sábado, 9 de fevereiro de 2008

BEE MOVIE

"Zuuuuuuuuuuuuummm."

O melhor de Bee Movie, novo desenho animado da DreamWorks, é que ele passa a maior parte da sua curta duração “zunindo” alegria, soltando piadas por todo lugar. Há um tema – geralmente uma grande e elaborada estória, com suas sempre batidas mensagens sobre salvação do planeta, vida comunitária entre espécies e fé – mas isso é um detalhe. O divertimento mesmo são os pequenos insetos.

A fórmula usada pela DreamWorks é atrair as crianças com criaturas agradáveis e ação ágil, bem como encantar os marmanjos com uma leve e pseudo sofisticada sátira pop cultural. “Bee Movie”, dirigido por Simon J. Smith e Steve Hickner e animado por diversos e diligentes zangões, vai estrategicamente para a telona quase a ponto de não parecer em nada um filme para crianças.

Há alguns trechos de cartoon esplêndidos – incluindo um “tour” do ponto de vista da abelha por Nova York, pelo Central Park à superfície de uma bola de tênis para dentro de um carro de corrida – o que mostra a utilização de técnicas de animação de última geração. Mas a parte mais criativa do filme fica nos diálogos - mais maduros e menos juvenis - do que no aspecto visual.

Isso tudo é pouco surpreendente.Como todos sabem, o cérebro do filme (e um dos roteiristas e produtores) é Jerry Seinfeld, cujo sitcom quase dez anos fora do ar, continua na ativa. Seinfeld faz a voz de Barry B. Benson, uma jovem abelha que chega ao ápice de seu acelerado estilo de vida de inseto, quando tem que escolher uma profissão. A colméia onde ele vive é um lugar organizado, onde as abelhas, condicionadas por 27 milhões de anos de evolução, trabalham sem parar na mesma atividade por toda a vida. Esse mundo remete a uma visão corporativa, doce e ensolarada de "Metrópolis", de Fritz Lang.

Adam (Matthew Broderick), o amigo nerd de Barry, aceita seu futuro de zangão como parte da ordem natural das coisas, mas Barry é um individualista, disposto a quebrar o conformismo da vida social dos insetos.

Barry também nos faz lembrar de algumas passagens com Benjamim Braddock, de “A Primeira Noite de Um Homem”, um filme que “Bee Movie” cita em algumas cenas. Não que Barry tenha um caso com uma abelha de meia-idade (todas as abelhas são crias da rainha, um fato biológico que o filme mostra de passagem). Ao contrário, Barry voa para longe de seu ninho, a ponto de se apaixonar por um ser humano real, uma florista de Manhattan chamada Vanessa, de voz doce e irresistível (Renée Zellweger).

Quando você reflete sobre isso, a perspectiva do romance entre uma abelha e um ser humano soa bizarro, para não dizer "fisiologicamente fora de questão". Mas, de qualquer forma, não é este o intuito do filme. A moral da estória – uma delas – é que nós e as abelhas dependemos uns dos outros e que devemos nutrir respeito pelo trabalho delas.

Quando Barry descobre que mel é comercializado em supermercados e coletado das abelhas, maltratadas com fumaça, etc., ele maldiz a raça humana perseguindo alguns dos responsáveis por esses atos abusivos. Nesse rol, estão Ray Liotta, que comercializa sua própria marca de mel e Sting, cujo nome é obviamente ofensivo às abelhas. Ambos os atores emprestam suas vozes aos personagens, assim como Larry King, interpretando uma figura chamada Bee Larry King. É mais engraçado do que aparenta. Ou talvez seja exatamente tão engraçado quanto parece.

Mesmo quando interpreta uma abelha animada, Seinfeld não demostra grande registro emocional. Sua zona de conforto como intérprete vai da irritação à perplexidade até moderada afetação psicológica, com crises de exagero ocasionais. Mas seu desprendimento funciona a favor do filme, diminuindo seus impulsos sentimentais.

“Bee Movie” deixa explícito um conceito que é geralmente deixado implícito no mundo animal dos cartoons – a etnia. Barry e sua tribo não são somente abelhas. Elas se identificam como “Beeish” – tenho certeza que “Benson” foi alguma coisa a mais no passado - e preocupam-se com seus filhos namorando vespas. Em sua jornada, Barry encontra um mosquito – voz de Chris Rock – a quem se refere como “bloods”.

Essas tiradas sobre identidade política, essa arriscada forma de humor sobre a cultura pop norte americana, dá a “Bee Movie” um estímulo de vitalidade cômica - uma pitada ácida num entretenimento que se propunha a ser leve e sem compromisso.



Bee Movie (Bee Movie)
2007 - EUA - 100 min. Colorido - Desenho
Direção: SIMON J. SMITH e STEVE HICKNER. Roteiro:JERRY SEINFELD, SPIKE FERESTEN, BARRY MARDER e ANDY ROBIN. Animação: Fabio Lignini. Montagem: NICK FLETCHER. Desenho de Produção: ALEX MCDOWELL. Música: RUPERT GREGSON-WILLIAMS. Produção: JERRY SEINFELD e CHRISTINA STEINBERG, distribuído pela PARAMOUNT PICTURES.

Vozes: JERRY SEINFELD (Barry B. Benson), RENÉE ZELLWEGER (Vanessa), MATTHEW BRODERICK (Adam Flayman), JOHN GOODMAN (Layton T. Montgomery), CHRIS ROCK (Mooseblood), PATRICK WARBURTON (Ken), LARRY KING (Bee Larry King), RAY LIOTTA (ele mesmo) e STING (ele mesmo).

Trailer Original:

Um comentário:

Anônimo disse...

Assisto animações sem compromisso nenhum. Foi assim que vi Bee Movie. O filme tem mesmo algumas dessas qualidades que você citou, mas, para mim, faltou um pouco de carisma. Na inevitável comparação entre as animações do ano, Ratatouille leva a melhor.