terça-feira, 4 de novembro de 2008

ACOSSADO

“Não use os freios. Carros são feitos para andar, não parar”


Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) é um fora-da-lei francês, que sobrevive com o roubo de carros e enrolando suas namoradas, que usufruem de seus favores sexuais, em troca de dinheiro. Apaixona-se por Patricia (Jean Seberg), uma norte-americana que vende uma edição francesa do New York Herald Tribune pelas ruas de Paris enquanto aguarda por uma vaga na Sorbonne.Heróis reversos, Michel apresenta-se mais durão do que realmente é – seu alter ego é Humphrey Bogart e, como tal, não larga o cigarro -, cheio de caras e bocas. Patricia é uma interrogação. Enquanto Michel é facilmente classificável à primeira vista – um assassino posé, meio alienado, mas na verdade medroso -, ela parece indiferente a tudo. Sabe da canalhice do namorado, dos crimes e tudo, mas nada disso parece abalá-la. Até a desconfiança de gravidez parece-lhe indiferente.

O estilo de filmagem de “Acossado”, do ponto de vista técnico , é tosco e muito pessoal. Não há nenhuma sofisticação técnica. Porém, à época foi inovador, por conta de sua criatividade. O filme é um desfile de celebridades do mundo cinematográfico francês - a história original é de autoria de François Truffaut; Claude Chabrol é o desenhista de produção; Daniel Boulanger encarna o inspetor de policia e, em pequenos papéis, aparecem Truffaut e o próprio Godard.

Toda a galera da nouvelle vague participou deste que foi o marco inicial desta escola. Mérito também do principal colaborador de Godard, Raoul Coutard, que trabalhou com o diretor muitas vezes. Para se ter uma idéia, como havia falta de recursos, uma tomada que necessitava de trilhos foi feita com o cinegrafista sendo empurrado numa cadeira de rodas, em substituição ao aparato.

Há também uma bela tomada com luz de fundo, mostrando Belmondo na cama com Jean Seberg sentada ao lado, ambos fumando e com a iluminação entrando pela janela, envolvendo-os em uma nuvem. O uso de jump cuts também ocorre à exaustão, mas muito mais como um recurso necessário de montagem, do que por questões estéticas. Porém, predominou essa ultima sensação, o que encanta e de fato faz o filme fascinante.

Inúmeros gângsters tiveram no Michel, de Belmondo, sua inspiração. Qualquer semelhança com o filme contemporâneo "Bonnie & Clyde - Uma Rajada de Balas" (1967) não é mera coincidência, embora esse seja bem inferior. Fico imaginando o cinema acadêmico da década de sessenta tendo sido transgredido por esse filme ousado. Não há um roteiro claro, reinando a improvisação dos atores. Os diálogos trabalhados são substituídos por uma linguagem coloquial. E essa transgressão também existe nos personagens, que parecem alheios a tudo e a todos que vivem aos seus arredores - desprezo total pela autoridade, não ligando para as convenções sociais.

Claro que visto hoje, muito da técnica, dos cortes secos e da falta de continuidade parecem comuns e o radicalismo de Godard, desta forma soaria hoje comercial.
Porém, é inegável o charme desse filme. Sua espontaneidade e leveza contagiam – apesar da minha demora em engrenar no inicio do filme. Uma deliciosa contradição que, assim como Kane, marcou a historia do cinema.




"Acossado" (À bout de Souffle)
1960 – FRANÇA - 88 min. – Preto e Branco – ROMANCE POLICIAL
Direção: JEAN-LUC GODARD. Roteiro: JEAN-LUC GODARD E FRANÇOIS TRUFFAUT. Fotografia: RAOUL COUTARD. Montagem: CÉCILE DECUGIS E LILA HERMAN. Música: MARTIAL SOLAL. Produção: GEORGES DE BEAUREGARD, para IMPÉRIA, LES FILMS GEORGES DE BEAUREGARD E SOCIÉTÉ NOUVELLE DE CINÉMATOGRAPHIE.

Elenco:
JEAN-PAUL BELMONDO (Michel Poiccard/Laszlo Kovacs) JEAN SEBERG (Patricia Franchini), DANIEL BOULANGER (Inspetor de polícia), JENA-PIERRE MELVILLE (Parvulesco), HENRI-JACQUES HUET (Antonio Berrutti), VAN DOUDE (Periodicista), CLAUDE MANSARD (Vendedor de carros usados), RICHARD BALDUCCI (Tolmatchoff), JEAN-LUC GODARD (Informante) e LILIANE DAVID (Liliane).


Cenas do Filme:


Do mesmo diretor:



Je Vous Salue Marie

2 comentários:

Kau Oliveira disse...

Pois é, Jacques. Eu tenho uma carência impressionante no que diz respeito ao cinema de Godard. Acho que só vi "O Demônio das Onze Horas" e mais outro que não me recordo. Vou procurar me interar sobre este notável cineasta.

Abraços.

Sergio Deda disse...

Também não tenho muito conhecimento do Godard... preciso corrigir esse erro...

vlws