“Seu idiota. Não vê que ela está te enganando?.”
Em Tóquio, um escultor cego e sua mãe seqüestram uma modelo. Eles a mantém prisioneira numa espécie de atelier decorado com esculturas gigantes nas formas de olhos, bocas, narizes, seios, braços, pernas e outras partes do corpo de um ser humano – todas as peças recriadas por Michio (Eiji Funakoshi), a partir das sensações tácteis obtidas como massagista profissional.O filme remonta “O Colecionador” (1965), de William Wyler, particularmente quando o seqüestrador Freddie (Terence Stamp) fica enfurecido pelas tentativas de fuga de sua vítima Miranda (Samantha Eggar). Em “Cega Obsessão”, Michio pretende esculpir o corpo de sua prisioneira, através do tato; após diversas tentativas e lutas corporais, ela, Aki Shima (Mako Midori), cede, enquanto tenta seduzi-lo a ponto de tirar sua virgindade e livrá-lo da influência da mãe dominadora. A assustadora sensibilidade do escultor é bem conduzida pelo diretor, que agrega uma clima claustrofóbico, induzido pelo ambiente escuro e fúnebre do atelier. O comportamento aparentemente normal da mãe de Michio – que sustenta cada ação paranóica do filho – dá um tom de normalidade que reforça a esquisitice do filme.
Entretanto, o filme fica um pouco ridículo ao final, quando o casal, agora apaixonado, inicia um processo de mútua flagelação física – tudo isso ocorre sobre as esculturas e modelos esculpidos pelo “artista”. A modelo torna-se a própria dor ambulante e o filme acaba sugerindo uma versão oriental do "O Porteiro da Noite" (1974), de Liliana Cavani. As legendas mostram isso: “Veja, tenho uma idéia”, ela diz – então seu admirador decepa seus braços e pernas. Ele, de forma racional responde: “Porque”?
“Cega Obsessão” faz parte de uma resposta dos grandes estúdios japoneses aos “filmes rosa”, de baixo orçamento, de forte conteúdo sexual e realizados por produtores independentes. Para isso, contaram com as decadentes obras de Rampo Edogawa (1894-1965) ou Edogawa Rampo (para preservar a fonética de Edgar Allan Poe), apresentando temas de sexo desconcertante e violência.
Enquanto a história original de Rampo previa vária vitimas, essa adaptação é centralizada em somente uma vitima, de forma a potencialziar o efeito da “apreciação visual para uma insensata busca”, contida no filme. Os aspectos edipianos e pigmaleônicos estão todos ali e completam o banquete. Embora não seja um filme que surpreenda, certamente chama a atenção.
"Cega Obsessão" (Môjû)
1969 – JAPÃO - 105 min. – Colorido – SUSPENSE
Direção: YASUZO MASUMURA. Roteiro: YOSHIO SHIRASAKA, baseado em obra de RAMPO EDOGAWA. Fotografia: SETSUO KOBAYASHI. Montagem: TATSUJI NAKASHIZU. Música: HIKARU HAYASHI. Produção: KAZUMASA NAKANO.
Elenco: EIJI FUNAKOSHI (Michio) MAKO MIDORI (Aki) e NORIKO SENGOKU (Mãe).
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Red Angel
3 comentários:
Achei o filme muito interessante, não assisti, mas agora fiquei muito interessada.
Beijos.
Me arrepiei todinho lendo essa sipnose ...
já visse Audition também?
e ai, é facil achar esse filme ou é mais complicado do que se imagina?
Miriam, assista. Vc vai gostar. Beijos.
Johnny, ainda não vi Audition. Esse filme foi lançado pela Ophus. Na Fnac, Saraiva e Submarino tem disponível.
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