terça-feira, 22 de abril de 2008

TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO

“Espero que não nos privemos da erudita e estimulante companhia de Sir Wilfrid.”


Sir Wilfrid Robarts (Charles Laughton) está de mau humor. Depois de sofrer um infarto, o hospital lhe disponibiliza uma enfermeira que não pára de lhe dar ordens, como se fosse uma criança (logo para ele, o mais famoso advogado criminalista do Reino Unido). Ele não dá a mínima para a saúde - renunciar aos charutos e ao conhaque equivale a uma pena de morte. É esse impedimento que o faz animar-se. Leonard Vole (Tyrone Power) está sendo acusado de ter assassinado sua protetora - uma viúva rica. O que faz com que sir Wilfrid se incumba deste caso (de um presumido inocente) é seu instinto infalível ou, melhor ainda, sua fé inabalável em sua genialidade. Logo sentir-se-á amargamente decepcionado. Não somente salva um culpado da forca. Ao final de um espetacular processo de indícios, ele se vê como uma marionete em uma intriga sem igual. Não era ele quem estava "mexendo os paus" todo o tempo, mas sim a esposa do acusado, Christine Vole (Marlene Dietrich).

Muitos elementos do filme denunciam a autoria original de Agatha Christie - a escritora britânica de novelas policiais. Como de costume, o primeiro suspeito é realmente o assassino, que contudo se esforça em criar álibis para escapar do peso das provas até o final do filme. O interesse do diretor por essa história é evidente.

"Testemunha de Acusação" é um filme de enganos e farsas, no qual nada é como parece ser. Não se poderia ter criado melhor efeito de perplexidade, quando surge a esposa do acusado como testemunha de acusação para salvá-lo. A questão da culpa individual se relativiza de forma decisiva mediante lealdades fatais e amor. Contudo, o prato principal é a genial interpretação de Marlene Dietrich, no papel de Christine Vole. A atriz alemã, que está acima do bem e do mal, repete alguns de seus melhores papéis, desde "O Anjo Azul (1930)".

O contraponto alegre ao anjo negro Marlene Dietrich é sir Wilfred, com suas saídas enganadoras. Charles Laughton o interpreta como uma instituição britânica, tão fleumática como o antigo e venerável Old Bailey. Sua atuação enche a tela, com inteligência, repleta de sarcasmo. Sua luta contínua não se centra somente em desvendar ponto a ponto a acusação. Também, seu corpo é um campo de batalha e, satisfazer suas necessidades, exige um espírito subversivo. Charutos escondidos na bengala e o uísque na garrafa térmica - nenhum meio lhe parece demasiado excêntrico para enganar a srta. Plimsoll, sua preocupada enfermeira. E, quem melhor que Elsa Lanchester, a esposa de Laughton na vida real, para interpretar esse papel abnegado?

"Testemunha de Acusação" nunca obteve um reconhecimento absoluto por parte dos críticos. Contudo, o filme é inegavelmente um clássico do gênero. O diretor consegue fazer um filme ao mesmo tempo engraçado e denso, brilhante com suas mudanças inesperadas, com ritmo perfeito. No filme, nada fica ao acaso, ainda que a justiça seja vitoriosa por caminhos tortuosos. Filme de titã!



Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution)
1957 – EUA - 116 min. – Preto e Branco – DRAMA
Direção: BILLY WILDER. Roteiro: BILLY WILDER, HARRY KURNITZ e LARRY MARCUS, baseado na obra homônima de AGATHA CHRISTIE. Fotografia: RUSSELL HARLAN. Montagem: DANIEL MANDELL. Música: MATTY MALNECK. Produção: ARTHUR HORNBLOW JR., para ESWARD SMALL PRODUCTIONS e THEME PICTURES.

Elenco: TYRONE POWER (Leonard Stephen Vole) MARLENE DIETRICH (Christine Vole), CHARLES LAUGHTON(sir Wilfrid Robarts), ELSA LANCHESTER (sta. Plimsoll), JOHN WILLIAMS (sr. Brogan-Moore), HENRY DANIELL(sr. Mayhew), IAN WOLFE (sr. Carter), TORIN THATCHER (fiscal Myers), NORMA VARDEN (Emily French), UNA O´CONNOR (Janet Mckenzie) e FRANCIS COMPTON (juiz).

Trailer Original:


Assista também:




Crepúsculo dos Deuses

5 comentários:

Cecilia Barroso disse...

Realmente, é um filme maravilhoso!
Fiquei com muita vontade de ver novamente!
Beijos

Kamila disse...

Sou fã do Billy Wilder, mas ainda não consegui assistir a este "Testemunha de Acusação". E olha que já ouvi maravilhas desse filme.

Anônimo disse...

Não cheguei a ver esse filme.
Sendo de Billy Wilder já é 50% de ser um filmaço.
Crepúsculo dos Deuses é uma obra-prima do Cinema.

Jacques disse...

Cecília Kamilla e Ibertson,

Ralmente trata-se de um filme imperdível. Mais um daqueles não reconhecidos à época pela crítica. Azar deles...rs

Red Dust disse...

É um filme interessante passado nas barras de tribunal. Não considero que seja o clássico dos clássicos do género, mas merece bem ser visto.

A minha classificação: 7/10.