segunda-feira, 10 de março de 2008

O ÚLTIMO TANGO EM PARIS

“Como gostam os heróis...?”


A câmera aproxima-se aos poucos em um homem e o rodeia com movimentos rápidos e bruscos, como um tango. O homem encontra-se debaixo de uma ponte, no metrô de Paris, e grita. Trata-se de Paul (Marlon Brando), cuja mulher cometeu suicídio na mesma noite. Aos poucos, surge uma jovem (Maria Schneider), aproxima-se, passa a seu lado, e volta-se para vê-lo novamente. Em um apartamento vazio, em poucos minutos, iniciam um contato sexual, um encontro fugaz que o casal se entrega de maneira incondicional. Voltam a encontrar-se para assumir – longe de suas vidas, fechados em uma habitação apenas mobiliada e envoltos somente pela luz difusa do sol – seus papéis primitivos de homem e mulher. Não há nome, nem biografia, o mundo exterior não possui nenhuma importância. Sua relação somente pode existir no mundo fechado do apartamento.

Paul, o proprietário do hotel e vagabundo, cuja vida acaba de ficar arruinado pela perda da mulher, é quem determina as regras quem Jeanne, a jovem de vinte anos, de origem rica, tem que assimilar. Contudo, ao final, Paul abandona a solidão artificial contra a vontade de Jeanne, abandona o apartamento e deseja casar-se com ela. Uma relação convencional com ele, cujo nome nem conhece, é algo inconcebível para Jeanne. Nada de nomes, era a norma inflexível. Depois, ele aparece violentamente na vida da jovem e pergiunta como se chama. Quando ela responde, dispara a arma que tem na mão, para defender-se. Fica difícil discernir o que ele mata – o nome ou a arma.

Apenas existe outro filme que tenha provocado tanta expectativa no início dos anos stenta como “O Último Tango em Paris”, de Bertolucci. Ainda que Pauline Kael tenha elogiado o filme, como uma obra que transformou decisivamente a forma artística do cinema. O sexto longa do diretor, que na época tinha trinta anos, provocou um escâncalo na Itália, que resultaria em sua proibição. A pedra fundamental da polêmica eram as repetidas cenas de sexo que superavam os limites de tudo o que já havia sido mostrado em circuito comercial. A acusação era de pornografia.

Mesmo o que tenha provocado os censores não fora somente o casal transando – uma vez que nunca aparece nudez explícita e a exibição do coprpo da jovem e ainda desconhecida Maria Schneider – mas sim deve ter contribuído a sua atitude fundamentalmente niilista e a clara expressão das fantasias de degradação. No entanto, o filme toca em um tema próprio da época – sem o clima de liberação sexual do ínicio dos anos setenta, não seria possível filmes como este, “O Porteiro da Noite” (1974), de Liliana Cavani ou “As Mil e Uma Noites” (1974), de Pasolini. A provocação como princípio artístico não é novidade naquela época. O que todavia resulta cativante hoje em dia é a qualidade estética do filme. A composição das imagens, da luz, o manejo da câmera e a montagem o envolvem em uma atmosfera muito peculiar e criam o contexto necessário para os atores, sobretudo para Marlon Brando.

O diretor de fotografia, Vittorio Storaro, que definiu o estilo do diretor, consegue com a primorosa iluminação dos espaços, a profundidade de campo e os movimentos precisamente calculados da câmera, o efeito fundamental que tornou o filme famoso – a oscilação entre a tensão sexual, as fantasias do poder, e o desespero. Também, contribuem para criar essa sensação a desconcertante montagem, que em algumas situações deixa em suspenso a aderência espacial de Franco Arcalli e a música de Gato Barbieri.

Bertolucci entrelaça virtuosamente três fragmentos narrativos: a história de Paul, que chora a morte de sua mulher e segue os rastros de seu suicídio em um hhotel, cujos quartos, como em um labirinto, fazem perder o rumo. A história de Jeanne, cuja vida observamos através da câmera de seu prometido Tom (Jean-Pierre Léaud), que filma para a televisão “o retrato de uma jovem”. Estas cenas de ficção dentro do próprio filme caracterizam o cinema verdade – embora Tom crê que está retratando a verdadeira Jeanne, o que consegue são somente fragmentos. E, finalmente, a história de Paul e Jeanne, que narra o velho sonho do descobrimento da inocência, do renascimento do novo, além do status econômico, cultural, da civilização. É famosa a cena em que ambos estão sentados, nus, na cama. Uma luz amarela envolve seus corpos, e falam somente com sons, grunhidos, pequenos gritos. Porque a língua é civilização, a língua estabelece relações sociais que os protagonistas, tão diferentes entre sim buscam evitar no isolamento do apartamento.

Todavia, o jardiim do Éden, como lugar social, também é um espaçoi no qual as regras sociais perder validade. A violência, o sexo e as fantasias obscenas encontram aqui um lugar de expressão, como manifestaç~coes do supostamente não social.
A sensação de desespero existencial atravessa todo o filme e relembra a obra de Francis Bacon, e não somente pelo fato do filme comece com os quadros do pintor. Bertoluicci imita assim mesmo seu colorido e técnica de composição, partindo as imagens com um arco horizontal ou filmando os rostos através de um cristal, de forma que aparecem decompostas.



O Último Tango em Paris (Lê Dernier Tango à Paris)
1972 – ITÁLIA/FRANÇA - 136 min. – Colorido – DRAMA
Direção: BERNARDO BERTOLUCCI. Roteiro: BERNARDO BERTOLUCCI e FRANCO ARCALLI. Fotografia: VITTORIO STORARO. Montagem: FRANCO ARCALLI e ROBERTO PERPIGNANI. Música: GATO BARBIERI . Produção: ALBERTO GRIMALDI, para LES PROUCTIONS ARTISTES ASSOCIÉS e PRODUZIONI EUROPEE ASSOCIATI.

Elenco: MARLON BRANDO (Paul), MARIA SCHNEIDER (Jeanne), JEAN-PIERRE LÉAUD (Tom), MASSIMO GIROTTI (Marcel), VERONICA LAZAR (Rosa), MARIA MICHI (Mãe de Rosa), GIOVANNA GALLETTI (Prostituta), GITT MAGRINI (Mãe de Jeanne), CATHERINE ALLÉGRET (Catherine), e CATHERINE BREILLAT (Mouchette).


Trailer Original:

Um comentário:

Rocio disse...

Eu acho que é um filme bellisima só agora tive a oportunidade de vê-lo, só porque eu estou em Buenos Aires é a cidade de férias tango Vim com alguns amigos para um apartamentos mobiliados buenos aires