segunda-feira, 28 de abril de 2008

FLORES PARTIDAS

“Você é o Don Juan.”


Com “Flores Partidas", Bill Murray reafirma seu status de ator cômico mais blasé da atualidade. Seu tom de voz raramente se altera, quase murmura, enquanto eu rosto permanece impassível, quase estático, com seus trejeitos e piscadas sendo capturadas pela câmera estática e discreta de Jim Jarmusch. Esse estágio de letargia parece apropriado, uma vez que, no início do filme, o personagem de Bill Murray (Don Johnston) parece ter chegado a um ponto de estagnação em sua vida. Primeiro, ele aparece sentado no sofá de sua casa vivamente decorada, que parece contrastar com sua vida apática. Sua última namorada, Sherry (Julie Delpy), está prestes a deixá-lo – um fato que Don brinda com uma resignação beirando a indiferença. Ele está rodeado de coisas interessantes – uma super TV, mobília polida, um Mercedes – e muito dinheiro, tendo sido uma espécie de empresário do ramo da computação, antes de aposentar-se. Um filme (ou um crítico de cinema) tentando “intelectualizar” o tema, poderia dar a entender que Don está em estado de depressão. Seja qual for o caso, toda vez que ele se deita em seu sofá e dorme, nós podemos imaginá-lo neutro, despreocupado, indo a nenhum lugar em particular.

Mas "Flores Partidas" é um road movie, que remete seu herói a uma jornada através de uma paisagem indefinida adentro de seu próprio passado. Quando Sherry diz adeus, uma carta chega, datilografada em tinta vermelha num cartão rosado, informando a Don que 20 anos atrás ele tornou-se pai. A mensagem anônima, aparentemente escrita por algum dos antigos casos amorosos de Don, alerta-o de que o garoto pode estar à sua procura.

O impulso de Don é não fazer nada; porém, seu vizinho, Winston (Jeffrey Wright), tem outras idéias. Winston é amigo de Don e, também, seu oposto. Ao contrário do vizinho solteirão e preguiçoso, ele é um pai de família trabalhor, casado, pai de cinco filhos, trabalhando em três empregos. É, também, uma espécie de detetive amador, convencido de que com as pistas certas e métodos investigativos, Don pode descobrir a mãe de seu suposto filho e as peças perdidas de seu passado.

Assim, Don parte em visita às quatro mulheres que conheceu, interpretadas por Sharon Stone, Francês Conroy, Jessica Lange e Tilda Swinton. O que ele encontra são possíveis pistas – cesto de basquete, sugerindo a presença de um filho; diversos objetos cor-de-rosa, incluindo um celular incrustrado de bugingangas (sugerindo que ao invés de um filho, ele tenha uma filha); uma máquina de datilografar jogada numa grama mal cuidada – bem como alguns quebra-cabeças adicionais. A recepção que tem nas visitas – que ele faz, chegando com um carro alugado e um buquê de flores – varia. Em uma casa, ele é recebido de forma calorosa, graças aos velhos tempos; em outras ocasiões, depara-se com estranheza, suspeita e mesmo com um soco na cara.

Don encontra o que está procurando? Não se pode dizer, porque não se pode estragar o filme. A crença de Winston (de que a verdade sobre as outras pessoas ou sobre alguém pode ser conhecida) – é uma idéia que o filme segue, mas não endossa. Assiste-se a esse filme esperando-se produto claro e atraente, mas os melhores filmes, aqueles que se inserem dentro de nossas próprias experiências e formas de ver a vida, frustam as expectativas.

"Flores Partidas" certamente é um belo filme, tão sedutor como a música do artista de jazz etíope Mulatu Astatke, que acompanha Don em sua jornada. O enquadramento de Jarmusch é singular, fino em detalhes e repleto de um rigoroso visual, com reminiscências de cartoons clássicos e comedias do cinema mudo.Ele também tem uma provocativa e literal astúcia. Nunca segue a emoção óbvia, sempre preferindo alusões às fáceis exposições e buscando altenâncias sutis de humor ao invés de confrontos dramáticos.

As emoções que ele descortina não são fáceis de nomear.Permeando os limites do enquadramento - e através das feições de Bill Murray - estão a saudade, o desapontamento, o engano e um grato senso de admiração. Quando ele sai em busca dos elos perdidos de sua vida romântica passada, Don descobre arrependimento, mas também ele parece retornar à origem de seu fascínio pelas mulheres. Cada uma das atrizes traz uma indelével, excêntrica individualidade à tela. A gente sente que poderia ficar mais tempo com elas ou voltar no tempo para vê-las com um Don mais jovem.

O título do filme pode implicar na derrota do romance, mas é também uma defesa do romantismo - o seu próprio e o de Don - como uma abordagem à vida que, enquanto pode ser cheia de erros, também pode ser cheia de acertos. Don pode ser muitas coisas - uma alma perdida, uma falha, um homem à deriva em sua propria vida - mas ele é também, e fundamentalmente, um amante, e "Flores Partidas" participa de sua nobreza, de seu espírito de cavalheirismo. Como um caso de amor de curta duração, seu prazer é acompanhado por um pitada de tristeza. Deixa você querendo mais, o que é um elogio.



Flores Partidas (Broken Flowers)
2005 – EUA - 105 min. – Colorido – COMÉDIA
Direção: JIM JARMUSCH. Roteiro: JIM JARMUSCH, inspirado numa idéia de BILL RADEN e SARA DRIVER. Fotografia: FREDERICK ELMES. Montagem: JAY RABINOWITZ. Música: MULATU ASTATKE. Produção: JOHN KILIK e STACEY SMITH, para a FOCUS FEATURES.


Elenco: BILL MURRAY (Don Johnston), JEFFREY WRIGHT (Winston), SHARON STONE (Laura), FRANCES CONROY (Dora), JESSICA LANGE (Carmen), TILDA SWINTON (Penny) e JULIE DELPY (Sherry).

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Daunbailó

terça-feira, 22 de abril de 2008

TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO

“Espero que não nos privemos da erudita e estimulante companhia de Sir Wilfrid.”


Sir Wilfrid Robarts (Charles Laughton) está de mau humor. Depois de sofrer um infarto, o hospital lhe disponibiliza uma enfermeira que não pára de lhe dar ordens, como se fosse uma criança (logo para ele, o mais famoso advogado criminalista do Reino Unido). Ele não dá a mínima para a saúde - renunciar aos charutos e ao conhaque equivale a uma pena de morte. É esse impedimento que o faz animar-se. Leonard Vole (Tyrone Power) está sendo acusado de ter assassinado sua protetora - uma viúva rica. O que faz com que sir Wilfrid se incumba deste caso (de um presumido inocente) é seu instinto infalível ou, melhor ainda, sua fé inabalável em sua genialidade. Logo sentir-se-á amargamente decepcionado. Não somente salva um culpado da forca. Ao final de um espetacular processo de indícios, ele se vê como uma marionete em uma intriga sem igual. Não era ele quem estava "mexendo os paus" todo o tempo, mas sim a esposa do acusado, Christine Vole (Marlene Dietrich).

Muitos elementos do filme denunciam a autoria original de Agatha Christie - a escritora britânica de novelas policiais. Como de costume, o primeiro suspeito é realmente o assassino, que contudo se esforça em criar álibis para escapar do peso das provas até o final do filme. O interesse do diretor por essa história é evidente.

"Testemunha de Acusação" é um filme de enganos e farsas, no qual nada é como parece ser. Não se poderia ter criado melhor efeito de perplexidade, quando surge a esposa do acusado como testemunha de acusação para salvá-lo. A questão da culpa individual se relativiza de forma decisiva mediante lealdades fatais e amor. Contudo, o prato principal é a genial interpretação de Marlene Dietrich, no papel de Christine Vole. A atriz alemã, que está acima do bem e do mal, repete alguns de seus melhores papéis, desde "O Anjo Azul (1930)".

O contraponto alegre ao anjo negro Marlene Dietrich é sir Wilfred, com suas saídas enganadoras. Charles Laughton o interpreta como uma instituição britânica, tão fleumática como o antigo e venerável Old Bailey. Sua atuação enche a tela, com inteligência, repleta de sarcasmo. Sua luta contínua não se centra somente em desvendar ponto a ponto a acusação. Também, seu corpo é um campo de batalha e, satisfazer suas necessidades, exige um espírito subversivo. Charutos escondidos na bengala e o uísque na garrafa térmica - nenhum meio lhe parece demasiado excêntrico para enganar a srta. Plimsoll, sua preocupada enfermeira. E, quem melhor que Elsa Lanchester, a esposa de Laughton na vida real, para interpretar esse papel abnegado?

"Testemunha de Acusação" nunca obteve um reconhecimento absoluto por parte dos críticos. Contudo, o filme é inegavelmente um clássico do gênero. O diretor consegue fazer um filme ao mesmo tempo engraçado e denso, brilhante com suas mudanças inesperadas, com ritmo perfeito. No filme, nada fica ao acaso, ainda que a justiça seja vitoriosa por caminhos tortuosos. Filme de titã!



Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution)
1957 – EUA - 116 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: BILLY WILDER. Roteiro: BILLY WILDER, HARRY KURNITZ e LARRY MARCUS, baseado na obra homônima de AGATHA CHRISTIE. Fotografia: RUSSELL HARLAN. Montagem: DANIEL MANDELL. Música: MATTY MALNECK. Produção: ARTHUR HORNBLOW JR., para ESWARD SMALL PRODUCTIONS e THEME PICTURES.

Elenco: TYRONE POWER (Leonard Stephen Vole) MARLENE DIETRICH (Christine Vole), CHARLES LAUGHTON(sir Wilfrid Robarts), ELSA LANCHESTER (sta. Plimsoll), JOHN WILLIAMS (sr. Brogan-Moore), HENRY DANIELL(sr. Mayhew), IAN WOLFE (sr. Carter), TORIN THATCHER (fiscal Myers), NORMA VARDEN (Emily French), UNA O´CONNOR (Janet Mckenzie) e FRANCIS COMPTON (juiz).

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Crepúsculo dos Deuses

segunda-feira, 21 de abril de 2008

MEME

“Filmes reconhecidos após algum tempo do lançamento”

É bastante difícil relacionar 5 filmes que foram substimados e, embora possuindo inegável valor artístico ou estilístico, tenham sido ignorados nas principais premiações do cinema. Há inúmeros casos de filmes que se enquadram nesse critério. Para atender alguns colegas de blog, seguem alguns daqueles que considero filmes bons, mas que à época de seu lançamento não foram prestigiados (embora hoje alguns até sejam cult).Restringi-me à década de 80/90, período de produção cinematográfica muito boa.

VIDAS SEM RUMO
O caçula de uma turma, de três órfãos, tentam sobreviver onde tudo se restringe a “latinos pobres e ricaços”. A trinca descende de mexicanos, amarga empregos em postos de gasolina e sofre com a perseguição da polícia. Também fazem parte da gangue outros colegas. Eles tentam vencer e amadurecer enfrentando os ricos, mas nem tudo acontece como eles planejam. Baseado na obra da escritora S.E. Hinton, é a visão sobre a rebeldia dos adolescentes nos anos 1960 e suas descobertas da vida. O filme virou série de TV. Dirigido por Francis Ford Coppola, ficou famoso por lançar ao estrelado diversos astros de uma mesma geração, tais como Matt Dillon, Ralph Macchio, C. Thomas Howell, Patrick Swayze, Rob Lowe, Emilio Estevez, Tom Cruise e Diane Lane.

“The Outsiders”/Drama/1983/EUA/92 min./Cor/Warner.

O FEITIÇO DO TEMPO
Homem do tempo vai cobrir uma festa popular numa cidade do interior onde fica prisioneiro do tempo. É uma ironia sobre a rotina da vida. Filme inteligente, bela comédia, tendo Bill Murray em um de seus mais inspirados momentos e Andie MacDowell incrivelmente charmosa. Talvez seja uma das melhores comédias da década de 80. Dirigido por Harold Ramis, traz ainda no elenco: Andie MacDowell, Chris Elliot, Stephen Tobolowsky,Brian Doyle-Murray e Harold Ramis.

“Groundhog Day”/Comédia/1993/EUA/103 min./Cor/Columbia.

GATTACA – EXPERIÊNCIA GENÉTICA
Garoto com trauma de família por causa da perda de um irmão tem como sonho ser astronauta. Assume a identidade de outro, que tem problemas físicos, não medindo esforços para atingir seus objetivos. Ficção científica, em que as pessoas são classificadas por castas – os mais habilitados fisicamente, são os privilegiados. É uma fábula da capacidade humana, em superar obstáculos. Visual estililizado, famoso por ter aproximado dois astros – Ethan Hawke e Uma Thurman. Dirigido por Andrew Niccol, traz ainda no elenco: Ernest Borgnine, Gore Vidal Loren Dean, Blair Underwood, Tony Shaloub, Elias Koteas, Alan Arkin e Xander Berkeley.

“Gattaca”/Ficção Científica/1997/EUA/112 min./Cor/Columbia.


O SUSPEITO DA RUA ARLINGTON
Um professor universitário sobre táticas de terrorismo, viúvo de uma agente do FBI desconfia que o casal vizinho à sua casa são terroristas que estão planejando um atentado ao governo. Um belo suspense, ainda subestimado, lançado primeiramente na Europa do que nos EUA, tem um roteiro muito bem estruturado e seqüências de suspense de prender a atenção e tirar o fôlego. Tim Robbins, como de costume, está muito bem. Jeff Bridges exagera, mas não compromete o resultado final. Dirigido por Mark Pellington, traz no elenco: Jeff Bridges, Tim Robbins Joan Cusack , Hope Davis e Robert Gosset.

“Arlington Road”/Drama/1999/EUA/119 min/ Cor/Columbia.


GAROTOS INCRÍVEIS
Um professor universitário está em crise, pois além de ver seu casamento desmoronando, tem que lidar com a situação de ter de ser pai, fruto de uma relação adúltera, com a mulher de um colega. Já maduro, ele deixou de ser o “garoto” do lugar. O filme baseia-se na amizade que ele inicia com um aluno que demonstra ter talento, mas com tendências suicidas e autodestrutivas. Filme que fracassou na estréia nos EUA, mas muito inteligente e tem sido revisto recentemente, com boas críticas. Dirigido por Curtis Hanson, traz no elenco: Michael Douglas, Tobey McGuire, Katie Holmes, Robert Downey Jr., Francês McDormand, Rip Torn, Richard Thomas, Jane Adams e Philip Bosco.

“Wonder Boys”/Drama/2000/EUA/112 min./Cor/Warner.


IMAGENS DO ALÉM

“O que vocês fizeram a essa garota?”


Ben e Jane formam um casal recém-casado que se muda de Nova Iorque para Tóquio a trabalho. Ben é fotógrafo e consegue um emprego numa revista clicando modelos. Logo na primeira parte do filme, enquanto se ambientam na nova cidade – visitam a linda paisagem japonesa (e, claro, fotografam tudo o que vêem) e, ao anoitecer , com Jane ao volante, atropelam o que parece ser uma garota no meio da estrada. O carro fica desgovernado e batem em uma árvore. A polícia aparece no local e nada encontra. Jane fica intrigada, pois está convencida de que algo de estranho ocorrera. Como é comum no caso desses filmes, a eletrônica é o meio através do qual o além contata os vivos. Em “O Chamado”, foi o vídeotape; aqui as fotografias – desde uma Pentax até uma Polaroid, somente para ficar nessas duas, na sucessão de marcas e merchandising que passa pelo filme, não sendo poupada , obviamente, nem a Kodak.

Reveladas algumas fotos do passeio, percebe-se de imediato que algo diferente está por ocorrer – as imagens registram sombras e/ou manchas. Em contato com um médium, o casal busca uma forma de resposta – é então que descobrimos que as manchas nas fotos tratam-se na verdade de espíritos de pessoas vivas que buscam comunicação e, como resultado, essa aproximação se dá através dos registros nas fotos.

E as fotos do casal (da cerimônia do casamento, também aquelas resultado do trabalho de Ben e outras clicadas ao longo do filme) trazem a menina atropelada do início da projeção(Megumi Okina) . O que se vê ao longo do filme é uma sucessão de situações confusas e mal costuradas, que tentam explicar o vínculo da garota com o casal – o porquê disso tudo não pode ser dito, para não estragar o final (se é que o filme trás algo de surpreendente).

Essa é uma versão americana no filme tailandês “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado”, de 2004, dirigido por Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Apesar da tentativa do diretor em manter um clima de thriller ao longo do filme, a película em nenhum momento atinge esse objetivo – não assusta, não traz surpresas, não reverte expectativas, etc, - ou seja, não acerta em nenhum dos ingredientes que compõem um bom filme de suspense.

Algumas cenas chegam ser risíveis, tais aquela em queo casal visita um médium, que parece mais um pai de santo charlatão, fazendo propaganda de tinta de cabelos. Os personagens parecem estar deslocados dentro do filme. Os amigos do casal entram e desaparecem do filme para, depois, terem participação no desfecho da história. A assistente de Ben, que parece ter sido incluída na trama para indicar um possível triângulo amoroso (que não acontece), também fica “jogada” na trama. Essas situações não desenvolvidas e outras mal resolvidas no roteiro de Luke Dawson, o diretor não conseguiu superar.

Joshua Jackson, no papel de Ben fica a desejar, pois é jovem para o papel, muito embora talvez um outro ator de maior envergadura não ajudasse em nada para mudar o resultado final do filme. A surpresa fica por conta de Rachael Taylor, na esposa de Ben. Bonita e esforçada, é a única coisa no filme que tenta aparentar credibilidade.

Nessa mania norte-americana de reproduzir versões de filmes rodados por uma safra de bons diretores do Oriente, vale a pena ainda ficar com os originais. Não perca seu tempo e dinheiro fora. Ruim.



Imagens do Além (Shutter)
2008 – EUA - 85 min. – Colorido – HORROR
Direção: MASAYUKI OCHIAI. Roteiro: LUKE DAWSON. Fotografia: KATSUMI YANAGISHIMA. Montagem: TIMOTHY ALVERSON e MICHAEL N. KNUE. Música: NATHAN BARR . Produção: ARNON MILCHAN.

Elenco: JOSHUA JACKSON (Benjamin Shaw), RACHAEL TAYLOR (Jane Shaw), MEGUMI OKINA (Megumi Tanaka), DAVID DENMAN (Bruno), JOHN HENSLEY (Adam), MAYA HAZEN (Seiko), JAMES KYSON LEE (Ritsuo), YOSHIKO MIYAZAKI (Akiko), KEI YAMAMOTO (Murase), DAISY BETTS (Natasha) e ADRIENNE PICKERING (Megan).


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Kansen

sábado, 19 de abril de 2008

SINFONIA EM PARIS

“Se você não pode pintar em Paris, case-se com a filha do chefe.”


O homem que dorme, acorda, entreabre a porta desde a cama e pega a bolsa que oferecem. Levanta a cama até o teto com um sistema de cordas, abre o armário, tira uma mesa e uma cadeira de dentro, procura uma xícara e uma faca em uma gaveta com a mão esquerda, um paletó no armário com a direita, fecha a gaveta com o joelho e volta à mesa. Voilà! O café da manhã está pronto. O pintor americano, Jerry Mulligan vive em Paris com certa dificuldade, e isso é o que mostra a magnífica cena inicial de “Sinfonia em Paris”. Mas o que se pretende transmitir, sobretudo, é o seguinte: com Mulligan, interpretado por Gene Kelly, o bailarino excepcional que também assina como responsável toda a coreografia do filme, todos os afazeres diários convertem-se em dança, em uma festa de movimento e domínio corporal.

O filme narra a história de Jerry, que permanece em Paris, depois da Segunda Grande Guerra Mundial. Jerry é pintor, que vai vivendo graças ao dinheiro emprestado por amigos, como o americano Adam Cook (Oscar Levant), um pianista que nunca atuou em público. Uma coisa fica clara: o dinheiro não desempenha nenhum papel importante no filme. “Sinfonia em Paris” é um conto que prescinde das obrigações da vida real. Este fato fica claro, também, quando na vida de Jerry entram duas mulheres – Milo Roberts (Nina Foch), que é rica, aprecia os quadros de Jerry e atua como uma espécie de mecenas de saias, protegendo o artista sem recursos; e Lisa Bouvier (Leslie Caron), que é ingenuamente bonita. E, naturalmente, Jerry interessa-se muito mais por Lisa do que por Milo. Entretanto, na vida de Lisa há outro homem.

Afirmar que a cena de abertura de “Sinfonia em Paris” é uma festa, seria apenas uma verdade e meia; o filme inteiro é – uma festa que celebra o genial bailarino Gene Kelly e a encantadora Leslie Caron (que Kelly havia descoberto dois anos em um ballet nos Champs Elysées); uma festa que celebra essa Paris irresistivelmente bela e pitoresca, o amor e, sobretudo, a música. Na trilha sonora, há canções memoráveis e imortais de George Gershwin (música) e Ira Gershwin (letra), tais como Our Love is Here to Stay, Embraceable You e S´Wonderful. Gene Kelly canta o clássico I Got Rhythm em um maravilhoso dueto com algumas crianças na rua, tema com o qual o americano ensina inglês aos pequenos franceses.

Além disso, o filme celebra também o prazer de contar histórias. O diretor Vincente Minelli e o roteirista Alan Jay Lerner ("My Fair Lady", de 1964) dominam a narrativa, embelezam e jogam de forma magistral com as convenções. O filme começa com ao menos três vozes que nos introduzem à história, através de comentários em off – além de Jerry e do pianista Adam, também a estrela da revista francesa Henri Baurel (Georges Guétary). Na história, são incluídas várias seqüências oníricas, dentre as quais uma em que Adam sonha com seu primeiro concerto, no qual ele não somente se senta ao piano de calda e comanda o show, mas também toca todos os instrumentos.

Ao final, o filme desprende-se definitivamente de toda a dramaturgia cinematográfica conhecida e conclui com uma cena de baile que dura cerca de dezoito minutos e cuja produção, dizem, custou cerca de quinhentos mil dólares de um total de produção superior a dois milhões e setecentos mil dólares. Somente com música, sem canções e diálogos, Kelly e Caron dançam, num misto de dança moderna e ballet clássico, uma história de amor entre eles e uma Paris extremamente estilizada, inspirada em obras de pintores franceses, como Renoir e Toulouse–Lautrec. Sublime!



Sinfonia em Paris (An American in Paris)
1951 – EUA - 114 min. – Colorido – MUSICAL
Direção: VINCENTE MINELLI. Roteiro: ALAN JAY LERNER. Fotografia: ALFRED GILKS e JOHN ALTON. Montagem: ADRIENNE FAZAN. Música: GEORGE GERSHWIN, SAUL CHAPLIN e JOHNNY GREEN. Produção: ARTHUR FREED, para a MGM.

Elenco: GENE KELLY (Jerry Mulligan) LESLIE CARON (Lisa Bouvier), OSCAR LEVANT (Adam Cook), GEORGES GUÉTARY (Henu Baurel), NINA FOCH (Milo Roberts), EUGENE BORDEN (George Matthieu), e MARTHA BAMATTRE (Mathilde Matthieu).

Prêmios:
Oscars de Melhor Filme (Arthur Freed), Melhor Roteiro (Alan Jay Lerner), Melhor Direção de Arte (Cedric Gibbons, E. Prestn Ames, Edwin B. Willis e F. Keogh Gleason), Melhor Fotografia (Alfred Gilks e John Alton); Melhor Figurino (Orry-Kelly, Walter Plunkett e Irene Sharaff) e Melhor Trilha Musical (John Green e Saul Chaplin) /1951.

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Gigi

segunda-feira, 7 de abril de 2008

SCARAMOUCHE

“Quando você vir Scaramouche, você vai amar. Horrível, mas hilário.”


As sombras de outra época, tanto da história como do filme, são mostrados com extraordinária riqueza e irreverência pela MGM no remake da velha estória de fanfarronice escrita por Rafael Sabatini, "Scaramouche". Estrelado por Stewart Granger, como o herói da trama André Moreau, o filme mostra na tela uma fábula do século XVIII na França. Quem assistiu a essa pomposa história quando foi filmada em 1923, interpretada por Ramon Novarro protagonizando o herói na forma de pantomima – não foi meu caso – achou essa versão um avanço, tanto na forma como na técnica. Mais do que simplesmente o aspecto sonoro e o Technicolor já indicar esse avanço – esta versão é tida como mais criativa e deslumbrante. A ênfase ao romance e à luta de espadas fazem deste filme um bom entretenimento.

Pode-se quase perceber que Carey Wilson (o produtor), Ronald Millar e George Froeschel (roteiristas) decidiram mostrar que não tratariam de ser fiéis aos historiadores. Quaisquer relações com os ideais da Revolução Francesa, que estavam na história original de Sabatini, foram simplificadas pelos roteiristas. Somente assistimos a um entusiasmado herói, atraído pela causa da liberdade, igualdade e fraternidade, sem falar do afã amoroso, alinhado contra as mãos de ferro dos Bourbon que atuavam à base da espada. Este mesmo herói não hesita em casar-se com a bela heroína dos Bourbon , quando ele se sobrepõe a seu mortal adversário, que se tornará seu amigo e parente.

Tudo muito despretensioso e romântico. E é exatamente a forma com que o diretor George Sidney teve êxito em realizá-lo. Um pouco lento no começo – pouco pomposo de um lado, com alguns diálogos eloqüentes e solenes – vai-se simplificando, quando o fanfarrão principal pela primeira vez luta com a espada e assim caminha até o clímax final num grande duelo.

No meio tempo, há situações divertidas na forma de espetáculos teatrais, com o herói interpretando um papel duplo, como o palhaço mascarado numa troupe de vaudeville. Essa é a razão para o título do filme -o cômico Scaramouche. Há, também, consideráveis galanteios e flertes em diversas situações – desde a contemplação silenciosa da heroína até rusgas com uma atriz da troupe.

Mas o brilho e a ação estão nos duelos de espada, onde André luta com Noel (Mel Ferrer), como o marquês que luta com perfeição. E a reviravolta final entre a dupla, quando ela se enfrenta no interior de uma opera house, enquanto a audiência enche a tela com “oohs and ahhs”, no maior duelo da história do cinema – ininterruptos 5 ou mais minutos. Com as espadas brindando no teatro lotado e manchas de sangue aparecendo de tempos em tempos, essa cena torna o filme belo e inesquecível. Puro entretenimento.

Crédito aos intérpretes principais. Stewart Granger mostra que “nasceu com o dom da comédia e o sentido que o mundo é mau”. Ele tem a lábia para a ironia e a maneira de enfrentar a vilania. Também parece sentir que não está interpretando somente a história. Mel Ferrer, também, está consciente que ele não está ali por mero acaso ao interpretar um Bourbon.

Vinda do departamento de perucas, Janet Leigh (Aline de Gavrillac) está particularmente linda, como um bibelot e Nina Foch não compromete como Maria Antonieta. Mas, é realmente Eleanor Parker quem nos premia com uma bela interpretação, como a ruiva sensual do teatro, Lenore, que mantém o herói “ligado”. Muito engraçado ao final do filme, que ela fica com Napoleão. Como e de onde surgiu Napoleão é uma questão que não vem ao caso. Nada mais apropriado para Lenore. E, certamente, para a MGM.



Scaramouche (Scaramouche)
1952 – EUA - 116 min. – Colorido – AVENTURA
Direção: GOERGE SIDNEY. Roteiro: RONALD MILLAR e GEORGE FROESCHEL, baseado em obra de RAFAEL SABATINI. Fotografia: CHARLES ROSHER. Montagem: JAMES E. NEWCOM. Música: VICTOR YOUNG. Produção: CAREY WILSON, para a METRO-GOLDWYN-MAYER.


Elenco: STEWART GRANGER (Andre Moreau) ELEANOR PARKER(Lenore), JANET LEIGH (Aline de Gavrillac), MEL FERRER (Noel. Marquês de Maynes), HENRY WILCOXON (Chevalier de Chabrillaine), NINA FOCH (Marie Antoinette), RICHARD ANDERSON (Philippe de Valmorin), ELISABETH RISDON (Isabelle de Valmorin), HOWARD FREEMAN (Michael Vanneau), CURTIS COOKSEY(Fabian), JOHN DEHNER (Doutreval), JOHN LITEL (Dr. Dubuque), JONATHAN COTT (Sargento), DAN FOSTER (Pierrot), OWEN McGIVENEY (Punchinello), FRANK MITCHELL (Arlequin), CAROL HUGHES (Pierrette)e RICHARD HALE (Perigore).



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Melodia Imortal

sábado, 5 de abril de 2008

CHEGA DE SAUDADE

“Se a vida fosse um filme, qual filme seria? Juventude Transviada.”


É sobre o passado, é sobre o presente. Cada pessoa tem uma maneira de lidar com seus problemas, seus fantasmas. As personagens de “Chega de Saudade”, de Laís Bodanzky tentam - se não resolver - amenizar suas dores, praticando um social num salão de danças noturno para pessoas da terceira idade, em busca de um amor, do tempo perdido. E não são poucas. O par central, Álvaro (Leonardo Villar) e Alice (Tônia Carrero), vivem a insatisfação do casal que permaneceu muitos anos juntos. Ele, outrora o rei do pedaço, convive com o fantasma do abandono de sua primeira mulher (Selma Egrei, que aparece em flashback), e a sua impotência em demonstrar afeto à Alice, que perambula pelo salão vitimada por Alzheimer – sua única demonstração de carinho à mulher resume-se em pedir ao garçom de fazer lembrá-la (uma vez que ela sempre esquece) dos horários que ele precisa tomar pílulas.

Tem, também, a solteirona Elza – interpretada por uma Betty Faria, em grande estilo – nutrindo a esperança de ser observada por cada coroa que adentra o recinto e tem que se conformar com sua amiga, Nice, tendo mais sucesso que ela – personagem vivido por Miriam Mehler. A crise da idade também não fica esquecida, quando Marici (Cássia Kiss) se vê preterida por uma jovem, que dança com seu parceiro ao longo da noite, enquanto o namorado desta toca os playbacks da noite. Marici finge que nada disso a afeta, procurando entender como o elixir da juventude, por melhor que seja, pode valer mais que um cálice de vinho envelhecido; ele, Eudes (Stepan Nercessian), tendo nos braços a jovem, exercita, mesmo que platonicamente, o potencial de seus hormônios, querendo demonstrar que consegue manter duas mulheres sob seus encantos malandros.

A jovem Bel (Maria Flor), e namorada do DJ Marquinhos, vê na maturidade, embora malandra, de Eudes, o contraponto ao seu namorado – ainda desvestido do savoir faire requerido para um relacionamento. Como não poderia faltar, há também a sofisticada Rita (Clarisse Abujamra) que não resiste a entregar-se aos prazeres da carne, num misto de voyeurismo e auto-erotismo, para completar o vendaval paixões e sentimentos. Além do mais, outros personagens, surgem e somem, como coadjuvantes, em elenco bastante afinado.

Filmado em São Paulo, a película explora a saudade, o remorso, a traição, o inconformismo e, sobretudo, a tentativa de exortar as frustrações de cada personagem em busca da felicidade – perdida ou ainda não acontecida. A diretora Laís Bodanzky poderia ter buscado uma linguagem mais lenta e intimista (uso de planos panorâmicos em detrimento de close-ups), de forma a dar mais densidade aos personagens.

Entretanto, em seu segundo filme, consegue através de grandes nomes de nosso cinema e televisão compensar essas falhas. E, desta forma, isso contribui para que ela não deixe a peteca cair, ou, como canta Elza Soares, na participação que faz: “...nao deixe o samba morrer...”



Chega de Saudade (Chega de Saudade)
2008 – BRA - 92 min. – Colorido – DRAMA
Direção: LAÍS BODANZKY. Roteiro: LAÍS BODANZKY e LUIZ BOLOGNESI. Fotografia: WALTER CARVALHO. Montagem: PAULO SACRAMENTO. Música: EDUARDO BID. Produção: CAIO GULLANE e FABIANO GULLANE.

Elenco: LEONARDO VILLAR (Álvaro) TÔNIA CARRERO(Alice), CÁSSIA KISS (Marici), BETTY FARIA (Elza), STEPAN NERCESSIAN (Eudes), MARIA FLOR (Bel), PAULO VILHENA (DJ Marquinhos), CLARISSE ABUJAMRA (Rita), ELZA SOARES e MARKU RIBAS(Crooners da banda), CONCEIÇÃO SENNA (Aurelina), MARCOS CESANA (Garçon), LUIZ SERRA (Ernesto), MIRIAM MEHLER (Nice) e MARLY MARLEI (Liana).



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Bicho de Sete Cabeças

terça-feira, 1 de abril de 2008

A PONTE DE WATERLOO

“Cada despedida é como se fosse uma eternidade.”


É o primeiro trabalho de Viven Leigh após “...E o Vento Levou”. À época, a Metro deu uma história e uma personagem que permitiram a ela empregar toda a sua graça e extensão dramática, apropriadas à fragilidade física e à expressividade do belo rosto desta atriz. É uma história água-com-açúcar, cheia de romance, de uma bailarina, Myra (Vivien Leigh), que conhece um oficial do exército britânico, Roy (Robert Taylor),na ponte de Waterloo, em Londres, durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Ela apaixona-se por ele (e ele por ela), no turbilhão dos tempos de guerra – ele parte e, quando ela pensa que ele foi morto em batalha, ela, por necessidade e desespero, prostitui-se. Daí, o que acontece então, quando ele volta e a reencontra nesta condição, é o clímax da história.

Esta não é uma ficção que fica situada entre os maiores filmes do cinema. É uma história simples, de duas pessoas que se apaixonam fortemente durante um período conturbado e que são separados incidentalmente, mais do que por uma barreira insuperável. A união desfaz-se aqui, um mal entendido ali – e o destino pior que a morte, como conseqüência. Mas, Vivien adequa-se perfeitamente ao papel da garota, com tamanha amplitude – desde a inocente e frágil bailarina até a uma vazia “andarilha das ruas” – ,com perfeita caracterização da personagem, e tanta naturalidade, que o filme ganha considerável substância com sua presença.

Robert Taylor, também, apresenta-nos uma performance surpreendentemente flexível e madura, como o jovem oficial, embora seu esforço maior esteja restrito a estar entusiasmado. Outros bons trabalhos são os de Virginia Field, como uma amiga dançarina (Kitty), Lucile Watson como a mãe aristocrática (Sra. Margaret Cronin)e C. Aubrey Smith, como o comandante inglês.

Mervyn LeRoy dirigiu o filme insistindo nos close-ups, de forma a dar ênfase ao romantismo entre os personagens, dando nuances engraçadas ao unir o início e o fim com o dias atuais na Inglaterra, além de nos brindar com uma sqüência soberba – uma dança com os amantes à luz de velas num cabaret na noite anterior à partida de Roy para o front - que permanecerá para sempre nas memórias de todo cinéfilo. De fato, "A Ponte de Waterloo” é isso – com Hollywood sabia fazer dramas românticos na década de 40.



A Ponte de Waterloo (Waterloo Bridge)
1940 – EUA - 108 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: MERVYN LeROY. Roteiro: S. N. BEHRMAN, HANS RAMEAU E GEORGE FROESCHEL, baseado na peça homônima de ROBERT. E. SHERWOOD. Fotografia: JOSEPH RUTTENBERG. Montagem: GEORGE BOEMLER. Música: HERBERT STOTHART. Produção: SIDNEY FRANKLIN.

Elenco: VIVIEN LEIGH (Myra) ROBERT TAYLOR (Roy Cronin), LUCILE WATSON (Sra. Margaret Cronin), VIRGINIA FIELD (Kitty), MARIA OUSPENSKAYA (Madame Olga Kirowa) e C. AUBREY SMITH (Duque).


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