quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O PODEROSO CHEFÃO - PARTE 3

“Toda família tem más recordações.”


“O Poderoso Chefão – Parte 3” surgiu quase vinte anos após “O Poderoso Chefão – Parte II” sem que houvesse perda de continuidade. Um dos maiores méritos deste filme foi nos dar a impressão que os Corleone e seus parceiros de crime foram mantidos intactos durante todas as décadas que se passaram entre as filmagens, quando, na verdade muitos resistiram em aparecer na tela. A dama de honra (Jeannie Linero) que teve um breve caso com Sonny Corleone no primeiro filme, por exemplo, agora tem uma breve e discreta aparição como a mãe do esquentado Vincent Mancini (Andy Garcia), o futuro Chefão. Trazendo de volta um Michael maduro, como um monarca preocupado com seus filhos e o destino de seu império, relembra as muitas perdas de Michael no passado (nesta tragédia que tem como centro a família, também podemos fazer paralelismos com a própria de Coppola e seus fracassos comerciais após a seqüência de numero dois). Cercado pó sentimento de culpa, Michael é um personagem muito mais compenetrado do que antes e a atuação de Al Pacino contribui para isso. O Michael mais velho não perdeu sua rudeza, mas sua autoconfiança por vezes percebe-se que foi abalada, assim como sua postura de ferro. Mais sentimental do que antes, ele agora é capaz até mesmo de um piscar de olhos paternal.

O objeto de sua afeição é sua filha, Mary (Sofia Coppola), a responsável pela fundação beneficente da família Corleone. O movimento da família em direção à respeitabilidade agora significa pelo menos um generoso Pavilhão Corleone num hospital de Nova Iorque, uma residência na 5ª. Avenida para Michael e uma doação de US$ 100 milhões dos Corleone aos pobres da Sicília, ofertada por Mary durante a extravagante seqüência de abertura da festa que celebra Michael recebendo uma importante honraria Papal.”Não gaste tudo em um lugar”, diz Mary ao calculista arcebispo (Donal Donnelly), que recebe o cheque.

Sofia Coppola interpreta sua personagem de modo irregular, não homogêneo, o que a compromete muito o impacto de sua Mary como a peça chave desta historia. Embora o papel dela seja pequeno, ele deveria afetar muito dos personagens de forma importante e a presença incerta da atriz faz muito pouco, em comparação a vigorosa participação dos demais astros. Al Pacino, Andy Garcia e Diane Keaton como Kay, a mãe de Mary, felizmente são capazes de compensar essa falta. Entretanto esse exagero de Coppola quase causa um desastre.

O foco principal desta última seqüência da saga é o Vaticano, que se tornou o centro de maior esperança de Michael, mais para lavagem de dinheiro do que por fé espiritual. O roteiro escrito por Coppola e Mario Puzo, amarra um esquema através do qual Michael espera adquirir uma maior parcela da International Immobiliare, um consórcio da igreja católica sob controle do banco do Vaticano. Isso completa a retirada dos Corleone de seus negócios escusos, que foram transferidos a Joey Zasa (Joe Mantegna), outro mafioso.

O estilo mais polido de Michael atrai associados, como seu advogado (George Hamilton, bem escalado na versão do trapaceiro Tom Hagen interpretado anteriormente por Robert Duvall) e seu relações públicas (Don Novello). Quando este distribui kits de imprensa celebrando a medalha papal entregue a Michael, é interpelado por uma repórter sobre o passado de crimes, ao que ele responde: “Você acha que sabe mais do que o Papa?”.

Tomando carona de leve nas teorias de conspiração que cercam a morte do Papa João Paulo I, o filme sistematicamente coloca Michael entre essa nova ambição e o seu legado passado. “Logo agora que pensei estar fora, eles me colocam de volta!”, ele brada em uma cena que se tornou tão avassaladora que Coppola ousa em inseri-la em um palco iluminado, - mesmo que não fique totalmente adequado. Por conta dessas situações "O Poderoso Chefão – Parte 3" possui pontos mais histriônicos que os anteriores, permitindo a Michael um monólogo que sela seu destino.
A seqüência mais dramática acontece num grand finale, que se passa num teatro em que se encena uma ópera, intercalando-se os atos da peça com ações de vingança. A deliberada invocação dos filmes anteriores por Coppola, tanto aqui como em diversas situações do filme, agrega gravidade sem sucumbir aos perigos da repetição. Oeste filme ainda é grande.

Entre as seqüências também memoráveis estão o espalhafatoso tiroteio em Atlantic City, uma cena em que Michael inesperadamente fica comovido ao confessar-se a um cardeal (Raf Vallone), a reaproximação entre Michael e Kay, uma batida de gangue num desfile em Nova Iorque e uma série de reuniões, sessões clandestinas para planejar alguma atividade e festas familiares que dão não somente a este filme, mas também compõe a trilogia um brilho particular. Novamente a direção de fotografia majestosamente escura de Gordon Willis enfeitiça o filme. Também a direção de arte de Dean Tavoularis é persuasiva e poderosa. Milena Canonero e seu guarda-roupa vestem com sutileza e elegância todo o filme.

O enorme elenco também inclui Eli Wallach como um esperto e asqueroso velho Don; Talia Shire como uma recém fortalecida Connie Corleone, Enzo Robutti e Vittorio Duse como duas figuras marcantes nas cenas que se passam na Sicília e Bridget Fonda foto jornalista que logo arrouba a atenção de Vincent, interpretado por Andy Garcia. Ela não está sozinha. A atuação de Andy Garcia é enérgica - um espirituoso revival do Sonny (interpretado anteriormente por James Caan) - e também mais centrada do que aquele.

Alguns pontos que merecem atenção: a profundidade dramática que é o foco dos filmes anteriores – a maneira na qual mesmo personagens menos importantes tomavam vulto ao longo da história – não é percebido aqui. E certas associações, como a freqüente ligação visual entre estátua religiosa e um tiroteio iminente, tornaram-se mais reflexivos e menos leves. O final do filme é abrupto e chocante. Talvez tenha faltado algo a ser dito.

O roteiro é em alguns momentos brilhantemente amplo, como quando o filho de Michael, Anthony (Franc D'Ambrosio), chega a Sicília e pergunta "Porque esse país tão bonito é....tão violento?” Em outros momentos, no entanto, o diálogo chega a ser engraçado. No início da história, Anthony recusa-se a ir trabalhar para seu pai por causa das lembranças ruins. “Toda família tem más recordações”, Michael grita em protesto. Será? Mas não desta forma.

Mesmo não estando à altura dos anteriores, "O Poderoso Chefão – Parte 3" é necessário e irresistivelmente belo.



O Poderoso Chefão Parte 3 (The Godfather Part III)
1990 – EUA - 162 min. – Colorido – DRAMA
Direção: FRANCIS FORD COPPOLA. Roteiro: FRANCIS FORD COPPOLA E MARIO PUZO, baseado em sua obra “THE GODFATHER”. Fotografia: GORDON WILLIS. Montagem: BARRY MALKIN, LISA FRUCHTMAN E WALTER MURCH. Música: CARMINE COPPOLA. Produção: FRANCIS FORD COPPOLA, distribuído pela PARAMOUNT PICTURES.

Elenco: AL PACINO (Michael Corleone) DIANE KEATON ( Kay Adams Michelson), TALIA SHIRE (Connie Corleone Rizzi), ANDY GARCIA (Vincent Mancini), ELI WALLACH (Don Altobello), JOE MANTEGNA (Joey Zasa), GEORGE HAMILTON (B. J. Harrison), BRIDGET FONDA (Grace Hamilton), SOFIA COPPOLA (Mary Corleone), RAF VALLONE (Cardeal Lamberto), FRANC D´AMBROSIO (Anthony Corleone), DONAL DONNELLY (Arcebispo Gilday), DON NOVELLO (Dominic Abbandando), VITTORIO DUSE (Don Tommasino), ENZO ROBUTTI (Licio Lucchesi)e JEANNIE LINERO (Lucy Mancini).



Cenas do filme:


Assista também:




O Poderoso Chefão

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