domingo, 30 de agosto de 2009

QUANDO OS DEUSES AMAM

“Eu quero chorar, mas não consigo.”


Nunca houve uma mulher como Gilda. Também, nunca houve uma musa como Terpsicore. E isso não é nenhuma surpresa quando se trata da mesma beldade – Rita Hayworth. Do Olimpo, a musa da dança e do canto espia um espetáculo da Broadway que a retrata como uma divindade chula e vulgar. Indignada, recorre a um sentinela divino, Sr. Jordan (Roland Culver) para vir à Terra e corrigir a heresia. Arranja um agente, Max Corkle (James Gleason) e, ao assumir o papel de protagonista do show, agora como Kitty Pendleton, Rita seduz o diretor Danny Miller (Larry Parks). De quebra, convence-o a alterar o espetáculo e o resultado é o fracasso da estréia. O que Terpsicore não sabe é que o insucesso do show pode custar à vida de Danny, por conta de dívidas de jogo. Apaixonada e resignada, tenta ajudá-lo. Tudo se complica quando acaba por apaixonar-se por Danny e, como imortal, deve voltar às suas origens.

Os personagens de Sr. Jordan, o ajudante Agente 7013 (Edward Everett Horton) e Max Corkle, repetem o trio que aparece em “Que Espere o Céu” (41). Neste, o enredo era diferente e Sr. Jordan fora interpretado por Claude Rains, dirigido pelo próprio Alexander Hall. Aqui, todo o elenco reunido forma a base para um bom musical, com muitas canções e números de dança que esbanjam vitalidade. De fato, são nesses números que os momentos mais agradáveis do filme surgem. Música, cor e movimento são combinados para estimular o espectador num show de charme e encanto.

Claro que os números são mostrados principalmente como parte de um espetáculo maior - contudo, continuidade nos musicais é algo raro de ocorrer, pois eles basicamente servem como pano de fundo para o enredo principal. Mas aqui são generosos e, principalmente com garotas bonitas e dançarinos competentes.

Canções como "This Can't Be Legal" and "They Can't Convince Me," permeiam o filme e são entoadas em diversas ocasiões. Marc Platt, que mais trde faria Dan Pontipee - um dos irmãos de Howard Keel em "Sete Noivas Para Sete Irmãos” (54) - e encabeça o espetáculo de dança, está adequado ao papel que lhe exige mais esforço físico do que interpretativo.

Desde que a celestial Rita desveste-se de seus trajes gregos no Olimpo e surge como uma dançarina vestida de mink na Broadway, o fantasia se esvai um pouco, uma vez que ela, apesar de musa, esforça-se para parecer uma mortal. É verdade que Roland Culver, como Sr. Jordan e Edward Everett Horton, agente 7013, aparecem ocasionalmente para lembrar Rita que ela não é uma entidade terrena. A rigor, Rita não precisa interpretar – e isso não é uma ofensa, pelo contrário. Dança como ninguém e aqui está no auge de sua beleza.

James Gleason, como empresário de Kitty/Terpsicore, faz o melhor do filme, nas cenas em que aparece. Os momentos em que gesticula no ar tentando conversar com Sr Jordan são impagáveis. Ele garante boas risadas neste musical leve, e competente.



Quando Os Deuses Amam (Down To Earth)
1947– EUA - 101 min. – Colorido – MUSICAL
Direção: ALEXANDER HALL. Roteiro: EDWIN BLUM E DON HARTMAN, baseado na peça “HEAVEN CAN WAIT”, de HARRY SEGALL Fotografia: RUDOLPH MATÉ. Montagem: VIOLA LAWRENCE. Música: GEORGE DUNING E HEINZ ROEMHELD. Produção: DON HARTMAN, distribuído pela COLUMBIA PICTURES.

Elenco: RITA HAYWORTH ( Terpsicore/Kitty Pendleton), LARRY PARKS (Danny Miller), MARC PLATT (Eddie), ROLAND CULVER (Sr. Jordan), JAMES GLEASON (Max Corkle), EDWARD EVERETT HORTON (Agente 7013), ADELE JERGENS (Georgia Stevens), GEORGE MACREADY (Mary Graham), WILLIAM FRAWLEY (Policial) e JEAN WILLES (Betty).



Cenas do filme:


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Que Espere o Céu

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

IMPÉRIO DO SOL

“Não me lembro como são meus pais.”


“Império do Sol” apresenta a junção de dois momentos da filmografia spielberguiana. O primeiro seria este que mostra crianças como fio condutor de uma trama que levará inapelavelmente à revelação; o segundo, demonstra uma preocupação que o diretor tinha em querer fazer filmes para alcançar um público adulto. Tal tendência já havia se revelado anteriormente em “A Cor Púrpura” (85). Em “Império do Sol”, Spielberg se afirma de maneira mais definitiva. Basta dizer que o filme inicia mostrando corpos sem vida boiando no mar. A morte, fim de todas as ilusões, serve assim para ilustrar a cena do filme de um dos reabilitadores do Cinema como espaço do sonho. Talvez por isso, quem assiste a esse filme pela primeira vez e esperava encontrar o diretor de filmes como “Tubarão” (75), “Encurralado” (71), “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (77) ou “1941” (79), ficou um tanto quanto surpreso. Superprodução bastante requintada, foi rodada durante quatro meses, empregou mais de 15.000 extras e quase 500 técnicos, divididos entre americanos, ingleses, chineses e espanhóis, trabalhando simultaneamente em três paises: China, Inglaterra e Espanha. Logo no início, impressiona o impacto da cena em que o protagonista Jim dirige-se com os pais para um baile à fantasia. As tomadas feitas de cima da cidade de Xangai revelam a opulência da produção, desde a riqueza de detalhes do figurino, assinado por Bob Ringwood, até a irretocável direção de arte, a cargo de Norman Reynolds. A megalomania chegou ao ponto de levar o diretor a queimar diversos pneus nas regiões de Feng Yang e Jiu Tiang, a fim de obter a fumaça adequada para as cenas de batalha.

Inspirado em romance homônimo de J.G. Ballard, “Império do Sol” conta um pouco do drama vivido pelo próprio Ballard durante a Segunda Guerra Mundial, quando, ainda adolescente, foi mantido, ao lado dos pais, como prisioneiro em Lunghua, Japão. O livro narra a historia do menino Jim Graham, de apenas 11 anos, que passa a viver uma vida de cão depois que as forcas armadas do Império Japonês, o Império do Sol, conquistam, logo após o bombardeio de Pearl Harbor, em 8 de dezembro de 1941, a cidade de Xangai.

Jim é um garoto que acaba sobrevivendo num contexto de mundo e situação de difícil sobrevivência. Entretanto, mais importante do que permanecer vivo numa situação adversa, é que Jim sonha. Para ele, pouco importa a guerra. Na verdade, esse Oliver Twist moderno a observa quase o tempo todo como uma brincadeira de soldados de chumbo. Seu desejo maior é voar, pilotar um dos famosos Zeros japoneses. Em “Império do Sol”, Spielberg filma a tensão de Jim entre a realidade e o sonho. Cinematograficamente, vence o sonho - senão o filme não seria um Spielberg.

As melhores cenas são justamente aquelas que mostram algum encanto, como aquela em que Jim toca pela primeira vez suas minúsculas mãos num avião e em seguida bate continência para três oficiais japoneses. Ou, então, quando o “sonho” acaba e, no reencontro com os pais, o garoto até então fascinado pela fantasia que vive, volta à realidade. Neste despertar, não abre os olhos e sim os fecha pela primeira vez, no porto seguro do abraço materno. Neste rápido instante, Spielberg aparece inteiro, deixando claro que o universo da fantasia é seu verdadeiro império. Pena que se trata de um Spielberg que há muito não é o mesmo.



Império do Sol (Empire of the Sun)
1987– EUA - 153 min. – Colorido – DRAMA
Direção: STEVEN SPIELBERG. Roteiro: TOM STOPPARD, baseado em romance de J.G. BALLARD Fotografia: ALLEN DAVIAU. Montagem: MICHAEL KAHN. Música: JOHN WILIAMS. Produção: STEVEN SPIELBERG, KATHLEEN KENNEDY E FRANK MARSHALL, distribuído pela WARNER BROS.

Elenco:
CHRISTIAN BALE (Jim Graham), JOHN MALKOVICH (Basie), MIRANDA RICHARDSON (Sra. Victor), NIGEL HAVERS (Dr. Rawlins), JOHN PANTOLIANO (Frank Demarest), LESLIE PHILLIPS (Maxton), MASSATÔ IBU(Sargento Nagata), EMILY RICHARD (Mary Graham), RUPERT FRAZER (John Graham) e PETER GALE (Sr. Victor).



Cenas do filme:


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E.T. - O Extraterrestre

terça-feira, 25 de agosto de 2009

SELO: VALE A PENA FICAR DE OLHO NESSE BLOG


O Gabriel, do blog Um Olhar Além da Tela, indicou-me para o selo "Vale a Pena Ficar de Olho Nesse Blog". Fiquei bastatne feliz com a lembrança do amigo. Conseqüentemente, tenho que indicar outros 10 blogs que acompanho e recomendo. É bastante difícil de fazer essa seleção, pois há muitos colegas que, como esse que me indicou, fazem um trabalho de bastante qualidade. Mas, como tenho que ficar restrito a esse número pequeno, indico os seguintes que, entre tantos, merecem e valem a pena ficar de olho:

Cenas de Cinema

Cinemorama

Cinevita

Claquete: Revista Virtual de Cinema

Hiperatividade

Moviemento

Pensando Imagem e Som

Território Nóbrega

They Watch Us

Tribo da Leitura

Regras:

1 - Fazer o link do blog que te indicou
2 - Indicar 10 blogs que valem a pena ser acompanhados.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

ARRASTE-ME PARA O INFERNO

“Ajude-me! Ajude-me, por favor!”


O filme mostra Christine (Alison Lohman), uma boa moça, que trabalha no setor de empréstimos bancários e pretendente ao cargo de assistente de gerente num estabelecimento bancário na Califórnia. Ambiciosa e louca para provar ao seu chefe, Jim Jacks (David Paymer), que merece a promoção – mais que seu “rival” colega de trabalho Stu Rubin (Reggie Lee) - Christine nega a extensão de hipoteca para uma senhora cega e com unhas sujas amareladas, que mais parece uma bruxa ou cigana – interpretada de forma bem nojenta por Lorna Raver. Ao sair do trabalho, no estacionamento, a idosa expressa seu descontentamento e roga uma praga na moça, não antes de travar uma luta física em que dentaduras voam por todo lado. O carro da anciã faz lembrar, além do automóvel presente em filme anterior do diretor, aquele do filme “Christine, O Carro Assassino” (83), de John Carpenter – coincidência?

Essa amostra do que se desenrola do filme é apresentada de forma cartunesca e, por vezes, engraçada, sem deixar de causar sustos ou nojo. Esse é um trunfo do filme, que consegue ser tenebroso, porém hilário em diversos momentos. Mérito do diretor Sam Raimi, que já havia provado essa habilidade em seu filme de estréia, “A Morte do Demônio” (81).

Tentando livrar-se da maldição que lhe foi rogada, Christine gasta o restante do filme degladiando-se com um espírito maligno que a persegue e lidando com a preocupação de seu namorado Clayton (Justin Long), um professor, em ajudá-la nesse calvário pessoal.

À medida que Christine vai ficando obstinada, o diretor vai ilustrando essa passagem com cenas que vão desde o desastroso jantar em conhece os pais de Clayton, até uma sessão demoníaca de exorcismo, com direito a pirotecnias - mas sem o uso de muitos recursos de computação gráfica.

“Arraste-me para o Inferno” é agil, vertiginoso, hilário e assustador. Lembra a série “Contos da Cripta” (72) e, com certeza, o final mostra que esta será a primeira de outras seqüências que devem vir por aí. Nem seres humanos nem animais estão livres dessa quase-carnificina, que é orquestrada pelo maestro Sam Raimi, com roteiro de seu irmao Ivan Raimi, que assina os créditos.

Assim como na saga Homem-Aranha, Sam Raimi revela um dom de lidar com o humano e o fantástico, com certa dose de romance no meio de terror e vingança. Creio que seu talento seja maior que isso, mas esse é um bom exemplo. Filme com pedigree.



Arraste-me Para O Inferno (Drag Me To Hell)
2009 – EUA - 99 min. – Colorido – TERROR
Direção: SAM RAIMI. Roteiro: SAM RAIMI E IVAN RAIMI. Fotografia: PETER DEMING. Montagem: BOB MURAWSKI. Música: CHRISTOPHER YOUNG. Produção: ROB RAPERT E GRANT CURTIS, para a UNIVERSAL PICTURES.

Elenco: ALISON LOHMAN ( Christine Brown), JUSTIN LONG (Clay Dalton), LORNA RAVER (Sylvia Ganush), DILEEP HAO (Rham Jas) , DAVID PAYMER (Jim Jacks), ADRIANA BARRAZA (Shaun San Dena), CHELCIE ROSS (Leonard Dalton), REGGIE LEE (Stu Rubin), MOLLY CHEEK (Trudy Dalton), BOJANA NOVAKOVIC (Ilenka Ganush) e KEVIN FOSTER (Milos) .



Cenas do filme:


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The Evil Dead

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

ALMA TORTURADA

“Você está tentando me amolecer.”


Arrepia só de pensar na carreira que a Paramount tinha em mente para Alan Ladd, depois de assistir a essa que foi sua estréia no cinema como ator no papel principal de “Almas Desesperadas". Obviamente, o estúdio esperava perpetuar seu tipo durão e desajeitado nas telas, como foi o caso de James Cagney. O ator relembra o mesmo arquétipo mostrado por Cagney com seus ímpetos violentos – quem não viu quando esfregou um grapefruit no rosto de Mae Clarke em “Inimigo Público” (31)?. Ladd interpreta Philip Raven, um assassino profissional que gosta do seu ofício. “Como você se sente quando você faz um serviço desses?”, pergunta Laird Cregar. “Sinto-me bem”, responde ele, sem pestanejar. Raven é contratado para matar alguém, é dedurado por este à polícia e feito de bode expiatório para acobertar uma intrincada trama que envolve a venda de gases envenenosos para inimigos norte-americanos.

Sabendo disso, Raven, em busca de seu delator, conhece Ellen Graham (Veronica Lake), uma dançarina de bar noturno – noiva do policial encarregado de capturar Raven. Inicia-se daí uma tensão sexual entre o casal. Na verdade, Ellen atua como colaboradora do Senado norte –americano para investigar Cregar. Juntos, Raven e Ellen seguem em desvendar toda a trama, desmascarar Cregar e o mentor intelectual do assassinato.

Melodrama clássico, porém simples. Entretanto, é acima da média, pois o roteiro é “redondo” e os momentos de tensão exigidos por esse tipo de filme são bons. Frank Tuttle, o diretor, dá o tom certo na ação e consegue mostrar algumas resultantes sociais da marginalidade – Raven é fruto de uma infância problemática e que, aparentemente, tornou-se delinqüente por falta de opção.

Entretanto, apesar deste inexorável caminho rumo à marginalidade, o personagem é intrisecamente uma pessoa que ainda possui resquícios de humanidade – é o que se vê na cena em que esbofeteia a arrumadeira do quarto em que vive ao vê-la maltratando o gatinho que mantém. Ellen percebe isso em Raven e fica atraída por sua latente sensibilidade.

O diretor faz também um bom trabalho com os atores. Veronika Lake está competente e lindíssima, aplicando a dose certa de sensualidade e desdém ao lidar com os homens. Cregar é um misto de canalhice e covardia, conferindo a tudo isso um requinte apurado. Robert Preston não compromete e desempenha aquilo que deveria – um policial à busca de sua presa. Finalmente, Allan Ladd é o diferencial. Um ator especial. Não foi à toa que depois dessa ótima estréia tenha virado um astro.



Alma Desesperada (His Gun For Hire)
1942 – EUA - 80 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: FRANK TUTTLE. Roteiro: ALBERT MALTZ E W.R. BURNETT, baseado no romance de GRAHAM GREENE. Fotografia: JOHN F. SEITZ. Montagem: ARCHIE MARSHEK. Música: DAVID BUTTOLPH. Produção: RICHARD BLUMENTHAL, para a PARAMOUNT.

Elenco: VERONICA LAKE (Ellen Graham), ROBERT PRESTON(Michael Crane), LAIRD CREGAR (Willard Gates), ALAN LADD (Philip Raven), TULLY MARSHALL (Alvin Brewster), MIKHAIL RASUMNY (Sluky), MARC LAWRENCE (Tommy), PAMELA BLAKE (Annie), ROGER IMHOFF (Senador)e VICTOR KILIAN (Secretário de Brewster) .



Cenas do filme:


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Casei-me Com Uma Feiticeita