sábado, 6 de dezembro de 2008

CARMEN JONES

“Algo me diz que Chicago vai fazer bem a você”


“Carmen Jones” é uma versão black da ópera “Carmen” de Bizet, no mais puro estilo norte-americano, que fez sucesso na Broadway em 1943. A história foi transposta para a tela pelo diretor Otto Preminger em versão Cinemascope, trazendo uma mistura de Bizet com Oscar Hammerstein II. Aqui “Carmen” tornou-se um melodrama contemporâneo – um show mais musical do que operístico. A transferência da música de Bizet e do enredo de Prosper Merimée para a América, inclusive com a mudança de idioma é um fino truque de artesanato e o resultado traz algumas incongruências. O conto de Carmen e do soldado da infantaria espanhola Don José é agora uma história moderna de uma empregada de uma fábrica de pára-quedas e de um aspirante a piloto no período da Guerra da Coréia, Joe (versão americana de José), interpretado por Harry Belafonte. O toureador espanhol, Escamillo, tornou-se Husky Miller, um boxeador campeão, que cai nas graças de Carmen, após esta ter forçado Joe a deixar seu posto à revelia dos superiores.

Na essência, é uma história instigante, que mistura paixão, sedução, sexo e traição - elementos fortes e essenciais para sucesso, quando bem tratados. Foi o caso da ópera de Bizet, mas não totalmente desta versão folk black american, com os personagens menos sensuais e mais sexuais. Carmen, interpretada por Dorothy Dandridge, é o melhor exemplo disso – voluptuosa, sempre rebolando e provocante, leva a libido masculina às alturas. E o tom desesperado, faminto e possessivo, presente na obra de Bizet, aqui parece bem menos dramático.

Da mesma forma, o Joe de Harry Belafonte é um personagem estático, meio confuso e mais perdido em suas emoções do que envergonhado de ter abandonado sua carreira por uma mulher que o leva a conseqüências trágicas. Ele é o herói, mas fica deslocado num papel mal desenvolvido. Olga James, como sua eterna namorada, é uma figura que destoa, chegando a ser um pouco cômica, principalmente quando se compara sua aparente ingenuidade com o maremoto de emoções que seu pretendente está envolvido. Joe Adams como o arrogante boxeador Husky Miller é uma caricatura de lutador – qualquer um poderia fazer melhor.

O que deveria ser uma grande surpresa soa destoante quando essas pessoas desatam a cantar ao clima operístico de Bizet. Os tempos são estranhos aos personagens, as melodias parecem descoladas de seus estilos. E por mais que se tente passar a idéia de ilusão e eloqüência que um musical deve possuir, os enquadramentos e os cenários realistas diminuem essa ambição.

As músicas são bem cantadas, dubladas por três vozes - Marilynn Horn, nas canções de Dorothy Dandridge, Le Vern Hutcherson, nas canções de Harry Belafonte e Marvin Hayes, nas canções de Joe Adams. Os coros têm a vibração e força do padrão black norte americano. Não há nada de errado bas músicas – apenas que não ficam adequadas às personagens e ao clima do filme. Isso parece não ter preocupado a Oscar Hammerstein e Otto Preminger, nessa corajosa, precoce e frágil versão de um dos maiores clássicos da historia da música.




"Carmen Jones" (Carmen Jones)
1954 – EUA - 105 min. – Colorido – MUSICAL
Direção: OTTO PREMINGER. Roteiro: HARRY LEINER, com versão musical de OSCAR HAMMERSTEIN II, baseado na história de PROSPER MERIMÉE . Fotografia: SAM LEAVITT. Montagem: LOUIS L. LOEFFLER. Música: GEORGE BIZET E OSCAR HAMMERSTEIN II. Produção: OTTO PREMINGER, para TWENTIETH CENTURY-FOX.

Elenco:
DOROTHY DANDRIDGE (Carmen) HARRY BELAFONTE (Joe), OLGA JAMES (Cindy Lou), PEARL BAILEY (Frankie), DIAHANN CARROLL (Myrt), ROY GLENN (Rum), NICK STEWART (Dink) , JOE ADAMS (Husky), MARILYNN HORN (Voz de Carmen), LE VERN HUTCHERSON (Voz de Joe) e MARVIN HAYES (Voz de Husky).



Cenas do Filme:


Assista também:




Os Amores de Carmen

5 comentários:

Sergio Deda disse...

Este parece interessantissimo, vai entrar pra lista..

abraços

Kau Oliveira disse...

Eu tenho medo de algumas adaptações da Broadway para o cinema. Esta, por exemplo, é bem mediano e extremamente discutível. Pra vc ter uma idéia, não aguentei ver até o fim...

Abraços.

Marcel Gois disse...

Jacques, estou passando pra convidar você para participar do 1º Bolão que o Talking About Movies está promovendo. Mais informações sobre como participar e demais regras você encontra no nosso blog, do lado direito da página temos o logo do evento, é só clicar ali e deixar suas dúvidas e sugestões nos comentários.
Contamos com a sua participação.
Abraço!

Anônimo disse...

A atriz me lembrou Halle Berry mas o filme, apesar de ser musical (que adoro), não me soou inteiramente interessante...

Ciao!

Jacques disse...

Sérgio, é mais uma versão para o cinema de um famoso musical da Broadway. Vale conhecer, principalmente pela presença de Dorothy Dandridge.Abcs

Kau, apesar de tudo é para ser visto. Tem pontos desiguais e falta alguma harmonia em geral, mas não a ponto de deixar de ser visto até o final. Abcs.

Marcel, obrigado pelo convite. Vou dar um pulo lá. Abcs.

Wally, HAlle Beery não somente lembra Dorothy Dandridge como também estrelou "Dorothy Dandridge - O Brilho de Uma Estrela" (99), filme feito para a TV norte-americana, que acabou lhe valendo um Globo de Ouro.Abcs