quarta-feira, 10 de setembro de 2008

INIMIGO PÚBLICO

“Poderia te amar até a morte.”


Quando, no início dos anos 30, uma série de filmes de gângsters fundaram um novo gênero cinematográfico, logo houve protestos contra a glorificação desta figura do crime. No fundo, o gângster somente perseguia, ainda que utilizando-se de más práticas, os mesmos objetivos dos heróis e das pessoas de bem: êxito na esfera profissional e felicidade na vida particular. Realizar-se com o mínimo esforço e possuir um estilo de vida independente parecia fácil ao cowboy urbano. Tom Powers (James Cagney), um dos primeiros ícones do gênero (senão o primeiro), encarna este drama ambíguo do herói glorioso e do anjo caído. O filme mostra a trajetória criminosa do personagem com uma sensibilidade incomum ao relacionar sua evolução social e pessoal – inicia com um garoto de rua que pretende enfrentar as injustiças de uma época de crise econômica; segue com sua ascensão, como cúmplice e braço direit de diferentes mafiosos, convertendo-se em um assassino frio e dândi e, finalmente, sua queda.

A vida de Powers é mostrada como uma biografia Podemos perceber circunstâncias históricas, tais como os problemas que a industrialização e a nova orientação econômica provocaram no inicio do século passado nos Estados Unidos, a Primeira Guerra Mundial - em que participou Mike (Donald Cook), irmão de Tom – e os anos da Lei Seca, nos quais a proibição de bebidas alcoólicas fez um terreno fértil para a Máfia. A luta de sua mãe para criar os filhos - inimigos irreconciliáveis - a ausência do pai ou as relações instáveis do protagonista com seus pares cuidam de retratar com uma indiferença alarmante o fracasso do modelo tradicional da família.

Por outro lado, a liberdade com que Tom Powers burlando a lei e padrões sociais o colocam constantemente em situações delicadas, para não dizer precipitadas. Exemplo disso é quando ele, ao volante de seu automóvel de luxo junto com seu amigo e cúmplice Edward Woods (Matt Doyle), aborda de improviso em plena rua a atraente e misteriosa Gwen Allen (Jean Harlow), inicia uma aventura amorosa com ela e, também de improviso, coloca um ponto final no romance.

Apesar da agressividade contra as mulheres (por exemplo, quando Tom aperta com força o rosto de sua noiva), alguns elementos como o assassinato por vingança do gângster Putty Nose (Murray Kinnell), que lembra uma execução, ou as armas da mais moderna tecnologia, incluindo metralhadoras e granadas (que se tornaram ícones do gênero), trazem em cena uma qualidade até então desconhecida no cinema.

O mesmo ocorre com a linguagem visual arrebatadora do filme. Numerosos primeiros planos, a renuncia a planos gerais que possibilitam uma vista panorâmica, a alternância de cortes e um sem numero de tomadas realizadas por debaixo da perspectiva normal, que agigantam os personagens e as ações, provocam efeitos dramáticos extraordinários em uma atmosfera de constante insegurança e ameaça até chegar ao estranho final, no qual esse emocionante filme de gângsters quase beira o terror.



"O Inimigo Público" (The Public Enemy)
1931 – EUA - 84 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: WILLIAM A. WELLMAN. Roteiro: ROBERT HARVEY F. THEW, baseado em texto homônimo de KUBEC GLASMON e JOHN BRIGHT. Fotografia: DEVEREAUX JENNINGS. Montagem: EDWARD M. MCDERMOTT. Música: DAVID MENDOZA. Produção: RRYL F. ZANUCK para WARNER BROS.

Elenco: JAMES CAGNEY (Tom Powers) JEAN HARLOW (Gwen Allen), EDWARD WOODS (Matt Doyle), JOAN BLONDELL (Mamie), BERYL MERCER (Sra. Powers), MAE CLARKE (Kitty), DONALD COOK (Mike Powers), LESLIE FENTON (Nails Nathan), ROBERT EMMETT O´CONNOR (Paddy Ryan) e MURRAY KINNELL (Putty Nose).

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Nasce Uma Estrela

Um comentário:

Miriam disse...

Nasce uma estrela eu assisti, mas este não. Como você assistiu? Tem o DVD ou passou no tele cine? Ficou um tempinho sem postar...
Beijos