quarta-feira, 5 de março de 2008

BARRY LYNDON

“ Os personagens viveram e lutaram durante o reinado de Jorge III. Foram bons ou maus, bonitos ou feios, ricos ou pobres. Agora, são todos iguais.”

Se Redmont Barry (Ryan O´Neal) não tivesse se apaixonado por sua prima (Gay Hamilton), sua vida teria sido muito diferente. Mas, mesmo assim, o jovem quis duelar com o oficial para quem a moça estava prometida. E, se Barry não tivesse matado o militar, não teria que abandonar sua cidade na Irlanda. Mas, mesmo assim, foi condenado a vagar pela Europa – primeiro, como soldado do exército britânico e, depois, do prussiano. Esta é a vida de Barry, comandada por outras pessoas que, em troca, o ajudam em sua escalada social.

Sua estratégia é estar no lugar certo, no momento certo. Durante a guerra, salva a vida de um superior que, por gratidão, lhe arruma um posto na polícia alemã. Em outra empreitada, Barry confessa sua identidade a um aristocrata irlandês a quem devia espionar; este, em agradecimento, torna-se seu tutor. E assim segue Barry - aprende a arte dos jogos de azar e se converte em assíduo freqüentador das cortes européias. Quando consegue quase tudo, exceto um bom nome e uma mulher, conhece Lady Lyndon (Marisa Berenson), que lhe proporcionará fortuna e posses – que ele perderá rapidamente. Ao final, Barry termina por onde começou, na mesa de jogo – depois de ter perdido uma perna, o filho, a mulher e seu patrimônio.

O filme trata da ascensão e queda de um oportunista. “Barry Lyndon”, é um filme cheio de imagens arrebatadoras; talvez seja o filme visualmente mais bonito do cinema – uma obra de arte pictórica. Ao assisti-la, temos a sensação de estar em visita a um museu, rodeado de telas de Gainsborough ou Reynolds. Creio que dificilmente outro diretor tenha concebido um trabalho de maneira tão minuciosa a partir de quadros, de cores tão intensas. Também, provavelmente, a segunda metade do século XVIII nunca tenha sido apresentada diante do espectador com tantos detalhes.

“Barry Lyndon” é o filme histórico por excelência. A diferença em relação a outros filmes de época é que não estabelece nenhum vínculo com o presente; nos demais, os personagens vestem-se como antigamente, mas comportam-se segundo a moral atual. “Barry Lyndon é uma entidade autônoma, que pertence ao passado, mas que, por outro lado, vive graças ao seu humor sutil, sobretudo na primeira parte do filme.

O fato de Kubrick ter concebido seu filme como uma sucessão de quadros, é conseqüência direta do tema: a superficialidade e a importância do elemento visual em uma sociedade burguesa. O formalismo com que ele leva a cabo seus inúmeros zooms, faz-nos lembrar de alguém se aproximando de um quadro para apreciar seus detalhes e, lentamente, afastando-se para observar o todo. A câmera desloca-se no espaço em diversas ocasiões, concretamente quando não aparecem gestos e cerimonias, mesmo nas cenas de nudez, quando, por exemplo, Barry luta com o soldado mais forte do exército ou durante a marcha sob fogo das armas francesas.

A última cena nos situa o ano de 1789. Antes disso, o individualismo ainda não havia se desenvolvido como ideal. As vestimentas somente serviam como indicativo da posição social e não como expressão da própria personalidade. Como um pavão, o oficial da armada, vestido em seu uniforme, conquista a prima de Barry graças ao seu visual e dinheiro. A partir deste momento, ele somente perseguirá dois objetivos – a riqueza e as aparências. Mais adiante, quando já casado com a bela Lady Lyndon, a voz em off do narrador nos mostra que ela não desempenha, na vida com o esposo, um papel mais importante do que os adornos e quadros que decoram seu dia a dia.

Se o primeiro duelo havia lançado Barry à aventura, o segundo o expulsa da alta sociedade. No final, Barry enfrenta seu enteado na cocheira. Kubrick dedica seis minutos a este duelo, que parece mais um ritual, com uma frieza quase total. De repente, o jovem se sente enjoado por um pânico e vomita. Uma demonstração de emoção que Barry jamais se permitiria em público. Percebe-se que sua hora havia passado; pessoas como ele deviam desaparecer. O narrador nos conta que Barry voltaria a Irlanda mas que, posteriormente, seria visto novamente em outros lugares - tentaria novamente, mas sem êxito, ganhar a vida como jogador.



Barry Lyndon (Barry Lyndon)
1975 – INGLATERRA - 184 min. – Colorido – DRAMA
Direção:. STANLEY KUBRICK. Roteiro: STANLEY KUBRICK, baseado na obra homônima de WILLIAM M. TACKERAY. Fotografia: JOHN ALCOTT. Montagem: TONY LAWSON. Música: LEONARD ROSENMAN, BACH, MOZART, SCHUBERT, HÄNDEL e VIVALDI . Produção: STANLEY KUBRICK, para a HAWK FILMS e PEREGRINE.

Elenco: RYAN O´NEAL (Barry Lyndon), MARISA BERENSON (Lady Lyndon), HARDY KRÜGER (Capitão Potzdorf), PATRICK MAGEE (Chevalier de Balibari), STEVEN BERKOFF (Lorde Ludd), GAY HAMILTON (Nora Brady), MARIE KEAN (Mãe de Barry), DIANA KÖRNER (Lieschen), MURRAY MELVIN (Reverendo Runt) e FRANK MIDDLEMASS (Sir Charles Reginald Lyndon).

Prêmios:
Oscars de Melhor Fotografia (John Alcott); Melhor Trilha Musical Adaptada (Leonard Rosenman); Melhor Direção de Arte (Ken Adam, Roy Walker e Vernon Dixon) e Melhor Vestuário (Milena Canonero) /1975.

Trailer Original:

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