sábado, 2 de fevereiro de 2008

ALMAS EM SUPLÍCIO

"Os crocodilos têm razão. Comem as suas crias".

Mildred Pierce (Joan Crawford) assume literalmente o papel de dona de casa após separar-se do marido. A razão dessa separação é que Bert (Bruce Bennett) a abandona, porque Veda, filha de Mildred (Ann Blyth), uma jovem egoísta, impede que a família leve uma vida normal. Mildred põe-se a trabalhar como camareira e chega a transformar-se em empresária do ramo de alimentação. Casa-se novamente, desta vez com o milionário Monte Beragon (Zachary Scott), que se torna seu sócio em um restaurante. Todo esse calvário de mãe tem um razão de ser - sua filha. Porém, à medida que assume um papel de mártir disposta a qualquer sacrifício, sua vida fica cada vez mais difícil.

Esse triste argumento de Almas em Suplicio recorda um sem número de filmes que foram produzidos em Hollywood sobre mulheres que tiveram que "batalhar" - mães e esposas que "deram duro" na ausência de seus maridos, durante o periodo da Segunda Guerra Mundial.

Esta parte do filme é apresentada somente em "flash back". O filme começa com o assassinato de Monte Beragon e, Bert, o primeiro marido de Mildred, é o suspeito. As nuances que permeiam o filme deixam claro que não estamos diante de um melodrama clássico. Do ponto de vista estrutural, Almas em Suplício se insere no gênero "noir". Os homens apresentam-se como meros figurantes. Neste fime, uma mulher cai nas teias que são armadas por outra mulher, uma autêntica "femme fatale" - sua própria filha.

Como num filme policial, a gente fica ocupado a todo momento, tentando juntar um quebra-cabeças, a partir de informações fragmentadas que nos apresentam. A trama policialesca se desenrola lentamente - a próxima vítima não aparece até a segunda metade do filme. No lugar de apresentar os motivos possíveis, os argumentos se desmontam uns após os outros. Seja quem for que tenha matado Beragon, somente poderia tê-lo feito por Mildred - assim como Veda, o dândi aproveita-se de sua boa fé e, como se não bastasse, a filha e o padrasdo formam um casal. A triunfante Mildred pode matar-se trabalhando, mas nunca terá uma filha que espera. Ao contrário, o desfecho mostrará toda a intriga que destruirá o coração de Mildred para sempre e que a levará a cometer seu maior erro.

O jogo de sombras, em tons claramente expressionistas, graças à bela direção de fotografia de Ernest Haller, ajuda Michael Curtiz a dirigir esse filme de alto nivel. Os elementos principais - traição , deslealdade e cobiça estão todos lá, perfeitamente adequados e a adaptação da obra de James Cain não apresenta dificuldades.

Ann Blyth, com apenas 16 anos, obteve uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante por dar vida a um dos mais detestáveis personagens da história do cinema. Joan Crawford, que estava em baixa na carreira, volta novamente à altura de atrizes da envergadura de Bette Davis e Olivia de Havilland, apesar de Michael Curtiz quase tê-la substituido por Barbara Stanwick. Ainda bem que não o fez. No papel de Mildred, Joan oferece-nos uma de suas mais fortes interpretações - que lhe rendeu o único Oscar de sua carreira na categoria de atriz principal.



Almas em Suplício (Mildred Pierce)
1945 - EUA - 111 min. P&B- Suspense, Melodrama
Direção: MICHAEL CURTIZ (1888-1962). Roteiro: RANALD MACDOUGALL, baseado na novela homônima de JAMES M. CAIN. Fotografia: ERNEST HALLER. Montagem: DAVID WEISBART. Música: MAX STEINER. Produção: JERRY WALD para WARNER BROS.

Elenco: JOAN CRAWFORD (Mildred Pierce Beragon), JACK CARSON (Wally Fay),ZACHARY SCOTT (Monte Beragon), ANN BLYTH (Veda), JO ANN MARLOWE (Kay),BRUCE BENNETT (Bert Pierce), EVE ARDEN (Ida Corwin), MORONI ELSEN(inspector Peterson), VEDA ANN BORG (Miriam Ellis)e BUTTERFLY MCQUEEN (Lottie).

Prêmios: Oscar de Melhor Atriz (Joan Crawford)/1945.


Trailer Original:

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