpo (Body Double)
1984 – EUA - 114 min. – Colorido – SUSPENSE
Direção: BRIAN DE PALMA. Roteiro: ROBERT J. AVRECH e BRIAN DE PALMA. Fotografia: STEPHEN H. BURUM. Montagem: JERRY GREENBERG e BILL PANKOW. Música: PINO DONAGGIO. Produção: BRIAN DE PALMA , para a COLUMBIA PICTURES CORPORATION e DELPHI 2.

Elenco: CRAIG WASSON (Jake Scully), GREGG HENRY (Sam Bouchard), MELANIE GRIFFITH (Holly Body), DEBORAH SHELTON (Gloria Revelle), GUY BOYD (Jim McLean), DENNIS FRANZ (Rubin), DAVID HASKELL (Professor de Teatro), REBECCA STANLEY (Kimberly Hess), AL ISRAEL (Corso) e DOUGLAS WARHIT (Vendedor de Vídeos).



Trailer Original:

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