domingo, 12 de abril de 2009

A CEIA DOS ACUSADOS

“Garçom,sirva as castanhas”.


O filme trata do desaparecimento de um inventor (Edward Ellis), que se torna o principal suspeito de um assassinato. Sua filha Dorothy (Maureen O´Sullivan), recorre a um velho amigo, o ex-detetive Nick, agora um bon-vivant, interpretado por William Powell. Nick é casado com Nora (Myrna Loy). O casal, acompanhado pelo cadelinha de estimação Asta, forma um trio charmoso e hilariante. Isso tudo regado a doses de martinis e destilados que são a força-motriz do par central. Na solução do mistério do filme, deparamo-nos com um desfile de situações – a preocupação, claro, da filha do inventor; a ambição da ex-esposa do inventor (Minna Gombell), uma mulher insegura que vive financiando o amante que, por sua vez a engana com outra mulher; a ambição ainda maior da amante do inventor (Natalie Moorhead) e várias outras figuras, incluindo o advogado do inventor, o contador, o filho do inventor e outros vários bandidos, aprendizes de bandidos, policiais e repórteres, além do infindável elenco de festeiros e “bebuns” que surgem no apartamento dos protagonistas para beberem e se esbaldarem.

Baseado num roteiro de Dashiell Hammett – que escreveu o roteiro de “Relíquia Macabra” (41) – pode-se dizer que “A Cesta dos Acusados” é, na essência, um filme noir. Entretanto, é uma comédia que inclui mortos. O enredo é inverossímil, e o filme não faz questão que o mesmo seja totalmente compreendido. Nick parece absolutamente racional, e tem explicações para todos os eventos, embora a maior parte do tempo esteja sob efeito etílico. E isso é irônico, pois a polícia – cuja coerência deveria conduzir à lógica da investigação – é alienada.

Embora trate da solução de um mistério, “A Ceia dos Acusados” lida com o estilo de vida de uma sociedade muito específica. Pouco se sabe do par central. Nick havia sido um famoso detetive e, agora casado com a rica Nora, aposentou-se e trata dos negócios da família: “uma ferrovia de pequeno porte e um monte de outras coisas”. Ou seja, têm muito dinheiro e passam o tempo viajando, visitando velhos amigos, fazendo novas amizades e, sobretudo, bebendo o dia inteiro.

Para qualquer um, o casal é alcoólatra, mas não no filme, pois o efeito do álcool não lhes prejudica em nenhum momento. É um comportamento, como fumar, um ato que lhes ocupa as mãos, o dia-a-dia, para preencher as conversas e como desculpa para se movimentarem. Quando Nora surge com um saco de gelo na cabeça, por exemplo, mais parece uma palhaçada, do que uma ressaca.

Dick Powell e Myrna Loy funcionam extremamente bem. Ele faz de seu Nick um alcoólatra lírico, sem jamais cair na embriaguez. Apesar de passar uma imagem de decadência, Nick é brilhante. Seus drinques servem como combustível para diálogos inteligentes e elegantes – são maliciosos, sem caírem no lugar-comum e extremamente agradáveis.

Myrna Loy funciona como uma luva para Powell, porém o filme é dele. Domina cada cena, seus movimentos físicos desengonçados, seu pequeno bigode (que o faz parecer mais sério do que é na verdade). A cadela Asta (Skippy) também ficou famosa no cinema e se constitui em charme à parte, principalmente quando protege os olhos com a atinha, quando a situação fica difícil ou se sente envergonhada.

A direção de W.S. Dyke é segura. A produção parece barata, pois os cenários restringem-se a interiores simples, porém elegantes. A fotografia em preto-e-branco ressalta o figurino cotidiano e formal usado por um elenco de excelente aparência. Além de Powell, Myrna e Maureen O´Sullivan, reparem a presença de César Romero ainda jovem.

Para a época em que foi realizado, logo após a Depressão, esse tipo de filme deve ter servido de puro escapismo para os norte-americanos – gente bonita em ambientes luxuosos, falando bobagens o dia todo, sem se preocupar com o mundo. Uma situação em que até o crime é apenas um divertimento.

O filme teve quatro indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme) e quatro seqüências num período de 12 anos. Pena que não ganhou nenhum. Posteriormente, Powell foi indicado por “Irene, a teimosa” (36) e por “Nossa Vida com Papai” (47). Porém, nunca ganhou. Tampouco foi agraciado com um prêmio pelo conjunto da obra – embora a Academia já houvesse sido pressionada para tal. Assistir à “A Ceia dos Acusados” é ver esse grande ator encarnando um personagem nunca igualado. Neste filme, a máxima de que todo bêbado é chato, não se aplica. Imperdível.




"A Ceia dos Acusados" (The Thin Man)
1934 - EUA - 93 min. – Preto e Branco – COMÉDIA
Direção: W.S. VAN DYKE. Roteiro: ALBERT HACKETT E FRANCES GOODRICH, baseado na obra de DASHIELL HAMMETT. Fotografia: JAMES WONG HOWE. Montagem: ROBERT J. KERN. Música: WILLIAM AXT. Produção: JOHN BRABOURNE E ANTHONY HAVELOCK-ALLAN.


Elenco: WILLIAM POWELL (Nick) MYRNA LOY(Nora), MAUREEN O`SULLIVAN (Dorothy), NAT PENDLETON (Guild), MINNA GOMBELL (Mimi), PORTER HALL (MacCaulay), HENRY WADSWORTH (Tommy), WILLIAM HENRY (Gilbert), HAROLD HUBER (Nunheim), CESAR ROMERO (Chris), NATALIE MOORHEAD (Julia Wolf), EDWARD BROPHY (Morelli), EDWARD ELLIS (Wynant) e CYRIL THORNTON (Tanner).





Trailer Original:



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