quarta-feira, 29 de abril de 2009

MEU VIZINHO TOTORO

“É provável que sejam apenas bolas de poeira".


O filme conta a história de duas irmãs, Satsuki e Mei, que são levadas pelo pai para uma nova casa, perto de uma floresta. A mãe das jovens, doente, está em um hospital da cidade. Quebrando paradigmas, a enredo não é de um menino e uma menina, como a maioria dos filmes; o pai é forte e amoroso – nao mau ou ausente, como sempre esamos acostumados a ver nos filmes de animação; a mãe está convalescendo – num filme de animação isso não é , de maneira alguma, comum. A casa das irmãs é mal-assombrada. Mas não no sentido que todos estamos acostumados a pensar, com fantasmas e monstros. Ao contrário, a casa tem outros “bichos” - Mei e Satsuki vêem pequenos pontos negros, fugindo à busca de segurança. “É provável que sejam apenas bolas de poeira”, diz o pai. Uma empregada , contratada para cuidar das crianças, diz que são “duendes cobertos de fuligem”, que habitam casas abandonadas e fogem ao ouvir o som de risadas. Quando as meninas olham o interior da casa e exploram o sotão, sentem certo temor . Porém, afastam o medo, abrindo janelas e acenando para o pai, do andar superior - tudo, sem suspense ou mistérios. O pai aceita de forma natural a história contada pelas filhas com as criaturas. Totoros existem? Obviamente que sim, na cabeça das jovens. Também existem outras criaturas fabulosas, como o Gato Ônibus, que corre pela floresta com oito patas e olhos grandes como faróis e um imenso sorriso de felicidade. O aspecto mais interessante é a convivência harmoniosa entre a visão infantil e a adulta. Mesmo que os adultos não concordem, Miyazaki não entra na cilada na qual as crianças resolvem salvar o mundo sozinhas, por serem incompreendidas pelos adultos.

“Meu vizinho Totoro” trata de experiências, situações do cotidiano – sem conflitos ou ameaças. Isso fica flagrante quando assitimos às cenas com os totoros, que não são criaturas reais ou do imaginário popular japonês, mas seres da mente criativa e genial do diretor. Mei depara-se com um filhote de totoro que mais se parece com um coelho, correndo perto da casa. Ela o segue pela floresta, onde acaba adentrando por folhagens e finalmente escorregando e caindo numa criatura gigante e aconchegante. O pai, absorto no trabalho, nem percebe sua ausência. Ele e Setsuki seguem em busca de Mei. O que poderia parecer uma seqüência de suspense, com florestas escuras e apavorantes, traz uma reversão de expectativa – encontram Mei dormindo no chão, sozinha, sem o totoro.

Mais adiante, as meninas vão ao encontro do ônibus do pai. O tempo passa e os bosques escurecem. Em silêncio e com naturalidade, o gigantesto totoro junta-se a elas na parada de ônibus em postura de proteção, como um amigo imaginario. Comeca a chover. As meninas têm sombrinhas e dão uma para o totoro, que fica encantado com os pingos de chuva na sombrinha e pula para cima e para baixo para liberar das árvores uma cascata de pingos. Então, chega o onibus. Myiazaki lidou com uma calma tremenda a cena –a noite e a floresta foram tratadas como uma situação, e não como uma ameaça. O filme não precisa de vilões.

Não há complôs de crianças contra adultos. A família é vista como um porto seguro e reconfortante. O pai é sensato, criterioso e educado; aceita as histórias de criaturas estranhas, confia nas filhas, ouve a explicaçao com a mente aberta. O filme carece de cenas tristes em que o pai interpreta inequivocadamente uma ação bem-intencionada e castiga injustamente. O filme causa admiração nas cenas envolvendo o totoro e encanta nas do Gato Onibus. É surpreendente, mas sem excessos; um pouco triste, mas sem levar às lágrimas; emocionante, sem recorrer, entretanto, à analogia de uma montanha-russa. Como a propria vida.

É um filme para criancas, feito para o mundo em que deveríamos viver e não para o que ocupamos. É um filme sem vilania. Sem cenas de luta. Sem adultos malvados. Sem trevas. Um mundo do bem. Um mundo em que, se você encontrar na floresta uma criatura estranha e grande, acaba aconchegando-se no colo dela, a ponto de tirar um cochilo. O filme sugere que as maravilhas da vida e os recursos da imaginação podem fornecer toda a aventura de que necessitamos. Miyazaki é fabuloso. E fez uma fábula. Imperdível.



Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro)
1988 – JAPÃO - 86 min. – Colorido – ANIMAÇÃO
Direção: HAYAO MIYAZAKI. Roteiro: HAYAO MIYAZAKI. Fotografia: MARK HENLEY. Montagem: TAKESHI SEYAMA. Música: JOE HISAISHI. Produção: TORU HARA, distribuído pela TROMA FILMS.

Elenco:
Noriko Hidaka( Satsuki - Voz), CHIKA SAKAMOTO ( Mei - Voz), SHIGESATO ITOI (Tatsuo Kusakabe - Voz), SUMI SHIMAMOTO (Kanta no obâsan - Voz), KAORU KOBAYASHI (Voz de Jiko-bô), TANIE KITABAYASHI (Voz de Kouroko), HITOSHI TAKAGI (Totoro - Voz), YÛKO MARUYAMA (Voz de Toki), MACHIKO WASHIO (Kanta no okâsan - Voz), REIKO SUZUKI (Professora-Voz), MASASHI HIROSE (Furoi on´na no hito - Voz) , TOSHIYUKI AMAGASA (Kanta-Voz ) , SHIGERU CHIBA (Kusakari-Otoko - Voz) e NAOKI TATSUTA (Voz)



Cenas do filme:



Assista também:




Princesa Mononoke

quarta-feira, 15 de abril de 2009

GOLDEN KIDS DO CINEMA (#2)

ANGELA CARTWRIGHT
(1952-)

Nascida em Altrincham, Inglaterra, inaugurou nas telas aos 3 anos de idade. Inicialmente na TV, participou da série “Make Room for Daddy” (57-65). Nas telonas, tornou-se famosa interpretando Brigitta von Trapp em “A Noviça Rebelde” (65), ao lado de Julie Andrews e Christopher Plummer. Somente voltou ao cinema em 1979, em “Beyond the Poseidon Adventure”. Entretanto, sua presença sempre será lembrada no papel de Penny Robinson, a filha mais nova de Guy Williams e June Lockhart, na série para TV “Perdidos no Espaço” (65-68). Em 1998 fez uma pequena aparição no longa metragem de mesmo nome, no cinema. Após isso tem aparecido no teatro e em comerciais de TV.

domingo, 12 de abril de 2009

A CEIA DOS ACUSADOS

“Garçom,sirva as castanhas”.


O filme trata do desaparecimento de um inventor (Edward Ellis), que se torna o principal suspeito de um assassinato. Sua filha Dorothy (Maureen O´Sullivan), recorre a um velho amigo, o ex-detetive Nick, agora um bon-vivant, interpretado por William Powell. Nick é casado com Nora (Myrna Loy). O casal, acompanhado pelo cadelinha de estimação Asta, forma um trio charmoso e hilariante. Isso tudo regado a doses de martinis e destilados que são a força-motriz do par central. Na solução do mistério do filme, deparamo-nos com um desfile de situações – a preocupação, claro, da filha do inventor; a ambição da ex-esposa do inventor (Minna Gombell), uma mulher insegura que vive financiando o amante que, por sua vez a engana com outra mulher; a ambição ainda maior da amante do inventor (Natalie Moorhead) e várias outras figuras, incluindo o advogado do inventor, o contador, o filho do inventor e outros vários bandidos, aprendizes de bandidos, policiais e repórteres, além do infindável elenco de festeiros e “bebuns” que surgem no apartamento dos protagonistas para beberem e se esbaldarem.

Baseado num roteiro de Dashiell Hammett – que escreveu o roteiro de “Relíquia Macabra” (41) – pode-se dizer que “A Cesta dos Acusados” é, na essência, um filme noir. Entretanto, é uma comédia que inclui mortos. O enredo é inverossímil, e o filme não faz questão que o mesmo seja totalmente compreendido. Nick parece absolutamente racional, e tem explicações para todos os eventos, embora a maior parte do tempo esteja sob efeito etílico. E isso é irônico, pois a polícia – cuja coerência deveria conduzir à lógica da investigação – é alienada.

Embora trate da solução de um mistério, “A Ceia dos Acusados” lida com o estilo de vida de uma sociedade muito específica. Pouco se sabe do par central. Nick havia sido um famoso detetive e, agora casado com a rica Nora, aposentou-se e trata dos negócios da família: “uma ferrovia de pequeno porte e um monte de outras coisas”. Ou seja, têm muito dinheiro e passam o tempo viajando, visitando velhos amigos, fazendo novas amizades e, sobretudo, bebendo o dia inteiro.

Para qualquer um, o casal é alcoólatra, mas não no filme, pois o efeito do álcool não lhes prejudica em nenhum momento. É um comportamento, como fumar, um ato que lhes ocupa as mãos, o dia-a-dia, para preencher as conversas e como desculpa para se movimentarem. Quando Nora surge com um saco de gelo na cabeça, por exemplo, mais parece uma palhaçada, do que uma ressaca.

Dick Powell e Myrna Loy funcionam extremamente bem. Ele faz de seu Nick um alcoólatra lírico, sem jamais cair na embriaguez. Apesar de passar uma imagem de decadência, Nick é brilhante. Seus drinques servem como combustível para diálogos inteligentes e elegantes – são maliciosos, sem caírem no lugar-comum e extremamente agradáveis.

Myrna Loy funciona como uma luva para Powell, porém o filme é dele. Domina cada cena, seus movimentos físicos desengonçados, seu pequeno bigode (que o faz parecer mais sério do que é na verdade). A cadela Asta (Skippy) também ficou famosa no cinema e se constitui em charme à parte, principalmente quando protege os olhos com a atinha, quando a situação fica difícil ou se sente envergonhada.

A direção de W.S. Dyke é segura. A produção parece barata, pois os cenários restringem-se a interiores simples, porém elegantes. A fotografia em preto-e-branco ressalta o figurino cotidiano e formal usado por um elenco de excelente aparência. Além de Powell, Myrna e Maureen O´Sullivan, reparem a presença de César Romero ainda jovem.

Para a época em que foi realizado, logo após a Depressão, esse tipo de filme deve ter servido de puro escapismo para os norte-americanos – gente bonita em ambientes luxuosos, falando bobagens o dia todo, sem se preocupar com o mundo. Uma situação em que até o crime é apenas um divertimento.

O filme teve quatro indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme) e quatro seqüências num período de 12 anos. Pena que não ganhou nenhum. Posteriormente, Powell foi indicado por “Irene, a teimosa” (36) e por “Nossa Vida com Papai” (47). Porém, nunca ganhou. Tampouco foi agraciado com um prêmio pelo conjunto da obra – embora a Academia já houvesse sido pressionada para tal. Assistir à “A Ceia dos Acusados” é ver esse grande ator encarnando um personagem nunca igualado. Neste filme, a máxima de que todo bêbado é chato, não se aplica. Imperdível.




"A Ceia dos Acusados" (The Thin Man)
1934 - EUA - 93 min. – Preto e Branco – COMÉDIA
Direção: W.S. VAN DYKE. Roteiro: ALBERT HACKETT E FRANCES GOODRICH, baseado na obra de DASHIELL HAMMETT. Fotografia: JAMES WONG HOWE. Montagem: ROBERT J. KERN. Música: WILLIAM AXT. Produção: JOHN BRABOURNE E ANTHONY HAVELOCK-ALLAN.


Elenco: WILLIAM POWELL (Nick) MYRNA LOY(Nora), MAUREEN O`SULLIVAN (Dorothy), NAT PENDLETON (Guild), MINNA GOMBELL (Mimi), PORTER HALL (MacCaulay), HENRY WADSWORTH (Tommy), WILLIAM HENRY (Gilbert), HAROLD HUBER (Nunheim), CESAR ROMERO (Chris), NATALIE MOORHEAD (Julia Wolf), EDWARD BROPHY (Morelli), EDWARD ELLIS (Wynant) e CYRIL THORNTON (Tanner).





Trailer Original:



Do mesmo diretor:



A Comédia dos Acusados