quinta-feira, 15 de outubro de 2009

OS GOONIES

“Você lembra a música que eu cantava pra você?”


Difícil não gostar desta aventura eletrizante, com muito humor e suspense. Algumas situações nos lembram as histórias de Mark Twain, só que atualizadas e acrescidas dos toques pessoais do diretor Richard Donner, de Superman – O Filme e O Feitiço de Áquila. A pequena e pacata cidade portuária de Astoria é o palco das aventuras de um grupo de meninos que se auto-intitulam “os goonies”. Tom Sawyer e Huck seriam certamente sócios beneméritos dessa confraria que, estimulados pela descoberta de um velho mapa e lendas de piratas, se infiltram por túneis subterrâneos, são perseguidos por uma quadrilha de inescrupulosos bandidos e enfrentam com coragem obstáculos e armadilhas terríveis, no encalço de um fabuloso tesouro perdido. Vale acrescentar, a toda esssa emoção, a beleza das locações escolhidas - a cidade de Astoria, Cannon Beach, no Estado do Oregon, e Bodega Bay, na Califórnia -, a criatividade dos cenários de estúdio (utilizados por Cindy Lauper, a cantora pop dos anos 80, no videoclipe da musica-tema “The Goonies R´Good Enough”) e o ritmo crescente do filme, que atinge uma velocidade estonteante.

Quem, quando criança, não chegou a formar algum tipo de clubinho? Os Goonies não são, nesse sentido, uma exceção, mas seus integrantes são, com toda a certeza, únicos. Assim como nos filmes infantis das décadas de 30 3 40, onde as crianças eram o centro da historia, cada um dos meninos, personagens mirins, é um herói à sua maneira.

Sean Astin (filho de Patty Duke, a menina de “O Milagre de Anne Sullivan”), Jeff B. Cohen, Josh Brolin (“Milk”) e Kerri Green (“Lucas”) estréiam no cinema. Também fazem parte desse grupo, Corey Feldman (“Gremlins” e “Conte Comigo”), Ke Huy-Quan (Indiana Jones e o Templo da Perdição) e Martha Plimpton (filha de Keith Carradine).

Entre os adultos que participam do elenco, temos Josh Matuszak (de “Caveman”, com Ringo Starr e “Piratas das Galáxias”), no papel de Sloth, o gigante deformado. Interpretando a sinistra Sra. Fratelli, mãe e chefe da mal-afamada quadrilha Fratelli, temos Anne Ramsey (“Jogue a Mamãe do Trem”); sob suas asas, estão os igualmente perversos Joe Pantoliano e Robert Davi, como os irmãos Francis e Jake.

O filme atinge em cheio o imaginário da gente e, principalmente da criançada (ao menos a da década de 80), ávida por tesouros a serem descobertos, piratas, bandidos, túneis, etc. A tudo isso, alia-se a competência da produção, os efeitos especiais e o ritmo alucinante em que a ação transcorre – o sucesso do filme acho que se deveu basicamente e, principalmente, a isso.

É uma pena que não se resista às tentações moralistas de se passar algumas “liçoes” absolutamente dispensáveis, como se filmes para crianças não pudessem prescindir de velhas intenções pedagógicas. No mais, o importante é se divertir e, se for preciso alguma desculpa, invente uma. Boa diversão.



Os Goonies The Goonies)
1985 – EUA - 114 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: RICHARD DONNER. Roteiro: CHRIS COLUMBUS, baseado na história de STEVEN SPIELBERG. Fotografia: NICK McLEAN. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: DAVE GRUSIN. Produção: RICHARD DONNER E HARVEY BERNHARD, distribuído pela WARNER BROS.

Elenco: SEAN ASTIN (Mickey), JOSH BROLIN (Brand), JEFF COHEN (Chunk), COREY FELDMAN (Mouth), KERRI GREEN (Andy), MARTHA PLIMPTON (Stef), KE HUY-QUAN (Data), JOHN MATUSZAK (Sloth), ANNE RAMSEY (Mama Fratelli), ROBERT DAVI (Jake) e STEVE ANTIN (Troy).



Cenas do filme:


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A Profecia

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

LOGOS DO CINEMA (#1) - MGM

Em 1924, o publicitário do studio Howard Dietz desenhou o logo do leao para a Samuel Goldwyn Picture Corporation.Ele baseou o logo num time de atletismo da Universidade de Columbia, The Lions. Quando a Goldywn Pictures uniu-se com a Metro Pictures Corporation e a Louis B. Mayer Pictures, a recém formada MGM manteve o logo. Desde então, cinco deles foram criados, fazendo o papel de “Leo, the Lion”.

O primeiro foi Slats, que abria os filmes da MGM na epóca do cinema mudo, de 1924 a 1928. O próximo leão, Jackie, foi o primeiro leão da MGM cujo rugido foi ouvido pela platéia. Embora os filmes fossem mudos, a famosa seqüência mexendo a cabeça com o rugido era reproduzida num fonógrafo assim que o logo aparecia na tela. Jackie foi também o primeiro leão a aparecer no formato Technicolor, em 1932.

O terceiro leão e, provavelmente o mais famoso, era Tanner (embora à época Jackie ainda estivesse sendo utilizado para os filmes preto e branco da produtora). Depois do uso de um quarto – e sem nome – leão, a MGM fixou-se em Leo, que o estúdio tem usado desde 1957. O mote da companhia "Ars Gratia Artis" significa "Arte Pela Arte" .
Fonte:Wikipédia, Diversos

Logo 1


Slats, o original "Leo, The Lion", para a Goldwyn Pictures (1916-1924)


Slats, no primeiro logo oficial da MGM (1924-1928)

Logo 2


Jackie, o segundo leão (1928-1956)


Um dos dois leões usados para o teste dos logos em Technicolor, nas primeiras produções da MGM (1932-1934)

Logo 3


Tanner, o terceiro leão, já todo em Technicolor (1934-1956)

Logo 4


Sem nome, o quarto leão ficou mais conhecido por Brief Mane ou Jackie II (1956-1958)

Logo 5


Leo, The Lion (1957-atual)

domingo, 4 de outubro de 2009

BOOGIE NIGHTS

“Você não sabe o que eu posso fazer”


Quando a câmera “corre” literalmente de modo ágil através da boate em San Fernando Valley no início do filme, apresenta todos os principais personagens com muita facilidade. O padrinho do grupo é Jack Horner, um diretor de filmes pornôs. Depois de um tempo fora das telas, Burt Reynolds ressurgiu com uma de suas melhores atuações em anos, com um toque divertido e suavemente irônico. Na boate, as atenções de Jack recaem sobre um rapaz chamado Eddie, que ele diz ser “Um pedaço de ouro com 17 anos”. Eddie trabalha na cozinha da boate e, pelo que parece, já havia aprendido a fazer trabalhos extras a clientes. O olhar clínico de Jack logo percebe que está diante de um futuro astro pornô. O filme é uma leitura livre sobre o astro do cinema pornográfico do final dos anos 70 e nos 80, John Holmes, papel interpretado por Mark Wahlberg, que consegue uma atuação bastante adequada: atrai todos os outros personagens do filme, faz a transição de um rapaz ingênuo para um arrogante ator, comporta-se como se Dirk Diggler (o nome artístico de Eddie) fosse realmente um grande nome. Ele faz tudo isso com uma ingenuidade cativante, sem artificialismos.

Seu quarto – na casa em que inicialmente mora com os pais – é coberta por pôsteres – garotas nuas, carros esportivos, artes marciais; enfim, todos os elementos de seu sonho americano. A primeira hora do filme mostra-o imbuído em atingir esses objetivos, o que ocorre de forma meteórica. O diretor Paul Thomas Anderson diverte-se com o clima mundano dos diretores de filmes pornôs que participam de festas e assistem a orgias como se estivessem assistindo a uma ópera. O único momento em que se alteram é quando vêem o superdotado Dirk em ação.

"Boogie Nights" não apela muito para nudez ou sexo (exceto durante a longa seqüência em que mostra Eddie atuando numa cena de seu primeiro filme); porém, insinua bastante, principalmente mostrando o grupo, observando Eddie quando atua. Entre seus colegas, todos estão atuando bem. Julianne Morre, maravilhosa, como uma alma perdida que Jack transformou em estrela do mundo pornô (sua estudada e propositada má atuação quando interpreta nos filmes em questão é perfeita); Don Cheadle como um aspirante a caubói está muito bem como um astro do circuito; William H. Macy, numa peruca que parece emprestada de algum membro da série “A Família Dó-Ré-Mi” (70), e sempre inconformado com a mulher que insiste em fazer sexo com outros parceiros nas festas em que participam, sempre embaraçando-o; Philip Seymour Hoffman, como o fã ardoroso de Eddie; Robert Ridgely, como o patrocinador financeiro que, assim como Jack, investe em Eddie; Ricky Jay, como um cameraman e John C. Reilly, como o principal amigo de Eddie em sua empreitada.

O filme, que se inicia em 1977 – ano de "Os Embalos de Sábado À Noite" -, vai agregando algumas etapas, tais como o batismo virtual de Dirk Diggler numa banheira o show de fogos de Ano Novo na passagem dos anos 70 para os 80. A partir daí, a decadência, com o cinema sofrendo a concorrência das fitas de vídeo – que mudou o mundo pornográfico -, as drogas, a transformação dos atores e a chegada de novos astros. Essa decadência culmina, pelo menos no filme, com uma tentativa de assalto de Eddie junto com parte do grupo a um usuário de drogas. No filme, montado em seqüências de festas e takes de filmagem, fica claro para o espectador que a "festa" acabou.

Embora o filme insinue que as coisas não vão terminar bem, perto da carreira de um ator como John Holmes, tudo parece pouco importante. O grande mérito do diretor – além dos malabarismos de câmera e das tomadas longas – é a coragem de percorrer um tema como esse, sem cair em banalidades. Anderson mostra ótimo talento para diálogos, especialmente quando em determinado momento Eddie/Dirk se compara a Napoleão “no Império Romano”.

Apesar de seus mais de 150 minutos, "Boogie Nights" é envolvente e prende a atenção. Entretanto, com tal duração, fica-se a sensação de que poderia alçar vôos mais altos do que efetivamente alcança. Mas é apenas uma sensação. Trata-se de um ótimo filme, conduzido por um grande diretor.



Boogie Nights (Boogie Nights)
1997– EUA - 155 min. – Colorido – DRAMA
Direção: PAUL THOMAS ANDERSON. Roteiro: PAUL THOMAS ANDERSON. Fotografia: ROBERT ELSWITT. Montagem: DYLAN TICHENOR. Música: MICHAEL PENN. Produção: LLOYD LEVIN, JOHN LYONS, PAUL THOMAS ANDERSON E JOAN SELLAR, distribuído pela NEW LINE CINEMA.
Elenco: MARK WAHLBERG (Eddie Adams/Dirk Diggler), JULIANNE MOORE (Amber Waves), BURT REYNOLDS (Jack Horner), DON CHEADLE (Buck Swope), JOHN C. REILLY (Reed Rothchild), WILLIAM H. MACY (Little Bill), ROBERT RIDGELY (Coronel), RICKY JAY (Kurt Longjohn), PHILIP SEYMOUR HOFFMAN (Scotty) e ALFRED MOLINA (Rahad Jackson).



Cenas do filme:


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Magnólia

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

OS OLHOS SEM ROSTO

“Sorria. Não muito”


Desde que um acidente automobilístico desfigurou o rosto de sua filha, Christiane (Edith Scob), o doutor Génessier (Pierre Brasseur) faz todo o possível para restituir-lhe a beleza. Com a ajuda de sua colaboradora Louise (Alida Valli), Génessier atrai para sua casa diversas jovens. Ali as anestesia e as converte em cobaias de uma intervenção cirúrgica macabra. Na sala de operações, que fica oculta no sótão da mansão, retira a face das vitimas e as transplanta para sua filha. Essas experiências se repetem sem sucesso. E as tentativas mal sucedidas do pai tornam-se obsessivas. O filme tem um clima muito perturbador. A fotografia em preto e branco de Eugen Schüfftan revive o inquietante claro e escuro do expressionismo alemão. As nuances cromáticas são responsáveis por transformar a mansão em um labirinto, uma prisão quase impossível de escapar. As sombras das escadas parecem tentáculos possíveis de tornar qualquer um prisioneiro da loucura do médico. Sobretudo de sua filha, separada da vida, que vaga como um fantasma através da casa – parece uma Ofélia com o rosto desfigurado, oculto atrás de uma máscara de porcelana branca, cuja expressão de tristeza parece selar seu destino para sempre.

O diretor Franju cria de forma sutil uma atmosfera de pesadelo que sugere o terror a que estão associados os atos de Génessier. A cada resultado mal sucedido, mostrado através de uma sombria sucessão de primeiros planos – fotografias ou imagens congeladas -, mostra o rosto angelical de Christine que perde o viço dias depois, com manchas de necrose na pele transplantada.

A crueldade dessas seqüências mostra que Génessier é um médico perverso, pois além de provocar mortes, torna seu amor pela filha numa obsessão. As tentativas de dar à Christine um novo rosto – uma nova vida – significam ao mesmo tempo mudar sua identidade, recriá-la como mulher ideal, em um ato de criação, tal qual Frankenstein. Esse ato de arrogância que tem, entretanto, suas conseqüências.

O filme também pode ser visto como um alerta, uma crítica ácida à medicina experimental, de tentativa e erro, levada ao extremo. “Os Olhos Sem Rosto” reforça nossos mais profundos temores de infância. Quem de nós, quando criança, não achava que os médicos e enfermeiras eram agentes do mal? Se você planeja submeter-se a uma cirurgia plástica no futuro, evite assistir a este belo filme do terror francês. Sombrio e triste. Porém, brutalmente poético.



Os Olhos Sem Rosto (Les Yeux Sans Visage)
1960– FRANÇA /ITÁLIA - 88 min. – Preto e Branco – TERROR
Direção: GEORGES FRANJU. Roteiro: PIERRE BOILEAU, PIERRE GASCAR, THOMAS NARCEJAC E CLAUDE SAUTET, baseado na obra homônima de JEAN REDON Fotografia: EUGEN SCHÜFFTAN. Montagem: GILBERT NATOT. Música: MAURICE JARRE. Produção: JULES BORKON, para a CHAMPS ÉLYSÉES PRODUCTIONS E LUX FILM.

Elenco: PIERRE BRASSEUR (Dr. Génessier), ALIDA VALLI (Louise), JULIETTE MAYNIEL (Edna), EDITH SCOB (Christine), FRANÇOIS GUÉRIN (Jacques), ALEXANDRE RIGNAULT (Inspetor Parot), BÉATRICE ALTARIBA (Paulette), CHARLES BLAVETTE (Homem do Depósito), CLAUDE BRASSEUR (Inspetor) e MICHEL ETCHEVERRY (Médico Legista).


Cenas do filme:


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A Máscara de Satã

domingo, 27 de setembro de 2009

FRANCES

“Frances Elena Farmer. Quer que eu soletre?”


“Frances'' é baseado na triste e complicada vida de Frances Farmer, uma brilhante colegial de Seattle que alcançou o estrelato na Hollywood dos anos 30, em filmes como ''O Último Romântico'' e ''Meu Filho É Meu Rival”, ambos de 1936, e participação na Broadway. No início da década de 40, Frances entrou em depressão física e emocional que, segundo mostrado no filme, levou-a a ser tratada como mentalmente incapaz. Aparentemente com o consentimento da mãe, foi submetida a sessão de lobotomia que transformou uma mulher talentosa em um robô humano, até falecer na década de 70. Aos 56 anos, Frances Farmer morreu de câncer na garganta em Indianapolis, onde passou o resto de seus dias como apresentadora de um programa de televisão.

O filme é um pouco conturbado. Parece uma obra inacabada, como se o diretor, Graeme Clifford, e os roteiristas não tivessem conseguido perceber o foco principal da história da atriz. Contém um material pouco lapidado e com certo grau de brutalidade que tanto o filme como os espectadores não poderiam supor.Contudo, traz uma atuação magnífica de Jessica Lange no papel principal. Seu desempenho é tão contundente, tão forte, tão inteligente e humano que parece ser o último papel de sua carreira. Pelo contrário, depois de “King Kong” (76) e o pretensioso "O Destino Bate à Sua Porta" (81), Jessica, além de linda, emerge como uma atriz poderosa. O prazer em assisti-la faz com que o filme vá se transformando numa experiência marcante. Não é à toa que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1983.

O roteiro de Eric Bergren, Christopher Devore e Nicholas Kazan, retrata a história da atriz quando, ainda na escola, ganha um prêmio de redação um polêmica para os anos 30 – o assunto versava sobre a morte de Deus. A jovem Frances, xodó de uma mãe ambiciosa, Lilian Farmer (Kim Stanley), e de seu pai fraco Ernest (Bart Burns), ganha uma competição de interpretação patrocinada por um jornal de esquerda. Como prêmio, ganha uma viagem para a Rússia e a chance de trabalhar no Teatro de Arte de Moscou. Apesar de sua ambição, sua mãe Lillian é fruto de um tempo e, como tal, anticomunista. Quando Frances a desafia e parte para Moscou, inicia-se uma série de confrontos entre ambas, que levam paulatinamente à destruição de sua personalidade.

Embora retratada como relevante no início, sua viagem não é mais mostrada durante o filme. Num período de poucos segundos, a atriz retorna da Rússia, trabalha em Nova Iorque e volta para Hollywood como uma atriz contratada da Paramount Pictures. Minutos depois, é a aclamada atriz de “Meu Filho É Meu Rival”, de Samuel Goldwyn. A atriz, contudo, é incansável. Deixa Hollywood para trabalhar num grupo de teatro e tem um desastroso romance com o dramaturgo Odets (Jeffrey DeMunn). De volta a Hollywood, estrela em filmes B e, viciada em anfetaminas, segue um calvário como paranóica, que leva à prisão e a uma sucessão de internamentos em hospitais mentais.

Surgindo em algumas situações e desaparecendo em outras, está o personagem fictício chamado Harry York – um sujeito low profile -, interpretado pelo escritor e ator Sam Shepard. Sua figura é difícil de entender dentro do contexto do filme. Quando se torna amante de Frances, nos primeiros anos em Seattle, aparenta um político de esquerda. Mais tarde, durante a fase em que a atriz se dedica ao teatro, ele é um bookie. Mais tarde, ao resgatá-la de um hospital mental na Califórnia, ressurge como um escritor ou alguém da imaginação de Frances.

O diretor extrai excelentes atuações dos atores, mas nunca fixa um estilo para o filme. Às vezes, é um melodrama biográfico, romântico; outras, demasiado estilizado. Aonde quer que Frances esteja durante o período da Depressão - em Seattle, Nova Iorque ou Los Angeles - o panorama parece ser decorado com pouco glamour, como se fosse para certificar a consciência social da atriz. Em determinado ponto, ela chega a perguntar: “Como posso continuar fazendo filmes quando pessoas passam fome?”.

Um ponto que não fica claro e que compromete a coerência do filme é a falha em não estabelecer se os problemas mentais enfrentados por Frances são reais ou se ela é vitima de sua vingativa e recalcada mãe, do establishment de Hollywood ou, mais ainda, do grupo de teatro de Clifford Odets e Harold Clurman.

Apesar das falhas de estrutura e estilo do filme, Jessica está consistentemente esplêndida. Ela consegue ser sofisticada, astuta e obstinada quando ainda garota, bem como perturbada e fragilmente assustada, quando já mulher adulta. A cena em que se encontra com um psiquiatra é tão magistralmente interpretada que poderia ser objeto de alucinação da atriz. É, ao mesmo tempo, engraçada e comovente. Com certeza uma das maiores atuações dos anos 80.Embora todo o elenco esteja bem, ninguém tem um papel de grande destaque, incluindo Kim Stanley – que foi indicada ao Oscar de Melhor Coadjuvante - e Sam Shepard que, contudo, têm presenças fortes.

Bastante tocante fica por conta das seqüências finais em que uma Frances “tranqüila” aparece no programa de Ralph Edwards, "This Is Your Life". Linda, e demovida de todas as pressões sociais que antes tinha, comporta-se do modo esperado por todos. O apresentador chama-a de Frances e ela o chama de Ralph (com mais freqüência do que alguém faria no dia-a-dia). Ao final, ela ganha um carro modelo Edsel. Parece o final de um sonho.



Frances (Frances)
1982– EUA - 140 min. – Colorido – DRAMA
Direção: GRAEME CLIFFORD. Roteiro: ERIC GREGEN, CHRISTOPHER DEVORE E NICHOLAS KAZAN Fotografia: LASZL KOVACS. Montagem: JOHN WRIGHT. Música: JOHN BARRY. Produção: JONATHAN SANGER, distribuído pela UNIVERSAL PICTURES.

Elenco: JESSICA LANGE (Frances Farmer), SAM SHEPARD (Harry York), KIM STANLEY (Lillian Farmer), JEFFREY DeMUNN (Clifford Odets ), JORDAN CHARNEY (Harold Clurman), BART BURNS (Ernest Farmer), JONATHAN BANKS (Hitchhiker), DONALD CRAIG (Ralph Edwards), DARRELL LARSON (Espião de Louella) e GERALD S. O´LOUGHLIN (Especialista em Lobotomia).



Cenas do filme:


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Céu Azul

domingo, 30 de agosto de 2009

QUANDO OS DEUSES AMAM

“Eu quero chorar, mas não consigo.”


Nunca houve uma mulher como Gilda. Também, nunca houve uma musa como Terpsicore. E isso não é nenhuma surpresa quando se trata da mesma beldade – Rita Hayworth. Do Olimpo, a musa da dança e do canto espia um espetáculo da Broadway que a retrata como uma divindade chula e vulgar. Indignada, recorre a um sentinela divino, Sr. Jordan (Roland Culver) para vir à Terra e corrigir a heresia. Arranja um agente, Max Corkle (James Gleason) e, ao assumir o papel de protagonista do show, agora como Kitty Pendleton, Rita seduz o diretor Danny Miller (Larry Parks). De quebra, convence-o a alterar o espetáculo e o resultado é o fracasso da estréia. O que Terpsicore não sabe é que o insucesso do show pode custar à vida de Danny, por conta de dívidas de jogo. Apaixonada e resignada, tenta ajudá-lo. Tudo se complica quando acaba por apaixonar-se por Danny e, como imortal, deve voltar às suas origens.

Os personagens de Sr. Jordan, o ajudante Agente 7013 (Edward Everett Horton) e Max Corkle, repetem o trio que aparece em “Que Espere o Céu” (41). Neste, o enredo era diferente e Sr. Jordan fora interpretado por Claude Rains, dirigido pelo próprio Alexander Hall. Aqui, todo o elenco reunido forma a base para um bom musical, com muitas canções e números de dança que esbanjam vitalidade. De fato, são nesses números que os momentos mais agradáveis do filme surgem. Música, cor e movimento são combinados para estimular o espectador num show de charme e encanto.

Claro que os números são mostrados principalmente como parte de um espetáculo maior - contudo, continuidade nos musicais é algo raro de ocorrer, pois eles basicamente servem como pano de fundo para o enredo principal. Mas aqui são generosos e, principalmente com garotas bonitas e dançarinos competentes.

Canções como "This Can't Be Legal" and "They Can't Convince Me," permeiam o filme e são entoadas em diversas ocasiões. Marc Platt, que mais trde faria Dan Pontipee - um dos irmãos de Howard Keel em "Sete Noivas Para Sete Irmãos” (54) - e encabeça o espetáculo de dança, está adequado ao papel que lhe exige mais esforço físico do que interpretativo.

Desde que a celestial Rita desveste-se de seus trajes gregos no Olimpo e surge como uma dançarina vestida de mink na Broadway, o fantasia se esvai um pouco, uma vez que ela, apesar de musa, esforça-se para parecer uma mortal. É verdade que Roland Culver, como Sr. Jordan e Edward Everett Horton, agente 7013, aparecem ocasionalmente para lembrar Rita que ela não é uma entidade terrena. A rigor, Rita não precisa interpretar – e isso não é uma ofensa, pelo contrário. Dança como ninguém e aqui está no auge de sua beleza.

James Gleason, como empresário de Kitty/Terpsicore, faz o melhor do filme, nas cenas em que aparece. Os momentos em que gesticula no ar tentando conversar com Sr Jordan são impagáveis. Ele garante boas risadas neste musical leve, e competente.



Quando Os Deuses Amam (Down To Earth)
1947– EUA - 101 min. – Colorido – MUSICAL
Direção: ALEXANDER HALL. Roteiro: EDWIN BLUM E DON HARTMAN, baseado na peça “HEAVEN CAN WAIT”, de HARRY SEGALL Fotografia: RUDOLPH MATÉ. Montagem: VIOLA LAWRENCE. Música: GEORGE DUNING E HEINZ ROEMHELD. Produção: DON HARTMAN, distribuído pela COLUMBIA PICTURES.

Elenco: RITA HAYWORTH ( Terpsicore/Kitty Pendleton), LARRY PARKS (Danny Miller), MARC PLATT (Eddie), ROLAND CULVER (Sr. Jordan), JAMES GLEASON (Max Corkle), EDWARD EVERETT HORTON (Agente 7013), ADELE JERGENS (Georgia Stevens), GEORGE MACREADY (Mary Graham), WILLIAM FRAWLEY (Policial) e JEAN WILLES (Betty).



Cenas do filme:


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Que Espere o Céu

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

IMPÉRIO DO SOL

“Não me lembro como são meus pais.”


“Império do Sol” apresenta a junção de dois momentos da filmografia spielberguiana. O primeiro seria este que mostra crianças como fio condutor de uma trama que levará inapelavelmente à revelação; o segundo, demonstra uma preocupação que o diretor tinha em querer fazer filmes para alcançar um público adulto. Tal tendência já havia se revelado anteriormente em “A Cor Púrpura” (85). Em “Império do Sol”, Spielberg se afirma de maneira mais definitiva. Basta dizer que o filme inicia mostrando corpos sem vida boiando no mar. A morte, fim de todas as ilusões, serve assim para ilustrar a cena do filme de um dos reabilitadores do Cinema como espaço do sonho. Talvez por isso, quem assiste a esse filme pela primeira vez e esperava encontrar o diretor de filmes como “Tubarão” (75), “Encurralado” (71), “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (77) ou “1941” (79), ficou um tanto quanto surpreso. Superprodução bastante requintada, foi rodada durante quatro meses, empregou mais de 15.000 extras e quase 500 técnicos, divididos entre americanos, ingleses, chineses e espanhóis, trabalhando simultaneamente em três paises: China, Inglaterra e Espanha. Logo no início, impressiona o impacto da cena em que o protagonista Jim dirige-se com os pais para um baile à fantasia. As tomadas feitas de cima da cidade de Xangai revelam a opulência da produção, desde a riqueza de detalhes do figurino, assinado por Bob Ringwood, até a irretocável direção de arte, a cargo de Norman Reynolds. A megalomania chegou ao ponto de levar o diretor a queimar diversos pneus nas regiões de Feng Yang e Jiu Tiang, a fim de obter a fumaça adequada para as cenas de batalha.

Inspirado em romance homônimo de J.G. Ballard, “Império do Sol” conta um pouco do drama vivido pelo próprio Ballard durante a Segunda Guerra Mundial, quando, ainda adolescente, foi mantido, ao lado dos pais, como prisioneiro em Lunghua, Japão. O livro narra a historia do menino Jim Graham, de apenas 11 anos, que passa a viver uma vida de cão depois que as forcas armadas do Império Japonês, o Império do Sol, conquistam, logo após o bombardeio de Pearl Harbor, em 8 de dezembro de 1941, a cidade de Xangai.

Jim é um garoto que acaba sobrevivendo num contexto de mundo e situação de difícil sobrevivência. Entretanto, mais importante do que permanecer vivo numa situação adversa, é que Jim sonha. Para ele, pouco importa a guerra. Na verdade, esse Oliver Twist moderno a observa quase o tempo todo como uma brincadeira de soldados de chumbo. Seu desejo maior é voar, pilotar um dos famosos Zeros japoneses. Em “Império do Sol”, Spielberg filma a tensão de Jim entre a realidade e o sonho. Cinematograficamente, vence o sonho - senão o filme não seria um Spielberg.

As melhores cenas são justamente aquelas que mostram algum encanto, como aquela em que Jim toca pela primeira vez suas minúsculas mãos num avião e em seguida bate continência para três oficiais japoneses. Ou, então, quando o “sonho” acaba e, no reencontro com os pais, o garoto até então fascinado pela fantasia que vive, volta à realidade. Neste despertar, não abre os olhos e sim os fecha pela primeira vez, no porto seguro do abraço materno. Neste rápido instante, Spielberg aparece inteiro, deixando claro que o universo da fantasia é seu verdadeiro império. Pena que se trata de um Spielberg que há muito não é o mesmo.



Império do Sol (Empire of the Sun)
1987– EUA - 153 min. – Colorido – DRAMA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: TOM STOPPARD, baseado em romance de J.G. BALLARD Fotografia: ALLEN DAVIAU. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILIAMS. Produção: STEVEN SPIELBERG, KATHLEEN KENNEDY E FRANK MARSHALL, distribuído pela WARNER BROS.

Elenco:
CHRISTIAN BALE (Jim Graham), JOHN MALKOVICH (Basie), MIRANDA RICHARDSON (Sra. Victor), NIGEL HAVERS (Dr. Rawlins), JOHN PANTOLIANO (Frank Demarest), LESLIE PHILLIPS (Maxton), MASSATÔ IBU(Sargento Nagata), EMILY RICHARD (Mary Graham), RUPERT FRAZER (John Graham) e PETER GALE (Sr. Victor).



Cenas do filme:


Assista também:




E.T. - O Extraterrestre