quinta-feira, 6 de março de 2008

TAXI DRIVER

“Fala comigo?”


Os nervosos e metálicos compassos do tema musical da seqüência inicial indicam claramente que o filme vai terminar calmo. Na rua, uma densa nuvem de vapor brota do chão e deixa a tela em branco. Do nada, surge um táxi amarelo atravessando a inquietante cortina de vapor em câmera lenta. A música em off perde-se aos poucos em harmonias graves, o táxi fantasmagórico desaparede e e a nuvem volta a encher a tela. Dois olhos negros aparecem em primeiro plano, acompanhados por um tema de jazz. Olham de cima a baixo a luz vacilante dos faróis, como observando ao redor. São os olhos de Travis Bickle (Robert De Niro), um taxista novaiorquino que terminará convertendo-se em um anjo vingador.

“Táxi Driver” tem dividido a crítica desde sua estréia em 1976. Para uns, o protagonista sofre de desorientação moral, presume ser o salvador de uma jovem prostituta (Jodie Foster) e, ao final, em uma sangrenta loucura, executa três figuras suspeitas – fato que faz a imprensa trata-lo como um herói. Fazendo uma análise mais atenta, outros críticos viram nas imagens melancólicas uma linguagem cinematográrica magistralmente estilizada e descobriram na figura do louco homicida Travis Brickle um tipo urbano sócio-patológico que aparecem por toda a parte. “Em cada rua, em cada cidade tem um senhor nada que sonha ser alguém”, dizia um dos textos dos cartazes.

Travis não pode dormir à noite. Se há taxista para ganhar “uma grana, levo as pessoas quando e aonde queiram”, diz mais ou menos na entrevista para emprego; inclusive aos bairros que seus colegas evitam há tempos. São regiões nas quais as luzes são excessivas ou bem escassas, nas quais as bandas de rua tocam com toda liberdade e em que as prostitutas adolescentes esperam clientes sob uma gritante publicidade luminosa. Travis consegue trabalho. Ele e seu táxi são um só – a catástrofe se inicia...

Como Travis, o espectador observa a noite andando de táxi. Poucas vezes Nova Iorque foi filmada em seqüências tão impressionantes. O estilo fotográfico alterna entre o enfoque semi-documental e o subjetivo. A sugestiva música de Bernard Herrmann, que não se limita a acompanhar o filme, dá lugar a uma união absolutamente peculiar de imagem e som. Viajar no táxi passa a ser nada menos que uma metáfora do cinema.

Travis falha na sua tentativa de desenvolver uma relação amorosa com Betsy (Cybill Shepherd), que colabora em uma campanha eleitoral. Incapaz de fazer-se compreender e de expressar seus sentimentos, acaba recorrendo às armas. Anda pela cidade sozinho, sem rumo fixo. A história de Travis é semelhante a do táxi amarelo que surge da neblina na seqüência inicial do filme. Também, ele surge do nada, deixa-se ver brevemente na luz noturna da grande cidade e volta a desaparecer no nada.

Travis não é um herói, mesmo que aqueles que viram o filme pela primeira vez celebraram sua implacável loucura homicida. Naturalmente, a violência é um temaimportante no filme, mas neste caso não se trata da violência física, mas sim social. Travis personifica o homem que se perdeu na cidade grande. Robert De Niro dotou-o de feições próprias e um corpo inconfundíveis.

Scorsese destaca-se por realizar seus filmes no papel. Disseca-as previamente, em storyboard. Suas imagens são uma verdadeira linguagem. Paul Schrader roteirizou “Taxi Driver”. Foi a colaboração entre esses dois fanáticos do cinema. Inesquecíveis as cenas em que Travis se observa diante do espelho sem camisa e com o revólver à mão, duelando consigo mesmo. “Está falando comigo?” É uma cena que foi exaustivamente repetida no cinema, mas jamais superada. Um clássico moderno.



Taxi Driver (Taxi Driver)
1975 – EUA - 113 min. – Colorido – DRAMA
Direção: MARTIN SCORSESE. Roteiro: PAUL SCHRADER. Fotografia: MICHAEL CHAPMAN. Montagem: TOM ROLF, MELVIN SHAPIRO e MARCIA LUCAS. Música: BERNARD HERRMANN . Produção: JULIA PHILLIPS e MICHAEL PHILLIPS, para BILL/PHILLIPS e COLUMBIA PICTURES CORPORATION.

Elenco: ROBERT DE NIRO (Travis Bickle), CYBILL SHEPHERD (Betsy) (Jeanne), JODIE FOSTER (Iris), HARVEY KEITEL (Esportista), ALBERT BROOKS (Tom), PETER BOYLE (Wizard), MARTIN SCORSESE (Viajante), STEVEN PRINCE (Andy, traficante de armas), DIAHNNE ABBOTT (Confeiteira), e VICTOR ARGO (Melio).

Prêmios: Palma de Ouro de Melhor Filme (Martin Scorsese)/1975.


Trailer Original:

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