domingo, 21 de dezembro de 2008

CREPÚSCULO

“Há quanto tempo você tem dezessete anos?.”


Amor à primeira vista e não à primeira mordida, "Crepúsculo" - baseado numa série de livros, “The Twilight Saga”, da autora Stephenie Meyer – é um romance juvenil, cheio de sinais, sussurros, instintos incontroláveis e olhares tímidos (e furiosos) entre dois adolescentes que dificilmente deveriam apaixonar-se um pelo outro. O par central é formado por Bella (de Isabella) Swan, interpretada com intensidade hesitante por Kristen Stewart, uma bonita e tímida adolescente do Arizona, filha de pais separados, que se muda para viver com o pai no estado de Washington. Essa mudança traz todas as dificuldades comumente já vistas em dramas juvenis do cinema e da TV norte-americana – relacionamento, conflito cultural, etc. Além disso, surge outra complicação, desta vez incomum: Bella apaixona-se por Edward Cullen (Robert Pattinson), um rapaz solitário, de humor e tez alterada, filho adotivo de vampiros.

Como nas histórias do gênero, “Crepúsculo” trata do desejo reprimido e da fome incontrolável por sangue – principalmente aquela que provém das mordidas na jugular. Entretanto, aquela sedução inicial que transforma inocência – como no caso da personagem virginal Lucy, de “Drácula” – em volúpia e luxúria, não é reproduzida no filme. Ao contrário, a contribuição da escritora – e talvez isso seja um dos pontos que possa agradar a maioria do público - é transformar o aspecto sanguinolento em algo menos ameaçador e mais moralista.

Aqui os vampiros não são monstros sedutores e perigosos, mas seres que para sobreviverem numa sociedade moderna têm que controlar seus instintos e, como parte dessa evolução, aprender a serem vegetarianos. Edward sempre cai em tentação, mas não morde. Leva uma vida monótona e quieta entre os seus (prefere o convívio em família para não se expor), na cidade nublada e chuvosa de Forks. Seu pai adotivo, Carlisle (Peter Facinelli), é um médico que, apesar do visual fantasmagórico, convive mais com os humanos. O resto da família, entretanto, incluindo sua mãe monocromática, irmãos e irmãs, joga baseball sob chuvas e trovões e ocasionalmente caçam animais.

Quando Edward encontra Bella pela primeira vez, olha-a de forma ameaçadora, com punhos cerrados. Ela, iludida, vai descobrindo a real natureza de Edward, que acaba se descrevendo como um monstro, com todos os poderes de um super-herói – corre em alta-velocidade, pula, lê pensamentos... Apesar disso tudo, nada se compara a seu maior dom: consegue manter os caninos sob controle.

Pattinson não compromete, mas poderia estar melhor. Ele é uma versão vampiresca de Brandon Walsh (bom moço) e Dylan (mau moço) de "Barrados no Baile". A diretora, talvez embalada por uma continuação da saga, naõ teve o pulso tão firme, talvez prejudicada por ter que evidenciar outras tramas paralelas ainda a serem desenvolvidas – é o caso de um clã de vampiros sanguinários que ameaçam a família e que aparecem brevemente no filme. De qualquer forma, Catherine Hardwicke mostra sensibilidade para retratar o universo adolescente e sua intimidade.

Embora Edward e Bella alcancem altos vôos em “Crepúsculo”, principalmente nas belas passagens visuais quando escalam e pulam de árvore em árvore, o aspecto moralista os trazem para uma menor altitude. Se a autora realizou uma história de vampiros “segura” para adolescentes e seus pais – a única ameaça real surge do clã de vampiros inimigos – é somente porque na verdade há uma coisa pior do que a morte, especialmente para os adolescentes: o sexo. Ao deparar-se com Bella deitada na cama (louca para ser mordida), Edward recua com um puritanismo vitoriano. Assim como a diretora, o pobre garoto perdeu os caninos e quase que inteiramente o "sangue". Ele perdeu tanto sua vitalidade, que poderia até estar morto. Eita, e ele não está?



Crepúsculo (Twilight)
2008 – EUA - 122 min. – Colorido – DRAMA
Direção: CATHERINE HARDWICKE. Roteiro: MELISSA ROSENBERG, baseado em romance de STEPHEINE MEYER. Fotografia: ELLIOT DAVIS. Montagem: NANCY RICHARDSON. Música: CARTER BURWELL. Produção: GREG MOORADIAN, MARK MORGAN E WYCK GODFREY, distribuído pela SUMMIT ENTERTAINMENT.

Elenco: KRISTEN STEWART( Bella Swan), ROBERT PATTINSON (Edward Cullen), BILLY BURKE (Charlie Swan), ASHLEY GREENE (Alice Cullen), NIKKI REED (Rosalie Cullen), JACKSON RATHBONE (Jasper Cullen), KELLAN LUTZ (Emmett Cullen), PETER FACINELLI (Dr. Carlisle Cullen), CAM GIGANGET (James/Nomad Vampire), TAYLOR LAUTNER (Jacob) , ANNA KENDRICK (Jessica) , MICHAEL WELCH (Mike Newton) e JUSTIN CHON (Eric).



Cenas do filme:


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Os Reis de Dogtown

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A MISSÃO

“Deus é Amor.”


Nos idos do século XVII, os jesuítas estabelecidos entre a Argentina e Paraguai depararam-se numa terrível batalha entre o Papa e dois dos mais poderosos países europeus daquela época – Portugal e Espanha. Por aproximadamente 200 anos, sob a proteção do Rei de Espanha, os jesuítas catequizaram índios e estabeleceram as missões nas quais os índios convertidos não somente praticavam a nova religião, mas também aprenderam a cuidar do cultivo de alimentos, artesanato, manufatura de instrumentos musicais e outras atividades comercialmente possíveis. As missões não eram bem vistas aos novos interesses dos portugueses e espanhóis, principalmente porque protegiam os índios contra os colonizadores portugueses que os escravizavam. Naquela época, a escravidão havia sido oficialmente sancionada por Portugal e oficiosamente tolerada na Espanha. Quando a Espanha e Portugal concordaram em redimensionar as fronteiras entre suas terras na América do Sul, as missões ficaram sob o jugo português e os índios que se recusavam a emigrarem eram vendidos como escravos.

Antes da aprovação do tratado, o Papa enviou um encarregado para avaliar o belo trabalho desenvolvido nas missões das colônias – o resultado foi de aprovação. Na verdade, se o tratado fosse desaprovado, tanto Espanha como Portugal dariam cabo dos jesuítas em seu próprio lar. Essa é o pano de fundo da historia de “A Missão”, dirigido por Roland Joffe, escrito por Robert Bolt e filmado inteiramente na América do Sul, em locações entre a Colômbia e Argentina.

Acostumado a grandes temas, como em “Lawrence da Arábia” e Dr. Jivago, em “A Missão” tem-se a sensação de que o roteiro não fica à altura do tema. O esplendor visual do filme em certos momentos não é dramatizado como deveria e a locução em off poderia ter sido mais adequada se fosse remanejada para as falas de atores vigorosos como os protagonistas Robert De Niro e Jeremy Irons.

O foco de “A Missão” é a história da crise de consciência enfrentada pelos dois religiosos quando, finalmente, o enviado do Papa decide contra os jesuítas. Devem lançar mão das armas contra a coroa para protegerem os índios que confiaram neles e para os quais trouxeram o amor cristão?

“A Missão” retrata nitidamente os paralelismos que podem ser traçados entre as atitudes da igreja no século XVIII e nos dias de hoje, quando muitos aspectos relacionados à postura, à conduta e até princípios da instituição são colocados em dúvida. Nesse sentido, o filme foi muito feliz e deve ser visto pelos que empolgam com esse tipo de discussão.

Padre Gabriel (Jeremy Irons), o chefe da missão em San Carlos, viveu na crença de que Deus é Amor e que, em ao contrário, realizar um ato de violência é renegar esse sentimento. Mendoza (Robert De Niro), um mercenário e mercador de escravos que se junta aos jesuítas tardiamente, vive em conflito interno por ter assassinato seu irmão por causa de uma mulher; em função disso, tenta redimir-se, defendendo os índios.

Embora bem interpretado, Jeremy Irons e Robert De Niro não empolgam – seus personagens não possuem muita profundidade dramática. Se de um lado, o primeiro apresenta-se com ar santificado e sotaque pesadamente britânico, Robert De Niro, que havia se saído bem como um padre em “Confissões Verdadeiras” (81), aqui destoa. Seu sotaque nova iorquino poderia ter sido melhor disfarçado.

O personagem mais interessante e complexo é Altamirano, o enviado papal, a única figura do filme a compreender totalmente as implicações morais das escolhas a serem feitas. Altamirano é interpretado pelo ator irlandês Ray McAnally. Apesar disso, o diretor o retrata como uma figura meio apática e estática, ressaltando sua opulência através de closes em suas mãos e no anel religioso que usa.

Aidan Quinn faz uma breve aparição no inicio do filme, como o irmão de De Niro. Daniel Berrigan, um jesuíta e dramaturgo, bem como um ativista antibélico nos anos 70tem participação como membro das missões. Também serviu como consultor técnico do filme.

Os índios, que são de fato os atores principais, são condescendentes, risonhos, confiantes e indiferentes aos aspectos do Éden – inocentes, com belas vozes, demonstrando suas cantorias cheios de ritmo. Com inúmeras dificuldades de execução, por conta de chuvas e problemas de adaptação nas matas em que foi rodado, o filme teve seu grande esforço reconhecido quando venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Maravilhosamente fotografado em tons pastéis esverdeados, Chris Menges, ganhador do Oscar de Melhor Fotografia, premia-nos com a melhor cena do filme. Logo no início um missionário crucificado é atirado ao rio e cai nas cataratas do Iguaçu, já prenunciando qual o destino das missões. Tudo isso ao som da trilha sonora do mestre Ennio Morricone.



A Missão (The Mission)
1986 – INGLATERRA - 126 min. – Colorido – DRAMA
Direção: ROLAND JOFFE. Roteiro: ROBERT BOLT. Fotografia: CHRIS MENGES. Montagem: JIM CLARK. Música: ENNIO MORRICONE. Produção: FERNANDO GHIA E DAVID PUTTNAM, distribuído pela WARNER BROS.

Elenco: ROBERT DE NIRO(Rodrigo Mendoza), JEREMY IRONS (Gabriel), RAY MCNANALLY (Altamirano), AIDAN QUINN (Felipe Mendoza), CHERIE LUNGHI (Carlotta), RONALD PICKUP (Hontar), CHUCK LOW (Cabeza), LIAM NEESON (Fielding), DANIEL BERRIGAN (Sebastian) e TONY LAWN (Padre provincial).

Prêmios:
Oscar de Melhor Fotografia (Chris Menges)/1987.
Palma de Ouro do Festival de Cannes/1986.



Cenas do filme:


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Os Gritos do Silêncio

domingo, 14 de dezembro de 2008

FEITIÇO DA LUA

“Porque os homens perseguem as mulheres?”


Em "Feitiço da Lua", Ronny Cammareri (Nicholas Cage) ergue Loretta Castorini (Cher) com tamanha empolgação que quase a arremessa por cima do ombro. “Aonde você está me levando?”, grita ela. “Para a cama!”, responde ele. Não para dormir, mas para cama. Há um leve toque de seriedade nessa expressão, o bastante para Loretta deixar a cabeça cair em total entrega. Esse sublime abandono dos protagonistas faz parte da magia da comédia romântica de Norman Jewison, de 1987, mas também depende da verdade explícita em palavras simples. Quando Rose Castorini (Olympia Dukakis), mãe de Loretta, descobre que o marido Cosmo (Vincent Gardênia) a engana, pergunta a Johnny Cammareri (Danny Aiello), noivo da filha, por que os homens agem assim. Ele responde que talvez temam a morte. Tarde da noite, quando Cosmo entra sorrateiro, ela o surpreende na sala: "Eu só queria que você soubesse que independentemente do que faça, ainda vai morrer! Como todo mundo!”. Ele a olha com a expressão de um homem há muito tempo casado com aquela mulher e retruca: "Obrigado, Rose”.

Feitiço da lua é uma comédia romântica baseada em abandono e verdade emocional. Não satisfeita com uma história de amor, inclui outras cinco ou seis, dependendo do jeito que se conta, e admitindo-se que alguns personagens se envolvem em mais de uma. O filme se passa num Brooklyn que jamais existiu, onde a lua cheia faz a noite parecer dia e enlouquece as pessoas de amore, quando a seus olhos parece uma grande pizza.

A trilha sonora divide-se igualmente entre La Boheme e Dean Martin, e os sentimentos de Ronny Cammareri, quando conta a Loretta por que odeia o irmão Johnny, se assemelham aos de um herói de ópera, maiores e mais dramáticos que a vida. Ele narra que certo dia Johnny o distraiu na padaria e com isso Ronny prendeu a mão no cortador de pão. Como conseqüência, a namorada o largou. Segurando no ar a mão de madeira e apontando-a dramático, grita: “Quero minha mão! Quero minha noiva! Johnny tem mão! Johnny tem noiva!”.

Na verdade, Loretta, a futura esposa de Johnny, fora à padaria tentar persuadir Ronny a comparecer ao casamento. Mas depois que ele a leva para a cama tudo muda, e Johnny (Danny Aiello), que esta na Sicília junto ao leito de morte da mãe, não sabe o choque que o espera quando regressar ao Brooklyn.

Em uma carreira com personagens tolos, Nicolas Cage transformou seu Ronny Cammareri no personagem de sua carreira. Quem mais conseguiria mostrar tamanho desespero na fala em que declara seu amor?: "O amor não melhora as coisas. Arruína tudo. Parte nosso coração. Faz uma desordem geral. Nós não estamos aqui para fazer tudo perfeito. Os flocos de neve são perfeitos. As estrelas são perfeitas. Nós não. Nós não! Estamos aqui para nos destruir, para partir nossos corações, amar as pessoas erradas e morrer”. E depois que ela ensaia movimentos de resistência, ele conclui: “Agora quero que você suba comigo e vá para a minha cama!”. O desempenho era digno de um Oscar.

Cher conquistou o prêmio de Melhor Atriz da Academia como Loretta. Houve ainda um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Olympia Dukakis, como Rose, e de melhor roteiro para John Patrick Shanley, além de indicações para melhor filme, melhor diretor e para Vincent Gardenia por sua interpretação de Cosmo. Jewison reuniu um grande elenco, impecavelmente escolhido a partir das personalidades dos atores que recebem igualmente cenas e falas criativas, de modo que, no fim, um grande clímax emocional envolve tantas pessoas que precisa ser realizado em volta da mesa da cozinha.

Ronny e Loretta formam um casal de trinta e poucos anos que representa, neste filme, a versão do amor jovem; mas, também, há o amor de dois casais mais velhos. A tia de Loretta, de nome Rita (Julie Bovasso), e seu marido, Raymond (Louis Guss), têm um momento de ternura comovente quando ele se põe diante da janela para admirar a lua cheia e a esposa lhe diz: "Você, debaixo dessa luz e com essa expressão no rosto, esta parecendo um rapaz de 25 anos”. E apesar de tudo, Rose e Cosmo também se amam - apesar de Mona (Anita Gillette), a namorada secreta a quem Cosmo relata, orgulhoso, sua conversa fiada de encanador para os clientes: “É cano de cobre, o único que eu uso. Custa dinheiro. Custa dinheiro porque poupa dinheiro”. Ela escuta, encantada: “E depois, o que dizem?”, pergunta.

A partir do roteiro original e inspirado de Shanley, Jewison demonstra total maestria ao narrar histórias paralelas de seu grande elenco. Uma das melhores seqüências ocorre na noite em que Ronny e Loretta vão à ópera - Cosmo e Mona também estão lá. Naquela noite, Rose janta sozinha no restaurante italiano da esquina e vê uma jovem arremessar um copo de água no rosto de um homem em de meia-idade e depois ir embora. Rose convida o homem para jantar a sua mesa. Ele é um professor chamado Perry, interpretado por John Mahoney, num desempenho perfeito de um homem que sabe que é inútil caçar suas jovens alunas, mas não sabe o que mais pode fazer. Conversam sobre a vida e ele leva Rose para casa, ao luar; há uma possibilidade clara de florescer amor entre eles, se não neste universo, talvez em outro. Mas ela diz: “Não posso ir para casa com você, porque sei quem eu sou”. E sabemos o que ela quer dizer: que tem lar, marido, família, identidade e não e carente como ele.

Grande parte do sucesso de Jewison advém do controle do tom. Em nenhum momento o filme é vulgar, mesmo quando ameaça sê-lo, mesmo quando realça o exibicionismo do personagem de Cage. Um suave toque agridoce e uma surpreendente quantidade de diálogos sobre a morte imprimem uma característica pungente às vidas e aos desejos dos personagens mais velhos. O foco emocional do filme concentra-se nos dois casais mais velhos (quatro, se contarmos com Rose e Perry e Cosmo e Mona), que, sob uma luz adequada, ou mesmo sem isso, ainda sentem a paixão que sentiam aos 25 anos.

A direção de fotografia de David Watkin banha freqüentemente os personagens com a luz fria da lua cheia e, por um momento, o sublime os domina; afora isso, Watkin utiliza quentes cores domésticas para criar um ambiente real. O lar dos Castorini - com os imponentes móveis escuros do quarto e as pilhas de mantas, os retratos da família pendurados na parede; a sala de jantar sem uso; a cozinha, palco da família - torna-se tão familiar para nós que há um impacto surpreendente na última cena, quando a câmera simplesmente recua, percorrendo os outros aposentos.

Norman Jewison, canadense nascido em 1926, é um artesão, igualmente à vontade em diversos gêneros, tais como os musicais "Um Violinista no Telhado" (71) e "Jesus Cristo Superstar" (73), comédias e filmes sobre problemas sociais. Todos seus filmes de Jewison obedecem à tendência predominante em Hollywood: ele gosta de trabalhar com estrelas, seus valores de produção são impecáveis e, no entanto, ele raramente parece se inspirar apenas nos resultados de bilheteria. Seu controle de qualidade é extremamente elevado – é o caso também de "Feitiço da Lua".

Ao assistir a esse filme pela segunda vez, ele me surpreendeu com sua sutileza, apesar de todo o barulho e toda a emoção. Surpreendeu-me com a forma de tributo apaixonada que dedica a seus personagens, recusando-se a limitar-lhes as personalidades a simples traços cômicos. O que acontece entre Rose e Perry é mostrado em nuances; eles não se limitam a serem "um velho desprezível e uma dona de casa solitária", mas sim abertos à beleza e ao mistério da vida. O título remete-nos à teoria de que a lua cheia pode tornar as pessoas selvagemente românticas, fazê-las agirem de forma imprevisível, maluca, porém não menos espetacular. O resultado faz-nos rir e também sentir-nos mais disponíveis a impulsos melhores.




"O Feitiço da Lua" (Moonstruck)
1987 – EUA – 102 min. – Colorido – COMÉDIA
Direção: NORMAN JEWISON. Roteiro: JOHN PATRICK SHANLEY . Fotografia: DAVID WATKIN. Montagem: LOU LOMBARDO. Música: DICK HYMAN. Produção: PATRICK PALMER E NORMAN JEWISON, distribuído pela METRO GOLDWYN-MAYER.


Elenco:
CHER (Loretta Castorini) NICOLAS CAGE (Ronny Cammareri), VINCENT GARDENIA (Cosmo Castorini), OLYMPIA DUKAKIS (Rose Castorini), DANNY AIELLO (Johnny Cammareri), JULIE BOVASSO (Rita Cappomaggi), JOHN MAHONEY (Perry), LOUIS GUSS (Raymond Cappomaggi), FEODOR CHALIAPIN JR. (Avô) e ANITA GILLETTE (Mona).



Cenas do Filme:


Assista também:



Um Violinista No Telhado

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O FEITIÇO DE ÁQUILA

“Eu te amo! Eu te amo!”


No século XIII, em algum lugar entre Navarre e Anjou, existia uma cidade chamada de Áquila, comandada por um bispo maligno, que havia se apaixonado por uma linda mulher chamada Isabeau (Michelle Pfeiffer). Entretanto, Isabeau amava Etienne (Rutger Hauer), o capitão da guarda do bispo. Quando esse descobre a paixão entre o casal, vende sua alma ao diabo, em troca de que uma maldição recaia sobre os amantes. Desse momento em diante, Isabeau toma a forma de um falcão durante o dia, enquanto Etienne transforma-se em lobo. Ela retoma sua forma humana ao anoitecer; ele, ao anoitecer. Somente no exato limiar entre o pôr do sol e a aurora, eles conseguem de relance vislumbrar o que tiveram no passado. Exilado pelo bispo, vive a cavalgando pelos campos em seu belo corcel negro, com seu falcão (Isabeau) nos ombros, cumprindo-se o que os roteiristas do filme fixaram como a sina do casal: "Sempre juntos, sempre separados”.

“O Feitiço de Áquila” é um belo filme passado na Era Medieval. Parece que custou milhões, mas provavelmente seu custo foi bem inferior do que aparenta. Filmado no norte da Itália através das lentes inspiradas do grande Vittorio Storaro - ganhador do Oscar por “Apocalypse Now” e “Reds” - “O Feitiço de Áquila” enche as telas com belas paisagens e castelos em tonalidades sépia avermelhadas, parecendo envelhecidas. Entretanto, parece-nos um tanto quanto moderno demais para a era que retrata.

Richard Donner, o mesmo diretor de "Superman - O Filme" e os três roteiristas (Edward Khmara, Michael Thomas e Tom Mankiewicz) parecem não ter tido a coragem de contar a história em detalhes – o que é uma pena – pois haveria muito mais a ser dito. O filme possui um bom elenco. Além dos protagonistas, John Wood no papel de um bispo obcecado e Matthew Broderick, como um jovem ladrão (mas bom rapaz) e melhor amigo de Etienne, estão em perfeita sintonia. Todos sem exceção conseguem interpretar seus personagens de forma coerente e firme, conforme o figurino, apesar da falta de poesia ao roteiro.

Matthew Broderick apesar da posterior carreira irregular, mostrava já naquela época que possuía calibre para ser um dos melhores atores da sua geração. Desenvolve seu personagem Phillipe com picardia e graça e, embora algumas de suas piadas nunca pudessem fazer parte de um dia a dia da época – o que é um perigo – ele segura a peteca com inteligência e humor.

O camp Rutger Hauer apesar de ser um cavaleiro rústico, dá pinceladas de requinte ao seu personagem amargurado e perdido e Michelle Pfeiffer, uma das mais belas atrizes da década de 80-90, mostra o porquê vale a pena ser amaldiçoado eternamente. Sua presença – sexy e tremendamente sensual – ilumina tanto a tela que, mesmo quando é representada por um falcão tem-se a sensação de que ainda permanece em cena. John Wood está suficientemente majestoso e maléfico como o bispo e Leo McKern, que interpreta um pároco bêbado – originalmente o responsável pela situação do casal – preenche a tela com estilo.

O diretor deve ter tido dificuldades em coordenar os vários elementos em cena. Seja quando Etienne, ao pôr-do-sol, corre rapidamente pela floresta retirando uma vestimenta que obviamente um lobo não teria; seja quando o falcão transforma-se em Isabeau e surge completamente vestida, embora, na maior parte do tempo, não há nenhuma indumentária feminina à mão.

Cenas de aventura e de forte impacto e esplendor visuais - em particular quando a ave de rapina em vôo rasante sobre um lago, toca as pontas das asas na água – são intercaladas com outras tomadas banais. É o caso em que, num dado momento, no clímax final, uma batalha na catedral de Áquila, Etienne ao reencontrar Isabeau faz o seguinte comentário: “Você cortou seu cabelo”. Apesar deste e outros nonsenses, o filme é belo e muito bem dirigido.




"O Feitiço de Áquila" (Ladyhawke)
1985 – EUA – 121 min. – Colorido – FANTASIA
Direção: RICHARD DONNER. Roteiro: EDWARD KHMARA, MICHAEL THOMAS E TOM MANKIEWICZ, do argumento de EDWARD KHMARA . Fotografia: VITTORIO STORARO. Montagem: STUART BAIRD. Música: ANDREW POWELL. Produção: RICHARD DONNER E LAUREN SHULER, distribuído pela WARNER BROS.

Elenco:
MATTHEW BRODERICK (Phillipe Gaston) RUTGER HAUER (Capitão Etienne Navarre), MICHELLE PFEIFFER (Isabeau D´Anjou), LEO MCKERN (Imperius), JOHN WOOD (Bispo de Áquila), KEN HUTCHINSON (Marquet), ALFRED MOLINA (Cezar) , GIANCARLO PRETE (Fornac), LORIS LODDI (Jehan) e ALESSANDRO SERRA (Sr. Pitou).



Cenas do Filme:


Assista também:



Superman - O Filme

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

TRIBUTO A NINA FOCH

Nina Foch, a atriz nascida na Holanda, que ficou conhecida em filmes interpretando sempre loiras sofisticadas e cool, morreu em Los Angeles aos 84 anos, no último dia 08 de dezembro. Provavelmente é mais lembrada pelos cinéfilos como a rica e manipuladora socialite que tenta “comprar” Gene Kelly, assim como seus quadros em “Sinfonia em Paris” (51) ou como Bithia, a filha do faraó, que acha e adota Moisés bebê em “Os Dez Mandamentos” (56). Mas Nina (pronuncia-se Fosh) recebeu seu maior reconhecimento como atriz pelo menos conhecido “Um Homem e Dez Destinos” (54), um drama sobre poder corporativo, no qual recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, no papel da agoniada secretária Erica Martin.


Nina cresceu em Nova York, tendo feito seu debut em “John Loves Mary”, uma comédia acerca de um soldado e sua noiva, em 1947. Interpretou outros quatro papéis na Broadway entre 1948 e 1960. Partiu para ensinar e treinar atores. Foi filiada à escola de cinema da University of Southern California durante quatro décadas e ao centro de estudos de cinema do American Film Institute nos anos 70. Nina Consuelo Maud Fock nasceu em Leyden, Holanda, em 20 de Abril de 1924. Seu pai, Dick Foch, um maestro, mudou-se para New York em 1928. Logo, foi envolvido num tumultuado divórcio e numa batalha com sua esposa pela custódia da criança, Consuelo Flowerton, uma atriz norte-americana. Nina terminou morando com sua mãe. Depois de graduar-se no Lincoln School em Manhattan, Nina cursou o American Academy of Dramatic Arts. Sua primeira aparição nas telas foi no curta-metragem “Wagon Wheels West” (1943) aos 19 anos. Realizou sua estréia num longa metragem no ano seguinte num filme de terror, “O Vampiro”, com Bela Lugosi, onde interpretava a vulnerável Nicki Saunders, neta de um professor que havia sido atacada por um vampiro quando criança.

Após esse filme, seguiu-se o terror “The Cry of the Werewolf” (1944), e uma série de dramas policiais, cuja lista “Shadows in the Night” (1944), “Boston Blackie´s Rendezvous” (1945) e “Passado Tenebroso” (1948), que deu a ela uma reputação de rainha dos filmes-B. “Sinfonia em Paris” mudou isso, elevando-a a outro patamar. Interpretou Maria Antonieta em "Scaramouche” (52) e a manipuladora Helena Glabrus em “Spartacus” (60).A televisão manteve sua imagem viva, em séries como “Studio One”, “That Girl” e “Rota 66”. Apareceu também em diversos filmes para a TV e minisséries, tais como a governanta Sra. Danvers, em “Rebecca”, uma condessa nazista, em “War and Remembrance” e uma alcoólatra em “Tales of the City”

Também enveredou como diretora, tendo participado, mesmo não creditada, como assistente de direção em “O Diário de Anne Frank” (1959), filmado em Amsterdam. Em 1996, ela e a atriz Deborah Raffin co-dirigiram “Um Amor Abençoado”, um filme de televisão, baseado na obra de LaVyrle Spencer. Periodicamente, voltava a filmar, atuando em “Mahogany” (1975), o drama de AIDS “A Última Festa” (95) e “Meu Novo Amor” (2003), no qual ela interpreta uma avó que fuma maconha. Nina casou-se e divorciou três vezes. Seu primeiro marido foi James Lipton (1954-58) , apresentador do programa “Inside the Actors Studio” . Seu segundo marido, foi Dennis de Britto (1959-63) , um roteirista televisivo, com o qual teve um filho. Em 1966, ela casou-se com Michael Dewell, um produtor teatral. Divorciaram-se em 1993, um ano antes de sua morte.

sábado, 6 de dezembro de 2008

CARMEN JONES

“Algo me diz que Chicago vai fazer bem a você”


“Carmen Jones” é uma versão black da ópera “Carmen” de Bizet, no mais puro estilo norte-americano, que fez sucesso na Broadway em 1943. A história foi transposta para a tela pelo diretor Otto Preminger em versão Cinemascope, trazendo uma mistura de Bizet com Oscar Hammerstein II. Aqui “Carmen” tornou-se um melodrama contemporâneo – um show mais musical do que operístico. A transferência da música de Bizet e do enredo de Prosper Merimée para a América, inclusive com a mudança de idioma é um fino truque de artesanato e o resultado traz algumas incongruências. O conto de Carmen e do soldado da infantaria espanhola Don José é agora uma história moderna de uma empregada de uma fábrica de pára-quedas e de um aspirante a piloto no período da Guerra da Coréia, Joe (versão americana de José), interpretado por Harry Belafonte. O toureador espanhol, Escamillo, tornou-se Husky Miller, um boxeador campeão, que cai nas graças de Carmen, após esta ter forçado Joe a deixar seu posto à revelia dos superiores.

Na essência, é uma história instigante, que mistura paixão, sedução, sexo e traição - elementos fortes e essenciais para sucesso, quando bem tratados. Foi o caso da ópera de Bizet, mas não totalmente desta versão folk black american, com os personagens menos sensuais e mais sexuais. Carmen, interpretada por Dorothy Dandridge, é o melhor exemplo disso – voluptuosa, sempre rebolando e provocante, leva a libido masculina às alturas. E o tom desesperado, faminto e possessivo, presente na obra de Bizet, aqui parece bem menos dramático.

Da mesma forma, o Joe de Harry Belafonte é um personagem estático, meio confuso e mais perdido em suas emoções do que envergonhado de ter abandonado sua carreira por uma mulher que o leva a conseqüências trágicas. Ele é o herói, mas fica deslocado num papel mal desenvolvido. Olga James, como sua eterna namorada, é uma figura que destoa, chegando a ser um pouco cômica, principalmente quando se compara sua aparente ingenuidade com o maremoto de emoções que seu pretendente está envolvido. Joe Adams como o arrogante boxeador Husky Miller é uma caricatura de lutador – qualquer um poderia fazer melhor.

O que deveria ser uma grande surpresa soa destoante quando essas pessoas desatam a cantar ao clima operístico de Bizet. Os tempos são estranhos aos personagens, as melodias parecem descoladas de seus estilos. E por mais que se tente passar a idéia de ilusão e eloqüência que um musical deve possuir, os enquadramentos e os cenários realistas diminuem essa ambição.

As músicas são bem cantadas, dubladas por três vozes - Marilynn Horn, nas canções de Dorothy Dandridge, Le Vern Hutcherson, nas canções de Harry Belafonte e Marvin Hayes, nas canções de Joe Adams. Os coros têm a vibração e força do padrão black norte americano. Não há nada de errado bas músicas – apenas que não ficam adequadas às personagens e ao clima do filme. Isso parece não ter preocupado a Oscar Hammerstein e Otto Preminger, nessa corajosa, precoce e frágil versão de um dos maiores clássicos da historia da música.




"Carmen Jones" (Carmen Jones)
1954 – EUA - 105 min. – Colorido – MUSICAL
Direção: OTTO PREMINGER. Roteiro: HARRY LEINER, com versão musical de OSCAR HAMMERSTEIN II, baseado na história de PROSPER MERIMÉE . Fotografia: SAM LEAVITT. Montagem: LOUIS L. LOEFFLER. Música: GEORGE BIZET E OSCAR HAMMERSTEIN II. Produção: OTTO PREMINGER, para TWENTIETH CENTURY-FOX.

Elenco:
DOROTHY DANDRIDGE (Carmen) HARRY BELAFONTE (Joe), OLGA JAMES (Cindy Lou), PEARL BAILEY (Frankie), DIAHANN CARROLL (Myrt), ROY GLENN (Rum), NICK STEWART (Dink) , JOE ADAMS (Husky), MARILYNN HORN (Voz de Carmen), LE VERN HUTCHERSON (Voz de Joe) e MARVIN HAYES (Voz de Husky).



Cenas do Filme:


Assista também:




Os Amores de Carmen

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

APERTEM OS CINTOS, O PILOTO SUMIU

“Capitão, quando é que aterrisamos?”


O filme faz uma paródia dos disaster movies, que ocuparam as telonas dezenas de vezes após “Aeroporto” (1970). Aqui, um piloto de aviões que havia abandonado a profissão após ter desenvolvido um trauma de guerra, Ted Striker (Robert Hays), entra num Junbo como passageiro, com o intuito de reconquistar sua ex-namorada, a aeromoça Elaine (Julie Hagerty). Após o envenenamento de toda a tripulação e parte dos viajantes, Striker - agora o único piloto a bordo - vê-se obrigado a comandar a nave até a aterrissagem, com a ajuda em terra de McCroskey, um controlador de tráfico aéreo maluco interpretado por Lloyd McCloskey (Lloyde Bridges) e de seu antigo e não menos lunático chefe, o capitão Rex Kramer (Robert Stack). Ao longo do filme, assistimos a um desfile de situações hilariantes, resultado de um repertório típico do cinema catástrofe – uma freira tocando violão, uma jovem cardíaca em viagem para um transplante, uma velha senhora histérica, dois negros que conversam em gíria, quase dialeto, que acabam sendo legendados, entre outros. Há também sátiras de musicais, tais como "Os Embalos de Sábado à Noite" (1978]7) e de clássicos, como "A Um Passo da Eternidade" (1953). Leslie Nielsen interpreta o Dr. Rumack, iniciando uma seqüência de comédias que acabou caracterizando majoritariamente sua carreira.

Os diretores Jim Abrahams, Jerry Zucker e David Zucker conseguem fazer um pastelão, às vezes com toques da revista "Mad". Tudo isso resulta num filme com situações escrachadas, mas muito divertidas. Não é à toa que tem sido copiado anos a fio.




"Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu" (Airplane!)
1980 – EUA - 88 min. – Colorido – COMÉDIA
Direção: JIM ABRAHAMS, DAVID ZUCKER E JERRY ZUCKER. Roteiro: SAMUEL JIM ABRAHAMS, DAVID ZUCKER E JERRY ZUCKER. Fotografia: JOSEPH F. BIROC. Montagem: PATRICK KENNEDY. Música: ELMER BERNSTEIN. Produção: JIM ABRAHAMS, DAVID ZUCKER E JERRY ZUCKER, para PARAMOUNT.

Elenco:
KAREEM ABDUL-JABAR (Roger Murdock) LLOYD BRIDGES ( McCroskey), PETER GRAVES (Capitão Oveur), JULIE HAGERTY (Elaine), ROBERT HAYS (Ted Striker), LESLIE NIELSEN (Dr. Rumack), LORNA PATTERSON (Randy), ROBERT STACK (Rex Kramer), STEPHEN STUCKER (Johnny), OTTO (Otto) e JIM ABRAHAMS (Religioso).



Cenas do Filme:


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