quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O PODEROSO CHEFÃO - PARTE 2

“Mantenha-se perto dos amigos e mais ainda dos inimigos.”


As frases ruins não se pronunciam nunca. Neste filme nada é falado de Máfia. Com esta continuação, que narra a ascensão e decadência da “família” nova iorquina do anterior “O Poderoso Chefão”, Coppola conseguiu muito mais do que a continuação de um roteiro; criou uma obra independente que, segundo muitos, é superior à anterior. Para outros, nem tanto. A bem da verdade é um segundo filme realizado com grandes trechos da obra de Mario Puzo que não tinham espaço no primeiro filme. Em “O Poderoso Chefão 2” são justapostas duas linhas narrativas. A primeira, situa-se na Sicília, no começo do século XX. O jovem Vito Andolini (Oreste Baldini), nascido na aldeia de Corleone, é o único que sobrevive ao extermínio de sua familia pela Máfia. O barco que o leva à América juntamente com amigos do clã familiar representa sua única possibilidade de sobrevivência. Ao chegar a Ellis Island, em Nova Iorque, Vito, que é registrado por um oficial de imigração com o sobrenome de Corleone, contempla a estátua da Liberdade, que significa o sonho americano de muitos imigrantes. Muitos anos depois após ter constituído sua família, um Vito adulto (interpretado por Robert De Niro) pretende estabelecer-se em Little Italy – o bairro nova iorquino ocupado por imigrantes italianos. Mas também ali domina a Máfia, fazendo com que comece a ascensão de Vito à condição de Chefão.

A segunda linha narrativa começa em 1958, poucos anos depois do final do primeiro filme. Michael (Al Pacino), filho de Vito Corleone, que desde a morte do pai está à frente dos negócios, vive em Lake Tahoe, Nevada, de onde pretende legalizar suas atividades em Las Vegas e estendê-las a Miami e Cuba, com a colaboração do gângster Hyman Roth (Lee Strasberg). Michael mantém-se fiel aos princípios comerciais de seu pai – ficar perto dos amigos e mais ainda dos inimigos.

Uma grande festa, organizada por Michael em sua propriedade, por ocasião da comunhão de seu filho, reúne sua família e seus sócios. Enquanto os convidados divertem-se do lado de fora, Michael encontra-se em seu escritório recebendo membros da “família”.. Adverte pela primeira vez que seus inimigos estão mais próximos do que imagina. Michael, que havia subornado políticos e preside uma empresa familiar “mais poderosa que a U.S. Steel” (como dirá depois), comprovará que seu objetivo de manter a família unida acaba naufragando.

Ao final do filme – havia tempo que sua esposa Kay (Diane Keaton) o tinha deixado - vemos um Michael Corleone sentado em seu jardim, sózinho, tendo com única companhia suas lembranças e sua raiva. Justamente enquanto sua mãe está presente, ele ordena a execução de seu irmão Fredo (John Cazale), que, como outros, o havia traído.

Em “O Poderoso Chefão – Parte 2” contrapõem-se as personalidades do pai e do filho, permitindo divagar sobre os conceitos de moral, confiança e lealdade, engano e vingança. Vito era um siciliano íntegro, cujas circunstâncias o levaram ao crime. Foi poderoso porque supôs ganhar o respeito e a confiança de seus amigos. Seu filho, por outro lado, foi criado na Máfia e, como tal, teve que aprender a conviver com as responsabilidades herdadas e com o poder vinculado às mesmas. Não confia em nada e tem inimigos dentro de sua própria família. Por mais diferente que sejam os dois personagens, suas histórias se parecem e coincidem na necessidade de ambos em descobrir o significado de ser um gângster.

Al Pacino mostra-nos que Michael Corleone é outro homem – duro, prepotente e obstinado a impor seus objetivos a qualquer custo. Entretanto, sua atuação não traz nenhuma grande novidade em relação ao primeiro filme. Robert De Niro, por sua vez, retrata de forma interessante o jovem Vito Corleone. Porém, sua participação ao final peca em parecer uma imitação caricatural da inesquecível composição de Marlon Brando.

A narração, sinuosa e com múltiplas tramas secundárias, dá muita oportunidade aos personagens e aos atores coadjuvantes: John Cazale, como o irmão humilhado de Michael, em seu papel de Caim; Talia Shire (Connie), irmã de Michael e ovelha negra da família e Robert Duvall (Tom Hagen), o leal advogado da família. Todos estão bem, porém menos à vontade do que poderiam.

Há notáveis exceções. Lee Strasberg, o mítico idealizador do Actors Studio, está extraordinário como Hyman Roth, um poderoso criminoso judeu (baseado em Meyer Lansky), de quem Michael tenta assumir a Máfia cubana durante o regime Batista. O personagem é interpretado como uma mistura de luxúria, rudeza e desprezo. O dramaturgo Michael V. Gazzo (de "A Hatful of Rain"), também está soberbo como um Capitão Corleone que cruza na “Família”. Vale lembrar de G. D. Spradlin, um ator não profissional e ex-político, que está bastante correto como um inescrupuloso e petulante senador de Nevada.

A direção de arte é estupenda, com rigor histórico e muito precisa. A fotografia de Gordon Willis, nas trocas de matizes - do sépia (nos flashbacks) ao tom mais escuro – capta bem as trocas dos ambientes familiares, embora pareça menos criativa do que no primeiro filme. As cenas externas estão muito claras, enquanto as internas parecem demasiadamente escuras (pergunto-me o porquê desses mafiosos não poderem comprar lâmpadas melhores). A música de Nino Rota toca a todo momento como numa caixa musical de bar.

Com o êxito de “O Poderoso Chefão”, Coppola conseguiu o controle total desta continuação, resultando num clássico moderno. Realizou um filme mais sereno, emocional e sombrio comparativamente ao primeiro e, a própria estrutura narrativa fragmentada permitiu a ele retrabalhar muitas cenas que foram muito melhor realizadas da primeira vez: reuniões familiares, tiroteios, e até diálogos (aliás, muitos deles parecem tirados de cartoons). Com tudo isso e, apesar de tudo isso, é um filme de um grande autor. É um Coppola genuíno.



O Poderoso Chefão – Parte 2 (The Godfather – Part II)
1974 – EUA - 200 min. – Colorido – DRAMA
Direção: FRANCIS FORD COPPOLA. Roteiro: FRANCIS FORD COPPOLA E MARIO PUZO, baseado na obra “THE GODFATHER”. Fotografia: GORDON WILLIS. Montagem: BARRY MALKIN, RICHARD MARKS E PETER ZINNER. Música: NINO ROTA E CARMINE COPPOLA. Produção: FRANCIS FORD COPPOLA, para a THE COPPOLA COMPANY e PARAMOUNT PICTURES.

Elenco: AL PACINO (Michael Corleone), ROBERT DUVALL ( Tom Hagen), DIANE KEATON (Kay Adams), ROBERT DE NIRO (Vito Corleone), JOHN CAZALE (Frederico Fredo Corleone), TALIA SHIRE (Constanzia Connie Corleone-Johnson), LEE STRASBERG (Frederico Fredo Corleone), MICHAEL V. GAZZO (Hyman Roth), G.D. SPRADLIN (Frankie Pentangeli), RICHARD BRIGHT (Al Neri), ORESTE BALDINI (Jovem Vito Corleone) e GASTONE MOSHIN (Don Fanucci).

Prêmios:
Oscar de Melhor Filme (Francis Fod Coppola, Gray Fredrikson e Fred Ross), Melhor Diretor (Francis Ford Coppola), Melhor Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Melhor Roteiro Adaptado (Francis Ford Coppola e Mario Puzo), Melhor Trilha Sonora (Nino Rota e Carmine Coppola) e Melhor Direção de Arte (Dean Tavoularis, Angelo P. Graham e George Nelson)/1975.



Cenas do filme:



Assista também:




O Poderoso Chefão – Parte 3

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