quinta-feira, 27 de agosto de 2009

IMPÉRIO DO SOL

“Não me lembro como são meus pais.”


“Império do Sol” apresenta a junção de dois momentos da filmografia spielberguiana. O primeiro seria este que mostra crianças como fio condutor de uma trama que levará inapelavelmente à revelação; o segundo, demonstra uma preocupação que o diretor tinha em querer fazer filmes para alcançar um público adulto. Tal tendência já havia se revelado anteriormente em “A Cor Púrpura” (85). Em “Império do Sol”, Spielberg se afirma de maneira mais definitiva. Basta dizer que o filme inicia mostrando corpos sem vida boiando no mar. A morte, fim de todas as ilusões, serve assim para ilustrar a cena do filme de um dos reabilitadores do Cinema como espaço do sonho. Talvez por isso, quem assiste a esse filme pela primeira vez e esperava encontrar o diretor de filmes como “Tubarão” (75), “Encurralado” (71), “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (77) ou “1941” (79), ficou um tanto quanto surpreso. Superprodução bastante requintada, foi rodada durante quatro meses, empregou mais de 15.000 extras e quase 500 técnicos, divididos entre americanos, ingleses, chineses e espanhóis, trabalhando simultaneamente em três paises: China, Inglaterra e Espanha. Logo no início, impressiona o impacto da cena em que o protagonista Jim dirige-se com os pais para um baile à fantasia. As tomadas feitas de cima da cidade de Xangai revelam a opulência da produção, desde a riqueza de detalhes do figurino, assinado por Bob Ringwood, até a irretocável direção de arte, a cargo de Norman Reynolds. A megalomania chegou ao ponto de levar o diretor a queimar diversos pneus nas regiões de Feng Yang e Jiu Tiang, a fim de obter a fumaça adequada para as cenas de batalha.

Inspirado em romance homônimo de J.G. Ballard, “Império do Sol” conta um pouco do drama vivido pelo próprio Ballard durante a Segunda Guerra Mundial, quando, ainda adolescente, foi mantido, ao lado dos pais, como prisioneiro em Lunghua, Japão. O livro narra a historia do menino Jim Graham, de apenas 11 anos, que passa a viver uma vida de cão depois que as forcas armadas do Império Japonês, o Império do Sol, conquistam, logo após o bombardeio de Pearl Harbor, em 8 de dezembro de 1941, a cidade de Xangai.

Jim é um garoto que acaba sobrevivendo num contexto de mundo e situação de difícil sobrevivência. Entretanto, mais importante do que permanecer vivo numa situação adversa, é que Jim sonha. Para ele, pouco importa a guerra. Na verdade, esse Oliver Twist moderno a observa quase o tempo todo como uma brincadeira de soldados de chumbo. Seu desejo maior é voar, pilotar um dos famosos Zeros japoneses. Em “Império do Sol”, Spielberg filma a tensão de Jim entre a realidade e o sonho. Cinematograficamente, vence o sonho - senão o filme não seria um Spielberg.

As melhores cenas são justamente aquelas que mostram algum encanto, como aquela em que Jim toca pela primeira vez suas minúsculas mãos num avião e em seguida bate continência para três oficiais japoneses. Ou, então, quando o “sonho” acaba e, no reencontro com os pais, o garoto até então fascinado pela fantasia que vive, volta à realidade. Neste despertar, não abre os olhos e sim os fecha pela primeira vez, no porto seguro do abraço materno. Neste rápido instante, Spielberg aparece inteiro, deixando claro que o universo da fantasia é seu verdadeiro império. Pena que se trata de um Spielberg que há muito não é o mesmo.



Império do Sol (Empire of the Sun)
1987– EUA - 153 min. – Colorido – DRAMA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: TOM STOPPARD, baseado em romance de J.G. BALLARD Fotografia: ALLEN DAVIAU. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILIAMS. Produção: STEVEN SPIELBERG, KATHLEEN KENNEDY E FRANK MARSHALL, distribuído pela WARNER BROS.

Elenco:
CHRISTIAN BALE (Jim Graham), JOHN MALKOVICH (Basie), MIRANDA RICHARDSON (Sra. Victor), NIGEL HAVERS (Dr. Rawlins), JOHN PANTOLIANO (Frank Demarest), LESLIE PHILLIPS (Maxton), MASSATÔ IBU(Sargento Nagata), EMILY RICHARD (Mary Graham), RUPERT FRAZER (John Graham) e PETER GALE (Sr. Victor).



Cenas do filme:


Assista também:




E.T. - O Extraterrestre

7 comentários:

Paulo Montanaro disse...

É realmente de uma sensibilidade muito comovente e particupar esse filme. Spielberg quando não era tão genial (sic) sabia como lhe dar com dramas internos. Quem sabe, esse Spielberg volta...

Belo texto!

Há braços
Paulo

Wally disse...

Preciso conferir esta elogiada obra de Spilberg.

O Cara da Locadora disse...

Realmente é um filme lindo e com uma bela atuação do futuro Batman...

Ygor Moretti disse...

Muito bom filme, ali ja se via o que eu acho ser um grande talento como ator.

abraço!!!

Pedro Henrique Gomes disse...

Eu adoro, gosto bastante do filme. Spielberg mais uma vez acertando.

Red Dust disse...

Para mim é um filme de nota máxima. A saga daquele puto é emocionante. Spielberg (mais uma vez...) presenteia-nos com uma obra cinéfila de elevada categoria.

Abraço.

Jacques disse...

Montanaro, embora o Spiebelg mais premiado seja o "adulto", o melhor é o da fase infanto-juvenil.Abcs

Wally, confira. Vai gostar.Abcs

Cara, concordo. Bailey nunca mais voltou, na minha opinião, a ter atuação igual.Abcs

Ygor, acho Bailey um ator correto.
Não mais do que isso.Abcs

Pedro, realmente.Abcs

Red, filme muito bom. Nota máxima ainda não. Abcs