segunda-feira, 3 de março de 2008

NUM LAGO DOURADO

" Quanto você cobra uma obturação?.”

Trata-se da sempre feliz lição de “como aprender a amar” sobre um verão nas vidas de Norman Thayer Jr. (Henry Fonda) - um excêntrico professor universitário aposentado –, Ethel Thayer (Katherine Hepburn)- sua corajosa esposa durante 50 anos – e a única filha, Chelsea (Jane Fonda), a quem Norman nunca perdoou por não ter nascido homem. Não precisamos fazer nenhum esforço para descobrir o que acontece à suave misantropia de Norman, especialmente seus sentimentos em relação à Chelsea, depois que ele e Ethel passam um mês cuidando de Billy Ray (Doug McKeon), filho do noivo de Chelsea - um adolescente desbocado, solitário e incompreendido. A vida pode ser bela – se cheia de lágrimas.

O filme é um típico “queijo”, mas Henry Fonda, Katharine Hepburn, Jane Fonda e Dabney Coleman, o noivo de Chelsea (Bill Ray), adicionam mais do que cores a esse produto pasteurizado, fazendo ''Num Lago Dourado'' ter o gosto de um velho e saboroso cheddar. O motivo pelo qual menciono esse filme no meu blog é outro – chama-se Henry Fonda.

Como Norman Thayer Jr., celebrando seu octagésimo aniversário, relutante, furiosamente consciente de seu estado mental e físico (com tanto medo da morte, quanto com raiva dela), Henry Fonda nos premia com uma de suas mais belas interpretações ao longo de sua distinta carreira. É um filme para brindar uma atuação brilhante, daquelas que não descobrimos de um dia para o outro em um laboratório, mas como resultado do aprimoramento de inúmeras performances.

Ao vê-lo em “Num Lago Dourado”, você assiste à inteligência, força e graça de um talento amadurecido na tela durante sua vida de ator, desde “Vive-se Só Uma Vez” (1937), “Jessé James” (1939), “As Vinhas da Ira” (1940), “As Três Noites de Eva” (1941) e “Paixão dos Fortes” (1946), passando por “O Homem Errado” (1956), “Doze Homens e Uma Sentença” (1957) e todos os outros menos antigos nos quais ele deu status, simplesmente por sua presença na tela.

Em “Num Lago Dourado”, Henry Fonda está muito engraçado, indiferente e durão, de forma que deixa à parte o sentimentalismo exagerado do material e da direção de Mark Rydell, que, quando em dúvida, mostrava as tomadas poéticas das águas douradas que inspiram o título do filme, os pássaros voando em harmonia e os lírios resplandescendo com o orvalho – mais uma gota de orvalho e o filme afundaria.

Katherine Hepburn também está em estado de graça. Uma das maiores qualidades como atriz é a forma generosa com que ela atua quando co-estrela um filme. Quando protagoniza sózinha, parece ficar menos à vontade se as coisas não são feitas a seu modo, caindo em maneirismos. Ela necessita de alguém para apóia-la, desafiá-la. Conhecemos o temperamento de Katherine Hepburn. Sou seu fã incondicional; entretanto, ouso dizer que Henry Fonda é a melhor coisa que aconteceu a ela desde Spencer Tracy e Humphrey Bogart.

Jane Fonda, uma atriz de altos e baixos, consegue manter-se competente em um papel secundário, mesmo na medonha e típica cena de reconciliação que acontece com muito mais freqüência nos dramas familiares de segunda categoria do que na vida real .

Uma grata surpresa é ver Dabney Coleman como o decente dentista – num papel que vai além das caricaturas que estava acostumado a fazer. Uma das melhores cenas do filme é o encontro inicial que tem com o pai de sua noiva, no qual o dentista sugere que ele e Chelsea gostariam de dormir no mesmo quarto, enquanto estivessem no Lago Dourado. Tentando conquistar o velho, o dentista diz: “Nós temos um relacionamento muito... dinâmico”. Norman responde: “Quando você cobra uma obturação?”.

Quanto menos falar sobre Billy, o filho do dentista e quase enteado de Chelsea - que aprende a pescar, mergulhar e ser civilizado com os idosos durante o verão no Lago Dourado -, melhor. Em troca, ele transforma o velho Norman em um amável pai para sua filha quarentona, que nunca foi capaz de chamá-lo de “Pai”. Billy não é um personagem, mas uma peça mecânica, bem à maneira com que Doug McKeon foi dirigido para atuar pelo diretor Rydell. “Num Lago Dourado” é um filme morno, mas oferece uma performance de rara qualidade e outras três que são muito boas. Não é de todo ruim.



Num Lago Dourado (On Golden Pond)
1981 – EUA - 110 min. – Colorido – DRAMA
Direção: MARK RYDELL. Roteiro: ERNEST THOMPSON, baseada na sua peça homônima. Fotografia: BILLY WILLIAMS. Montagem: ROBERT L. WOLFE. Música: DAVE GRUISIN. Produção: BRUCE GILBERT, distribuído pela UNIVERSAL PICTURES.

Elenco: KATHERINE HEPBURN (Ethel Thayer), HENRY FONDA (Norman Thayer Jr.), JANE FONDA (Chelsea Thayer Wayne), DOUG MCKEON (Billy Ray), DABNEY COLEMAN (Bill Ray), CHARLIE MARTIN (William Lanteau) e SUMNER TODD (Chris Rydell).


Trailer Original:

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