sábado, 31 de maio de 2008

ARDIDA COMO PIMENTA

“Há alguma mulher aqui? Não, senhor. Somente índios.”


Calamity Jane (Doris Day) é uma garota que não dá a mínima para a aparência, não é nada vaidosa. Veste-se como um homem, chegando a ser masculinizada. Lida com indígenas e com os amigos do bar com muita destreza, no velho Oeste americano. Isso, até outra moça chegar na cidade. Quando Jane começa a competir com a forasteira Katie Brown (Allyn McLerie) pela atenção do tenente do exército Gilmartin (Philip Carey), ela sofre todo tipo de transformação – inclusive na forma de vestir-se e cantar. A mudança é para melhor. E, o fato dela rever seus sentimentos e voltar sua atenção para Bill Hickok (Howard Keel), melhora o enredo.

Água com açúcar? Claro. Bem como algumas das canções que Sammy Fain e Paul Francis Webster compuseram, tais como "It's Harry I'm Planning to Marry" e "Keep It Under Your Hat", são cantadas ao longo do filme aqui e ali. Melhor fica por conta de "My Secret Love", premiada com o Oscar e "The Black Hills of Dakota."

Doris Day está engraçada, mas também exagera na composição de Jane. – fica com a cara sisuda e brava ao longo do filme e caminha a passos largos como se estivesse pulando. O diretor David Butler provavelmente engessou-a e ela seguiu à risca – melhor se não tivesse feito isso. Ela atira para o alto com seu revólver, usa cordas, etc. Talvez pudesse nos dar uma performance mais elaborada, menos violenta, mais relaxada. A cenografia do filme também capricha na dose, mas em Technicolor agrada.

Além dela, Allyn McLerie, que tem um rosto de menina assustada, aparece meio estática nas cenas de dança. Howard Keel perde envergadura no filme, justamente por conta dos excessos de Doris Day. Entretanto, tudo fica engraçado quando ela toma os ares de mulher e sossega.

Neste musical, a Warner esperava repetir em Doris Day como Betty Hutton, em “Annie Get Your Gun”, escalando o mesmo Howard Keel, que teve a mesma missão de domar a moçoila Betty – o que acontece com Jane neste filme. Para assistir num final de tarde, de forma descompromissada.



"Ardida Como Pimenta" (Calamity Jane)
1953 – EUA - 101 min. – Colorido – COMÉDIA
Direção: DAVID BUTLER. Roteiro: JAMES O´HANLON. Fotografia: WILFRID M. CLINE. Montagem: IRENE MORRA. Música: DAVID BUTTOLPH e HOWARD JACKSON. Produção: WILLIAM JACOBS, para WARNER BROS.

Elenco: DORIS DAY (Calamity Jane), HOWARD KEEL (Bill Hickok), ALLYN McLERIE (Katie Brown), PHILIP CAREY (Gilmartin), DICK WESSON (Francis Fryer), PAUL HARVEY (Henry Miller), CHUBBY JOHNSON (Rattiesnake)e GAIL ROBBINS (Adelaid Adams).

Trailer Original:


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Paris em Abril

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O CLUBE DOS CINCO

“Porque você tem que insultar todo mundo?...Eu estou sendo honesto, idiota. Pensei que soubesse a diferença.”


Cinco alunos de uma escola de Chicago ficam de castigo na manhã de um sábado por haverem cometido infrações diversas. A pena: têm que escrever uma redação de mil palavras dentro de um período de oito horas. O diretor da escola, Richard Vernon (Paul Gleason) está trabalhando em uma sala ao lado da qual os alunos estão fechados. Como não estão sob vigilância contínua, os cinco adolescentes vagabundeiam pela biblioteca, sem nenhuma intenção de executar a tarefa. Como tampouco se conhecem, começam a trocar idéias sobre seus amigos, seus pais e sobre a “primeira vez” de cada um. Ao final do bizarro dia na escola, cada um estará um pouco mais preparado para responder à pergunta: “Quem sou eu?”.O roteirista e diretor John Hughes especializou-se em comédias infantis e de adolescentes. Com “O Clube dos Cinco”, realizou um filme mais intimista, sem protagonistas.Consegue mostrar adolescentes com problemas reais, evitando, contudo, que o filme se aprofunde em demasia nos assuntos que aborda. Embora revele somente o suficiente para não espantar o público-alvo adolescente, o filme mantém um clima de seriedade, de sensibilidade e afeto. A caracterização dos personagens é muito bem realizada. São personagens com matizes que despertam nosso interesse pelos seus destinos, embora, por outro lado, são também bastante carismáticos para que o público se identifique com muitos deles.

Logo na cena em que os “delinqüentes” chegam à escola, Hughes desfila seu estilo de caracterização dos personagens, baseado em alguns clichês: a garota chega numa caminhonete e, o rebelde, a pé, indiferente diante de um carro que breca para não atropelá-lo. O rebelde chama-se John (Judd Nelson), que usa cabelos compridos e camiseta rasgada. Discutindo com o diretor, acaba “ganhando” um castigo de oito sábados adicionais, mas, a princípio, trata seus companheiros com uma agressiva condescendência.

Brian (Anthony Michael Hall) é o clássico exemplo do nerd e os demais o importunam. Claire (Molly Ringwald) provém de uma família rica, mas fica evidente que seu estilo patricinha não lhe interessa nem um pouco. Andrew (Emilio Estevez) é o esportista do grupo, pois participa do time de luta e representa o “projeto” de ambição para seu pai. Por último, mas igualmente importante, é Allison (Ally Sheedy), uma garota que se esconde atrás de seus cabelos desgrenhados e de suas roupas maltrapilhas, além de ser cleptomaníaca.

Ao longo do sábado, todos trocam experiências entre si, de forma sincera, dando-se em conta que todos possuem os mesmos problemas – como atender às expectativas paternas (que não se cumprem), bem como vencer a eterna luta para manter um status dentro da hierarquia da escola.

Nos diálogos, Hughes demonstra ter um talento acima da média: o de compreender os meandros da adolescência. Consegue mostrar de forma realista o modo com que os jovens se expressam, como criam conflitos entre si, como silenciam, como são autênticos e verdadeiros, como perdem o controle e como rompem-se em lágrimas. Consegue criar habilmente personagens com perfis tão distintos, com poucas pinceladas. Um bom exemplo é a melancólica Allison, que em um dado momento vislumbra uma paisagem e sacode a caspa dos cabelos sobre o casaco para imitar neve.

Os cinco jovens atores têm atuações impecáveis, desenvolvendo seus personagens com sinergia, parecendo que se conhecem mutuamente há tempos. Não somente por essa razão, mas também por demonstrar uma clara intenção do filme em oferecer o retrato definitivo de uma geração, os paralelismos com o antecessor “O Reencontro” (The Big Chill), de 1983 e o posterior “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas” (St. Elmo´s Fire), de 1985, são evidentes. Tanto que nos EUA, “O Clube dos Cinco” foi apelidado de “The Little Chill”. Cult obrigatório.




"O Clube dos Cinco" (The Breakfast Club)
1984 – EUA - 92 min. – Colorido – DRAMA
Direção: JOHN HUGHES. Roteiro: JOHN HUGHES. Fotografia: THOMAS DEL RUTH e GEORGE BOUILLET. Montagem: DEDE ALLEN. Música: KEITH FORSEY e WANG CHUNG. Produção: JOHN HUGHES e NED TANEN, para A&M FILMS E UNIVERSAL PICTURES.

Elenco: EMILIO ESTÉVEZ (Andrew Clarke) JUDD NELSON (John Bender), ANTHONY MICHAEL HALL (Brian Johnson), MOLLY RINGWALD (Claire Standish), ALLY SHEEDY (Allison Reynolds), PAUL GLEASON (Richard Vernon), JOHN KAPELOS (Carl), PERRY CRAWFORD (Pai de Allison), PERRY MARY CHRISTIAN (Irmã de Brian) e ROY DEAN (Pai de Andrew).


Trailer Original:


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Gatinhas e Gatões

terça-feira, 27 de maio de 2008

O EXTERMINADOR DO FUTURO

“Hasta la vista, baby.”


Depois de uma guerra nuclear, as máquinas chegam ao poder. Concebidas, a principio, para representar um sistema de segurança ideal, opõe-se à raça humana. Um grupo de guerreiros clandestinos, liderados por John Connor, oferece uma resistência tenaz. Para refrear a resistência, as máquinas enviam ao passado, no ano de 1984, um andróide programado para matar. Sua missão é eliminar Sarah Connor (Linda Hamilton),a mãe do futuro líder da resistência e salvador da raça humana. A chegada do exterminador é como o nascimento diabólico de uma nova espécie. Vindo de uma descarga elétrica, acompanhada de raios e um feixe de luz branca, materializa-se um musculoso corpo masculino. É um organismo cibernético, um cyborg – o exterminador. As balam não o abatem e a violência mecânica somente pode atingir a superfície de seu corpo, fabricado com pele e tecidos. Debaixo de seu invólucro externo, reluz um esqueleto metálico de aspecto maligno e, em seu crânio de ferro, brilham olhos vermelhos de aspecto diabólico. Neste contexto, fica compreensível a ausência de diálogos, pois toda palavra ameniza o impacto da linguagem corporal. Na verdade, não há nada a ser dito, quando conduta lógica é tentar salvar uma vida.

As frenéticas perseguições de carros, motocicletas e caminhões, que remetem a “Viver e Morrer em Los Angeles” (1985), são exemplos de um cinema puramente físico, uma representação do movimento, cujo efeito reside no fato de que não existem obstáculos. Mesmo em lugares aparentemente seguros, como uma delegacia de policia ou um motel, a paz é uma mera ilusão que o poder do exterminador destrói em um instante.

A lúgubre visão do futuro não deixa nenhuma dúvida de que será quase impossível proteger Sarah Connor da missão mortal desse destruidor. Ainda que no inicio do filme o desconhecimento dos motivos da missão do exterminador crie uma emocionante atmosfera de suspense, o resto do filme centra-se cada vez mais em outra ponto: o momento em que o caçador alcancará finalmente sua presa e porá fim à perseguição, executando-a. Nem sequer Kyle Reese (Michael Biehn), um guerreiro enviado pelos humanos do futuro para proteger Sarah Connor, é capaz de detê-lo.

Não há praticamente nenhum outro filme dos anos 80 tão intimamente associado à sua época como “O Exterminador do Futuro”. O filme nos traz uma visão apocalíptica tendo uma guerra nuclear como pano de fundo, apresenta uma mulher forte como salvação da humanidade e tem uma estética absolutamente fria, representada pelos inesquecíveis óculos escuros de sol do exterminador (Arnold Schwartznegger). A iconografia do filme leva a afirmação de uma cultura em seu ápice, uma época em que a musica New Age , os penteados impecáveis e as roupas negras serviam para ocultar a insegurança latente por detrás de uma postura narcisista.

Por outro lado, e como ocorreu com filmes franceses pós-modernos, inspirados na “cultura do desenho”, como “Subway” (1985) e “Betty Blue” (1985), o mesmo filme contribuiu para a criação de um estilo de vida. Sua estrutura direta e clara, e os malabarismos de parâmetros estéticos, praticados com plena consciência, procuravam, sobretudo, conseguir um efeito superficial , uma marca cultural que definiu a década e o que inevitavelmente caracteriza o estilo cinematográfico de “O Exterminador do Futuro”.

A história, atrevida e explícita, e a sua forma de apresentação resultam num filme que transcorre praticamente sem diálogos. O segredo é a feliz combinação de gêneros -a ficção cientifica, a ação e o romance. Também, foi igualmente fundamental a escolha de Arnold Schwarzenegger como protagonista, um esportista que havia sido várias vezes campeão mundial de fisiculturismo e que triunfou internacionalmente com este filme.

Não obstante, a obsessão do filme por uma imagem aparentemente superficial da virilidade pura, acompanhada de uma crueldade fria e impassível, na realidade resultou surpreendentemente flexível, como demonstra a seqüência “O Exterminador do Futuro 2” (1991), na qual Schwarzenegger cativou o publico totalmente desprevenido com sua interpretação de um exterminador absolutamente bom caráter. Ao contrário, o primeiro filme apresenta a imagem de um assassino sem consciência.

Cameron conseguiu com “O Exterminador do Futuro” fazer um filme convincente e o personagem de Schwarzenegger resulta tão eficaz, que permite ao público ver com o olhar de andróide, descortinando, deste modo, os limites entre o humano e o artificial.




"O Exterminador do Futuro" (The Terminator)
1984 – EUA - 107 min. – Colorido – FICÇÃO CIENTÍFICA
Direção: JAMES CAMERON. Roteiro: JAMES CAMERON e GALE ANNE HURD. Fotografia: ADAM GREENBERG. Montagem: MARK GOLDBLATT. Música: BRAD FIEDEL. Produção: GALE ANNE HURD, para PACIFIC WESTERN, CINEMA 84 e HEMDALE FILM CORPORATION.

Elenco: ARNOLD SCHWARZENEGGER (Exterminador) LINDA HAMILTON (Sarah Connor), MICHAEL BIEHN (Kyle Reese), PAUL WINFIELD (Traxler), RICK ROSSOVICH (Vukovich), BESS MOTTA (Matt), EARL BOEN (Dr. Silberman), DICK MILLER (Vendedor) e SHAWN SCHEPPS (Nancy).


Trailer Original:


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O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

terça-feira, 20 de maio de 2008

OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA

“Eu odeio cobras, Jock. Eu as odeio.”


Logo no início, descobrimos que algo terrível vai acontecer, e "Os Caçadores da Arca Perdida" estabelece um ritmo frenético que não se rompe até o final do filme – um final irônico que relembra nada menos que "Cidadão Kane" (1941). É, contudo, a única referência num filme que, de qualquer forma, dedica-se exclusivamente aos gloriosos tempos dos filmes B. “Os Caçadores da Arca Perdida” é um dos mais frenéticos, engraçados, engenhosos e estilizados filmes de aventura feitos pelo cinema norte-americano. É uma homenagem às series antigas e baratas que transcendem suas inspirações para tornarem-se, de fato, em filmes reais, tais como os temos em nossa imaginação. O filme é uma colaboração entre Steven Spielberg (diretor) e George Lucas (um dos produtores executivos) que, com Philip Kaufman, escreveu a história original na qual se baseou o roteiro de Lawrence Kasdan.

Como “Guerra nas Estrelas” (1977) ajudou George Lucas em todas as formas de criação de mitos, contos e personagens fictícios, unindo-os numa obra de grande originalidade, e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977), de Spielberg trouxe um alento positivo aos filmes de ficção que se tinham tornado banais, “Os Caçadores da Arca Perdida” refina todo esse material em um filme que renova as memórias de como se realizar uma película desde primórdios do cinema, embora possuindo uma e rara e muito maior sensibilidade artística.

O filme, que é sempre divertido, sem nunca ser caricato. É sobre Indiana Jones (Harrison Ford), um rude professor de arqueologia com uma aptidão para aterrissar em situações difíceis nos mais exóticos cantos do planeta e sua namorada esporádica Marion Ravenwood (Karen Allen), a filha de um arqueólogo mundialmente famoso. Quando nos deparamos com Marion pela primeira vez, ela está correndo num boteco no remoto Nepal. Como Marion parou ali administrando um negócio no Nepal nunca é explicado, mas “Os Caçadores da Arca Perdida” é genial, tanto pelas coisas que explica como pelas deixadas sem explicação.

O ano é 1936, e mostra as tentativas de Indiana e Marion, a serviço do governo norte-americano, em descobrir a Arca da Aliança antes que um grupo de arqueólogos nazistas possa apoderar-se dela. Hitler, que é descrito como um homem obcecado por coisas obscuras, está firmemente decidido em encontrar a Arca, que contém os Dez Mandamentos, colocadas ali por Moisés como originalmente escritos nas tábuas.

A Arca é referida diferentemente como: (1) capaz de conferir poderes mágicos à pessoa que se apossa dela, (2) ser alguma coisa que o homem não pode usurpar, sendo “fora deste mundo” e, por último, (3) como um veículo de comunicação com Deus. Não se imagina qual o risco de vida que Indiana e Marion têm que passar a cada segundo para evitar que a Arca seja levada até Berlim!

Após a reconciliação no Nepal, seguida da fuga da morte nos Andes, Indiana e Marion voam ao Egito onde há razoes para acreditar que os nazistas estão prestes a achar a Arca nas escavações de um templo chamado Poço das Almas. Mesmo antes de chegarem às escavações, no entanto, enfrentam diversos obstáculos a serem superados no Cairo, incluindo tentativas de assassinato, um bem sucedido seqüestro e um destino pior que a morte para Marion nas mãos de um renegado arqueólogo francês, chamado Belloq (Paul Freeman).

Não se pode contar muito da história, mas vale lembrar que Indiana e Marion, separados ou juntos, deparam-se com inúmeras situações em sua jornadas, tais como um confinamento numa tumba antiga repleta de serpentes, um ataque com flechas com veneno, comidas envenenadas, tortura com estaca em brasa, e também uma supermala, na qual Indiana, em cima do cavalo, tenta alcançar um caminhão nazista que carrega a recém descoberta Arca em direção a Cairo, com traslado para Berlim. O clímax do filme, no qual os poderes da Arca são demonstrados para todos, é quase tão surpreendente como aquela demonstrada no clímax de “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977).

Harrison Ford e Karen Allen fazem um par de intensa cumplicidade, cheio de recursos; ele, com sua jaqueta, e sua visão de raios-X; ela, com sua beleza de Margot Kidder e sua habilidade como beberrona, um jeito sarcástico, mas recheado de charme. Steven Spielberg também realizou um filme que parece ter custado bilhões de dólares (foi filmado, dentre outros lugares, na Tunísia, França, Inglaterra e Havaí), mesmo que algumas tomadas de produção remetam-nos aos antigos e fabulosos filmes B.

A cidade do Cairo que vemos na tela é obviamente uma cidade ao norte da África, mas também, obviamente, não é o Cairo. Não há pirâmides à vista. Meu único protesto é que Spielberg não tenha inserido uma tomada familiar do Cairo nas cenas para termos certeza que estaríamos lá. Leslie Dilley, a diretora de arte, deveria ter insistido nisso; porém, se nós não tivemos tudo, conseguimos quase tudo. Mesmo assim, esse talvez seja o melhor filme de aventuras da década de 80.




"Os Caçadores da Arca Perdida" (Raiders of the Lost Ark)
1981 – EUA - 115 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: LAWRENCE KASDAN, baseado em argumento de GEORGE LUCAS e PHILIP KAUFMAN. Fotografia: DOUGLAS SLOCOMBE. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILLIAMS. Produção: GEORGE LUCAS, para LUCASFILMS LTD.

Elenco: HARRISON FORD (Indiana Jones) KAREN ALLEN (Marion Ravenwood), PAUL FREEMAN (Dr. Rene Belloq), RONALD LACEY (Major Arnold Toht), JOHN RHYS-DAVIES (Sallah), DENHOLM ELLIOTT(Dr. Marcus Brody), ALFRED MOLINA (Satipo), WOLF KAHLER (Cel. Dietrich), ANTHONY HIGGINS (Gobler) e VIC TABLIAN (Barranca/Monkey Man).

Prêmios:
Oscar de Melhor Som (Gregg Landaker), Melhores Efeitos Visuais (Richard Edlund e Kit West), Melhor Direção de Arte (Leslie Dilley) e Melhor Montagem (Michael Kahn)/1981.

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Indiana Jones e o Templo da Perdição

INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO

“Nada me abala. Eu sou um cientista.”


Quando você foi criança, ou ainda, convivia com crianças, entre 7 e 11 anos, deve se lembrar do tipo de jogo no qual cada uma delas se deparava comidas repulsivas, de virar o estômago - olhos de carneiro, suco de vermes, cérebro de morcegos com anchovas e molho de chocolate. As crianças sentem um terrível prazer toda vez que um novo prato é descrito, achando tudo uma diversão, embora os adultos da vizinhança devam passar mal. Esta ainda é a reação quando assistimos o exuberante (para alguns, sem gosto) entretenimento de Spielberg , “Indiana Jones e o Templo da Perdição”. O filme é uma pré-seqüência de “Os Caçadores da Arca Perdida”, já que explora um período anterior do arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford). O ano é 1935 e o lugar é um clube em Xangai. Logo vemos uma produção do tipo Busby-Berkeley apresentando uma animadora americana, Willie Scott (Kate Capshaw), acompanhada de por um coro em linha de asiáticas, que dançam e cantam – algumas vezes em chinês – “Anything Goes”, de Cole Porter.

Esta é a melhor seqüência do filme, mais engraçada e mais bem dirigida. Não somente apresenta Indiana Jones e Willie, que sentem repugnância mútua à primeira vista (para apaixonarem-se mais tarde), mas também termina com uma grande briga no bar, em que um diamante de valor incalculável se perde num monte de cubos de gelo. Após isso, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” não desce ladeira abaixo, exatamente; porém, segue de forma plana, num tal ritmo que não se tem tempo para questionar as coisas em detalhe.

Há uma vertiginosa perseguição nas ruas tumultuadas de Xangai, com a fuga de Indiana num carro dirigido por um garoto de 12 anos, Short Round (Ke Huy Quan); depois, temos um vôo em direção ao ocidente a bordo de um bom e antigo Ford tri motor, do qual Indiana, Willie e Short Round devem pular, sem a ajuda de um pára-quedas.

A maior parte do filme se passa numa remota província do Himalaia e envolve: (1) um vilarejo onde todas as crianças desapareceram misteriosamente, (2) uma rocha sagrada com poderes mágicos e (3) um culto dos trabalhadores de Kali, cuja prática inclui sacrifício humano.

O roteiro, escrito por Willard Huyck e Gloria Katz (''American Graffiti''), a partir de uma história de George Lucas, é adequada, mas não chega aos pés do engenhoso roteiro de “Caçadores da Arca Perdida”, de Lawrence Kasdan, fazendo com que “Indiana Jones e o Templo da Perdição” quase nunca transcenda o aspecto barato dos filmes B que inspiraram o filme anterior. Embora pareça ter custado uma fortuna, “Indiana Jones e o Templo da Perdição” não vai a lugar algum, possivelmente porque seja formado por uma sucessão de clímaxes. Poderia terminar a qualquer altura, com quase nada de essencial ser perdido.

Assisti-lo é como passar o dia num parque de diversões, que é o que talvez Spielberg e seus produtores pretendessem. O filme caminha de forma cansativa de uma atração a outra, dando uma parada para um cachorro quente, e então seguindo para as próximas inesperadas atrações.

Nelas incluem-se o equivalente a uma volta numa montanha russa, um passeio através de uma cova cheia de escorpiões e baratas, assim como um banquete de marajá, onde o menu inclui todos os tipos de pratos (cobras-mirins vivas, cérebros de macacos cozidos) que as crianças acham ao mesmo tempo revoltante e engraçado, enquanto o resto das pessoas têm seus estômagos revirados.

Não há duvida sobre isso – o filme, apesar de ser meio nojento, é violento de alguma forma que pode assustar algumas crianças. As crianças indianas seqüestradas, quando finalmente encontradas, são vistas sendo açoitadas quando seguem como escravas para trabalharem nas minas do marajá, embora o acoitamento seja tão exagerado que pareça irreal.

Há uma seqüência viva na qual um homem, sendo oferecido a Kali, é vagarosamente jogado a uma fossa flamejante, não antes de o sacerdote ter removido seu coração com as mãos nuas. Isso, contudo, não é somente uma pegadinha ao fazer o filme, mas uma pegada dentro do filme, algo que crianças mais velhas podem entender mais prontamente do que seus pais. Contudo, é algo a fazer os pais pensarem.

Harrison Ford tornou-se muito bom neste tipo de caracterização para esse tipo de filme. Ele tem uma atuação excepcionalmente habilidosa e cômica, demonstrando o timing que lembra Michael Douglas em seu papel em “Tudo por uma Esmeralda”.

Kate Capshaw está muito atraente e surpreendentemente natural, mesmo embora na maioria das vezes não se espere muito dela - a não ser seus gritos. Em dado momento no filme, Indiana diz a Short Round: “ O maior problema dela é o barulho”, quando ele escolhe ignorar a píton que deslizava até ela. Ke Huy Quan, cujo filme foi o primeiro, é muito engraçado e, nas horas de tensão, muito comuns, parece um pouco com o pato Donald.

“Indiana Jones e o Templo da Perdição” é muito “quadrado” para ser tão engraçado como “Os Caçadores da Arca Perdida”, e vai além do ponto. Às vezes, exagera.




Indiana Jones e o Templo da Perdição" (Indiana Jones and the Temple of Doom)
1984 – EUA - 118 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: WILLARD HUYCK e GLORIA KATZ, baseado em argumento de GEORGE LUCAS. Fotografia: DOUGLAS SLOCOMBE. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILLIAMS. Produção: GEORGE LUCAS e ROBERT WATTS, para LUCASFILMS LTD.


Elenco: HARRISON FORD (Indiana Jones) KATE CAPSHAW (Wilhelmina 'Willie' Scott), KE HUY QUAN (Short Round), AMRISH PURI (Mola Ram), ROSHAN SETH (Chattar Lal), PHILIP STONE (Cap. Phillip Blumburtt), ROY CHIAO (Lao Che), DAVID YIP (Wu Han), RIC YOUNG (Kao Kan) e CHUA KAH JOO (Chen).

Prêmios:
Oscar de Melhores Efeitos Visuais (Dennis Muren, Michael J. McAlister, Lorne Peterson George Gibbs)/1985.

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Do mesmo diretor:



Indiana Jones e a Última Cruzada

sábado, 17 de maio de 2008

INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA

“Arqueologia é a busca de fatos...não da verdade.”


Como estamos próximo da estréia do mais novo (e talvez o último, de fato) filme de Indiana Jones, "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal", achei por bem fazer meus comentários sobre o último (agora, o penúltimo) da saga, na expectativa de que sejam repetidas todas aquelas aventuras que tornaram a trilogia uma das melhores do cinema. A fórmula mágica dos filmes de ação consta de três elementos: um homem independente e inconformado que enfrenta os perigos do mundo; uma mulher atraente que possui, no início, uma atitude desafiadora, mas que no fim fica submissa e cuja emoção faz com que o herói se envolva constantemente em situações difíceis; e, em terceiro, talvez um órfão ou um amigo cuja vida foi salva pelo herói, que introduz uma variação na trama e acaba sendo seu cúmplice contra sua vontade.

Em "Indiana Jones e a Última Cruzada", a terceira e última parte da trilogia de Indiana Jones, o pai do arqueólogo é quem completa e enriquece a constelação de personagens que povoam os filmes anteriores de "Indy". "Os Caçadores da Arca Perdida" (1981) tratava sobre a recuperação da arca da Aliança, o receptáculo que continha as tábuas dos Dez Mandamentos, que havia caído nas mãos dos nazistas. Mas, agora, estamos em 1938 e Jones (Harrison Ford) sai em busca do Santo Graal, no qual se combinam a pedra filosofal e o cálice de onde escorreram as últimas gotas de sangue de Cristo. O Graal é muito cobiçado porque garantia a vida eterna e o poder absoluto.

De novo, os nazistas são os grandes inimigos de Indiana Jones, mas o filme fica centrado no personagem do Dr. Jones: conhecemos Indy em sua juventude, um garoto aventureiro (River Phoenix) que já lutava por tesouros de valor incalculável; descobrimos a origem de seu chapéu, seu chicote, o medo de cobras e seu nome. E, conhecemos seu pai, Henry (Sean Connery), que também é arqueólogo e que tem dedicado sua vida em busca do Graal, não por querer aventurar-se ou pelo desejo de conseguir fama ou alguma recompensa, mas sim para salvar o Santo Graal da profanação pela cobiça alheia.

O diretor Steven Speilberg, até então o garoto prodígio do cinema norte-americano, resumiu da seguinte maneira o trabalho de sua vida:"Como todos os meus filmes, trata da busca. O protagonista do filme pode ser um garoto normal, sair do ponto A em direção a uma emocionante aventura que se desenvolve no ponto B e, pelo caminho, ir deparando-se com numerosos perigos. Basicamente, todas as aventuras de Indiana Jones pertencem ao mesmo gênero dos autênticos road movies.

Porém, a inclusão de uma história familiar e a evolução do protagonista de escoteiro a aventureiro, dá ao filme uma dimensão inédita em relação aos dois primeiros episódios da saga: a exploração psicológica dos protagonistas. Em sua busca, que os leva a Veneza, Berlim (com breve aparição de Hitler), um castelo mal assombrado próximo a Salzburgo e o esconderijo clandestino do Graal, em um deserto das Arábias, pai e filho seguem caminhos distintos. Algumas vezes, um leva vantagem sobre o outro e vice-versa, mas, à medida que o filme avança, as ações de "Indy" cada vez são mais motivadas por preocupação com seu pai.

Graças a esta relação entre pai e filho, o filme supera sem esforços os anteriores - e as imitações posteriores. Jones pai e Jones filho têm a oportunidade de reeducar-se mutuamente e o fato de que os dois haviam se apaixonado pela mesma mulher (e ambos foram enganados por ela) não é motivo de ciúme e discussões, como se poderia esperar, mas sim de respeito mútuo.

O chamado complexo de Édipo é superado no filme de Spielberg: durante as dificuldades de sua aventura, ambos têm a chance de estabelecer uma relação harmoniosa entre eles. O mesmo pode ser dito do conceito cinematográfico do herói: se o James Bond de Sean Connery representou bem a seriedade e a ironia sobre a própria conduta nas décadas de 60 e 70, Harrison Ford representa a resolução hiper ativa e quase febril dos anos 80. Em "Indiana Jones e a Última Cruzada" são superadas todas as contradições.



Indiana Jones e Última Cruzada" (Indiana Jones and the Last Cruzade)
1988 – EUA - 127 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: JEFFREY BOAM, baseado em argumento de GEORGE LUCAS e MENNO MEYJES. Fotografia: DOUGLAS SLOCOMBE. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILLIAMS. Produção: GEORGE LUCAS e ROBERT WATTS, para LUCASFILMS LTD.

Elenco: HARRISON FORD (Indiana Jones) SEAN CONNERY (professor Henry Jones),DENHOLM ELLIOTT (Dr. Marcus Brody), ALISON DOODY (Dr. Elsa Schneider), JOHN RHYS-DAVIES (Sallah), JULIAN GLOVER (Walter Donovan), RIVER PHOENIX (jovem Indiana Jones), MICHAEL BYRNE (Vogel), KEVORK MALIKYAN (Kazim) e ALEXEI SAYLE (Sultan).

Prêmios:
Oscars de Melhores Efeitos Sonoros(Ben Vurtt e Richard Hyms)/1981.

Trailer Original:


Assista também:




Os Caçadores da Arca Perdida

terça-feira, 13 de maio de 2008

SPEED RACER

“Você pensa que pode dirigir um carro e mudar o mundo? Não funciona assim!”


Muitos de nós que crescemos assistindo séries de TV nos anos 60 e 70 nos lembramos de Speed Racer. Aqueles personagens de olhos grandes (Trixie! Speed! Racer X!), com suas bocas sempre estáticas, nunca em sincronismo com os diálogos; aquelas cores brilhantes e backgrounds abstratos. Como tantos outras adaptações caras e tecnologicamente elaboradas da cultura pop, “Speed Racer” surge para honrar e refrescar um entusiamo da juventude do passado. A experiência infantil que os Wachowski evocam não é de um deleite fácil, como que recostar numa cadeira e assistir a um cartoon após o outro, mas sim o tédio incontrolável de ficar sentado no banco traseiro de uma viagem sem fim com a família, tendo as bochechas no assento de vinil quando alguns adultos ensinam você sobre as belezas dos lugares por onde se passa.

Muito do que vemos em “Speed Racer” de fato é bonito (assim como a trilha orquestrada à moda antiga de Michael Giacchino). As cores saltam da tela como se alguém tivesse feito um strike de boliche digital. Só lembrar do par de meias vermelhas que Speed (jovem) estava usando. Você já viu um vestido tão amarelo quanto aquele que Susan Sarandon usava? (ela interpreta a mãe de Speed. John Goodman, seu pai). Que tal a classe de aula super laranja? Esses matizes não acontecem na vida real. E, admitamos, é pouco interessante contemplar as implicações artísticas e filosóficas de ter atores de carne e osso fazendo parte de um ambiente completamente artificial no qual as leis físicas da dinâmica não mais se aplicam.

Você poderia, caso venha a refletir sobre isso, perder um tempo agradável num museu olhando imagens pequenas e estáticas e instalações de vídeo em looping das situações agitadas e confusas que ocorrem durante as cerca de 2 horas e 15 min deste filme. Há uma certa insistencia na forma que os Wachowski abordam o material, que é dar foco ao forte estilo visual, dispensando quase que inteiramente inteligência narrativa. Mas isso seria um caso mais fácil de resolver se o estilo visual não fosse tão incoerente.

As cores são quentes, o design do set é bacana e o chimpanzé é legal, mas as seqüências de ação – a super dinâmica do videogame em que jaz a reputação de virtuosismo dos Wachowski – são meio caóticas e, muitas vezes, sem sentido. Os deslizamentos suaves das corridas de carro (animadas digitalmente) e os saltos, de um lado para o outro, conseguem surpreender pouco mais do que assistir a um grupo de skatistas fazendo manobras num estacionamento. Para ser verdadeiramente sensacional as ações precisariam ter sentido e dar a idéia de tensão e graça de movimentos reais, por mais artificiais que os objetos em movimento possam parecer.

Mas, pelo menos aqueles carros – incluindo o Mach 5 de Speed, replicado dos velhos cartoons – entram em movimento. Quando chega a contar a história, “Speed Racer” não tem nada em comum com seu título. “Speed Racer” é sobre um garoto que gosta de dirigir carros, sujeito que gosta de simplicidade e velocidade. Ao contrário, a primeira meia hora preenche a tela com flashbacks que dão uma idéia do que vai acontecer, gerando uma confusão interminável a respeito de quem esta fazendo o que e porque. Depois que seu querido irmão mais velho – Rex morreu num acidente (ou foi morto?) – Speed (Emile Hirsch) é assediado pelo gângster, dono da companhia Royalton (Roger Allam), e também por Trixie (Christina Ricci).

Há alguma conotação acerca do conceito entre arte e negócio, entre o mítico amor por automobilismo e o impulso mercenário de submeter essa paixão ao lucro. Mas esse dilema seria mais forte caso “Speed Racer” não tentasse tão obviamente os dois caminhos – ser profundamente idealista e, ao mesmo tempo, fortemente comercial -, e falhado em ambos.

Os momentos de sabedoria contidos no diálogo (Racer X: “As corridas nunca vão mudar. O que importa é se permitimos que as corridas nos mudem”) são tolas e soam como frases jogadas. O irmãozinho travesso de Speed (Paulie Litt) e seu chimpanzé de estimação são mais chatos do que ternos. O misterioso Racer X (Matthew Fox) parece cansado e amuado e o carisma do ídolo teen sul coreano Rain (interpretando outro corredor) é um desperdício.

Criminosos, detetives, carros esporte e rivais de competição nada honestos todos desfilam na tela, mas nenhum deles capaz de gerar faíscas de humor, perigo, energia ou nobreza que dariam um pouco de magia. “Speed Racer” vai para algum lugar e seria importante sabermos qual o tempo de duração dessa viagem.



Speed Racer (Speed Racer)
2008 – EUA - 135 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: LARRY E ANDY WACHOWSKI. Roteiro: LARRY E ANDY WACHOWSKI. Fotografia: DAVID TATTERSALL. Montagem: ZACH STAENBERG E ROGER BARTON. Música: MICHAEL GIACCHINO. Produção: LARRY E ANDY WACHOWSKI,JOEL SILVER E GRANT HILL, para WARNER BROS.

Elenco: EMILE HIRSCH (Speed Racer), CHRISTINA RICCI (Trixie), JOHN GOODMAN (Pops Racer), SUSAN SARANDON (Mãe de Racer), PAULIE LITT (Spritle), ROGER ALLAM (Royalton), RAIN (Taejo Togokhan) e MATTHEW FOX (Racer X).


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The Matrix

sexta-feira, 9 de maio de 2008

INTERLÚDIO

“Nosso amor é bastante estranho”


O grande amor em letras maiúsculas expressa-se através da renúncia. Assim foi com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, em Casablanca (1942); e assim seria quatro anos depois em "Interlúdio", um suspense psicológico com a marca de Hitchcock, que transformou Ingrid Bergman em um ícone indiscutível. A atriz sueca interpreta Alicia Huberman, uma norte-americana filha de um espião nazista que, por amor a um agente secreto de seu país, Devlin (Cary Grant), decide casar-se com outro. Alicia deixa para trás seu passado de garota despreocupada, para descobrir o que acontece na casa do nazista Alexander Sebastian (Claude Rains), que fugiu para a América do Sul. Quando Alicia segue a pista de uma enorme quantidade de urânio contrabandeado, a casa se transformará em uma armadilha mortal para ela, já que seu marido irá envenenando-a pouco a pouco com arsênico. No último minuto, Devlin chegará para salvá-la.

“Interlúdio” é um impressionante exemplo da teoria hitchcockiana sobre o MacGuffin (elemento que motiva a história, mas que acaba sendo dispensável). O fato de que o “assunto” da trama seja o urânio - necessário para a construção de armas atômicas -, o fato é absolutamente irrelevante para esse romance. De fato, essa idéia chegou ao acaso até o diretor, em 1944, um ano antes do lançamento da primeira bomba atômica sobre Hiroshima.

Um fator determinante nesta fita é a economia dramática de Hitchcock, que aproveita as coincidências estruturais de seus filmes de espionagem e de romance. Em ambos os casos, a tensão resulta da luta pela confiança, do conflito entre traição e deslealdade, e da necessidade de se guardar alguns segredos, os quais serão revelados no momento adequado. Assim,o diretor leve os espectadores a intuir que Devlin esteja apaixonado por Alicia, mesmo que ela, por sua vez, sofra por causa dos dois homens: por um lado, deve manter-se com Sebastian, que a aborrece com sua confiança sem limites; por outro, deve suportar a frieza com que Devlin a trata, o qual se opõe ao serviço patriótico que ela se impôs, com certo sarcasmo.

Estamos diante do clássico conflito entre o amor e o dever, no qual Ingrid Bergman demostra o sacrifício de Alicia com um fervor extremo (que aparenta fragilidade visto de longe). Em contrapartida, Devlin, o personagem de Cary Grant, apresenta-se quase como um MacGuffin erótico. Sebastian, o nazista, ama realmente Alicia e, portanto, vive a traição como uma experiência trágica que nos parece normal. Trata-se de um extraordinário exemplo de canalha a la Hitchcock, que trata esses personagnes com grande compaixão. Ao contrário do que aconteceu com Bogart, em Casablanca, o ator Caude Rains - bem mais baixo - teve que subir em tábuas de madeira para parecer mais alto na tela junto de Bergman.

A complexidade da trama contrasta com a transparência do estilo narrativo. Algumas das situações vistas já fazem parte da história do cinema. Por exemplo, o sugestivo simbolismo dos líqüidos entregues a Alicia: esse elemento parece sempre em relação direta com o sofrimento do personagem, desde sua intoxicação etílica até a intenção em assassiná-la com arsênico. A ressaca que experimenta durante a noite que passou bebendo com Devlin expressa-se mediante um giro de 180 graus sobre o eixo da imagem. Assim, o espectador sabe que Alicia está bêbada e que Devlin é um personagem perturbado.

Mais adiante, Hitchcock chama nossa atenção algumas vezes sobre a chave da adega onde está escondido o urânio. E não podemos esquecer o “beijo cinematográfico mais longo da história” entre Grant e Bergman: três minutos no total. Apesar disso, Hitchcock teve que interromper a seqüência várias vezes na montagem final, uma vez que o Código Hayes somente autorizava três segundos seguidos.

“Interlúdio” é provavelmente o filme mais romântico do diretor britânico. Sem dúvida, a tensão sexual insinuada permite antecipar algumas das peculiaridades que desenvolveria no futuro, presentes por exemplo, no final, em que Alicia e Devlin conseguem fugir. O pobre Sebastian segue um caminho oposto: a morte.



Interlúdio (Notorious)
1946 – EUA - 101 min. – Preto e Branco – SUSPENSE
Direção: ALFRED HITCHCOCK. Roteiro: BEN HECHT. Fotografia: TED TETZLAFF. Montagem: THERON WARTH. Música: ROY WEBB. Produção: ALFRED HITCHCOCK, para RKO.

Elenco: CARY GRANT (T.R. Devlin), INGRID BERGMAN (Alicia Huberman), CLAUDE RAINS (Alexander Sebastian), LOUIS CALHERN (Paul Prescott), LEOPOLDINE KONSTANTIN (Anna Sebastian), REINHOLD SCHÜNZEL (Dr. Anderson), MORONI OLSEN (Walter Beardsley), IVAN TRIESAULT (Eric Mathis), ALEX MINOTIS (Joseph) e WALLY BROWN (Sr. Hopkins).


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À Meia Luz

terça-feira, 6 de maio de 2008

HOMEM DE FERRO

“É melhor ser temido ou respeitado? Eu diria é demais pedir ambos?”


"Homem de Ferro", dirigido por Jon Favreau, tem a vantagem de ser um atípico, mas bom filme de super herói. Ou, no mínimo, um filme de super herói que é bom, de uma forma diferente. Possui um roteiro (creditado a Mark Fergus, Hawk Ostby, Art Marcum e Matt Holloway) que prefere dar ênfase a diálogos inteligentes ao invés de frases soltas de efeito, bem como de um elenco de estrelas que aceita o convite dos produtores para realmente atuarem ao invés de apenas gritarem e fazerem pose. Mas há muito disso também no filme. O herói tem que se movimentar; o vilão deve arquitetar planos; a garota deve seduzir e jogar charme. E, também, não poderia deixar de existir um amigo do peito. Essas regras do gênero são tão pétreas quanto os “artificiais” princípios que explicam tudo (o reator em forma de arco, etc.,), bem como o vilão que é careca. Em “Homem de Ferro”, tudo acontece como esperado, na “tentativa e erro” da confecção armadura de ferro, nas diversas tomadas aéreas, nas perseguições e nas lutas.

Ao invés das histórias tediosas, moralizantes e freudianas, geralmente tão comuns neste tipo de filme – trauma de infância, crise de identidade, necessidade de justiça versus desejo por vingança, etc. – “Homem de Ferro” surge de forma mais verdadeira e natural. Embora saibamos que não estamos num mundo real, mas mais próximo a Gotham City ou Metrópolis, deparamo-nos com Tony Stark (Robert Downey Jr.) no desértico Afeganistão, onde ele degusta um uísque on the rocks na boléia de um veículo militar americano. Tony é uma celebridade da mídia, um ex-estudante brilhante do MIT (Massachusetts Institute of Technology) - a melhor universidade de tecnologia do mundo – e herdeiro de uma família cuja companhia fabrica e comercializa armas de última geração. Ele é também um bon vivant e um playboy incorrigível.

Na teoria, o personagem é ridículo, mas uma vez protagonizado por Robert Downey Jr., ele torna-se mais autêntico e familiar - tão engraçado, tão atrapalhado – como um amigo ou velho colega de faculdade. O amigo de Tony é Rhodey, um oficial da Força Aérea americana, interpretado de forma bem humorada por Terrence Howard. A garota é Pepper Potts (Gwyneth Paltrow, também bem no papel), a apaixonada e competente assistente de Tony. Seu sócio e uma espécie de mentor na Stark Enterprises é Obadiah Stane, protagonizado por Jeff Bridges com habilidade, exuberância e, acreditem, com cabeça raspada.

Todos estes são atores de primeiro naipe e o jeito palhaço de Robert Downey Jr., com sua imprevisibilidade emocional, ajuda a dar agilidade e força ao filme. Nesta mistura grande e tumultuada de movimentos desta sinfonia pop há uma série de duetos bem feitos que algumas vezes parecem com uma improvisação e espontaneidade musicais: Robert Downey dançando com Gwyneth Paltrow; com Terrence Howard, bebendo saquê no avião; com Shawn Toub, trabalhando nos protótipos dentro caverna; com Jeff Bridges, lutando numa caixa de pizza. Esses momentos são os mais prováveis de serem lembrados.

A trama é razoável, o que vale dizer à serviço dos atores (e dos responsáveis pelos efeitos especiais), que surgem do nada e algumas vezes esquece-se que estão ali – algum rodopio ou cambalhota parece ser arbitrário ou sem motivo. Isso fica muito aparente com a questão geopolítica que surge muito tênue e passa batida, assim como a crise de consciência de Tony ao descobrir que suas armas são usadas - parece mais uma necessidade narrativa do que um tema a ser discutido do ponto de vista moral.

Tudo isso serve para dizer que “Homem de Ferro”, apesar das duras dificuldades que Tony enfrenta ao se transformar no personagem título, tem suas qualidades. A aparelhagem é impressionante, mas a esse custo, deveria ser melhor. Se com centenas de milhões de doláres temos Batman , Spider-Man e o Hulk à mão, melhor seria ter a certeza que os reatores de arco estejam funcionando bem e que a armadura de liga de titânio e ouro reluza como nova e voe como um pássaro.

Embora os efeitos visuais digitais tentem ajudar o filme, a verdade é que para “Homem de Ferro” eles não fazem diferença. Na verdade, “Homem de Ferro” não tem superpoderes; o heroísmo do personagem é todo artesanal, á base de engrenagens e inteligência aplicada. Essa parte contribui para a tentativa de fazer “Homem de Ferro” um filme melhor. Alguém ficou convencido de que um playboy poderia resistir aos encantos de Gwyneth Paltrow?



Homem de Ferro(Iron Man)
2008 – EUA - 123 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: JON FAVREAU. Roteiro: MARK FERGUS, HAWK OSTBY, ART MARCUM E MATT HOLLOWAY. Fotografia: MATTHEW LIBATIQUE. Montagem: DAN LEBENTAL. Música: RAMIN DJAWADI. Produção: AVI ARAD E KEVIN FEIGE, para PARAMOUNT PICTURES e MARVEL ENTERTAINMENT.

Elenco: ROBERT DOWNEY JR. (Tony Stark/Iron Man ) TERRENCE HOWARD (Jim Rhodes), GWYNETH PALTROW(Virginia 'Pepper' Potts), JEFF BRIDGES(Obadiah Stane/Iron Monger), LESLIE BIBB (Christine Everhart), SHAUN TOUB(Yinsen), FARAN TAHIR(Raza), SAYED BADREYA (Abu Bakaar), BILL SMITROVICH (General Gabriel) e CLARK GREGG (Agent Phil Coulson).


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Um Duende em Nova Iorque

domingo, 4 de maio de 2008

CARRUAGENS DE FOGO

“Acredito que Deus me criou com um objetivo determinado, mas também fez-me rápido.”


Durante a cerimonia de Oscar do ano de 1981, o tema musical composto por Vangelis para o filme “Carruagens de Fogo” tocou quatro vezes: com a entrega do prêmio de melhor filme, melhor roteiro, melhor vestuário e melhor trilha sonora. “Carruagens de Fogo” foi o primeiro longa do diretor Hugh Hudson, com um êxito somente igualável em seu filme posterior, Greystoke, a Lenda de Tarzã (1984). Em termos artísticos, o filme foi também louvável, já que o diretor conseguiu reproduzir em imagens quase míticas a força do espírito de uma competição esportiva clássica, a qual a moderna indústria do esporte parece ter deixado pra trás. A história que conta Hugh Hudson nos remete a 1924, quando dois atletas de nacionalidade britânica conseguiram nos Jogos Olímpicos de Paris as medalhas dos 100 e dos 400 metros.

Harold M. Abrahams (Ben Cross) é um inglês de origem judaica, que estuda Direito em Cambridge, logo após o término da Primeira Grande Guerra Mundial. Eric Liddell (Ian Charleson) é um escocês cristão, que algum dia ocupará a função em uma missão que seu pai conduz na China. Ambos sentem um obsessão por correr, que tem suas origens em razões pessoais. Abrahams quer chegar a ser o melhor porque somente na cabeça do grupo ele se sente plenamente integrado à sociedade inglesa. Como estudante em Cambridge, já pertence à elite, mas como filho de um emigrante judeu da Lituânia, vê-se obrigado a enfrentar muitos preconceitos.

Para o profundamente devoto Liddell, correr é uma espécie de ato religioso, uma forma de agradar a Deus: “Quando estou correndo, sinto que o Senhor se sente satisfeito”. Essa associação entre esporte e religião tem suas raízes na concepção vitoriana de um cristianismo de força física. Entre dois homens tão opostos não há como surgir, no mínimo, uma relação de intensa competitividade – o clássico estereótipo dos filmes que tem o esporte como tema central. Ao contrário, em “Carruagens de Fogo” logo se mostra evidente que o ponto forte não reside na rivalidade entre os dois personagens, mas sim na paixão compartilhada por correr.

O filme começa traçando um paralelo entre os dois heróis. Ambos preparam-se intensamente para os Jogos Olímpicos e também decepcionam as pessoas mais próximas a eles: Abrahams descuida de sua noiva Sybil (Alice Krige) e Liddell decepciona sua irmã Jennie (Cheryl Campbell), a quem prometeu ocupar a missão na China (um dever que faz alusão continuamente). Mas surgem mais dificuldades. Abrahams contrata um personal trainer (Ian Holm), que nem sequer é inglês e tem uma séria disputa com as autoridades universitárias. Por outro lado, Liddell, cuja religião lhe proíbe competir aos domingos, já estava a caminho da França quando decide não participar da competição, que ocorrerá naquele dia. O assunto vira contenda até com o Príncipe de Gales. No último momento, um colega da equipe britânica cede seu lugar em uma corrida programada para outro dia, em favor de Liddell.

Para ambos os protagonistas, a vitória nos Jogos Olímpicos é a coroação de uma longa caminhada de amadurecimento pessoal. Abrahams está feliz em poder desfrutar de uma relação convencional e de uma vida discreta e burguesa. Liddell pode aceitar, por fim, a herança de seu pai: a missão na China. Mas como ocorre no primeiro filme de Sylvester Stallone, Rocky (1975), ambos haviam conseguido muito antes suas vitórias mais importantes - Liddell, ao permanecer fiel a suas convicções; Abrahams, ao dar o melhor de si mesmo.

Além de ser uma história excepcionalmente contada, o filme está coberto por uma aura especial na representação das corridas. O nervosismo silencioso antes do início, as inúmeras repetições em câmera lenta, os primeiros planos dos rostos dos atletas e, em grande parte, também, a música eletrônica de Vangelis, fazem com que as cenas de corrida sobressaiam-se do resto da trama e consigam transmitir a tensão interna dos atletas. E, é precisamente essa visão na vida interior dos personagens, que nos conduz a outro nível de consciência: a da idéia de uma Inglaterra como uma grande potência, unida e integradora. Por isso, soa o hino nacional na vitória de Abrahams e o Príncipe de Gales felicita pessoalmente Liddell.

Nenhum dos dois personagens é tipicamente britânico. Abrahams é fruto da segunda geração de uma família de emigrantes judeus e Liddell é um escocês nascido na China. Ambos provêem dos mais remotos continentes do “Império”, mas são aceitos no coração deste, graças a seus triunfos esportivos. Não obstante, ainda que ambos compitam em nome da Inglaterra, nenhum o faz por motivos patrióticos. Tanto para o judeu Abrahams, como para o cristão Liddell, correr é uma crença pessoal e sua motivação provém da própria necessidade de buscar a verdade e o auto-conhecimento. Por essa razão, quem sabe, o filme começa e termina com uma imagem de inocência: jovens vestidos de branco correm sobre as ondas que quebram na praia.



Carruagens de Fogo (Chariots of Fire)
1981 – INGLATERRA - 123 min. – Colorido – DRAMA
Direção: HUGH HUDSON. Roteiro: COLIN WELLAND. Fotografia: DAVID WATKIN. Montagem: TERRY RAWLINGS. Música: VANGELIS. Produção: DAVID PUTTNAM, para ALLIED STARS, WARNER BROS. E ENIGMA PRODUCTIONS.

Elenco: BEN CROSS (Harold Abrahams) IAN CHARLESON (Eric Liddell), NIGEL HAVERS (Lord Andrew Lindsay), NICK FARREL (Aubrey Montague), DANIEL GERROLL (Henry Stallard), CHERYL CAMPBELL (Jennie Liddell), ALICE KRIGE (Sybil Gordon), sir JOHN GIELGUD (diretor do “Trinity”), LINDSAY ANDERSON (diretor do “Caius”) e IAN HOLM (Sam).

Prêmios:
Oscars de Melhor Filme (David Puttnam), Melhor Roteiro (Colin Welland), Melhor Vestuário (Milena Canonero) e Melhor Trilha Musical (Vangelis) /1981.

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Greystoke

sábado, 3 de maio de 2008

O CASO OSTERMAN

“Mate-me, Max, e finja que está matando seus medos.”


Maxwell Danforth (Burt Lancaster) está horrorizado pelo conteúdo da fita de vídeo que acaba de assistir. Tudo acontece dentro de um quarto de hotel. Sobre a cama, há uma mulher nua. De imediato, dois homens a assassinam e desaparecem da tela tão rapidamente quanto apareceram. Mas, a vítima não estava sózinha. O filme mostra um homem saindo do banheiro e descobre o corpo. Totalmente desesperado, rompe-se a chorar junto à mulher. Danforth é o chefe do serviço secreto americano e a fita foi gravada por câmeras de vigilância da CIA. A mulher assassinada era a esposa de Lawrence Fassett (John Hurt), um de seus agentes. A CIA havia vigiado o quarto de Fassett sem que este suspeitasse e “permitido” à KGB que levasse o crime a cabo, para evitar maiores tensões entre os dois países.

Danforth incumbe Fassett da missão de acabar com a organização ÔMEGA – uma unidade especial infiltrada da KGB. Fassett colaborará com ele, junto com Tanner (Rutger Hauer) – o diretor e locutor de um polêmico programa de debate político. O jornalista não sabe que três de seus antigos amigos de faculdade são membros da ÔMEGA. Todos os anos, Tanner reúne-se com eles em sua casa de campo durante um fim de semana. O próximo encontro está prestes a acontecer. Tanner, a princípio, nega-se a acreditar na culpa de sues amigos, até que ele vê um vídeo que os incrimina.

Além disso, a fita não somente prova que são culpados de traição a seu país, mas também insinua que, tanto Tanner como sua família, estão ameaçados por seus supostos amigos. Apesar de tudo, o jornalista coloca como condição para colaborar com o chefe da CIA, que o mesmo participe em seu programa de TV, após o final de semana do encontro. Danforth concorda. Agora, Fassett pode instalar câmeras em todos os cômodos da casa de Tanner.

Sam Peckinpah já havia ganhado reputação em outros filmes como Meu Ódio Será Sua Herança (1969) ou Sob o Domínio do Medo(1971). Com "O Caso Osterman", Peckinpah voltou a um dos temas centrais de sua carreira: o aumento progressivo da violência em determinadas situações. Na casa de Tanner, a tensão entre os quatro amigos aumenta visivelmente. O que a principio pareciam inofensivas disputas de pólo aquático na piscina, mais tarde tornam-se brigas abertas. Suas esposas, que os acompanham no final de semana, fazem o possível para que as coisas fiquem calmas. Mas, também, elas tornam-se cada vez mais agressivas. Ao final, haverá um sério enfrentamento entre Tanner e sua esposa, Ali (Meg Foster).

O agente da CIA, Fassett, não perde o espetáculo e "move seus pauzinhos" à distância, a partir de um furgão de vigilância, de onde acompanha por radio tudo o que acontece na casa. Assim, consegue criar novos motivos de conflito. Somente quando parece que a situação fica insustentável e a tensão entre o grupo está a ponto de explodir, Fassett intervém com uma unidade da CIA, junto aos amigos de Tanner. Quando este e seu melhor amigo, Osterman (Craig T. Nelson), estão a ponto de matar-se, descobrem o terrível complô da CIA no qual estão prestes a cair.

No grande estilo de filmes de espionagem e suspense, característicos da década de 70, como os Três Dias do Condor(1975) e A Trama(1974), ambos realizados no contexto do escândalo Watergate (1972), “O Caso Osterman” mostra como as conspirações governamentais podem infiltrar-se no seio da sociedade, mas também na esfera individual de cada pessoa. A vida privada de Tanner transforma-se assim no cenário de intrigas políticas. Mas o filme de Peckinpah faz também uma dura crítica aos meios de comunicação.

“O Caso Osterman” retrata a televisão como um meio de manipulação, intriga e opressão. Percebemos que o vídeo de Fasset mostrado a Tanner para incriminar seus amigos fora forjado. Assim mesmo, a presença de Danforth no programa de Tanner, por detrás de um sangrento final de semana, revela o chefe da CIA como um homem sem escrúpulos,; alguém com tal ânsia de poder, que está disposto a tudo para realizar sua ambição pessoal de chegar à presidência. Neste que seria seu último filme, Peckinpah faz um profunda reflexão sobre o ilimitado potencial de manipulação que poderia surgir se a classe política e os meios de comunicação utilizassem toda a sua força.



O Caso Osterman (The Osterman Weekend)
1983 – EUA - 102 min. – Colorido – SUSPENSE
Direção: SAM PECKINPAH. Roteiro: ALAN SHARP e IAN MASTERS, baseado na obra homônima de ROBERT LUDLUM. Fotografia: JOHN COQUILLON. Montagem: EDWARD ABROMS e DAVID RAWLINS. Música: LALO SCHIFRIN. Produção: PETER S. DAVIS e WILLIAM N. PANZER, para a 20th CENTURY FOX

Elenco: RUTGER HAUER (John Tanner) BURT LANCASTER (Max Danforth), JOHN HURT (Lawrence Fassett), DENNIS HOPPER (Richard Tremayne), CRAIG T. NELSON (Bernie Osterman), MEG FOSTER (Ali Tanner), SANDY MCPEAK (Stennings), CHRIS SARANDON (Joseph Cardone), HELEN SHAVER (Virginia Tremayne) e CASSIE YATES (Betty Cardone).

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Meu Ódio Será Sua Herança