terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ROMEU E JULIETA

“Em seus lábios, expio meus pecados.”


“Romeu e Julieta” é um romance trágico que tem sido filmado à exaustão. Em 1936, foi estrelada uma versão com Norma Shearer e Leslie Howard. Os atores estavam com uma idade excessiva para interpretarem o par central. Outras versões mais modernas foram feitas: “Amor, Sublime Amor” (1961), de Robert Wise, que transpõe para Nova Iorque o romance em meio a uma briga entre gangues; “Inimigos pelo Destino” (1987), de Abel Ferrara, sobre um romance proibido entre uma jovem de Chinatown e um rapaz de Little Italy; também, “Romeu + Julieta” (1996), de Baz Luhrmann, sobre punks californianos em Verona Beach. Porém, é bem provável que por muitos anos a melhor versão para o cinema continue sendo esta de Franco Zefirelli. A começar pela escolha de atores adolescentes para interpretarem os personagens. Na obra de Shakespeare, Julieta deveria ter cerca de 14 anos e Romeu um puco mais. Olivia Hussey, argentina de 16 anos, foi escolhida através de uma pesquisa internacional. Leonard Whiting, inglês, tinha a idade de 17 anos.

Zefirelli foi criticado por haver suprimido parte da retórica predominante na peça; entretanto, foi uma decisão acertada, pois muito do que no palco precisa ser explicitado ou descrito, nas telas pode simplesmente ser mostrado. É o caso de Benvolio, que assiste ao funeral de Julieta e, portanto, não há a necessidade de descrevê-lo para Romeu que se encontrava exilado. O diretor manteve integralmente os elementos principais: a pureza da paixão do casal; a rusticidade da ama de Julieta; a estratégia bem intencionada de frei Lourenço, as diferenças ferrenhas entre os rapazes das duas familais rivais e a cruel ironia da dupla morte.

Olivia Huhssey e Leonard Whiting interpretam o papel de forma excepcional – pela estréia e pela complexidade que seus papeis exigiam. O próprio desconhecimento da riqueza do texto de Shakespeare contribuiiu para que a dupla naõ se intimidasse ao interpretá-los. Contribuem para a harmonia do filme a trilha sonora de Nino Rota e a estupenda fotografia de Pasqualino de Santis, premiada com o Oscar.

As duas cenas principais do filme são a do balcao e da cripta. Segundo o próprio Zefirelli, o sucesso do filme dependia dessas tomadas. E ele estava certo. Por esta razão a película foi um hit à época de seu lançamento. Filmado num período em que o mundo enfrentava diversas crises políticas, a película foi um sucesso entre jovens que estavam cansados de conflitos e guerras. O diretor ousou em mostrar o casal despertando na cama de Julieta (algo que os puristas devem ter torcido o nariz).

Na verdade, Zefirelli nada mais fez do que tornar explicito algo que estava nas entrelinhas da obra original. Porque não faria sentido os jovens consumarem o seu romance, estando casados, e antes que Romeu fosse enviado ao exílio?
Além da trilha sonora e da fotografia, vale destacar o figurino de Danilo Donati, também premiado com o Oscar, que introduz sensualidade e voluptuosidade aos personagens. “Romeu e Julieta” continua sendo o apogeu na carreira de Zefirelli, que acabou ficando caracterizado como um diretor romântico.

Assistir ao filme é entrar em sintonia com esse clima amoroso. É muito interessante o fato de que esse filme resgata todo o vigor de um romance puro, porém intenso, ao passo que a versão de 1996resgata um clima mais violento. Talvez, o tempo tenha mudado e deixado o público muito céptico em relação às relações amorosas e, conseqüentemente, mais ávido por ação e conflitos.

Apesar disso tudo, duvido que atualmente alguém seria capaz de caçoar da explicita natureza romântica e da pureza do casal de amantes. Isso, por uma razão: o próprio Shakespeare ao apresentar a sua peça pela primeira vez , não se supreendeu com a reação do público ao assistir à encenação de Romeu e Julieta. O público era formado por pessoas de diversas classes, culturas e gostos. E, como tal, além, de toda a grandeza do texto do autor, as pessoas perceberam que o casal ali representado não era formado por personalidades inatingíveis, daquelas tão comuns de serem encenadas –reis, artistas, etc. – mas um jovem casal apaixonado e comum, como todos já haviam visto e sido em algum momento de suas vidas.



"Romeu e Julieta" (Romeo and Juliet)
1968– INGLATERRA/ITÁLIA - 158 min. – Colorido – DRAMA
Direção: FRANCO ZEFIRELLI. Roteiro: FRANCO BUSATI, MASOLINO D´AMICO E FRANCO ZEFIRELLI, baseado na peça de W. SHAKESPEARE. Fotografia: PASQUALINO DE SANTIS. Montagem: REGINALD MILLS. Música: NINO ROTA. Produção: JOHN BRABOURNE E ANTHONY HAVELOCK-ALLAN.


Elenco: LEONARD WHITING (Romeu) OLIVIA HUSSEY(Julieta), JOHN McENERY (Mercúcio), MILO O´SHEA (Frei Lourenço), PAT HEYWOOD (Ama), ROBERT STEPHENS (Príncipe de Verona), MICHAEL YORK (Tebaldo), BRUCE ROBINSON (Benvólio), PAUL HARDWICK (Lorde Capuletto), NATASHA PARRY (Lady Capuletto), ANTONIO PIERFEDERICI (Lorde Montecchio), ESMERALDA RUSPOLI (Lady Montecchio) e ROBERTO BISACCO (Páris).

Prêmios:
Oscar de Melhor Fotografia (Pasqualino de Santis) e Melhor Figurino (Danilo Donati)/1969.

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Irmão Sol, Irmã Lua

4 comentários:

Sergio Deda disse...

Mais uma adaptação dos pombinhos hehehe mas esse eu nunca vi. Vou acrescentar na lista!

Abraços!

Anônimo disse...

O filme é belo. Claro que 80% do mérito é do texto magnífico de Shakespeare, mas é bem atuado e Zeffireli tem uma sensível e oportuna direção, ainda que convencional. Por isso que nesse sentido prefiro a versão de Baz.

Ciao!

Cine&Club2* disse...

Não tive a chance de ver ainda, mais não sou nada fã da grande historinha de Romeu e Julieta .

Jacques disse...

Sergio, este é sem dúvida a melhor adaptação para o cinema da peça de Shakespeare.

Wall, não creio que a versão de Baz seja superior.Tanto que passou batida. Mas tá valendo.

Cleber, de fato a historia é batida. Mas sendo neutro e tendo vontade de assitir e comparar, vale a pena. Não vai se arrepender.