sábado, 30 de agosto de 2008

REBECCA - A MULHER INESQUECÍVEL

“Você acredita que amava Rebecca? Eu a odiava!.”


Uma dama de companhia (Joan Fontaine) apaixona-se em Montecarlo pelo viúvo Maxim de Winter (Laurence Olivier). Após o casamento, o casal se muda para Manderley, a mansão que Maxim possui na costa da Cornuália. O que parece um conto de fadas no inicio, transforma-se num pesadelo para a jovem recém-casada. Vencida pelas circunstancias, deve reconhecer que a lembrança de Rebecca, a primeira esposa de seu marido, paira como uma sombra sobre a vida do casal. A pessoa que mais a deprecia é a ama da casa, a senhora Danvers (Judith Anderson), que segue idolatrando a antiga patroa, apesar de sua morte. Nem mesmo Maxim, que sempre parece distante, parece poder esquecer seu amor pela falecida. Porém, numa noite tormentosa, o mar devolve à praia os restos de um naufrágio e a situação toma um rumo inesperado; a bordo encontra-se o cadáver de Rebecca e Maxim torna-se suspeito. Rebecca faz parte da colaboração entre Hitchcock e o lendário Selznick, que durou oito anos. No início, falou-se que Selznick havia convencido Hitchcock a trocar a Inglaterra pela América oferecendo-lhe um projeto sobre o Titanic. Porém, o projeto não caminhou e o produtor optou por adaptar o best seller de Daphne du Maurier. Essa troca de planos causou um conflito entre ambos, já que possuíam visões diferentes sobre o filme. Ainda que Hitchcock pensasse em utilizar a trama somente como ponto de partida para oferecer uma visão pessoal sobre o tema. Selznick insistia em manter-se absolutamente fiel ao texto para não desagradar os leitores.

Hitchcock, que na Inglaterra não havia tido nenhuma ingerência dos produtores, deu o braço a torcer, mas sem grande entusiasmo. Por esse motivo, apesar do toque inglês que confere aos cenários e aos atores, a diferença entre esse filme e seus trabalhos anteriores fica nítida. O humor característico do diretor aparece diversas ocasiões: de fato, o filme mantém um distanciamento cômico em relação aos acontecimentos. Na realidade, o drama psicológico, implacavelmente sério e lúgubre, para ser um thriller que gira em torno da misteriosa morte de Rebecca.

As tomadas buscam a todo o momento uma aproximação com a protagonista, que também contam a historia em primeira pessoa e que consegue com que o público se identifique plenamente com sua dor. O realizador indica com total clareza que Manderley está se convertendo progressivamente em um cárcere para ela, valendo-se para isso de expressivos jogos de luz e sobras, que dão à mansão uma vida própria e inquietante. A casa passa a ser uma espécie de castelo mal assombrado, que não deve ser entendido como um lugar no qual o publico perceba objetivamente a não ser como a representação de uma alma torturada.

Apesar de quem anos depois, Hitchcock tenha feito alguns comentários pejorativos sobre Rebecca, não se pode negar que o filme possua sua marca registra. Sua forma de contar historias, usando recursos visuais, fica evidente a todo instante, apesar do tom literário dominante. Como se sabe, o estilo do mestre estava fortemente influenciado pelo cinema mudo produzido na Alemanha, algo que em Rebecca fica mais aparente que em seus filmes anteriores.

A fantasmagórica senhora Danvers, a verdadeira senhora de Manderley, inspira tanto terror como o "Nosferatu" (1922), de Murnau. Neste sentido, Rebecca não se afasta tanto das demais obras do diretor como podemos pensar assistindo ao filme. A ama pode ser encarada como uma predecessora das tirânicas figuras maternais que povoam os filmes posteriores de Hitch; também, constitui uma das primeiras mostras de sua mania pelo sinistro – um fato praticamente inédito ate então – que atinge seu ápice com "Psicose" (1960).

Neste longa-metragem também aparecem motivos que com os anos adquiriram um enorme significado para o diretor. É o caso, por exemplo, do caráter fetichista da veneração da senhora Danvers por sua antiga patroa, fazendo com que praticamente pensemos em Rebecca como se estivera viva.

A versão cinematográfica se afasta da trama original em um ponto essencial (algo que não se deve a Hithcock, mas sim ao código Hays): os censores consideravam inadmissível que Maxim de Winter tivesse assassinado sua primeira esposa. Até o mesmo Selznick teve que sucumbir a essas exigências, fazendo com que a morte de Rebecca fosse resultado de um trágico acidente.

Vale aqui uma curiosidade: Rebecca, a obra, seria um plágio da obra "A Sucessora", de Carolina Nabuco. Apesar de tudo, um grande filme, de um grande mestre. Mesmo tendo Laurence Olivier e Joan Fontaine no elenco, quem brilha é a grande Judith Anderson, atriz australiana que nunca chegou a ser uma estrela por estar longe dos padrões de beleza em vigor em Hollywood, apesar de possuir enorme reputação na Broadway. Entretanto, fez parte de um grupo ilustre de artistas, tendo sido agraciada com o título de Dame pelo Império Britânico em 1960. Sua senhora Danvers é sem duvida um dos personagens femininos mais inquietantes da história do cinema. De arrepiar.



"Rebecca - A Mulher Inesquecível" (Rebecca)
1940 – EUA - 130 min. – Preto e Branco – SUSPENSE
Direção: ALFRED HITCHCOCK. Roteiro: ROBERT E. SHERWOOD E JOAN HARRISON, baseado na novela homônima de DAPHNE DU MAURIER. Fotografia: GEORGE BARNES. Montagem: HAL C. KERN E W. DONN HAYES. Música: FRANZ WAXMAN. Produção: DAVID O. SELZNICK para SELZNICK INTERNATIONAL PICTURES.

Elenco: JOAN FONTAINE (Senhora de Winter) LAURENCE OLIVIER (Maxim de Winter), GEORGE SANDERS (Jack Favell), JUDITH ANDERSON (Senhora Danvers), NIGEL BRUCE (Major Giles Lacey), GLADYS COOPER (Beatrice Lacey), REGINALD DENNY (Frank Crawley), C. AUBREY SMITH (Coronel Julyan), MELVILLE COOPER (Investigador) e FLORENCE BATES (Senhora Van Hooper).

Prêmios:
Oscar de Melhor Filme(David O. Selznik) e Melhor Fotografia (George Barnes)/1940

Trailer Original:



Do mesmo diretor:



Um Corpo Que Cai

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

CAPITÃO BLOOD

“Peter Blood...culpado ou inocente?.”


Em 1685, o rei inglês James II destila sua tirania sobre os pilares do absolutismo e da igreja; os rebeldes vão para a forca ou, não menos pior, para as colônias caribenhas na condição de escravos. Aqueles que sobrevivem à viagem até Port Royal, na Jamaica, acabam trabalhando em condições miseráveis nas plantações de cana-de-açúcar. Um dos muitos condenados (e inocente) é o honrado doutor Peter Blood (Errol Flynn). O médico conhece as agruras da guerra, uma vez que havia lutado durante certo tempo em diferentes grupos até ter trocado a espada pelo receituário. Porém, o idealismo de Blood será a sua perdição: ele acaba sendo enviado para as plantações para curar um doente ferido. Graças à sua habilidade, logo o liberam do trabalho duro do dia-a-dia; contudo, somente após ter aliviado as dores de gota do governador, lorde Willoughby (Henry Stephenson). Também, Arabella (Olívia de Havilland), a encantadora sobrinha do coronel Bishop (Lionel Atwill), um militar ávido de poder, estende sua mão protetora sobre o valente irlandês.

Não obstante, viver como prisioneiro em uma jaula de ouro não satisfaz alguém como Peter Blood. O momento de fugir chega quando uma fragata espanhola ataca a pequena cidade portuária: em meio ao caos geral, os prisioneiros (capitaneados por Blood) capturam o barco e se dispõe a buscar a liberdade na imensidão dos oceanos. “Nós, os perseguidos, convertemo-nos nos perseguidores”. A bandeira com os sabres cruzados debaixo de uma caveira será o seu emblema futuro e o último que será visto por muitos marinheiros espanhóis e franceses.

O filme foca a história em um fora-da-lei honrado, que não se transforma em pirata por ambição ou instintos sanguinários, mas sim compelido pelas circunstâncias subumanas. Até que um regime justo o reabilite, Blood seguirá seu próprio código de conduta, que infringe as leis de forma somente superficial. Combatendo os autênticos ladrões (o séquito corrupto de um governante e os espanhóis), Blood faz o bem e abre o caminho para uma ordem melhor. Assim, então, a aventura às exóticas ilhas é um episódio passageiro.

Quando Arabella cai nas mãos do capitão pirata francês, Peter pode devolver os favores à jovem, libertando-a e matando o pirata, um verdadeiro fora-da-lei, que não se compromete com valores mais elevados.

Capitão Blood é um entretenimento refinado, do melhor estilo. Depois de uma exposição frenética, o roteiro de Casey Robinson precipita-se dando voltas cada vez maiores ate alcançar o ponto culminante em uma definitiva batalha naval. Anton Grot desenhou cenários estilizados que, com pitadas do expressionismo alemão, retratam a decadente ordem jurídica da época.

A Warner Bros. conseguiu dar uma grande sacada na musica do filme: contratou Erich Wolfgang Reinhard, um compositor de fama internacional que havia acompanhado Max Reinhard a Hollywood. Korngold, que quis manter sua independência artística em relação aos estúdios até o final de sua carreira ( e a partir de 1937 jamais aceitou mais de duas atividades por ano), compôs uma bela e envolvente partitura - sua orquestração sofisticada e a sintonia fina entre a música e o filme, foi um marco nas trilhas sonoras do cinema. Clássico com diversão garantida.



"Capitão Blood" (Captain Blood)
1935 – EUA - 119 min. – Preto e Branco – AVENTURA
Direção: MICHAEL CURTIZ. Roteiro: CASEY ROBINSON, baseado na novela homônima de RAFAEL SABATINI. Fotografia: ERNEST HALLER E HAL MOHR. Montagem: GEORGE AMY. Música: ERICH WOLFGANG KORNGOLD E FRANZ LISZT. Produção: HAL B. WALLIS para FRST NATIONAL PICTURES INC., COSMOPOLITAN PRODUCTIONS E WARNER BROS.

Elenco: ERROL FLYNN (Peter Blood) OLIVIA DE HAVILLAND (Arabella Bishop), LIONEL ATWILL (Coronel Bishop), BASIL RATHBONE (Capitão Levasseur), ROSS ALEXANDER (Jeremy Pitt), HENRY STEVENSON (Lorde Willoughby), ROBERT BARRAT (John Wolverstone), HOBART CANAVAUGH (Doutor Bronson), DONALD MEEK (Doutor Wacker), FRANCES GUY KIBBEE (Heny Hagthorpe) e VERNON STEELE (Rei James II).

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Almas em Suplício

sábado, 23 de agosto de 2008

MONSTROS

“Caso você se meta com um, mete-se com todos.”


“Monstros” retrata a historia de um grupo de homens e mulheres com fisicamente deficientes, que ganham a vida tristemente exibindo-se para divertimento do público em um circo mambembe. Quem consegue assistir ao filme até o final jamais se esquecerá da cena final, que desperta uma surpresa terrível. A narrativa mostra o amor que o anão Hans (Harry Earles) nutre pela trapezista Cleópatra (Olga Baclanova), para desgosto da anã, Frieda (Daisy Earles), que é apaixonada por ele. Quando Frieda se depara com sua rival, “a rainha do ar”, comete um erro fatal: revela a Cleópatra (tão bela quanto má), que Hans é o herdeiro de uma enorme fortuna. Junto com seu amante, Hércules (Henry Victor), a trapezista traça um plano diabólico – casar-se com Hans para poder envenená-lo depois e, assim, apoderar-se de sua fortuna. Entretanto, suas atitudes despertam as suspeitas dos demais “monstros” do circo, que decidem unir-se para derrotar os “normais”. O objetivo do diretor Tod Browning não é no primeiro momento denunciar o uso de pessoas com deficiências físicas em eventos publicos. As gêmeas siamesas, a hermafrodita e as “pinheads” (tipos com as cabeças extremamente pequenas) servem, sobretudo, para desconcertar e entreter o público – como a cena em que um “monstro” sem braços e pernas demonstra sua habilidade acendendo um cigarro com boca, usando um palito de fósforo.

Apesar da previsibilidade da trama, Browning mantém a tensão lançando mão de um hábil recurso: no inicio do filme, o apresentador anuncia a “rainha do ar” como a monstruosidade viva mais horrível de todos os tempos. Não obstante, o espectador fica entretido até o final. Ao mesmo tempo, o filme converte-se explicitamente em uma espécie de desfile de curiosidades.

“Monstros” sugere mais interpretações do que aparenta à primeira vista. Para começar, a visão dessas pessoas que Browing obriga o espectador a contemplar durante mais de uma hora fica suportável graças a alguns elementos humorísticos. É o caso, por exemplo, da festa de compromisso de um dos empregados do circo, que gagueja exageradamente e não consegue fazer-se entender com sua futura cunhada, uma das irmãs siamesas (Daisy e Violet Hilton) – circunstância que provoca um sem número de situações divertidas.

Quando a hermafrodita lança um sorriso vacilante para o palhaço Phroso (Wallace Ford), Hercules diz a ele: “Creio que ela gosta de você..mas ele não”. Também, quando Hans sai do carro de sua namorada, alguém comenta que provavelmente ela está de dieta. Ainda com Phroso, um dos poucos que têm uma relação respeitosa com seus colegas deficientes, Browning confessa que é perfeitamente comum que os supostos anormais chamarem a atenção da gente (algo não necessariamente negativo) e, portanto, é possível uma relação de respeito com os “monstros”.

Isso contrasta com a malícia com que são tratados os demais membros do circo, a origem da qual é o reconhecimento de suas próprias deficiências. Deste modo, Cleópatra se enfurece quando a estranha comitiva nupcial a qualifica de “uma de nós”, pois nesse momento ela se dá conta de que, embora não sofra de nenhuma capacidade física, em seu intimo habita um ser monstruoso.

Neste ambiente hostil, os párias constituem um grupo compacto que rege o humanismo e a solidariedade, que contrasta positivamente com a presunção e a inveja do mundo dos “normais”. Suas próprias deficiências os impedem de sentir-se superiores ao resto, o que os converte em melhores pessoas. Esta é a moral da historia de um filme verdadeiramente fora do normal.



"Monstros" (Freaks)
1932 – EUA - 64 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: TED BROWNING. Roteiro: WILLIS GOLDBECK, LEON GORDON, EDGAR ALLAN WOOLF e AL BOASBERG, baseado na história Spurs de TOD ROBBINS. Fotografia: MERRITT B. GERSTAD. Montagem: BASIL WRANGELL. Produção: TOD BROWNING, para a MGM.

Elenco: OLGA BACLANOVA (Cleopatra) WALLACE FORD(Phroso), LEILA HYAMS (Venus), HARRY EARLES (Hans), DAISY EARLES (Frieda), ROSCOE ATES (Roscoe), HENRY VICTOR (Hercules), DAISY HILTON (gêmea siamesa), VIOLET HILTON (gêmea siamesa), FRANCES O´CONNOR (garota sem braços), JOSEPHINE JOSEPH (hermafrodita) e ROSE DIONE (Madame Tetrallini).

Trailer Original:


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Dracula

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES

“Não posso viver sem minha vida. Não posso morrer sem minha alma.”


O projeto de “O Morro dos Ventos Uivantes” começou polêmico muito antes de ser filmado. Laurence Olivier achou a escolha de Merle Oberon como seu par romântico um absurdo. Ele queria que a escolha recaísse sobre Vivien Leigh (sua mulher à época). David Niven não tinha nenhum interesse no filme. O produtor, Samuel Goldwyn exigiu que o filme tivesse um final feliz – ao contrário do que pretendia seu diretor, William Wyler. Com tudo isso, no entanto, tudo acabou se ajeitando: Viven Leigh foi escalada para “...E o Vento Levou” (1939); Olivier e Niven viraram estrelas e esta versão da obra de Emily Brontë é considerada como a definitiva – apesar das diversas versões posteriores. E também um dos filmes românticos mais importantes e dramáticos da histórica do cinema. O senhor Earnshaw (Cecil Kellaway), acolhe um tipo mulato (Rex Downing), a quem dará o nome de Heathcliff. Ao passo que sua filha, Cathy (Sarita Wooton), possui uma especial inclinação pelo rapaz, seu irmão, Hindley, o odeia. Quando Earnshaw morre e Hindley (Hugh Williams) toma seu lugar, relega o rapaz a serviçal. O amor secreto que existe entre Cathy (Merle Oberon) e Heathcliff (Laurence Olivier) passará por provações, uma vez que o rapaz não tem como atender todos os anseios sociais da jovem. As humilhações e os mal entendidos culminam na tragédia de Heathcliff e no casamento de Cathy com um vizinho rico, Edgar Linton (David Niven). Três anos depois Heathcliff volta retorna como um fidalgo e decidido a vingar-se.

O elenco, cheio de atores britânicos e pouco conhecidos (apesar de Olivier e Oberon), foi uma sacada inteligente. Para o aristocrático Olivier, o papel de serviçal foi marcante, pois encarnou Heathcliff com raiva e rancor. Oberon também está muito bem, diante da árdua tarefa de tornar crível tanto a paixão de Cathy por alguém de outra classe social, como seu apego superficial pela ostentação em que vive a família de seu marido. Niven não compromete no papel de Edgar, que não tem nenhuma chance de conquistar efetivamente Cathy.

O trabalho de William Wyler é excepcional, pois mantém inalterado um ingrediente que havia convertido a história em um escâncalo: a ambivalência moral dos personagens. No ano de 1939 foram produzidos inúmeros grandes filmes, tais como “...E o Vento Levou”, “No Tempo das Diligências”, “O Mágico de Oz”, dentre outros. Provavelmente, porisso, “O Morro dos Ventos Uivantes” não tenha dado a seus protagonistas e nem a seu diretor um Oscar.

Entretanto, o trabalho primoroso de fotografia de Greg Tolland foi premiado. Dois anos antes de Cidadão Kane (1941), já podemos perceber que a mansão dos Linton possui imagens semelhantes às de Xanadu, o luxuoso recanto de Kane. Tolland retrata com a mesma técnica as paisagens de ambos os filmes. Pérola do cinema.



"O Morro dos Ventos Uivantes" (Wuthering Heights)
1939 – EUA - 103 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: WILLIAM WYLER. Roteiro: CHARLES MACARTHUR E BEN HECHT, baseado no romace homônimo de EMILE BRONTË. Fotografia: GREGG TOLLAND. Montagem: DANIEL MANDELL. Música: ALFRED NEWMAN. Produção: SAMUEL GOLDWYN, para a SAMUEL GOLDWYN COMPANY.

Elenco: MERLE OBERON (Cathy) LAURENCE OLIVIER (Heathcliff), DAVID NIVEN (Edgar Linton), GERALDINE FITZGERALD (Isabella Linton), FLORA ROBSON (Ellen), HUGH WILLIAMS (Hindley), DONALD CRISP (Doutor Kenneth), LEO G. CARROLL (Joseph), CECIL KELLAWAY (Sr. Earnshaw), SARITA WOOTON (Cathy criança), REX DOWNING (Heathcliff criança) e DOUGLAS SCOTT (Hindley criança).

Prêmios:
Oscar de Melhor Fotografia (Gregg Tolland)/1939

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Ben Hur

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

TARDE DEMAIS PARA ESQUECER

“O Empire State Building é a coisa mais próxima ao céu nesta cidade.”


Melodrama romântico sobre duas pessoas que se conhecem a bordo de um cruzeiro marítimo pela Europa de volta à Nova Iorque. Ele é Nickie Ferrante (Cary Grant), um playboy, noivo de uma milionária. Ela, Terry McKay (Deborah Kerr), uma cantora, também comprometida. Apaixonam-se e prometem encontrar-se no topo do mítico Empire State Building em seis meses (caso ainda estejam apaixonados), apesar de seus respectivos parceiros. Daí, acontece algo inesperado. Passado esse período, sem haverem mantido contato, Terry segue ao encontro de Nickie. É atropelada por um automóvel e, por alguma razão inexplicável, não o avisa do ocorrido, deixando-o perplexo à sua espera. Ele naturalmente acha que foi abandonado e, após outros tantos meses, descobre seu paradeiro. Vai até ela e percebe seu problema. Parece ridículo Terry não ter dito nada sobre o acontecido – e isso é o que pode parecer para quem assiste ao filme. De qualquer forma, eles renovam sua mútua paixão e o filme vai assim até o final.

O charme desta história convencional está no modo com que duas pessoas aparentemente blasé – hoje poderíamos chamá-las de descoladas - lidam com a experiência de descobrirem estar de fato envolvidas emocionalmente. Uma situação ingênua, mas mostrada de forma surpreendente. Os diálogos são cheios de humor e conduzidos com muita desenvoltura pelos protagonistas. Também, a cena em que ambos visitam a avó de Nickie em uma vila na Riviera Francesa é repetida mais de uma vez, de forma interessante – o navio, providencialmente, faz uma escala na região. Cathleen Nesbitt também está bem no papel da avó de Nickie.

Entretanto, algo não vai bem com o filme, quando o casal termina o cruzeiro e abandona aquele clima de ilusão e romantismo, caindo no mundo real. O pacto matrimonial parece meio infantil para ser feito por um casal adulto. A falha de Terry em avisar seu noivo do acidente parece também meio absurda. O fato de que Nickie não ter tido noticias também fica difícil de acreditar. E a morosidade com que ele encara o óbvio quando a visita fica muito evidente.

Lembremos que Leo McCarey havia dirigido anteriormente “O Bom Pastor” (1944) – um fato que pode explicar a presença no filme de uma música envolvente para a heroína deficiente e de algumas crianças. A música-tema é extremamente bonita e já entrou para a história do cinema como uma das mais lembradas – “An Affair to Remember”, originalmente cantada por Vic Damone.

Filme clássico e extremamente reprisado na televisão é um remake de 1939, dirigido pelo mesmo McCarey, tendo Charles Boyer e Irenne Dunne nos papéis principais. Não assisti a essa versão. Mas tenho certeza que a química entre Grant e Kerr é insuperável. Quem não viu, veja. Quem viu, reveja.



"Tarde Demais Para Esquecer" (An Affair to Remember)
1957 – EUA - 119 min. – Colorido – DRAMA
Direção: LEO McCAREY. Roteiro: DELMER DAVES E LEO McCAREY. Fotografia: MILTON S. KRASNER. Montagem: JAMES B. CLARK. Música: HUGO FRIEDHOFER. Produção: JERRY WALD, distribuído pela Twentieth Century Fox.

Elenco: CARY GRANT (Nick Ferrante) DEBORAH KERR (Terry McKay), RICHARD DENNING (Kenneth), NEVA PATTERSON (Lois), CATHLEEN NESBITT (Avó de Nickie), ROBERT Q. LEWIS (Anunciante), CHARLES WATTS (Ned Hathaway) e FORTUNIO BONANOVA(Courbet).

Trailer Original:


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Os Sinos de Santa Maria

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

CARAVAGGIO

“O caráter do homem está em seu rosto.”


A partir dos quadros de Michelangelo Amerighi da Caravaggio, Derek Jarman, um diretor e roteirista britânico, vislumbrou a difícil vida, cheia de honra e escândalos, do pintor renascentista que morreu em 1610 por volta dos 30 anos.O diretor, também um pintor, mostra a história numa sucessão de vidas instáveis - inicia com Caravaggio no seu leito de morte num quarto simples, tendo por companhia um serviçal mudo, e pula, geralmente de forma perplexa, de volta à infância do artista, sua carreira e, principalmente, seu relacionamento com Ranuccio e uma prostituta chamada Lena, a qual ambos amam, embora não tanto. Todas as cenas são internas – o filme foi feito em um estúdio inglês com o orçamento de US$ 475.000. A câmera de Gabriel Beristain capta o sentido da obra de Caravaggio, a iluminação ultradramática que surge do nada, transformando os tipos realistas que Caravaggio retratou em personagens com pouca sintonia com o mundo real.

Esse clima de realismo fantástico está implícito nos diálogos, que transitam do puramente coloquial ao pseudopoético – “Gotas salgadas de meus dedos deixando um rastro de lágrimas nas areias incandescentes”. Para piorar as coisas, as personagens surgem de repente na Itália renascentista e no presente, como se fossem as paginas de uma revista, em que as cenas são trocadas à medida que as músicas vão sendo adequadas. Caravaggio e Ranuccio, sobre o qual pouco se conhece a não ser que o artista na verdade matou um homem com tal nome numa luta a faca, andam de motocicleta e consertam caminhões.. Se eles vivessem nos dias de hoje, o diretor diria que eles provavelmente estariam se prostituindo.

Tudo isso produz momentos confusos; o filme é belo de ser assistido e, talvez, sua falta de conjunto é uma forma de demostrar o que aparentemente o diretor entende como sendo arroubos da imaginação de Caravaggio. Infelizmente, esse projeto pretensamente arrojado é retratado como um conto banal – talvez sensacionalista – de dois amantes num ambiente predominantemente homossexual e extremamente violento, que se dão mal com uma mulher. Em uma cena super elaborada e longa, moedas de ouro passam da boca de Caravaggio para a de Ranuccio e, na seqüência, para a de Lena, mostrando assim uma insana ligação sexual; e em outra cena, os dois homens untam-se com sangue como sinal de sua profunda e fatal paixão. Essas seduções estão mais para uma opereta sem música.

Como Caravaggio, Nigel Terry é obrigado a gastar muito de seu tempo (quando não está em seu leito de morte) encarando modelos que ele está prestes a transformar em obra de arte. “O caráter do homem está em seu rosto, ele fala”. Não há nada de errado com o rosto de Nigel Terry ou com o rosto de Sean Bean, que interpreta o rude Ranuccio, mas nenhum foi dotado de caráter por Jarman. Michael Gough está expressivo no papel de patrono de Caravaggio, Cardeal Del Monte.

Caravaggio é um experimento excessivo, mas com suficientes flashes de ingenuidade e brilho visual que vale a pena ser visto.



"Caravaggio" (Caravaggio)
1986 – INGLATERRRA - 93 min. – Colorido – DRAMA
Direção: DEREK JARMAN. Roteiro: DEREK JARMAN. Fotografia: GABRIEL BERISTAIN. Montagem: GEORGE AKERS. Música: SIMON FISHER TURNER. Produção: SARAH RADCLYFFE, distribuído pela British Film Institute.

Elenco: NIGEL TERRY (Caravaggio) SEAN BEAN (Ranuccio), GARRY COOPER (Davide), SPENCER LEIGH (Jerusaleme), TILDA SWINTON (Lena), MICHAEL GOUCH (Cardeal Del Monte), DAWN ARCHIBALD (Pipo) e ROBBIE COLTRANE(Scipione Borghese).

Trailer Original:


Do mesmo diretor:



Edward II