segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ANÔNIMO VENEZIANO

“Era bom demais para durar”


Enrico (Tony Musante), um músico aspirante a maestro e Valeria (Florinda Bolkan) foram casados por onze anos e estão separados há oito. Após longa ausência, Enrico a chama de Ferrara, onde ela vive com o filho do casal e um amante rico e mais velho, para um reencontro em Veneza. Foi nessa cidade que se conheceram durante os tempos de faculdade – onde a forte paixão entre eles nasceu, acabou e, durante o dia, renasce. Porém, há um problema: Enrico tem uma séria doença. “Anônimo Veneziano” é um drama romântico ítaliano, absolutamente aclimatado e vivido em Veneza – com seu o canal, suas gôndolas, suas “piazzas” e igrejas. Foi dirigido e parcialmente escrito por Enrico Maria Salerno para parecer um filme intimista. Porisso, utiliza-se de diálogos de relacionamento, onde a questão principal é como tentar resolver um casamento no qual a incompatibilidade de gênios é maior que o sentimento que une o casal. Entretanto, não necessariamente esse seja o ponto principal do filme, mas, sobretudo, o esclarecimento de uma relação que não deu certo – e que nunca dará. Não porque o casal não queira, mas porque o curso das coisas assim os levou a uma irreversível separação.

Há alguns momentos em que o diretor inevitavelmente mutila um clichê bacana (se é que se pode chamar um clichê disso), quando Enrico e Valeria voltam a um restaurante típico que costumavam ir quando jovens – “O que você tem?”, Valeria pergunta ao garçom. “Arroz com tinta de lula, sopa de peixe, espaguete, fettucine, lasanha...”, diz ele, de forma direta. Ela responde: “Espaguete...”, como se estivesse num sonho.

Por outro lado, muito dos diálogos são bastante interessantes e gosto particularmente da forma como Enrico resume seu sentimento na relação: “O bovarismo está enraizado na alma feminina, de modo que a mulher chega a trair o amante com o próprio marido” (muito embora Enrico já a tivesse traído antes). É uma tentativa de limpar os pratos sujos de forma sutil.

Tony Musante e Florinda Bolkan fizeram trabalhos sérios em outros filmes, mas aqui fica muito limitada a avaliação interpretativa do casal, uma vez que claramente o cenário e a história sobressaem-se ao par. E, Salerno, ao final, nos deixa com a sensação de que ficou algo a mais para ser dito. É como se fossemos a câmera e nos jogassem nos canais de Veneza, sem rumo definido, ao som da bela trilha sonora de Cipriani (ainda hoje um cult).

Mas, de qualquer forma é sempre bom rever um filme estrelado pela nossa cearense Florinda Bolkan (ex-Bulcão), atriz que já trabalhou com renomados cineastas europeus, como Elio Petri e outros. Li que De Sica teria dito quando a convidou para o filme “Amargo Despertar” (1973): “Escolhi você por que seus olhos são de quem já conheceu a fome". A resposta de Florinda: "Quem nasce no Ceará traz uma carga de verdade muito dura e forte". E é verdade. Ela continua linda, vive na Itália e está na ativa.



"Anônimo Veneziano" (Anonimo Veneziano)
1970 – ITÁLIA - 91 min. – Colorido – DRAMA
Direção: ENRICO MARIA SALERNO. Roteiro: ENRICO MARIA SALERNO E GIUSEPPE BERTO. Fotografia: MACELLO GATTI. Música: STELVIO CIPRIANI.Montagem: MARIO MORRA. Produção: TURI VASILE, distribuído pela ALLIED ARTISTS.

Elenco: TONY MUSANTE (Enrico) FLORINDA BOLKAN (Valeria), TOTI DAL MONTE (proprietário da casa), SANDRO GRINFAN (gerente da fábrica), BRIZIO MONTINARO (garçom) e GIUSEPPE BELLA (técnico).

Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:



Cari Genitori

2 comentários:

Kau disse...

Ainda não tive a oportunidade para ver Enrico Maria Salerno na direção. Mas pude conferir sua atuação em "O Incrível Exército de Bracaleone"; filme este que, mesmo sendo odiado por muitos, é muito bom.

Abs.

Jacques disse...

Kau, creio que vai gostar. É um cult com uma bela trilha sonora que se deve conhecer. Abcs