sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

FANNY E ALEXANDER

"Tudo pode acontecer, tudo é plausível e provável. O espaço e o tempo não existem."

Desde as primeiras cenas de Fanny e Alexander, Ingmar Bergman define sua posição e mostra claramente quais são suas intenções: o começo do filme aparece um menino contemplando um teatro de marionetes. Um a um desmonta todos os elementos da decoração. De igual modo, o garoto vai colocando a cara e desmascarando o mundo dos adultos. O ponto de vista deste filme é, sobretudo, do menino de 10 anos, e o drama se desenvolve a todo momento sob o olhar atento do jovem alter ego de Bergman.

Alexander (Bertil Guve) e sua irmã de oito anos (Pernilla Allwin) são os membros mais jovens dos Ekdahl, uma família que dirige um teatro de uma pacata cidade sueca no início do século XX. A avó é quem dita as normas do clã com sabedoria e paciência. A vida dos Ekdahl transcorre assim turbulenta e cheia de surpresas, oferecendo a Alexander constante inspiração para novos e fantásticos jogos. O garoto sonha em fazer uma carreira brilhante sobre os palcos, tal qual sua avó e mãe, mas a morte do pai mudará seus planos.

Ao morrer seu marido, Emilie (Ewa Frölig), a jovem viúva, casa-se com o bispo Edvard Vergerus (Jan Malmsjö). Em nome do amor e do respeito, renuncia à carreira de atriz e muda-se com seus filhos para a casa do bispo. No clima rígido(e hipócrita) de seu novo lar, as crianças vivem intimidadas e atormentadas. Mas Alexander é um rebelde. Na hora da oração à mesa, recita indecências pouco cristãs e com sua astúcia cruel e infantil consegue freqüentemente tirar seu padastro do sério. O bispo trata-o sem misericórdia e, em lugar do amor de Deus, Alexander conhece muito melhor o chicote e os métodos humilhantes da Inquisição. O lar havia se transformado para a mãe e seus filhos em um inferno puritano e a todos parece um milagre quando conseguem escapar dele.

O filme é uma colcha de imagens barrocas e de grande dramaticidade, onde Bergman elabora a matéria prima bruta de sua própria infância. A estória dos Ekdahl (não parece uma casualidade que o apelido da família nos lembre a do fotógrafo da obra de Ibsen, "O Pato Selvagem"), trata sobre a necessidade do teatro, da imaginação na vida humana. O próprio Bergman era filho de pastor e, talvez porisso, o filme não deixa dúvida sobre a opinião do diretor sobre a atitude de certos padres, para quem o amor e o temor a Deus não são mais que meros instrumentos de poder que utilizam com a finalidade de dominar e tiranizar sues semelhantes.

Oscar Ekdahl, o pai de Fanny e Alexander, morre de um infarto durante um ensaio de Hamlet, na qual interpretava o papel de espírito. Desde então, ajuda ocasionalmente seu filho , que se sente um pouco como o personagem de Shakespeare. Bergman completa assim de uma forma fluida sua história familiar de forma realista com uma pitada sobrenatural. O diretor se esforça também para contrastar o dionisíaco amor pela vida que se respira na casa dos Ekdahl com a opressiva disciplina da residência episcopal, e pretende explorar o inevitável conflito entre fantasia e razão.

Este filme tem uma duração de três horas e meia, mas foi feita uma versão para a televisão - de quatro episódios - com duração de 312 minutos. Para Bergman, Fanny Alexander mostra um balanço de sua vida e de sua obra. Ainda que nos últimos vinte anos o prestigioso diretor - morto no ano de 2007 - tenha dirigido inúmeros trabalhos para o teatro e televisão, este é até hoje, seu último longa-metragem para o cinema (para infelicidade de todos nós).Fanny e Alexander foi o primeiro filme estrangeiro a ganhar quatro prêmios Oscar. Sublime.



Fanny e Alexander (Fanny och Alexander)
1982 - SUÉCIA/FRANÇA/ALEMANHA - 187 min. – Colorido - Drama
Direção: INGMAR BERGMAN. Roteiro: INGMAR BERGMAN. Fotografia: SVEN NYKVIST. Montagem: SYLVIA INGEMARSSON. Música: DANIEL BELL. Produção: JÖRN DONNER para SWEDISH FILMINSTITUTE SVT 1, PERSONA FILM e TOBIS.

Prêmios: Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Jörn Donner), Melhor Fotografia (Sven Nykvist), Melhor Direção de Arte (Anna Asp e Susanne Linghelm) e Melhor Figurino (Marik Vos-Lundh)/1982.



Elenco: BERTIL GUVE (Alexander), PERNILLA ALLWIN(Fanny), BÖRJE AHLSTEDT (Carl Ekdahl), ALLAN EDWALL (Oscar), EWA FRÖLING (Emilie), JARL KULLE (Gustav Adolf Ekdahl), GUNN WÄLLGREN (Helena Ekdahl), JAN MALSMSJÖ (Edvard Vergerus), HARRIET ANDERSSON (Justina), ANNA BERGMAN (Hanna Schwartz) e LENA OLIN (Rosa).


Trailer Original:

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