segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

FRENESI

"Sr.Rusk, vá sem gravata."

Como no início do magnífico Psicose (1960), em Frenesi a câmera varre pelo céu da cidade e penetra nos redutos da vida cotidiana, com seus pequenos delitos e seus grandes crimes. O cadáver de uma mulher na orla do Tamisa, descoberto durante uma conferência sobre a pureza da água, constitui o começo arrepiante e ao mesmo irônico de um trillher no qual, o virtuosismo e a fluidez narrativa de Hitchcock retrata de forma dramática a coexistência do sexo e violência, de forma aparentemente normal. E, como de praxe, Hitch aparece em cena como um camelo nas primeiras cenas do filme, interpretando o único ouvinte que não aplaude o término da conferência sobre contaminação da água.

No centro comercial londrino de Covent Garden, o feirante Bob Rusk (Barry Foster), que é um psicopata, estrangula mulheres utilizando gravatas. Paradoxalmente, a agitação do lugar serve de camuflagem perfeita para seus assassinatos. Como em tantos outros filmes de Hitchcock, todos os indícios levam a polícia a outro suspeito (amigo do assassino), Richard Blaney (John Finch), antigo aviador da marinha desempregado, sem bens e sem esposa. Enquanto a Scotland Yard se esforça com astúcia em busca do assassino, a ação se desenvolve de forma a pôr fim nesse jogo de pistas falsas – em uma das cenas de estupro mais radicais da história do cinema, o mestre envolve-nos em uma vertiginosa montagem de primeiros planos e planos gerais, testemunhando as tendências maníaco-sexuais de Bob Rusk, que resultam no assassinato de Brenda (Barbara Leigh-Hunt), ex mulher de Richard Blane.

A cena do estrangulamento de Brenda remete-nos ao famoso assassinato de Marion Crane (Janet Leigh) na seqüência da ducha em Psicose. Por outro lado, a terrível cena do homicídio reflete ao mesmo tempo o esforço físico que tem que ser feito para matar uma pessoa. Hitchcock já havia mostrado isso em Cortina Rasgada (1966). Mas, Hitchcock escolhe a hora certa de aflorar o terror, mesmo que não o mostre declaradamente - quando Bob Rusk convida Bárbara para sua casa, amiga de Blaney, a câmera movimenta-se aos poucos escada abaixo até a movimentada rua, deixando para a imaginação do espectador os macabros detalhes que estão ocorrendo simultaneamente.

Ainda que Rusk continue assassinando suas vítimas sem que nada o impeça, as tentativas de Blaney em evitar sua captura, através de um absurdo jogo de pega-pega, levam-no a sérios apuros. Aparentemente, não há nenhuma escapatória. Nem mesmo assassinato seguinte de Rusk, o de Bárbara, a ex-mulher de Blaney, e a presença da prova – um alfinete de sua gravata na mão rígida da vítima - constituem provas convincentes em relação ao verdadeiro assassino. Somente dão lugar a uma grotesca eliminação de provas em um caminhão de batatas.

Tampouco em outras tomadas, Hitchcock abre mão do humor negro e das ironias deste tipo. São especialmente valiosas, literalmente, as tentativas desesperadas do inspetor Oxford, em colocar-se à altura do interesse que sente sua mulher com o gosto pela cozinha francesa. Nisso consiste a desconcertante peculiaridade dos filmes de Hithcock – a alternância de momentos extremamente dramáticos e de humor absurdo, que alcançam seu ápice em Frenesi, sua última obra .

Ao mesmo tempo, Frenesi é um retrato da cultura cinematográfica dos anos 70, que vai se liberando paulatinamente das rígidas normas de produção vigentes, ao representar o sexo e a violência. Mas, ainda que este filme Hitchcock rompa todas os ditames cenográficos do código de produção, no final a investigação policial aponta para o homicida da forma mais convencional.



Frenesi (Frenzy)
1972 – INGLATERRA/EUA - 116 min. – Colorido - SUSPENSE
Direção: ALFRED HITCHCOCK. Roteiro: ANTHONY SHAFFER, baseado no livro GOODBYE PICCADILLY, FAREWELL LEICESTER SQUARE, de ARTHUR LA BERN. Fotografia: GILBERT TAYLOR. Montagem: JOHN JYMPSON. Música: RON GOODWIN. Produção: ALFRED HITCHCOCK para UNIVERSAL PICTURES.

Elenco: JON FINCH (Richard Blaney), BARRY FOSTER (Robert Rusk), BARBARA LEIGH-HUNT (Brenda Blaney), ANNA MASSEY (Babs Milligan), ALEC MCGOWEN (Inspetor Chefe Oxford), VIVIEN MERCHANT (Mrs. Oxford), MICHAEL BATES (Sargento Spearman), BILLIE WHITELAW (Hetty Porter), BERNARD CRIBBINS (Felix Forsythe) e JEAN MARSH (Monica Barlin).


Trailer Original:

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