quarta-feira, 22 de outubro de 2008

LA LUNA

“Meu Deus, o que eu fiz a você?”


O filme mostra uma bonita e bem sucedida cantor lírica e sua relação incestuosa com seu filho de 15 anos, um junkie. Quando o marido de Caterina (Jill Clayburgh) morre no inicio do filme, ela se muda com seu filho Joe (Matthew Barry) para Roma, onde possui um contrato profissional, pouco se importando com o impacto dessa mudança abrupta sobre o garoto. Joe, que a admira, é forçado a ficar em segundo plano em seu afeto à medida que a carreira da mãe avança com a providencial alegria de uma viúva liberal. Joe recorre às drogas e, quando sua mãe percebe o que está acontecendo, tenta resgatar o tempo perdido. O tema é sério e forte. Entretanto, há um senão na forma como o diretor lida com a questão. Um dos melhores momentos do filme é a cena em que Joe, sentindo uma necessidade desesperadora pela droga, é confortado pela mãe, de forma ingenuamente sexy (se é que isso seja possível). Enquanto ela o embala, ele começa a sugar seus seios. A reação dela a isso é levá-lo ao orgasmo e assim somos levados a entender essa atitude como uma “droga suavizante”. Será que um drogado tem tanto tesão a ponto de substituir o prazer sexual pela droga, numa crise de abstinência? Não quero ser literal, mas fica a questão.

A dificuldade de lidar com alguns filmes de Bertolucci é justamente o fato de que ele não parece um artista totalmente desprovido de humor, como parece. Por causa disso, pode ser que eu esteja equivocado, mas faço uma leitura de que “La Luna” não seja tão sério quanto pareça. Pode até ser que tenha a pretensão de ser um filme engraçado , quando parece demonstrar o contrario. Entretanto, não acho que seja o caso. Suspeito que Bertolucci quer nos emocionar e também chocar com a situação do “casal”.

Jill Clayburgh como Caterina está esplendida, chia de nuances e contradições. Egoísta, mas generosa; amorosa, mas esquecida; auto-centrada em si mesma, mas verdadeiramente apaixonada pela profissão. Quando a atriz diz a seu filho, cuja passividade a enfurece, “Venho de um mundo onde cantar, criar e sonhar nada significa”, traz a força que somente uma grande atriz, em atuação rara e complexa, poderia realizar. O filme talvez não esteja à mesma altura.

Apesar da espetacular fotografia de Vittorio Storaro e das peças musicadas de "Il Trovatore," "La Traviata," "Rigoletto" e"Un Ballo in Maschera" , “La Luna" deixa-me na dúvida. Neste caso, prefiro encará-lo como uma grande metáfora. Eu o acharia até poético caso Bertolucci não insistisse em tratar Joe como um estudo de caso de uma criança rejeitada e não amada.

“Posso fazer todas as coisas que papai faz para você”, o garoto diz no começo do filme. Mais tarde, ele brada, como num dramalhão, que sua mãe não o ama e nunca amou. Lá na frente, Caterina lamenta: “Meu Deus, o que fiz a você”. Nenhuma dose de Verdi pode transformar esses clichês em algo maior, à medida que o filme vai chegando ao seu final. Se isso causa um embaraço em algum musical da Broadway, o que dizer num filme passado em Roma, tendo óperas como pano de fundo.

Há um numero de momentos isolados que são poderosos e fortemente angustiantes, mas tais efeitos não são tão difíceis de serem atingidos quando são mostradas cenas de um viciado furando o braço com um garfo no lugar de uma seringa. Jill Clayburgh está sempre extraordinária sob quaisquer circunstâncias. Há também boas atuações coadjuvantes como as de Renato Salvatori, Fred Gwynne, Alida Valli e Tomas Milian, mas nenhuma delas é suficiente para colocar o filme num patamar de obra-prima.



"La Luna" (La Luna)
1979 – EUA/ITÁLIA - 142 min. – Colorido – DRAMA
Direção: BERNARDO BERTOLUCCI. Roteiro: GIUSEPPE BERTOLUCCI, CLARE PEPLOE E BERNARDO BERTOLUCCI, baseado na história original de FRANCO ARCALLI, BERNARDO BERTOLUCCI E GIUSEPPE BERTOLUCCI . Fotografia: VITTORIO STORARO. Montagem: GABRIELLA CRISTIANI. Música: GIUSEPPE VERDI, BARRY GIBB, ROBIN GIBB E MAURICE GIBB. Produção: GIOVANNI BERTOLUCCI para a FICTION CINEMATOGRAFICA S.P.A., distribuído pela 20th Century-Fox.

Elenco:
JILL CLAYBURGH (Caterina Silveri), MATTHEW BARRY (Joe), VERONICA LAZAR (Marina), RENATO SALVATORI (Comunista), FRED GWYNNE (Douglas Winter), TOMAS MILIAN (Giuseppe), ALIDA VALLI (Mãe de Giuseppe ), ELISABETTA CAMPETI (Arianna), CLARA BINDI (Empregada da Estalagem), MARIO PASSANTE (Homem no bar) e RENATO TERRA (Decorador).


Cenas do Filme:



Do mesmo diretor:



O Último Tango em Paris

4 comentários:

Miguel Andrade disse...

Jacques, é incrível como a carreira do Bertolucci despencou depois daquela porrada de Oscar por O Último Imperador. Impensável que ele volte a fazer algo tão inusitado quanto este que você indica!!!

Kau disse...

Jacques, eu gosto demais de O Último Tango em Paris. Assisti esses dias La Luna e confesso que até gostei (uma nota 7,0). Entretanto, infelizmente, o ponto alto do filme não é Bertolucci; mas sim a excelente atuação de Jill Clayburgh.

Abraços.

Miriam disse...

Último Tango em Paris eu assisti , mas La Luna, não. Parece um pouco forte.
Beijos.

Cecilia Barroso disse...

Confesso que nunca vi esse filme por achar a história forte demais!
Agora que estou mais velha, já existe uma possibilidade.

Beijocas