quinta-feira, 30 de outubro de 2008

JANELA INDISCRETA

“Inteligência. Nada causou tanto problema para a humanidade quanto ela.”


Jeff está grudado a uma cadeira de rodas, tendo uma das pernas engessada. Para matar o tempo, passa a observar o que acontece na vizinhaça com a ajuda de uma teleobjetiva. Essa falta de dinamismo obriga-nos a acompanhar esse personagem voyeur – ele, prostrado diante da janela e nós, em frente à tela de TV (ou de cinema). Sua única companhia é Stella (a sempre ótima Thelma Ritter), a enfermeira que aparece para tratá-lo e o recrimina por sua atitude – “As pessoas deviam sair de casa e fazer alguma visita, para variar” - e Lisa (Grace Kelly), uma linda e rica jovem desenhista de moda que quer levá-lo ao altar. Em frente à janela, Jeff assiste a uma série de situações - a Sra. Lonelyheart, que prepara jantares para pretendentes imaginários; a sra. Torso, que recebe pessoas para uma festa; um casal que tem um cachorro que aparece morto e o Sr. Thorwald (Raymond Burr), que tem sua esposa prostrada na cama e não pára de criticá-lo. Num belo dia, a sra. Thorwald some e Jeff suspeita que tenha sido morta.

Todas essas situações acontecem num pátio de frente ao apartamento em que Jeff reside. E isso pode ser uma reflexão de sua própria situação – de alguém que resiste a vínculos. Não é nada despropositado. Todas as situações tratam de motivos amorosos, ou seja, de histórias em torno da solidão ou da vida a dois, da convivência e da indiferença que refletem os temores do personagem.

Se percebermos bem, há algo que une a Sra. Thorwald a Jeff – ela, entrevada na cama; ele, numa cadeira de rodas. Novamente, Hitchcock invoca uma loira, que é mais um enigma ou ameaça do que companheira sentimental. Enquanto Lisa insiste em um amor desesperançado por Jeff, ele a mantém distante demonstrando que o estilo de vida dos dois é incompatível.

É o mesmo caso de seu personagem Scotty, em Um Corpo Que Cai” (1958), que se apaixona por uma mulher que espionou sem nunca ter-lhe dirigido a palavra. Em ambos os casos, ele deseja o que pode espionar à distância, e não o que pode ter nas mãos.

James Stewart está bem no papel, embora ache que esteja um pouco maduro. Kelly está bela como sempre e perfeita no papel. É fria e elegante e realmente encarna a mulher não satisfeita. – ela encomenda refeição, bebe champagne, mimando Jeff de todas as formas possíveis. Na tomada mais bela do filme, Lisa inclina-se para beijá-lo e a câmera acaba sendo seduzida por ela, sendo que o mesmo não ocorre com Jeff. A câmera parece pedir ao público que Jeff deixe de ficar obcecado com o que observa e passe a prestar mais atenção no que deveria desde o começo – em Lisa.

Há também cenas de puro suspense, em que toda a impotência de Jeff é mostrada no momento em que observa Lisa em perigo ao vê-la entrar no apartamento do suposto assassino da esposa de Thornwald. O perigo vai num crescendo que todos (Jeff e nós) ficamos atônitos, observando tudo aquilo sem poder de reação. E essa sensação, nunca ou raramente, ocorre nos filmes de suspense atuais.

Li certa vez que Hitchcock definiu a diferença entre surpresa e suspense. Segundo ele, se alguém sabe que existe uma bomba sob a mesa, que explode repentinamente, isso é surpresa; se alguém conhece a existência da bomba, mas não quando vai explodir, isso é suspense. A maioria dos filmes, ditos de suspense, trazem-nos surpresas - a sensação de breve frio na barriga e tensão. “Janela Indiscreta” nos dá a sensação de uma viagem que nunca vamos esquecer - um suspense com muitos quilates e em grande estilo.




"Janela Indiscreta" (Rear Window)
1954 – EUA - 112 min. – Colorido – SUSPENSE
Direção: ALFRED HITCHCOCK. Roteiro: JOHN MICHAEL HAYES, baseado na obra It Had to be Murder, de CORNELL WOOLRICH. Fotografia: ROBERT BURKS. Montagem: GEORGE TOMASINI. Música: FRANZ WAXMAN. Produção: ALFRED HITCHCOCK, para PATRON INC. e PARAMOUNT PICTURES.

Elenco:
JAMES STEWART (L.B. Jeffries) GRACE KELLY (Lisa Carol Fremont), WENDELL COREY (Tenente Tom Doyle), THELMA RITTER (Stella), RAYMOND BURR (Lars Thornwald), JUDITH EVELYN (Sra. Lonelyheart), ROSS BAGDASARIAN (Compositor), GEORGINE DARCY (Sra. Torso), IRENE WINSTONS (Sra. Thornwald), SARAH BERNER (Mulher da escada de incêndio) e FRANK CADY (Homem da escada de incêndio).


Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:



Psicose

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O SUSPEITO DA RUA ARLINGTON

“Boom.”


“O Suspeito da Rua Arlington” é uma pérola que serve como paradigma para mostrar a qualquer um como há esperança além dos blockbusters. Apesar de ter passado despercebido nas telas do cinema por aqui, essa jóia sempre deve ser revisada como um thriller absolutamente eletrizante. Jeff Bridges é Michael Faraday, um recém viúvo, professor de técnicas anti-terroristas em uma Universidade local. Dirigido por Mark Pellington e escrito por Ehren Kruger (seu primeiro roteiro, na verdade), o filme inicia com uma alucinação. Dirigindo para casa, numa rua calma e deserta, Faraday depara-se com um garoto ferido. Após levá-lo ao hospital, descobre que o menino é seu vizinho de rua - rua Arlington, um nome que deliberadamente ecoa certo ar patriótico dos americanos e de seu cemitério mais famoso. Os pais da criança, Oliver e Cheryl Lang ficam eternamente gratos pela ajuda dada ao mesmo, culpando um experimento pelo ferimento do filho. A partir daí, os Langs, interpretados por Tim Robbins e Joan Cusack, tratam Faraday como um novo amigo. A troca de elogios e agrados, entretanto, soa excessiva e fora do comum. Os "amigos" sempre se visitam e, apesar da aparente bonança, Faraday percebe um comportamento estranho nos vizinhos – coisa de sua cabeça ou realmente procedente?.

Nunca recuperado pela perda da esposa, uma agente do FBI morta num incidente terrorista, Faraday fica obcecado com a ação dessa categoria de criminosos. Inicia, assim, então uma viagem paranóica de desconfiança de seus vizinhos, sem saber exatamente o que procura. Nesta escalada, sente-se tormentado e sozinho, apesar da companhia da namorada Brooke Wolfe, sua ex-aluna (interpretada por Hope Davis, à vontade num filme de estrelas).

O filme é muito bem construído e torna-se uma guerra de nervos entre os personagens. Jeff Bridges evolui de um Faraday sem esperança e rotineiro, para alguém vivo e articulado, com toques investigativos. Tim Robbins trabalha bem a dualidade do personagem, de forma forte, embora blasé. Joan Cusack acompanha Robbins, de modo perfeito, e embora fria, faz o sangue ferver a todo instante.

Mesmo que o tema terrorismo não seja novo, a força do filme está na maneira engenhosa com que o enredo vai se desenrolando, surpreendendo em doses homeopáticas, de forma que você fica entretido, sem saber sobre o desfecho até o final. Quem já viu “A Trama” (1974), de Alan J. Pakula vai achar semelhanças, embora “O Suspeito da Rua Arlington” traga material novo.

Contribuem para ajudar "O Suspeito da Rua Arlington" a trilha assustadora de Angelo Badalamenti e a montagem nervosa de Conrad Buff, responsável por trabalhos com James Cameron e premiado com o Oscar por "Titanic". A fotografia de Bobby Bukowski é correta e clara, embora sinistra. Filmaço.



"O Suspeito da Rua Arlington" (Arlington Road)
1999 – EUA - 117 min. – Colorido – SUSPENSE
Direção: MARK PELLINGTON. Roteiro: EHREN KRUGER. Fotografia: BOBBY BUKOWSKI. Montagem: CONRAD BUFF. Música: ANGELO BADALAMENTI. Produção: PETER SAMUELSON, TOM GORAI E MARC SAMUELSO; distribuído pela SCREEN GEMS.

Elenco:
JEFF BRIDGES (Michael Faraday) TIM ROBBINS (Oliver Lang), JOAN CUSACK (Cheryl Lang), HOPE DAVIS (Brooke Wolf), ROBERT GOSSET (Agente do FBI Whit Carver), MASON GAMBLE (Brady Lang), SPENCER TREAT CLARK (Grant Faraday), STANLEY ANDERSON (Dr. Archer Scobee), VIVIANE VIVES (Enfermeira) e LEE STRINGER (Assistente).

Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:




Indo até o Fim

sábado, 25 de outubro de 2008

A BELA ADORMECIDA

“Mas quando eu a verei novamente?”


Assisti ao novo DVD de A Bela Adormecida e fiquei impressionado. A nova “roupagem” dada ao desenho da Disney enche os olhos. O colorido ganha novos tons e tem-se a impressão de que os mesmos saltam da tela. Foi de fato uma decisão muito apropriada esse relançamento, uma vez que “A Bela Adormecida” foi de fato um produto de tecnologia em alta definição no seu tempo, filmado em Super Technirama, que deram aos 70 mm um aspecto visual mais amplo que o do Cinerama.Também foi, talvez, o ultimo filme da Disney a ser colorizado artesanalmente em células de animação, e não transferidos, através de fotocopias utilizando-se desenhos e gravuras dos animadores. Dali em diante, os elementos artesanais – coloração desbalanceada, linhas quebradas e mesmo a ocasional impressão digital engordurada – desapareceriam do universo da Disney para sempre.

De acordo com os créditos, esta “A Bela Adormecida” foi inspirada na versão do conto de Charles Perrault de 1697, como outros elementos narrativos retirados do balé russo de 1889, musicado por Tchaikovsky. Mas, também, é um filme de seu tempo, com temas de romantismo juvenil e rebeldia inspirados na adolescência emergente do final dos anos 50. O filme nos dá a princesa Aurora – cujo longo loiro – faz-nos lembrar das famosas bonecas de meninas Barbie (que na verdade, pasmem, também foi criada em 1959) ou então a personagem Gidget de Sandra Dee.

Quando Aurora (Mary Costa) encontra o Príncipe Felipe (Bill Shirley) num caramanchão habitado por animaizinhos “humanizados” (que parecem pertencer a um período anterior de animação da Disney), apaixonam-se instanteneamente e, separam-se. O pai de Felipe cede imediatamente ao desejo do rapaz em casar-se com a garota.

Mas, para superar as objeções de Malévola (Eleanor Audley), a feiticeira do mal (que tem a figura maternal) opõe-se mais fortemente. Transforma-se em um dragão – “Agora você terá que lidar comigo, Principe, e com os poderes do mal!” — e inicia uma batalha com Felipe, que atinge o clímax mostrando todo o esplendor de animação do filme.

Sonorizado em 6 canais, “A Bela Adormecida” foi lançado em 1959, como resultado de um trabalho de mais de 8 anos e, orçado em US$ 6 milhões, o filme significou um grande êxito no nível de Pinocchio (1940) e Fantasia (1940). Os animadores haviam afundado nos anos 50 com animações de poucos recursos e pouco ambiciosos, como “Alice no País das Maravilhas” (1951) e “Peter Pan” (1953).

Para o público à época da estréia nas telas, o filme foi considerado demasiadamente imponente e frio. Repreendido pela crítica em função de seus personagens genéricos e relativo falta de calor e humor, “A Bela Adormecida” obteve nas bilheterias metade do que se esperava e antecipou uma nova era de austeridade nos estúdios de seu criador.

A animação da Disney voltou-se para formatos de pequena escala e sitcom, como por exemplo, “101 Dálmatas” (1961). Desta forma, “A Bela Adormecida” ficou sendo o último desenho animado do estúdio baseado em conto de fadas, até a adaptação de “A Pequena Sereia” (1989).

O DvD tem um monte de extras. Para nos cinefilos, há um excelente comentário com John Lasseter, da Pixar; o critico Leonard Maltin e o animador da Disney, Andreas Deja; o making of com cerca de 45 minutos; um especial “The Peter Tchaikovsky Story”, feito especialmente para a TV, em 1959 e o documentário curta-metragem premiado “Grand Canyon”.

Para os pequeninos, há o vídeo com a música “Once Upon a Dream , interpretada por Emily Osment ; também, uma penca de jogos, um tour da Bela Adormecida pela Disneylândia e outras atrações. Se você for fã da Disney em seus tempos áureos, como eu, não perca.



"A Bela Adormecida" (The Sleeping Beauty)
1959 – EUA - 75 min. – Colorido – DESENHO ANIMADO
Direção: CLYDE GERONIMI. Roteiro: JOE RINALDI, WINSTON HIBLER, BILL PEET, TED SEARS, RALPH WRIGHT E MILT BANTA, baseada na estória de CHARLES PERRAULT. Efeitos Especiais: DORSE A. LANPHER. Fotografia/Câmera: ROBERT ANDERSON. Animação: HAL AMBRO. Montagem: ROY M. BREWER JR. E DONALD HALLIDAY. Música: GEORGE BRUNS. Produção: WALT DISNEY; distribuído pela WALT DISNEY.

Vozes: MARY COSTA (Aurora) BILL SHIRLEY (Príncipe Felipe), ELEANOR AUDLEY (voz da Malévola), VERNA FELTON (Flora), BARBARA LUDDY (Merryweather), BARBARA JO ALLEN (Fauna), TAYLOR HOLMES (Stefan) e BILL THOMPSON (Hubert).


Cenas do Filme:



Do mesmo diretor:




Branca de Neve e os 7 Anões

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

LA LUNA

“Meu Deus, o que eu fiz a você?”


O filme mostra uma bonita e bem sucedida cantor lírica e sua relação incestuosa com seu filho de 15 anos, um junkie. Quando o marido de Caterina (Jill Clayburgh) morre no inicio do filme, ela se muda com seu filho Joe (Matthew Barry) para Roma, onde possui um contrato profissional, pouco se importando com o impacto dessa mudança abrupta sobre o garoto. Joe, que a admira, é forçado a ficar em segundo plano em seu afeto à medida que a carreira da mãe avança com a providencial alegria de uma viúva liberal. Joe recorre às drogas e, quando sua mãe percebe o que está acontecendo, tenta resgatar o tempo perdido. O tema é sério e forte. Entretanto, há um senão na forma como o diretor lida com a questão. Um dos melhores momentos do filme é a cena em que Joe, sentindo uma necessidade desesperadora pela droga, é confortado pela mãe, de forma ingenuamente sexy (se é que isso seja possível). Enquanto ela o embala, ele começa a sugar seus seios. A reação dela a isso é levá-lo ao orgasmo e assim somos levados a entender essa atitude como uma “droga suavizante”. Será que um drogado tem tanto tesão a ponto de substituir o prazer sexual pela droga, numa crise de abstinência? Não quero ser literal, mas fica a questão.

A dificuldade de lidar com alguns filmes de Bertolucci é justamente o fato de que ele não parece um artista totalmente desprovido de humor, como parece. Por causa disso, pode ser que eu esteja equivocado, mas faço uma leitura de que “La Luna” não seja tão sério quanto pareça. Pode até ser que tenha a pretensão de ser um filme engraçado , quando parece demonstrar o contrario. Entretanto, não acho que seja o caso. Suspeito que Bertolucci quer nos emocionar e também chocar com a situação do “casal”.

Jill Clayburgh como Caterina está esplendida, chia de nuances e contradições. Egoísta, mas generosa; amorosa, mas esquecida; auto-centrada em si mesma, mas verdadeiramente apaixonada pela profissão. Quando a atriz diz a seu filho, cuja passividade a enfurece, “Venho de um mundo onde cantar, criar e sonhar nada significa”, traz a força que somente uma grande atriz, em atuação rara e complexa, poderia realizar. O filme talvez não esteja à mesma altura.

Apesar da espetacular fotografia de Vittorio Storaro e das peças musicadas de "Il Trovatore," "La Traviata," "Rigoletto" e"Un Ballo in Maschera" , “La Luna" deixa-me na dúvida. Neste caso, prefiro encará-lo como uma grande metáfora. Eu o acharia até poético caso Bertolucci não insistisse em tratar Joe como um estudo de caso de uma criança rejeitada e não amada.

“Posso fazer todas as coisas que papai faz para você”, o garoto diz no começo do filme. Mais tarde, ele brada, como num dramalhão, que sua mãe não o ama e nunca amou. Lá na frente, Caterina lamenta: “Meu Deus, o que fiz a você”. Nenhuma dose de Verdi pode transformar esses clichês em algo maior, à medida que o filme vai chegando ao seu final. Se isso causa um embaraço em algum musical da Broadway, o que dizer num filme passado em Roma, tendo óperas como pano de fundo.

Há um numero de momentos isolados que são poderosos e fortemente angustiantes, mas tais efeitos não são tão difíceis de serem atingidos quando são mostradas cenas de um viciado furando o braço com um garfo no lugar de uma seringa. Jill Clayburgh está sempre extraordinária sob quaisquer circunstâncias. Há também boas atuações coadjuvantes como as de Renato Salvatori, Fred Gwynne, Alida Valli e Tomas Milian, mas nenhuma delas é suficiente para colocar o filme num patamar de obra-prima.



"La Luna" (La Luna)
1979 – EUA/ITÁLIA - 142 min. – Colorido – DRAMA
Direção: BERNARDO BERTOLUCCI. Roteiro: GIUSEPPE BERTOLUCCI, CLARE PEPLOE E BERNARDO BERTOLUCCI, baseado na história original de FRANCO ARCALLI, BERNARDO BERTOLUCCI E GIUSEPPE BERTOLUCCI . Fotografia: VITTORIO STORARO. Montagem: GABRIELLA CRISTIANI. Música: GIUSEPPE VERDI, BARRY GIBB, ROBIN GIBB E MAURICE GIBB. Produção: GIOVANNI BERTOLUCCI para a FICTION CINEMATOGRAFICA S.P.A., distribuído pela 20th Century-Fox.

Elenco:
JILL CLAYBURGH (Caterina Silveri), MATTHEW BARRY (Joe), VERONICA LAZAR (Marina), RENATO SALVATORI (Comunista), FRED GWYNNE (Douglas Winter), TOMAS MILIAN (Giuseppe), ALIDA VALLI (Mãe de Giuseppe ), ELISABETTA CAMPETI (Arianna), CLARA BINDI (Empregada da Estalagem), MARIO PASSANTE (Homem no bar) e RENATO TERRA (Decorador).


Cenas do Filme:



Do mesmo diretor:



O Último Tango em Paris

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O FILHO DO SHEIK

“Meu jovem leão”


Os filmes de Rodolfo Valentino não são marcos no cinema. Apenas oferecem algo mais que fantasias exóticas, um simples espetáculo de exibição; contudo, estabeleceu-se um novo tipo de erotismo na maneira de interpretar, freqüentemente com pequenos gestos ( típicos no cinema mudo). Aqui Valentino faz o papel do jovem Ahmed e sua “vitima” é a bela bailarina Yasmin (Vilma Banky), a filha de um ladrão. Sua submissão como escrava sexual é o preço pago por sua traição: depois de um breve romance, Ahmed foi seqüestrado e torturado pelos bandidos do pai da jovem, uma boa ocasião para mostrar o peito cortado diante dos torturadores que chicoteavam e, sobretudo, diante da câmera. Haverá algumas lutas de espada bem coreografadas e uma ou outra dança do ventre para que o equívoco se desfaça e o filho do deserto possa cavalgar com sua noiva ao pôr-do-sol. Para controlar um pouco a agressividade sexual de Valentino, símbolo do orgulho oriental ferido, o sheik, como o chamavam deste há tempo, aparece em um interessante papel duplo.

”O Filho do Sheik” é a continuação de seu primeiro grande êxito, “O Sheik” (1921). Além de interpretar o filho, Valentino (com a barba grisalha) dá vida ao pai de Ahmed. O papel de Diana, sua antiga conquista, e agora mãe, volta a ser interpretado por Agnes Ayres. O sheik trata sua esposa com ternura e enfrenta a ira de seu filho com a indulgência da idade: ambos papéis ficam bem no ator e conseguem satisfazer os gostos mais conservadores. Entretanto, do ponto de vista artístico, é mais interessante a hábil aplicação da cortina partida para criar as imagens com os dois Valentinos.

Além dessas sofisticações, o filme traz alguns personagens divertidos que formam o contraponto cômico do filme: o criado psicótico de Ahmed deleita-se como um neném ao estrangular o inimigo e Ghabah (Montagu Love); o capitão dos ladrões, por outro lado, tem uma espécie de bufão. Assim, o resultado é uma fantasia oriental com decorações modestas, de pouca duração, mostrando como os americanos se passam por árabes. O filme foi rodado no deserto do Arizona, com resultados bem bastante convincentes.

Não vi muitos filmes de Valentino. Na verdade, assiti “O Sheik” e tenho “O Águia” (1925) em VHS – no qual faz o papel de um tenente russo que cai nas graças de Catarina II . Porém, achei este melhor. Falei com pessoas que já haviam assistido a toda a filmografia de Valentino e afirmaram que ”O Filho do Sheik” é considerado o seu melhor trabalho. Não é à toa que sua fama está ligada a esse filme, que se converteu em seu legado. Não deixe de conhecer.



"O Filho do Sheik" (The Son of the Sheik)
1921 – EUA - 68 min. – Preto e Branco – AVENTURA
Direção: GEORGE FITZMAURICE. Roteiro: FRANCES MARION, FRED DE GRESAC e GEORGE MARION JR. Fotografia: GEORGE BARNES. Música: GERARD CARBONARA e ARTUR GUTTMANN. Produção: GEORGE FITZMAURICE E JOHN W. CONSIDINE JR. para a FEATUREPRO INC.

Elenco:
RUDOLPH VALENTINO (Ahmed, o Filho do sheik/sheik Ahmed Ben Hassan), VILMA BANKY (Yasmin), AGNES AYRES (Diana), GEORGE FAWCETT (Andre), MONTAGU LOVE (Ghabah), KARL DANE (Ramadan), BULL MONTANA (Ali), BYNUNSKY HYMAN (Pincher) e WILLIAM DONOVAN (S´rir).


Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:




Mata Hari

sábado, 18 de outubro de 2008

AKIRA

“Eu não sou Akira!”


“Akira”, de Katsuhiro Ôtomo é um trabalho de animação fenomenal com todas as credenciais de um cult clássico. Seu estilo pós-apocalíptico, armadilhas hi-tech, ilustrações sensacionais e uma vasta coleção de personagens bizarros, colocam-no no panteão dos animês da ficção científica. Baseado na saga animê largamente popular Ôtomo, ”Akira” pega seu nome de uma força misteriosa que pode estar em progresso em Neo-Tóquio, onde a ação acontece. Em 2019, 31 anos após a III Guerra Mundial, o mundo tem a possibilidade de voltar ao normal - estudantes de ginásio, gangues de motocicleta, agentes de Governo corruptos e místicos que prevêem o futuro. “Conforme a cultura”, diz alguém, "encontramos a solidão do coração humano”.

O diretor investe neste fúnebre desabrochar da civilização pós-nuclear com uma rara e grande beleza. Os desenhos de Neo-Tóquio à noite são mostrados com tanta minúcia que todas as janelas de cada arranha-céus aparecem em detalhe. E, essas cenas noturnas, brilham em cores claras e vibrantes. Nunca recorrendo a recursos de forma a ostentar um visual poderoso gratuitamente, o diretor utiliza-se de uma grande variedade de tonalidades de forma premeditada e interessante, “animando” seu filme com constante doses de surpresa. Os movimentos e mudanças apresentadas na tela são tremendamente diversificadas e quase sempre imprevisíveis. Por outro lado, “Akira” é hermético e, naturalmente, possui um apelo maior junto ao público interessado em desvendar sua trama complicada e bem desenvolvida.

No epicentro da história está Tetsuo, o membro de uma gangue juvenil , que se torna (contra sua vontade) uma cobaia de experimentos secretos do Governo e Kaneda, que em diferentes ocasiões é o seu melhor amigo – mas também seu arquirrival. No enredo, há o envolvimento das forças do Governo, de militares, de outras gangues e de um pequeno grupo de pálidas crianças paranormais. Mesmo quando fornecem terríveis afirmações, esses personagens falam com tal propriedade que ajudam a dar a esse filme pop o tom austeramente japonês.

O diretor e seu pelotão de habilidosos animadores estão em seu melhor, ao fazerem surgir - como por encanto - turbulentos efeitos especiais, mostrados ao mesmo tempo com grande força e ingenuidade. “Akira” apresenta cores, sombras e traços com inúmeros matizes e quando seus personagens enfrentam-se no espaço, fazem-no com uma energia de tirar o fôlego. No meio das seqüências fortes, está aquela em que são mostrados brinquedinhos na enfermaria, que logo se transformam em monstros enormes e assutadores; em outra, na qual grandes e assutadores mucos de sangue saltam do corpo de uma vitima assustada.

A violência permeia o filme, fazendo deste o habitat natural de Akira. Os personagens mais sensatos advogam pelo sábio uso dos temerosos “novos” poderes da humanidade, dando ao filme como um todo uma sensação de um conto premonitório.



"Akira" (Akira)
1988 – JAPÃO - 124 min. – Colorido – FICÇÂO CIENTÍFICA
Direção: KATSUHIRO ÔTOMO. Roteiro: KATSUHIRO ÔTOMO e IZÔ HASHIMOTO. Fotografia: KATSUJI MISAWA. Montagem: TAKESHI SEYAMA. Música: SHOJI YAMASHIRO. Produção: RYOHEI SUSUKI E SHUNZO KATO, distribuído pela STREAMLINE PICTURES.

Elenco:
MITSUO IWATA (voz de Shôtarô Kaneda), NOZOMU SASAKI (voz de Tetsuo Shima), MAMI KOYAMI (voz de Kei), TESSHÔ GENDA (voz de Ryûsaku), HIROSHI ÔTAKE (voz de Nezu), KÔICHI KITAMURA (voz de Miyako), MICHIHIRO IKEMIZU (voz do Inspetor), YURIKO FUCHIZAKI (voz de Kaori), MASAHAKI OKURA (voz de Yamagata), TARÔ ARAKAWA (voz de Eiichi Watanabe) e TAKESHI KUSAO (voz de Kai).


Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:




Steamboy

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A MÁSCARA DE SATÃ

“Você nunca ficará livre de minha vingança….”


No século XVII, a bruxa Asa Vajda (Barbara Steele) é morta a mando de seu irmão, o príncipe Vajda. Ele a renega como tal, por prática de bruxaria, ordenando que em seu rosto seja encravada uma máscara (a marca de representação do diabo). Como vingança, lança uma maldição que deverá incomodar toda geração de seus algozes.
Esse é a trama principal de “A Máscara de Satã”, dirigido por Mario Bava, que se baseou num conto de Nikolai Gogol e roteiro de Ennio De Concini para desenhar a vampira secular. Passados 200 anos, uma dupla de médicos em viagem, Dr. Andre Gorobec (John Richardson) e Dr. Thomas Kruvajan (Andrea Checchi), descobre uma cripta e quando um deles se machuca, sangrando, estabelece o mecanismo suficiente para trazer de volta a bruxa à vida. Esta, com a ajuda do também ressuscitado assistente, iniciam uma saga de vingança que terá como a principal vítima a bela Katia Vajda (Barbara Steele em papel duplo) agora apaixonada por Andre, que tentará protegê-la.

Temos todos os ingredientes do clássico terror da década de 60, de baixo orçamento. Isso torna o visual fake; contudo, é difícil não se deixar seduzir pela personagem principal - que mais parece uma manequim de olhos vidrados, visual mundano e uma voz de outro mundo. Barbara Steele está apopriada como a bruxa/vampira – não ao estilo Theda Bara, mas uma versão genuína da bebedora de sangue.

Mario Bava, permite que essa Bela Lugosi de saias sacie sua sede por cerca de quatro vezes antes de queimar na fogueira, gritando, diante do olhar de Andre (John Richardson). Essa história se passa num decadente castelo, com todos os aparatos que se têm direito nos filmes de terror – teias de aranha, portas com passagem secreta, túmulos, etc. Como ambiente fúnebre, faz-nos sentir saudades do tranqüilo e modesto motel Bates, de “Psicose” (1960).



"A Máscara de Satã" (Black Sunday)
1960 – ITÁLIA - 87 min. – Preto e Branco – HORROR
Direção: MARIO BAVA. Roteiro: ENNIO DE CONCINI e MARIO SERANDREI, baseado no conto “The Viy”, de NIKOLAI GOGOL. Fotografia: MARIO BAVA. Montagem: MARIO SERANDREI. Música: ROBERTO NICOLOSI. Produção: GALATEA S. P. A., distribuído pela AMERICAN INTERNATIONAL PICTURES

Elenco:
BARBARA STEELE (Asa/Katia Vajda), JOHN RICHARDSON ( Dr. Andre Gorobec), ANDREA CHECCHI (Dr. Thomas Kruvajan), IVO GARRANI (Príncipe Vajda), ARTURO DOMINICI (Igor Javutich/Javuto), ENRICO OLIVIERI (Príncipe Constantine Vajda), ANTONIO PIERFEDERICI (Padre), TINO BIANCHI (Ivan), CLARA BINDI (Empregada da Estalagem), MARIO PASSANTE (Nikita, o cocheiro) e RENATO TERRA (Boris).


Cenas do Filme:



Do mesmo diretor:




As Três Máscaras do Terror

domingo, 12 de outubro de 2008

MALVADOS E MALVADAS

Pessoal estou iniciando um MEME dos Malvados e Malvadas. Trata-se daqueles 5 caras e 5 mulheres que consideramos nada bonzinhos (as). Claro que é uma lista difícil, ainda mais se considerarmos que há personagens inesquecíveis dentro deste quesito. Porém, a idéia é listar 10 no total, que você considera como os (as) mais mais. Para dificultar a tarefa, exclua da lista os personagens de desenhos animados e ficção científica. Ao final, indiquei também 10 blogs de amigos. Aqui vão os meus (minhas) em ordem alfabética.







Anton Phibes, o médico atormentado pela morte da esposa em “O Abominável Dr. Phibes” (1971), interpretado por Vincent Price














Annie Wilkes, a enfermeira psicopata de “Louca Obsessão” (1990), interpretada por Kathy Bates















Baby Jane Hudson, a velha atriz reclusa que cuida da irmã inválida de “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” (1962), interpretada por Bette Davis














Eve Harrington, a ambiciosa e manipuladora aspirante a atriz de “A Malvada” (1950), interpretada por Anne Baxter













Gregory Anton, o pianista que tortura mentalmente sua mulher, em “À Meia Luz” (1944), interpretado por Charles Boyer














Hannibal Lecter, o serial killer de “O Silêncio dos Inocentes” (1990), interpretado por Anthony Hopkins















Joan Crawford, a famosa (e neurótica) estrela de Hollywood em “Mamãezinha Querida” (1981), interpretada por Faye Dunaway
















Max Cady, o estuprador psicótico de “O Cabo do Medo” (1991), interpretado por Robert De Niro
















Norman Bates, o maníaco edipiano de “Psicose” (1960), interpretado por Anthony Perkins














Sra. Trefoile, a fanática religiosa de “Fanatismo Macabro” (1965), interpretada por Tallulah Bankhead










Repasso o desafio aos amigos dos seguintes blogs:

Blog dos Cinéfilos
O Cara da Locadora
Cenas de Cinema
Cinefilando
La Dolce Vita
Mapa do Meu Nada
Moviemento
Século da Luz
Tribo da Leitura
Tudo é Crítica

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

SORTILÉGIO DE AMOR

“Ela usou um gato.”


É comum vermos em filmes lindas garotas enfeitiçando rapazes, seja através de olhares, jeito de falar, de andar, etc. Em “Sortilégio de Amor”, esse feitiço ocorre literalmente, quando Gillian “Gil” Holroyd (Kim Novak), linda como sempre, encanta um homem, Shepherd “Shep” Henderson (James Stewart), fazendo com que ele se apaixone por ela. O tema pode parecer tolo e banal. Porém, o roteirista Daniel Taradash transformou a peça de John van Druten em um conto de fadas urbano. Desde o atelier da heroína, uma espécie de marchand de arte primitiva, até o esfumaçante bar noturno em Greenwich Village, onde os feiticeiros locais e seus aprendizes tocam, tudo é divertido, com visual vÍvido e sugestivo.

Mérito deve ser dado ao diretor de arte Cary Odell, que dá cores especiais devido à própria necessidade imposta pelos próprios cenários do filme; o consultor especial de matizes, Eliot Elisoforn, e o diretor de fotografia, James Wong Howe, juntos, conseguem fazer com que fiquemos hipnotizados.

Para se ter uma idéia, eles sugerem como as coisas acontecem sob a ótica dos olhos do gato de estimação da feiticeira, saturando as imagens na câmera em um tom azul escuro melancólico. E o que conseguem fazer com as tomadas nas ruas de Nova Iorque é mágico. Graças a eles, Kim Novak, como a provocante e sedutora jovem que possui poderes de feiticeira, parece bem mais convincente em sua atuação. James Stewart é o ator de sempre e, envelhecido como par da estonteante Kim, faz o papel do editor que ela fisga.

Jack Lemmon, como um bruxo ou irmão de Gillian, Nick Holroyd, está um pouco afetado. Elsa Lanchester (Queenie Holroyd) e Hermione Gingold (Bianca de Passe) interpretam de forma muito engraçada uma dupla de velhas inescrupulosas, e Ernie Kovacs (Sidney Redlitch) retrata um escritor com ar desajeitado e maltrapilho como se estivesse tentando invocar Maxim Gorky para o filme.

"Sortilégio de Amor” é um feitiço brando, mas chega perto de parecer magia.



"Sortilégio de Amor" (Bell, BooK and Candle)
1958 – EUA - 106 min. – Colorido – COMÉDIA
Direção: RICHARD QUINE. Roteiro: DANIEL TARADASH, baseado na peça homômina de JOHN VAN DRUTEN. Fotografia: JAMES WONG HOWE. Montagem: CHARLES NELSON. Música: GEORGE DUNING. Produção: JULIAN BLAUSTEIN, para a COLUMBIA PICTURES.


Elenco:
JAMES STEWART (Shepard Henderson), KIM NOVAK ( Gillian Holroyd), JACK LEMMON (Nicky Holroyd), ERNIE KOVACS (Sidney Redlitch), HERMIONE GINGOLD (Bianca de Passe), ELSA LANCHESTER (Queenie Holroyd), JANICE RULE (Merle Kittridge), PHILLIPE CLAY (cantor francês), BEK NELSON (secretária), HOWARD McNEAR (Andy White) e THE BROTHERS CANDOLL (músicos).


Cenas do Filme:



Do mesmo diretor:



O Mundo de Susie Wong

terça-feira, 7 de outubro de 2008

SUPERMAN - O FILME

“Eu nunca bebo quando voo.”


O tamanho do espetáculo já é anunciado na introdução dos créditos, que mais parece a abertura de uma ópera wagneriana. O prólogo transcorre no planeta Krypton, onde o conselheiro Jor-El (Marlon Brando) anuncia uma catástrofe iminente; como os demais integrantes do grupo acham a previsão um exagero, obrigam-no a jurar que nem ele e sua esposa abandonarão o planeta. Enviam, então, seu filho Kar-El numa cápsula de salvamento em direção à Terra. Portanto, o garoto converte-se no único sobrevivente de seu povo, como havia profetizado seu pai. Destruído Krypton, Kar-El, já na Terra, é acolhido por pais adotivos e converte-se em Clark Kent (Christopher Reeve).O diretor, Richard Donner, concebeu o personagem de Superman como um genuíno mito norte-americano e assim o conduziu na tela, com gravidade, dimensões épicas e numerosas facetas que destacavam o caráter irretocável do garoto extraterreno. Diferentemente de Richard Lester, que dirigiu as seqüências I e II recorrendo mais ao lado cômico, Donner permitiu que seu herói fosse um menino que suportasse os insultos de seus companheiros e renunciasse a seus poderes, porque seu pai e mãe assim o haviam ensinado. Ao longo do filme, como protetor da Terra, ganha o respeito dos terráqueos e gratidão por ter evitado o caos - sem esquecer o amor de Lois Lane, (Margot Kidder), um prêmio merecido por ter salvado o mundo.

A direção de Donner não se limita a projetar na tela os conhecidos motivos da saga de Superman. Tira proveito do dinamismo que o cinema permite frente à estática dos gibis – nos quais os editores têm que recorrer a artifícios gráficos e onomatopéias para representar os movimentos do herói – e joga todo seu conhecimento. Até os maiores aficionados dos quadrinhos desfrutam assistindo ao herói cruzando o céu com Lois Lane nos braços, lançando-se velozmente no espaço ou usando suas habilidades para evitar que uma parte da Califórnia seja separada do continente.

Logo no inicio, Donner começa a dar as cartas. “Ilustra” o filme, enfatizando a diferença do formato convencional para o cinemascope: sinaliza sua força, dá mostras de sua capacidade para a representação de um grande espetáculo e, deslizando pelo espaço à velocidade da luz com a câmara livre de amarras, embarca o público numa viagem que não pode fazer a lugar nenhum, exceto nas telonas. Na realidade, o Superman somente pode voar nos filmes. E verdade seja dita: dificilmente haverá um Superman, como Christopher Reeve, e nem uma Lois Lane, como Margot Kidder. Diversão sempre.



"Superman – O Filme" (Superman: The Movie)
1978 – EUA - 143 min. – Colorido – FICÇÃO CIENTÍFICA
Direção: RICHARD DONNER. Roteiro: MARIO PUZO, DAVID NEWMAN, LESLIE NEWMAN, ROBERT BENTON, TOM MANKIEWICZ E NORMAN ENFIELD, baseado nos quadrinhos de HERRY SIEGEL E JOE SHUSTER. Fotografia: GEOFFREY UNSWORTH. Montagem: SUART BAIRD E MICHAEL ELLIS. Música: JOHN WILLIAMS. Produção: ALEXANDER SALKIN E PIERRE SPENGLER para DOVEMEAD FILMS, ALEXANDER SALKIN, FILM EXPORT A.G. E INTERNATIONAL FILM PRODUCTION.

Elenco:
CHRISTOPHER REEVE (Superman/Clark Kent), MARGOT KIDDER (Lois Lane), MARLON BRANDO (Jor-El), GENE HACKMAN (Lex Luthor), NED BEATTY (Otis), JACKIE COOPER (Perry White), GLENN FORD (Pa Kent), TREVOR HOWARD (senador), MARIA SCHELL (Vond-Ah), TERENCE STAMP (general Zodd) e VALERIE PERRINE (Eve Teschmacher).

Prêmios:
Oscar Especial de Efeitos Especiais (Les Bowie, Colin Chilvers, Denys N. Coop, Roy Field, Derek Meddings e Zoran Perisic)/1978.

Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:



O Feitiço de Áquila

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ANÔNIMO VENEZIANO

“Era bom demais para durar”


Enrico (Tony Musante), um músico aspirante a maestro e Valeria (Florinda Bolkan) foram casados por onze anos e estão separados há oito. Após longa ausência, Enrico a chama de Ferrara, onde ela vive com o filho do casal e um amante rico e mais velho, para um reencontro em Veneza. Foi nessa cidade que se conheceram durante os tempos de faculdade – onde a forte paixão entre eles nasceu, acabou e, durante o dia, renasce. Porém, há um problema: Enrico tem uma séria doença. “Anônimo Veneziano” é um drama romântico ítaliano, absolutamente aclimatado e vivido em Veneza – com seu o canal, suas gôndolas, suas “piazzas” e igrejas. Foi dirigido e parcialmente escrito por Enrico Maria Salerno para parecer um filme intimista. Porisso, utiliza-se de diálogos de relacionamento, onde a questão principal é como tentar resolver um casamento no qual a incompatibilidade de gênios é maior que o sentimento que une o casal. Entretanto, não necessariamente esse seja o ponto principal do filme, mas, sobretudo, o esclarecimento de uma relação que não deu certo – e que nunca dará. Não porque o casal não queira, mas porque o curso das coisas assim os levou a uma irreversível separação.

Há alguns momentos em que o diretor inevitavelmente mutila um clichê bacana (se é que se pode chamar um clichê disso), quando Enrico e Valeria voltam a um restaurante típico que costumavam ir quando jovens – “O que você tem?”, Valeria pergunta ao garçom. “Arroz com tinta de lula, sopa de peixe, espaguete, fettucine, lasanha...”, diz ele, de forma direta. Ela responde: “Espaguete...”, como se estivesse num sonho.

Por outro lado, muito dos diálogos são bastante interessantes e gosto particularmente da forma como Enrico resume seu sentimento na relação: “O bovarismo está enraizado na alma feminina, de modo que a mulher chega a trair o amante com o próprio marido” (muito embora Enrico já a tivesse traído antes). É uma tentativa de limpar os pratos sujos de forma sutil.

Tony Musante e Florinda Bolkan fizeram trabalhos sérios em outros filmes, mas aqui fica muito limitada a avaliação interpretativa do casal, uma vez que claramente o cenário e a história sobressaem-se ao par. E, Salerno, ao final, nos deixa com a sensação de que ficou algo a mais para ser dito. É como se fossemos a câmera e nos jogassem nos canais de Veneza, sem rumo definido, ao som da bela trilha sonora de Cipriani (ainda hoje um cult).

Mas, de qualquer forma é sempre bom rever um filme estrelado pela nossa cearense Florinda Bolkan (ex-Bulcão), atriz que já trabalhou com renomados cineastas europeus, como Elio Petri e outros. Li que De Sica teria dito quando a convidou para o filme “Amargo Despertar” (1973): “Escolhi você por que seus olhos são de quem já conheceu a fome". A resposta de Florinda: "Quem nasce no Ceará traz uma carga de verdade muito dura e forte". E é verdade. Ela continua linda, vive na Itália e está na ativa.



"Anônimo Veneziano" (Anonimo Veneziano)
1970 – ITÁLIA - 91 min. – Colorido – DRAMA
Direção: ENRICO MARIA SALERNO. Roteiro: ENRICO MARIA SALERNO E GIUSEPPE BERTO. Fotografia: MACELLO GATTI. Música: STELVIO CIPRIANI.Montagem: MARIO MORRA. Produção: TURI VASILE, distribuído pela ALLIED ARTISTS.

Elenco: TONY MUSANTE (Enrico) FLORINDA BOLKAN (Valeria), TOTI DAL MONTE (proprietário da casa), SANDRO GRINFAN (gerente da fábrica), BRIZIO MONTINARO (garçom) e GIUSEPPE BELLA (técnico).

Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:



Cari Genitori

domingo, 5 de outubro de 2008

O ENCOURAÇADO POTEMKIN

“Camaradas, chegou a hora de agir!”


Há filmes que, para conseguirem em seu país a atenção que merecem, primeiro têm que dar “uma volta” e comemorar o êxito no exterior. Isso aconteceu com “O Gabinete do Doutor Caligari”, de R. Wiene, que foi muito bem recebido em Paris e somente a partir daquele momento foi reconhecido em Berlim como uma obra que abria novas perspectivas; o mesmo ocorreu com Fassbinder, cuja fama em Paris, Londres e Nova Iorque precedeu seu reconhecimento na Alemanha. Contudo, o paradigma máximo dessa situação foi este filme de Eisenstein, que causou sensação na Alemanha nos anos 20, seguindo triunfalmente por outros países da Europa e, finalmente, pela história do cinema. O filme continua sendo bastante cultuado, aparece na lista dos melhores de todos os tempos e inspirou gerações inteiras de cineastas e estudantes de cinema.

Resgatando um pouco o histórico deste belo filme, ninguém podia imaginar quando a cúpula da ainda embrionária União Soviética confiou a Eisenstein (então com 27 anos) a tarefa de realizar um filme “em memória das revoltas pré-revolucionárias do ano de 1905” (segundo especificado no projeto). A princípio, a história da sublevação no encouraçado deveria ser um episodio; contudo, o tema foi se alongando e, ao final, houve a necessidade de aumentá-lo.

O filme estrutura-se em cinco atos claramente separados: as condições subumanas no interior da embarcação, o motim dos marinheiros contra os oficiais, a confraternização do povo com a tripulação amotinada, a matança dos cossacos russos nas escadarias de Odessa e, finalmente, a salvação a cargo dos barcos da frota do mar Negro, que auxiliam os revoltosos.

O que me faz achar esse filme fascinante não foi tanto a história, mas sim a forma como foi contada. Eisensten foi o primeiro cineasta que radicalizou o recurso estilístico da montagem e desenvolveu a união dinâmica e rítmica das cenas, através de cortes que se intensificam em pontos chaves, em constante trocas de imagens.

Claro que, comparativamente a hoje, com o advento de vídeos musicais, tecnologia digital e estética publicitária, “O Encouraçado Potemkin” não parece tão inovador; porém, considerando-se a época em que foi realizado, causou uma revolução no mundo do cinema. Tal reviravolta fez os círculos mais conservadores acharem que a “inovação” pudesse resultar em revoluções reais. Por isso o filme foi proibido, por exemplo, em diversas regiões da Alemanha, algumas das quais somente puderam conhecer a película após a Segunda Grande Guerra Mundial.

Em 1927, Walter Benjamin defendeu o filme, dizendo que o mesmo estava “ideologicamente construído, calculado detalhadamente como o arco de uma ponte”, o que significava dizer que o engenheiro Eisenstein havia criado uma obra de arte. De fato a estrutura ainda está lá e o filme apesar de antigo não envelhece jamais. Nunca uma cena de filme foi tão copiada como aquela do massacre nas escadarias de Odessa, como carrinho de bebê caindo abaixo – seja em filmes como “Os Intocáveis” (1986), de Brian De Palma ou em Kebab Connection (2004), de Anno Saul. O filme sobrevive, desta forma, tanto de suas projeções, como de suas inúmeras citações e transformações ao longo de mais de oitenta anos.

De fato é um filme muito forte e impressionante. Minha cópia ainda é antiga em VHS. Para se ter idéia, chequei e achei que em 2004 o filme foi apresentado com uma nova trilha sonora dos Pet Shop Boys ao ar livre na Trafalgar Square e, com uma versão restaurada, passou por diversos festivais em 2005. Espero que todas essas mudanças e o tour pelo mundo tenham sido tão somente para remeter sempre ao filme em seu original. Tecnicamente estupendo. Veja ao menos uma vez na vida.



"O Encouraçado Potemkin" (Bronenosets Potiomkin)
1925 – URSS - 75 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: SERGEI EISENSTEIN. Roteiro: NINA AGADSHANOVA-SCHUTKI E SERGEI EISENSTEIN. Fotografia: EDOUARD TISSÉ. Montagem: SERGEI EISENSTEIN. Produção: GOSKINO.

Elenco: ALEKSANDR ANTONOV (marinheiro Vakulinchuk) VLADIMIR BARSKY (comandante Golikov), GREGORI ALEXANDROV (tenente Giljarovski), ALEXANDER LJOVSCHIN (oficial) e MIJAIL CORNOROV (marinheiro Matiushenko).

Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:



Alexander Nevsky

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O MARTÍRIO DE JOANA D´ARC

“Na França, sou chamada Joana….”


Quando se preparava para dirigir o filme que o tornaria uma lenda, Carl Theodor Dreyer assistiu num teatro parisiense a atriz Renée Maria Falconetti (uma atriz da Comedie Française). Ironicamente, ela atuava em um papel cômico (uma ironia difícil de entender). Talvez Dreyer quisesse lançar um desafio que provavelmente ela não poderia ser capaz de enfrentar, mas que também não poderia deixar de encarar.“La Passion de Jeanne d'Arc” é um daqueles filmes lendários que todo cineasta conhece, mas provavelmente muitos não assistiram. É desafiador, não apenas por causa de sua história dramática (da mártir com vestimentas no formato de cruz), mas por causa da maneira única com que Dreyer abordou esse material difícil – além de filmar o roteiro que recebeu, decidiu realizar um filme baseado nas transcrições históricas do julgamento de Joana.

Assisti aos extras do DVD em que a filha da atriz menciona que Dreyer havia gostado do que viu quando a assistiu, mas não havia ficado inteiramente certo de Falconetti era a Joana esperada. Quando ela surgiu para o teste, completamente desvestida de maquiagem ou artifícios, ele percebeu que ela era seria a escolha perfeita. Provavelmente inspirado pela audição, o diretor optou por filmar o elenco todo sem maquiagem. Também planejou filmar os personagens todos em close up, fazendo com que os detalhes dos rostos de cada um ficassem registrados na tela: um testamento da persistente modéstia do diretor e seu elenco.

A crítica Pauline Kael, talvez a melhor de todas, chamou a atuação de Falconetti como “a maior performance já capturada em um filme”. De fato, sua atuação não somente é maravilhosa, mas inesquecível. Contudo, a experiência de assistir à atriz é muito mais do que presenciar a interação entre uma atriz e o público. Assistir ao trabalho de Falconetti em Joana é participar de um experimento humano. É uma lenta e dolorosa sinfonia de expressões e emoções muito difícil de ser superada. Sua eloqüência física é mostrada através de seu martírio ao longo do filme, que pode também ser o resultado de uma jornada de auto-conhecimento de Falconetti durante os cerca de 18 meses de filmagem.

Em virtude da natureza técnica do filme (close-ups desconcertantes, realçados pelos cenários que Dreyer construiu fora de proporção para cada um), Falconetti é quase sempre exigida para atuar em close.. E que expressão! Capaz de demonstrar cada emoção existente durante a projeção, a atriz vai de um extremo a outro, do medo à profunda dor.

Naturalmente, o julgamento de Joana não é justo. Desde o começo, é obvio que se trata de um tribunal para mera formalidade - e não para justiça. Joana foi rotulada para ser uma traidora, uma herege em relação à Igreja. Sua indumentária masculina é vista puramente como uma transgressão sexual e não como uma necessidade política que de verdade é – uma mulher de longos cabelos loiros, usando vestido, seria capaz de inspirar algum sentimento senão sexual em um exército?).

O diretor cobre Falconetti com branco, a cor da morte. De fato, o filme todo é embebido com uma aura de mortalidade humana, desde túmulos sendo cavados até o desejo de sangue tão evidente no rosto dos juízes. Há momentos de muita tristeza , como aquele em que Joana desmaia e sofre uma sangria em uma tigela, para sanar sua febre. Quando ela é levada para argüição final, vislumbra uma tumba sendo cavada. Sua dor tem extrema força. Ela ama a vida. Daí, decide assinar uma confissão de modo a escapar da morte. Quando medita sobre sua traição à Cristo, reconsidera sua confissão, decidindo honrar Deus com sua sentença de morte.

A morte de Joana é a última conquista de Falconetti – provavelmente a mais forte experiência interpretativa que já vi na tela. Falconetti marcha ao longo de uma multidão de observadores. Está amarrada a um tronco de madeira, tendo seu corpo prestes a ser queimado, mesmo com sua alma heróica sendo imortalizada. Ao preparar-se para morrer, ela olha o povo. Percebe uma mãe amamentando uma criança. Falconetti demonstra a dor de Joana para o futuro das gerações. Seu expressão angelical conta a historia que todos devemos aprender: que deveríamos viver para transcender nossa presença física na Terra.

Joana percebe que sua escolha, a mais dificil que alguém pode fazer, foi acertada. Embora tenha havido alguma evidência que a atriz tenha se queixado ao interpretar Joana, foi a última vez que ela aparece num filme. A experiência fortemente emocional somada ao formalismo e rigor da maneira de filmar de Dreyer (que dirigia e ensaiava cenas em ordem cronológica, repetindo inúmeras tomadas, etc.) devem ter tido uma tremenda carga na frágil, porém poderosa atriz. É uma pena, mas não difícil de entender se Falconetti jogou toda a carga interpretativa de uma vida inteira em uma única atuação.

Somente assisti a este filme uma vez, mas com certeza não hesitaria em revê-lo. Não se pode desconsiderar que a direção e orientação de Dreyer foram fundamentais para o resultado final. Mas é o trabalho iluminado e transcendental de Falconetti que eleva o filme a um patamar superior junto aos grandes filmes do cinema. "O Martírio de Joana D´Arc" é hipnótico, uma obra de arte e a atriz é francamente responsável por isso. É uma experiência tocante, perturbadora e marcante.



"O Martírio de Joana D´Arc" (La Passion de Jeanne D´Arc)
1928 – FRANÇA - 95 min. – Colorido – DRAMA
Direção: CARL TH DREYER. Roteiro: CARL TH DREYER E JOSEPH DELTEIL. Fotografia: RUDOLPH MATÉ. Montagem: CARL TH DREYER E MARGUERITE BEAUGÉ. Música:VICTOR ALIX. Produção: SOCIETE GENERALE DES FILMS.

Elenco: MARIA FALCONETTI (Jeanne d´Arc) EUGENE SILVAIN (Bispo Pierre Cauchon), ANDRÉ BERLY (Jean d'Estivet), MAURICE SCHUTZ (Nicolas Loyseleur), ANTONIN ARTAUD (Jean Massieu), MICHEL SIMON (Jean Lemaître), JEAN d´Yd (Guillaume Evrard), LOUIS RAVET (Jean Beaupère), ARMAND LURVILLE (Juiz), JACQUES AMNA (Juiz), ALEXANDRE MIHALESCO (Juiz) e LÉON LARIVE (Juiz).

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Gertrud